Rodrigo Guéron: As estratégias do fascismo e a candidatura Serra

Tempo de leitura: 5 min

Da caixa de correio do Viomundo:

As estratégias do fascismo e a candidatura Serra.

Rodrigo Guéron

Professor UERJ

Paul Virilio, filósofo e arquiteto francês, conta no seu livro “Guerra e Cinema” que as primeiras fotos que correram o mundo com alguns dos horrores dos campos de concentração nazistas foram distribuídas por ordem do próprio Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. Em seguida, Goebbels divulgou uma nota à imprensa do mundo inteiro declarando-se “horrorizado com o tipo de propaganda que fazem contra nós estes comunistas e judeus”.

Enquanto John McCain, o candidato conservador à presidência dos Estados Unidos, recusou alguns ataques fundamentalistas a Obama em certos momentos da campanha eleitoral, no Brasil José Serra alimenta e navega satisfeito na onda de difamações, calúnias e terror psicológico contra a candidatura Dilma Roussef. Sua campanha, depois de trazer o fundamentalismo religioso para o debate eleitoral, de colocar sua mulher na rua dizendo que a Dilma “mata criancinhas”, usou uma manchete mentirosa do Globo que dizia que a Dilma ia assinar um documento contra a União Civil Gay (o que não aparecia no próprio corpo da notícia) para posar de “ liberal” e dizer que era a favor dessa união.

Ontem, a polícia federal entrou numa gráfica que imprimia mais de 2 milhões de panfletos que acusavam a Dilma de “aborteira”, falsamente assinados pela CNBB, mas feitos por ordem de um bispo ( com dinheiro de quem?). Enquanto isso Serra e Tasso Jereissati ( que acaba de ser derrotado na eleição para senador) iam a uma missa no Ceará onde panfletos semelhantes eram distribuídos ( neste caso diziam que a Dilma era “ aborteira”, que tinha ligações com as Farcs, era corrupta etc e tal). Um padre se indignou, disse aos fiéis que aqueles panfletos não tinham nada a ver com a igreja e com aquela celebração ( que era para São Francisco…). Jereissati então começou a ofender o padre, chamou o de “padre petista” e militantes do PSDB foram atrás do religioso que teve que sair da igreja protegido.

Quando Lula reclamou dos ataques que Dilma tem sofrido da imprensa, quando disse que esta age como partido político e que tem candidato, mas se apresenta como “imparcial”, foi acusado de ser “contra a liberdade de imprensa”. Por outro lado ninguém viu no jornal Nacional, nem no Globo, nem na Veja (uma pequena nota na FSP), que Serra mandou desligar a câmera numa entrevista para a jornalista Marcia Peltier, dizendo que aquele tipo de pergunta não respondia, que ia embora e era para fingir que ele não tinha estado ali. As imagens do Serra fazendo isso foram entregues ao próprio pela direção da CNT ( que vergonhoso gesto para um jornalista…), mas o áudio, gravado no celular de um outro jornalista que estava na platéia, está na rede.

Imaginem se fosse a Dilma que tivesse mandado desligar a câmera? Íamos ver as imagens repetidamente no Jornal Nacional e similares durante dias. Dilma é então acusada de ser uma “ameaça a liberdade de imprensa” por aqueles que censuram, manipulam e até inventam fatos contra a sua campanha. O fascismo sempre agiu assim, acusa os outros do que está fazendo. Goebels, como vimos, pousou de vítima dos judeus e comunistas que estava exterminando.

Dilma também foi acusada, no início da campanha, de “mandar preparar dossiês contra Serra e a sua família”: dossiês que ninguém leu. Enquanto isso os que fizeram essa acusação despejam um dossiê gigante e ininterrupto de calúnias contra ela. A tática de propaganda fascista é esta da confusão, da acusação, da repetição de uma mentira sistemática até virar verdade, da demonização e escolha de bodes espiatórios. O fascismo é violento não apenas porque mente e cassa a palavra das pessoas ( como houve com Maria Rita Kehl, demitida do Estadão apenas por ter escrito que a elite brasileira não admite que os votos dos pobres tenham o mesmo peso que os dela); é mais do que isso: o fascismo usa uma estratégia de afetos de medo e ódio, disseminando-os de forma que cada uma das pessoas se torna não apenas vítima, mas agentes mesmo deste afetos: é uma mobilização política que passa por dentro dos corpos, dos desejos, do sistema nervoso das pessoas, e ganha essa dimensão macro porque é antes micropolítica.  Fascismo não é apenas proibir as pessoas de dizer ou fazer algo, fascismo é forçá-las a falar e fazer algo.

Cada uma das grandes corporações de comunicação do país, onde predominam 4 ou 5 famílias oligárquicas ( os Marinhos, os Frias, Os Mesquita, os Civita…) foi fundamental na mobilização entre as classe médias e as elites que levou ao golpe militar de 64, com uma estratégia muito semelhante a usada hoje pela campanha Serra.  A exceção é a não menos proto fascista revista Veja, simplesmente porque não existia na época. Estes grupos cresceram e se solidificaram no Regime Militar, enquanto os que se opunham ao Regime desapareceram ( por exemplo o “Ultima Hora”, e também o “ Correio da Manhã” que chegou a apoiar o golpe mas começou a fazer oposição aos militares logo depois). Ainda nesta tática de confusão da propaganda, estas corporações de comunicação apresentam-se como grandes vítimas da ditadura. De fato, a partir do final de 68, no AI-5, instalaram-se nas redações censores oficiais do regime. Mas antes, nos primeiros quatro anos que se seguiram ao golpe que ajudaram a promover (entre 64 e 68), cada um desses “veículos de comunicação” apoiava e promovia a onda de prisões e cassações que acontecia entre líderes políticos, sindicais, professores (expulsos das universidades) e assim por diante . As organizações Globo, como sabemos, foi mais longe de todas: de 1966 até o início dos anos 80 lia um editorial todo dia 31 de março no Jornal Nacional relembrando e apoiando a “ os ideais da revolução de 64” .

É esta gente e esta estratégia que quer derrotar a qualquer preço a candidata Dilma Roussef

E aqui talvez para não abusar do leitor, eu deveria encerrar meu texto. Mas não consigo não acrescentar mais um parágrafo para falar do quanto o golpe de 64 teve a ver com o ódio e o medo que causava nas elites a participação de trabalhadores na política que na época crescia a cada ano (o discurso da “ameaça da república sindical” repetido por Serra agora), de como o Brasil começava a se democratizar e os sindicatos conseguiam alguns ganhos para os trabalhadores, do fato do problema de origem escravocrata da concentração da terra ( e das relações de trabalho) ter sido colocado em questão pelas ligas camponesas e como Jango foi acusado de “comunista” por ensaiar um tímida reformas agrária, e de como Paulo Freire (um dos primeiros intelectuais presos depois do golpe) sofreu a mesma acusação por liderar um programa que alfabetizou 400 mil pessoas em Pernambuco, e assim por diante. E o mais notável: como que nos anos de grande crescimento econômico do regime militar a miséria do país só aumentou? Como o Brasil terminou este período como a nação industrializada mais desigual do mundo?

Não dá para separar a violência política do regime militar da violência do modelo econômico. Assim como não dá para separar a violência contra a candidatura Dilma da violência contra os pobres; e também da violência contra as mulheres; a propósito foi no governo Lula que foi criada e aprovada a lei Maria de Penha.

Não há neutralidade possível nas eleições do dia 31 de outubro para quem busca um Brasil mais justo, solidário e democrático.


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Comentários

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VIRGILIO

Interessante….tem uns reacionarios que nao podem ver uma opiniao contraria a sua que logo se espezinham e apresentam argumentos irrefutaveis ( na sua opiniao ) e posam de detentores da verdade aos quais todos devem reverenciar….No meio de tantas calunias contra DILMA eu digo que pelo menos, ela teve o que alguns MACHOS nao tiveram….CORAGEM !!! e foi a luta literalmente….Parabens PT, parabens DILMA, a vitoria é nossa, a vitoria é NOSSA !!! HASTA LA VISTA COMPANEROS !

RODRIGO

O SERRA É SUJO DEMAIS ! NUNCA VI UM POLÍTICO ASSIM

Jonas

Parabéns querido autor, se enviares este texto ao PT será contratado imediatamente, gostaria se possivel, que você publicasse aqui neste " Seu espaço" o plano de governo do PT, creio que assim os leitores poderiam entender um pouco mais sobre o que significa " Facismo", (Obs:, não sou eleitor do serra,) acredito que a Dilma e o Brasil se merecem.

    Juliana

    O blog está recebendo um aviso quando procurado pela barra de ferramentas do google com um aviso: acessar este site pode danificar o seu computador! Está tudo bem com os colunistas?

arakinmonteiro

Parabéns Rodrigo e aos debatedores por esta excelente síntese!
Concordo que o voto nulo como um "protesto infantil", neste momento, é de uma grande irresponsablidade com a classe trabalhadora. Devemos fazer as devidas críticas, mas a "isenção" é, no plano concreto (não idealista), a conivência com a ampliação da miséria e regressão das parcas e importantes conquistas dos últimos 8 anos. Pior que o protesto infantil inócuo, somente a "neutralidade conservadora" do PV, de Marina e seus perdidos apaixonados. O silogismo não nos levará a lugar algum!

Marco Aurélio

A divisão da esquerda permitiu massacres e derrotas historicas para a classe trabalhadora , o PT , precisa rever sua politica interna com relação ao direito de pensamentos divergentes da maioria , o caminho contrario só fortalece a direita e confunde os trabalhadores , a Espanha de Franco , a alemanha de Hitler , são exemplos historicos dessa divisão da esquerda em momentos cruciais da luta dos trabalhadores , onde a direita só foi vitoriosa por conta da incapacidade da esquerda em construir projetos comuns , o momento é de união da esquerda , não sou cego , tenha clareza do papel frágil e volatil , que figuras como , Sarney , Requião , Collor , Cabral , representam , tá faltando um fortalecimento do nosso campo , nesse ponto concordo com as criticas , é preciso estimular a reconstrução dos movimentos sociais que estão anesteziados , do contrario , em um determinado momento seremos engolidos por este perigosso arco de alianças que como todos sabemos não possui um corte ideologico em relação as grandes forças do capital nacional ….

Ana Maria

Marina levou um fascista para o segundo turno , e agora lava as mãos como Poncio Pilatos.Sheila aquela da denúncia do aborto feito pela mulher do serra teve mais amor ao Brasil do que vôce. Marina.
Dilma vibrações positivas para vôce, porque a nuvem negra que esta sobre SP e vai ficar por mais 4 , está querendo se espalhar para o Brasil, Deus nos livre.

RCM

E a pseudo-esquerda (psol, pstu…) juntamente com os eco-burgueses (pv, de Gaberia e Marina) se declaram
neutros… Os "puros" ficam com a consciência tranquila vendo o avanço da direitona fascista…. Como é facil ser revolucionario de buteco (Lenin tinha razão, o esquerdismo é uma doença infantil do comunismo…).
Muito mais lucido é J.P Stedile do MST (Obrigado Azenha pela entrevista), este sim um revolucionario profissional.
Abraço.

    Antonio Gomes

    Meu amigo, é importante ressaltar que são os partidos trotkistas, esses sim revolucionários de buteco, que estão na contramão da história: PSOL, PSTU e PCO (todos trotskystas): "neutros". Já o PCR, o PCML (do jornal Inverta) e o PCB declararam voto em Dilma. Não sou filiado a esses partidos nem alimento simpatias por eles a não ser por serem de esquerda, mas é importante fazer a diferenciação pra não acharmos que todos os partidos pequenos de esquerda são revolucionários de buteco. Os trotskystas é que são o Ó!

    RCM

    Concordo com você.

Ramiro Tavares

O prior é que o fascismo brasileiro além de ser o que é ideologicamente, também está vocacionado para a traição, para trair todos os legítimos interesses e anseios de bem-estar, felicidade, progresso e soberania nacional desejados por nosso povo. Uma prova é a reunião que FHC teve em Foz do Iguaçu com "investidores" internacionais. Acertaram a privatização da Petrobras., Pre-Sal, Banco do Brasil Itaipu e etc.. Enfim, caso o líder da Mooca seja eleito, nós já sabemos o que irá acontecer com a gente e com o país. Vejam o post
http://pedroayres.blogspot.com/2010/10/fhc-esta-a
em que há a reprodução da denúncia feita pelo jornalista Laerte Braga.

Vilma Rodrigues

Jamais votaria em qualquer partido de direita, por isso, na falta de qualquer alternativa socialista, terei que votar em Dilma. No entanto, quero registrar aqui minha compreensão da gravidade deste momento em que as forças do obscurantismo político, os fascistas de todas os guetos do reacionarismo, se unem para retomar o poder e reiniciar o massacre das forças organizadas do campo do trabalho.
Tributo ao PT esse momento, quando, ao ter alcançado condição privilegiada para promover um amplo projeto de politização da política fez o contrário, meteu-se em escândalos sórdidos e desmoralizou (injustamente, mas por extensão) toda a esquerda e sua história de lutas. Manietou os movimentos, agora amplamente atrelados ao Estado Lulista, fez o jogo do capital financeiro e se apropriou populisticamente da miséria do povo. Uma vergonha histórica que nem Dilma, com seus pares de Erenices e Zés Dirceus não reverterá.
Lamento ainda que haja o segundo turno pois os acordos tanto do PSDB como do PT terão um caráter ainda mais eleitoreiro, demagogo e conservador, abrindo aos oportunistas de sempre mais espaço para se locupletarem de cargos no aparelho estatal.
Barrar o fascismo é prioridade para nós da esquerda, por isso não votar em Serra e assegurar a vitória de Dilma está acima de todo o nojo que o PT me provoca. Mas nos encontraremos nas ruas, nas lutas contra as políticas de destruição das conquistas da classe trabalhadora em pauta no Projeto e Reforma Sindical e Trabalhista do PT. Lamentavelmente, vejo também no PT a matriz de atitudes fascistas, como as que se expressam na constituição, pelo PT, de Infantarias especializadas no controle de manifestações públicas como a 11a Brigada de Infantaria Blindada em 11a Brigada de Infantaria Leve – Garantia da Lei e da Ordem, sediada em Campinas (SP).
Com pesar e desesperança
Vilma

flavio marcio

Uma turba capaz de promover o direitaço no Brazil está colocando a cabeça ou as cabeças de fora.
Visa o linchamento inicialmente político e moral do movimento liderado por Dilma e Lula; mais adiante, tendo o inferno como limite, quem sabe, físico, serrando (ops) seus inimigos.
A presença de elementos fascistas nesta turba, por ora táticos e auxiliares, pela hegemonia neoliberal é algo instável, que pode sair do controle. A agressão do neoliberal Jereissati (Jegueressati?)ao padre em Canindé transmutou-se em ato puramente fascista, sem terceirizações.
Ponhamo-nos, imediatamente, junto ao povo para conter a turba e defender a democracia conferindo-lhe um caráter popular e combativo!
Esta luta não vai será televisionada!

Marcos

Quem quiser saber mais sobre o jeito família dos tucanos governarem em São Paulo, dá uma pesquisada no google nas expressões: "andré goldman" e "verde e meio ambiente".

Rossi

Os que pregam a neutralidade agora estão com a reação."Os lugares mais quentes do inferno,estão reservados para aqueles que, em momentos como este,assumem a posição de neutralidade".

francisco.latorre

quem votar no serra vai ter que assumir.

tá com serra.

..

muitos não vão encarar.

vão anular. ou viajar.

quem vai com serra é serra.

não é fácil. não mesmo.

..

    Ed Döer

    Com as próximas pesquisas mantendo a atual estabilidade diria que a tendência é por aí. Pessoal vai pegar a estrada e deixar o Serra na mão. Até porque muitos que estão com Serra só estão pelo anti-PTismo, preconceito, ódio, etc.

    Leo

    Voto Serra com certeza, por pior que seja, ele ainda sim é melhor para governar do que a Dilma com seus aliados comunistas

    MARCELO GERGULL

    TRISTE O DESTINO DE UMA NAÇÃO, onde cidadãos votam na desgraça de DES-GOVERNO que já conhecem, insuflados pelo medo do que lhes disseram, não conhecerem!

    COCA-COLA É ISSO AÍ!!!

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