Seumas Milne: Quando a mídia coloca fascistas e a esquerda no balaio dos ‘extremistas’

Tempo de leitura: 2 min

por Luiz Carlos Azenha

Seumas Milne escreveu no diário britânico Guardian que ou a esquerda lidera a rebelião contra a austeridade, ou outros o farão.

“Da Holanda à Romênia, governos estão caindo sob o peso dos cortes de orçamento e aumentos de impostos exigidos pelo novo tratado permanente de deflação da zona do euro”, disse ele.

E mais: “A austeridade não está funcionando, mesmo em seus próprios termos. Cortar empregos e salários e aumentar os impostos não está reduzindo os empréstimos e a dívida, quanto mais levando à recuperação econômica. Está aprofundando a recessão, aumentando o endividamento e destruindo empregos, reduzindo os padrões de vida em toda a zona do euro — em países como a Espanha e a Grécia, catastroficamente –, assim como no Reino Unido”.

E ainda: “A revolta política na Grécia, no entanto, pode ter consequências mais amplas. O colapso econômico da Grécia, disparado pelo crash de 2008 e aprofundado pela austeridade exigida pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional, é um desastre social no nível da depressão dos Estados Unidos nos anos 30. Os salários reais tiveram perda de 25% em dois anos, de acordo com a OECD. Não é surpresa que o apoio aos partidos governistas que levaram a Grécia a tal situação caiu de 80% para 30%, enquanto os partidos de esquerda que rejeitaram os cortes da EU-FMI, as privatizações e os pagamentos insustentáveis da dívida tiveram votação maior que o desacreditado establishment e a direita nacionalista”.

Prossegue: “Com o custo da austeridade se aprofundando, a polarização entre a esquerda e a direita é descrita na maior parte da mídia como a ascensão dos ‘extremos’. Mas é tão absurdo quanto repugnante juntar racistas e nacionalistas xenófobos, que ajudaram a manter governos supostamente centristas no poder da Dinamarca à Itália, com partidos de esquerda ligados a movimentos sociais, que defendem alternativas políticas e econômicas progressistas. Não há nada de ‘extremo’ numa organização como o Syriza [de esquerda, agora o segundo maior partido grego], que rejeita um programa de destruição econômica e social que, ele sim, é extremo — e busca negociações. Os debates e escolhas políticas aceitas pelo mainstream se tornaram tão estreitos nestes anos de consenso pró-mercado que alternativas genuínas são aparentemente muito chocantes para absorver”.

E, finalmente: “A Grécia é um caso duro, onde a batalha política agora está entre opções radicais diametricamente opostas. Mas as pessoas na Europa estão profundamente desencantadas com a ordem ditada pelo mercado, que fracassou. Se a esquerda não oferecer alternativas reais, outros o farão — com sérias consequências”.

PS do Viomundo: Seumas Milne é autor do imperdível The Revenge of History [A vingança da História, crise, guerra e revolução no século 21], que aparentemente ainda não foi publicado em português.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

AldoLuiz

Aos amigos do Viomundo e aos que ainda não viram nada. Esta é a didática do escravagismo perpétuo. Azenha, faz tempo que leio mas não comento. Vejamos: ” O colapso econômico da Grécia, disparado pelo crash de 2008 e aprofundado pela austeridade exigida pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional, é um desastre social no nível da depressão dos Estados Unidos nos anos 30.”

Este é o fértil campo minado do Éden dos banqueiros do mundo, os mesmos que financiaram a ascenção e queda do 3º Reich e que agora (up grade) financiam a ascenção do 4ºReich em passo de ganso acelerado com o detalhe da ideologia “sionista agregando valor” ao desde sempre internacional nazismo. Com todo o respeito por seus e aos nossos sentimentos pergunto: de que servirá – “a polarização entre a esquerda e a direita é descrita na maior parte da mídia como a ascensão dos ‘extremos” – se a massa ciosamente reprogramada “pensa” preferir a escravidão da mentira dos cartões e corpos chipados do consumismo de lixos no “confortável” religioso robótico labirinto do nada? A massa não quer mudar, quer poder continuar o que supõe real. Rebanho e ovelhas, a massa não se acha escrava. Eunucos mantidos ignorantes e agrilhoados diante da TV, do futebol, dos anestésicos, vagando sem rumo em seus cadeirantes automobilismos, seres maquinais ocos em que foram transformados.
Não há registro na história da humanidade de que ela haja, algum dia, se revoltado, verdadeiramente, contra qualquer ditadura. O poder, milenarmente, sempre manipulou e se utilizou dos revoltosos para suas justificativas. Esquerda e direita fazem o jogo sujo do poder corrupto na manutenção do milenar escravagismo. Já se perguntram por que a União Soviética só sobreviveu 70 anos? Já se perguntaram por que Cuba ainda sobrevive heróicamente ao vampiro império e sua velhíssima inumana NOVA ORDEM MUNDIAL NAZI SIONISTA? Já pararam para pensar que o nunca nosso brazsil (já) dominado pelos nazi sionistas é a bola sete deste jogo macabro?
Ainda afirmo: nossas crenças determinam nossas escolhas, e, de qualquer ponto de vista que observemos o universo cada um de nós é o centro dele. É preciso (espero que ainda haja tempo) mudar a bunda de lugar para compreender que a grande e única revolução é intrapessoal e intransferível. É de dentro para fora e com outros valores que não os sempre propostos pela mesma milenar casa grande às suas senzalas.Tiremos pacífica e conscientemente a obediência aos “estados” e suas ideologias escravistas e a casa grande deles cai. Mas é preciso escolher querer mudar, revolucionar-se, primeiro internamente, de dentro para fora. Não há força verdadeira que não emane da consciência da própria força de nossa desde sempre humana divina perfeição. Sinto muito, vos amo, sou grato. Segue o jogo…

    Andre

    Com todo respeito que todo ser humano merece, acho que seu comentário é um palavrório new age pós-moderno. Mudança interior para quem está desempregado, passando fome e tendo que entregar os filhos para adoção por que não tem mais como sustentá-los que é o caso da Grécia?. A única mudança interior para quem não tem o que comer é enfiar comida no estômago.

Marinho

A quem possa interessar: artigos no site http://www.passapalavra.info em especial “Monetarismo e austeridade”.

Julio

Artigo único da constituição dos estados unidos do pig:

“Nós podemos criticar, difamar, caluniar, ofender, maltratar, fazer o DEMOstenes virar santo e heroi, nos unir a qualquer tipo de quadrilha, tomar banho de cachoeira e se alguem ousar em pensar diferente de nós e nos criticar deverá ser aniquilado pelo nosso poder economico/financeiro ou pela nossa “justiça””.

Patrick

Programa de governo do Syriza, na Grécia:

http://www.escolar.net/MT/archives/2012/05/el-programa-de-la-izquierda-radical-griega.html

1. Realizar una auditoría sobre la deuda pública. Renegociar su devolución y suspender los pagos hasta que se haya recuperado la economía y vuelva el crecimiento y el empleo.

2. Exigir a la UE un cambio en el papel del BCE para que financie directamente a los Estados y a los programas de inversión pública.

3. Subir el impuesto de la renta al 75% para todos los ingresos por encima del medio millón de euros anuales.

4. Cambiar la ley electoral para que la representación parlamentaria sea verdaderamente proporcional.

5. Subir el impuesto de sociedades para las grandes empresas al menos hasta la media europea.

6. Adoptar un impuesto a las transacciones financieras y también un impuesto especial para los productos de lujo.

7. Prohibir los derivados financieros especulativos, como los swaps y los CDS.

8. Abolir los privilegios fiscales de los que disfruta la iglesia y los armadores de barcos.

9. Combatir el secreto bancario y la evasión de capitales al extranjero.

10. Rebajar drásticamente el gasto militar.

11. Subir el salario minimo hasta su nivel previo a las recortes (751 euros brutos mensuales).

12. Utilizar los edificios del Gobierno, la banca y la iglesia para alojar a las personas sin hogar.

13. Poner en marcha comedores en los colegios públicos para ofrecer desayuno y almuerzo gratuito a los niños.

14. Ofrecer sanidad pública gratuita para las personas desempleadas, sin hogar o sin ingresos suficientes.

15. Ayudas de hasta el 30% de sus ingresos para las familias que no pueden afrontar sus hipotecas.

16. Subir las prestaciones de desempleo para los parados. Aumentar la protección social para las familias monoparentales, los ancianos, los discapacitados y los hogares sin ingresos.

17. Rebajas fiscales para los productos de primera necesidad.

18. Nacionalización de los bancos.

19. Nacionalizar las antiguas empresas públicas de sectores estratégicos para el crecimiento del país (ferrocarriles, aeropuertos, correos, agua…).

20. Apostar por las energías renovables y por la protección del medio ambiente.

21. Igualdad salarial para hombres y mujeres.

22. Limitar el encadenamiento de contratos temporales y apostar por los contratos indefinidos.

23. Ampliar la protección laboral y salarial de los trabajadores a tiempo parcial.

24. Recuperar los convenios colectivos.

25. Aumentar las inspecciones de trabajo y los requisitos laborales para empresas que accedan a concursos públicos.

26. Reformar la constitución para garantizar la separación iglesia-Estado y la protección del derecho a la educación, la salud y la protección del medio ambiente.

27. Someter a referéndum vinculante los tratados europeos y otros acuerdos de importancia.

28. Abolición de todos los privilegios de los parlamentarios. Eliminar la especial protección legal de los ministros y permitir a los tribunales ordinarios procesar a los miembros del gobierno.

29. Desmilitarizar la guardia costera y disolver las fuerzas especiales antidisturbios. Prohibir la presencia de policías encubiertos o con armas de fuego en las manifestaciones y mítines. Cambiar los planes de estudio de los policías para poner énfasis en los temas sociales, como la inmigración, las drogas o la exclusión social.

30. Garantizar los derechos humanos en los centros de detención de inmigrantes.

31. Facilitar a los inmigrantes la reagrupación familiar. Permitir que los inmigrantes, incluso los indocumentados, tengan acceso pleno a la sanidad y la educación.

32. Despenalizar el consumo de drogas, combatiendo solo el tráfico. Aumentar los fondos para los centros de desintoxicación.

33. Regular el derecho a la objeción de conciencia en el servicio militar.

34. Aumentar los fondos para la sanidad pública hasta los niveles del resto de la UE (la media europea es del 6% del PIB y Grecia gasta el 3%).

35. Eliminar el copago en los servicios sanitarios.

36. Nacionalizar los hospitales privatizados. Eliminar toda participación privada en el sistema público de salud.

37. Retirada de las tropas griegas de Afganistán y los balcanes: ningún soldado fuera de las fronteras de Grecia.

38. Romper los acuerdos de cooperación militar con Israel. Apoyar la creación de un estado Palestino dentro de las fronteras de 1967.

39. Negociar un acuerdo estable con Turquía.

40. Cerrar todas las bases extranjeras en Grecia y salir de la OTAN.

Lucas Cardoso

“A austeridade não está funcionando, mesmo em seus próprios termos. Cortar empregos e salários e aumentar os impostos não está reduzindo os empréstimos e a dívida, quanto mais levando à recuperação econômica. Está aprofundando a recessão, aumentando o endividamento e destruindo empregos, reduzindo os padrões de vida em toda a zona do euro — em países como a Espanha e a Grécia, catastroficamente –, assim como no Reino Unido”.

A austeridade ESTÁ funcionando em seus próprios termos. Os capitalistas europeus estão conseguindo destruir todos os resquícios do Estado de Bem-Estar Social, aumentar a repressão, socializar custos, e privatizar lucros cada vez maiores.

Quem acha que a austeridade está falhando em seus objetivos, simplesmente não entende quais são os objetivos da austeridade. O único porém é que a miséria acaba radicalizando o povo. As elites europeias estão brincando com fogo, e podem acabar se queimando novamente nas chamas do fascismo.

Mardones Ferreira

Essa batalha de informação é muito importante, pois a grande imprensa associada aos bancos e multinacionais seguem envenenando as audiências com o discurso de que os contrários às medidas de austeridade (aquelas que ajudam os bancos e prejudicam o restante da sociedade) são de extrema esquerda ou direita.

Mais uma vez, salta aos olhos, a necessidade de melhorar a comunicação entre os grupos organizados da sociedade, pois todos os dias as tvs no Brasil mentem dizendo que a Grécia recebeu ajuda de bilhões e não consegue sair da crise.

Escondem que a ajuda à Grécia, na verdade, é o empréstimo que BCE faz aos bancos privados (abarrotados de papeis pobres) por 1% de juros a.a. Dinheiro este que será então emprestado aos governo grego por uma taxa de 5 ou 6% a.a, seguido da necessidade de cortes em pensões, programas sociais, contratações e aumento de demissões.

Então, quando se diz que a esquerda é contra o ”pacto do Euro” parece que a esquerda é contra o socorro à Grécia. Quando, na verdade, os bancos privados estão sendo ajudados. Não custa lembrar que pelo sistema vigente na zona do euro, os países não podem emitir moeda, como fazem os Estados Unidos e o BCE só pode emprestar (ajudar) aos bancos privados e não diretamente aos governos dos países membros.

Ou seja, o mecanismo é descaradamente favorável aos bancos privados. O BCE empresta aos bancos privados e estes emprestam aos governos individados. Nada mais justo do que questionar: por que o BCE não empresta diretamente aos governos em crise já que os juros são menores?

Por que usar o atravessador e encarecer o empréstimo em 400, 500%? Com uma ajuda dessas, ninguém precisa de torcida contra.

Fabio Passos

As populações procuram alternativas para escapar da ruína neoliberal.
Uma das alternativas é o retrocesso fascista.
A esquerda tem a responsabilidade histórica de apresentar a alternativa progressista. Se a esquerda permanecer submissa aos interesses do Capital é risco certo de avanço das trevas.

    Roberto Locatelli

    Só para lembrar, Fabio: foi numa situação parecida que Hitler acabou tomando o poder. Os comunistas alemães (stalinistas alemães, melhor dizendo) não assumiram o papel de liderar a revolta popular.

    A atual situação da Europa atual tem um componente mais cruel que é o predomínio do capital financeiro sobre todo o capital. Agora, é socialismo ou barbárie.

Gil Rocha

A culpa talvez seja da própria
esquerda.
A culpa é da própria esquerda, que
por conveniência deixa as coisas se
misturarem.
Por exemplo, aqui mesmo em alguns
comentários, as pessoas passam dos
limites da má educação.
Será que em uma passeata ou protesto
também são assim?
Extremistas estão infiltrados em todos
os partidos, cabe a eles separa-los.

    Gil Rocha

    Não somente em partidos, mas
    nas organizações políticas no
    geral.
    Extremistas não tem lugar no mundo.
    Hoje eles serão sempre a minoria, ainda
    bem.

    Mário SF Alves

    Gil Rocha, não me leve a mal, mas,você tem certeza de que você não é um robô? Desculpe-me. É que suas réplicas são muito, muito previsíveis.
    Att.,
    Mário.
    A propósito, nesse momento, percebo que você ao se apegar demais à forma, esqueceu o contéudo, e acabou por perder uma bela chance de se colocar frente ao tema, importantíssimo, por sinal.

    Gil Rocha

    Mário, mesmo eu sendo um robô
    dei a minha opinião e argumento.
    Já você como ser humano diferenciado
    não sei porque, não disse nada proveitoso.

ricardo silveira

Acho que o interesse da mídia é muito mais que o de criar espetáculo para ganho material. A intenção é tirar proveito político ideológico e, é evidente que isso não é jornalismo digno do nome, mas é o que se faz. A bolinha de papel na cabeça do desqualificado Serra, transformada em “meteorito” pela Globo, é um exemplo medíocre desse jornalismo.

Deixe seu comentário

Leia também