Paulo Metri: O governo Dilma diante de crises ininterruptas

Tempo de leitura: 6 min
Marcos Coimbra sobre as pesquisas pós-manifestações de junho: Tudo considerado, Dilma continua como favorita.  Foto: Marcelo Camargo/ABr

Foto: Marcelo Camargo/ABr

Golpe em curso

por Paulo Metri, do Correio da Cidadania, em seu blog

Os que querem a derrubada do governo

Não conheço todos que trabalham para derrubar nosso governo, mas tenho conhecimento de algumas pessoas, organizações e países que estão trabalhando com afinco para derrubá-lo.

O capital internacional, mais representado pelas empresas petrolíferas, que queriam ficar com a maior parte do petróleo do Pré-sal, desejariam ver um governo capacho tomando o poder. São os capitais que se sentem prejudicados com a assinatura de acordos pelo Brasil com a China, Rússia, Índia, África do Sul, países do Mercosul, outros países da América Latina, países da África e do Oriente Médio, enfim, com os novos parceiros do Brasil.

São os Estados Unidos da América, uma vez que o planejamento da evolução das forças armadas deste país, segundo o seu próprio Departamento de Defesa, dentre outros objetivos, visa tolher o aparecimento de outros hegemones.

Está interessada na derrubada do nosso governo, por mais incrível que possa parecer, uma parcela do capital nacional, que se contenta em ser um proxeneta do internacional.

Políticos, que se aliam a grupos estrangeiros para prejuízo do nosso povo também aderiram ao golpe. Políticos corruptos e seus corruptores nacionais querem derrubar, de qualquer forma, o atual governo, porque este tem liberado a Polícia Federal, a CGU e o Ministério Público para investigarem qualquer denúncia que apareça.

Os atuais herdeiros dos antigos “donos de engenho”, que trocam a felicidade do povo pelo acúmulo de riqueza para eles próprios, não querem ver “peões” como beneficiados pelo poder.

Toda vez que a sociedade brasileira evolui, no sentido de aumentar seu nível de conscientização política e de desenvolvimento social, uma parcela pequena da população, contudo possuidora da mídia comercial e de muitos recursos, que representa interesses estrangeiros, busca barrar a evolução. Foi assim nos governos Vargas e Jango.

Em todas as situações, a derrubada começa com mentiras descaradas sobre o governo, transmitidas para a população exaustivamente por uma mídia corrupta, como se fossem verdades. Em seguida, vários poderes, políticos e lideranças criam obstáculos sistemáticos para quem foi democraticamente eleito.

Esta minoria quer o poder para continuar a exploração dos indefesos da sociedade e, com isso, continuar concentrando a renda em suas mãos. Quer também entregar riquezas nacionais a estrangeiros, que financiaram suas campanhas políticas, o atual golpe e ainda prometem umas migalhas para o futuro.

Os governos Lula e Dilma representaram uma inflexão desta tendência. Registre-se que os benefícios para os mais desprotegidos, ocorridos nos citados governos, não foram subvencionados com recursos retirados ou que iriam para a classe média – portanto, não há razão para ela se opor a estes benefícios. No entanto, ela é muito influenciada pela mídia do capital.

Congresso fisiológico e conservador

O Congresso nacional é formado por uma grande bancada fisiológica e uma menor bancada ideológica.

Os fisiológicos foram eleitos com auxílio de recursos bancados por apoiadores de campanha, não só o que é permitido pela legislação, como através de caixa dois.

Assim, seus mandatos não são seus, nem dos eleitores que os elegeram. São dos seus apoiadores de campanhas, que têm interesses bem diferentes da presidente Dilma.

Portanto, ela terá razoável dificuldade para conseguir ter qualquer assunto aprovado no Congresso.

Esporadicamente, o interesse público prevalece no Congresso, mas quase sempre é patrocinado por congressistas ideológicos.

Os fisiológicos só querem “usufruir” de seus mandatos, pois passam a ter algum poder, que pode ser traduzido em dinheiro. Assim, para eles, o Congresso nada mais é que um balcão de negócios.

Mas algumas decisões não dependem unicamente deles, mas também da presidente. Assim, quando ela precisa da aprovação, por parte deles, de outros temas, chantageiam-na com a aprovação dos pontos que representarão dinheiro para eles.

O presidente que não fizer um mínimo de concessões não irá governar. As alternativas seriam, em primeiro lugar, buscar o apoio popular para destituir os maus políticos dos seus cargos, o que é impossível de acontecer, dado o estágio atual da nossa conscientização política.

Pode-se também denunciar este esquema diretamente para a sociedade, através da requisição de tempo na TV aberta e em cadeia de rádio, e do uso intensivo das TVs Brasil e NBR. Este seria o mínimo contraponto que a presidência sitiada poderia utilizar, mas iriam dizer que está sendo cerceada a liberdade de imprensa.

Quando um congressista diz que a reforma política tem que ser originada no Congresso é porque eles querem que passe a reforma que preserve seus poderes.

Por isso, o projeto de lei de iniciativa popular da reforma política é extremamente importante.

O decreto da presidente sobre conselhos populares para a participação social, derrubado pela Câmara recentemente, nunca iria ser aprovado pelo Congresso. Apesar das recomendações destes conselhos não terem que ser obrigatoriamente aceitas, se forem contrárias aos interesses do Legislativo, eles dificultarão as decisões de interesse dos congressistas.

Outra ingenuidade é pensar que uma nova Lei dos Meios de Comunicação, útil para a sociedade, poderá ser aprovada pelo Congresso que saiu recentemente da eleição e é considerado pior que o atual.

O ministro do STF, a oposição e a mídia

Mas não é só o Congresso que busca golpear o próximo governo de Dilma. O ministro do STF Gilmar Mendes, em uma única afirmação deselegante, ofendeu a todos os juízes nomeados por Lula e Dilma. Inclusive, ele ofendeu o ministro Joaquim Barbosa, que, em muitas questões, teve opiniões concordantes. Ele esquece que, durante anos, o STF foi bastante conservador, mais parecendo conter onze Gilmar Mendes.

A posição do PSDB, depois da eleição, é socialmente reprovável. Discursos de ódio de muitos dos seus mais altos membros, como Aécio Neves e Aloysio Nunes Ferreira, demonstram a desvinculação da base mínima para um possível convívio político. Mesmo Fernando Henrique Cardoso, em artigo, deixa claro também suas radicalizações.

Tudo isto com a reverberação máxima da mídia do capital. Eles não querem construir uma sociedade fraterna, mas uma sociedade de castas. É importante deixar claro que, nesta eleição, há ódio de classes.

O nível de radicalismo da oposição é inusitado, pois não reconhecem que perderam com cerca de 3,6 milhões de votos de diferença entre o vencedor e o perdedor.

Querer que o vencedor não governe é um achincalhe ao desejo popular.

Aécio deveria seguir o exemplo de John McCain, candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano em 2008, tendo como adversário o candidato democrata Barak Obama. McCain acabou derrotado por Obama e, no discurso reconhecendo a derrota, disse: “Obama era meu adversário. Agora é meu presidente”.

Querer o impeachment da presidente devido à denúncia não comprovada de um bandido é uma afronta a qualquer pessoa de bem e que deseja a construção de uma sociedade justa. A oposição se valeu desta denúncia inconfiável, que não deveria ser divulgada no meio do processo eleitoral, para amealhar votos para seu candidato.

Raciocinando com a hipótese de que o Aécio ganhasse a eleição, só para mostrar o absurdo que foi esta divulgação. Claramente, ela teria influenciado o resultado. Depois que Aécio tomasse posse e não se comprovasse que Dilma sabia das falcatruas dos senhores Costa e Youssef, o que se faria, pois se teria dado posse ao presidente errado?

O que ocorreu possivelmente foi que esta denúncia causou danos ao total de votos da presidente, mas, por sorte, ela tinha uma razoável quantidade deles em excesso aos do adversário e, por isso, ela ainda continuou ganhando.

O PSDB requereu ao TSE uma auditoria independente sobre a votação através das urnas eletrônicas, conseguindo não só agredir ao TSE, mas também a todos os técnicos do setor público responsáveis pela eleição. Outra divagação para mostrar o momento inusitado em que vivemos: imagine que o Aécio ganhasse a eleição e os simpatizantes de Dilma começassem a declarar, antes de completar uma semana da eleição, que as urnas eletrônicas foram fraudadas e a pedir impeachment do presidente eleito? Toda a mídia do capital diria que os simpatizantes de Dilma são antidemocráticos e querem desrespeitar a vontade popular.

Golpe em curso?

Em uma manifestação da direita em São Paulo, onde o PSDB se fazia representar, pediram até o retorno da ditadura. Este pedido é incrível, porque próceres deste partido, como Aloysio Nunes Ferreira e José Serra, sofreram na ditadura e não houve repúdio à proposta.

Contudo, uma voz com a razão finalmente apareceu, pois Xico Graziano, que é do PSDB, repudiou a volta da ditadura. Repito, sobre este ponto, seus colegas de partido se calaram. Será que para tirar o PT do poder até uma ditadura é bem-vinda? Lembre-se que, para tirar Jango do poder, a direita aceitou uma ditadura.

Por esta pequena amostra, pode-se concluir que o mandato que ainda não iniciou irá sofrer crises ininterruptas, propositadamente criadas pela direita, aliada a interesses estrangeiros. Tudo com o beneplácito de um Congresso de maioria fisiológica.

Este não terá espírito público e passará quatro anos criando “dificuldades” para ganhar “facilidades” nos seus pleitos para a presidente.

As reformas política e da mídia, primordiais para a consolidação da democracia brasileira, dificilmente ocorrerão a contento porque os próprios congressistas têm interesses diferentes dos da população, com relação ao sistema político e à regulamentação da mídia. Serão mentiras e acusações constantes, com repercussão máxima na mídia, para sequestrar os votos dados pelo povo à presidente.

É possível compreender a angústia atual de muitos dos militantes e quadros do PSDB e da direita, afinal de contas estão longe do poder há 12 anos; com mais quatro deste segundo governo Dilma, estarão 16 anos longe do poder. Se for somado mais quatro anos de um potencial terceiro mandato de Lula, chegar-se-á a 20 anos do PSDB e da direita longe do poder. A solução para eles é um golpe ou o impeachment.

A esperança maior reside no povo, que não foi manipulado nesta eleição pela mídia, e precisa, de novo, não ser enganado pelo que a mídia disser para forçar o golpe. A presidente é combativa, mas precisa do apoio popular. A libertação de nosso povo, que não quer ser mais explorado por inimigos externos e internos, precisa ser conquistada. O golpe está em curso, mas pode ser revertido, principalmente se existir apoio popular para a presidente poder governar.

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FrancoAtirador

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A CAMINHO DO UCRANISTÃO

Quem neste ano eleitoral fez campanha presencial, no tête-à-tête, no boca a boca, sentiu a dor de perceber que grande parte dos eleitores e das eleitoras, principalmente das camadas mais humildes, acreditou piamente na Mentira Deslavada e Sem-Vergonha inventada pelos próceres da Extrema-Direita Raivosa (e em seguida encampada pelas militâncias da Direita Inescrupulosa, de Aécio e de Campos/Marina), que, partindo de premissas falsas, como sempre, baseadas na escandalização do Caso da Petrobrás promovida pela Mídia-Empresa por meio de factóides diários e ininterruptos, lançados em manchetes em todos os Veículos de Comunicação do País,
convenceram uma parcela razoável da população de que, se @s brasileir@s retirassem o PT do Executivo, votando nos candidatos da Oposição Antipetista, estariam acabando com uma imaginária ‘Corrupção Generalizada nas Instituições Estatais’ atribuída preconceituosamente e de má-fé aos Governos Petistas que teriam realizado um tal de ‘Aparelhamento do Estado pelo Lulopetismo Bolivariano-Comunista’ e ‘transformariam o Brasil numa Venezuela’, no sentido mais Pejorativo e Degradante,
e de que, a partir daí, sem os ‘Petralhas Ladrões’ governando, sobrariam bilhões de reais para investimento em Saúde, Educação, Transporte e demais Serviços Públicos Essenciais demandados pelos cidadãos, especialmente nas Grandes Cidades.

A distorção criminosa, caluniosa, injuriosa e difamatória, do Detrito Panfletário Fétido da Marginal, responsabilizando diretamente o ex-presidente Lula e a presidente Dilma, na antevéspera da Votação do Segundo Turno, foi só o tiro que faltava ao intuito pretendido.

Os Fascistas não conseguiram exterminar a esquerda
nem eleger o governante pelo voto popular direto,
mas disseram bem a que vieram e o que pretendem agora:
dar o Golpe de Fato como fizeram na Ucrânia.

Se houve um tom de exagero de uma parte dos petistas e dos simpatizantes da candidatura presidencial do Partido dos Trabalhadores (PT) contra algum candidato de outro partido político concorrente nas eleições – e aqui não se enquadra a Blogosfera Progressista, pois tudo o que foi postado nos Blogs Sujos a respeito dos presidenciáveis estava documentalmente comprovado – foi por pura reação coletiva instintiva de sobrevivência política e ideológica, diante do Fascismo que se lançou em Ofensiva Sórdida e Irracional na Tentativa, mais que de Extermínio do PT, de Genocídio de todas as Correntes de Pensamento que rebelam-se contra a Dominância do Capital Financeiro no Brasil e no Mundo, e, por conseguinte, se opõem ao Neoliberalismo de Mercado Excludente e Perverso.
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Aroeira

http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2014/11/10/os-pilares-da-estupidez/

A preocupação de Mauro Santayana é a mesma de Paulo Metry

Os pilares da estupidez
Mauro Santayana

Está em curso, há anos, nas “redes sociais” insidiosa campanha de agressão à democracia e crescentes ataques às instituições.

Quem cala, consente. Os governos do PT têm feito, em todo esse período, cara de paisagem. Nem mesmo quando diretamente insultados, ou caluniados, os dirigentes do partido tomaram qualquer providência contra quem os atacava, ou atacava as instituições, esquecendo-se de que, ao se omitirem, a primeira vítima foi a democracia. Nisso, sejamos francos, foram precedidos por todos os governos anteriores, que chegaram ao poder depois da redemocratização do país.

Mergulhados na luta política e na administração cotidiana dos problemas nacionais, nenhum deles percebeu que o primeiro dever que tínhamos, nesta nação, depois do fim do período autoritário, era regar e proteger a frágil flor da Liberdade, ensinando sua importância e virtudes às novas gerações, para que sua chama não se apagasse no coração dos brasileiros. Se, naquele momento, o da batalha pela reconquista do Estado de Direito, cantávamos em letras de rock que queríamos votar para presidente, hoje parece que os polos da razão foram trocados, e que vivemos sob a égide da insânia e da vilania.

Em absoluta inversão de valores, da ética, da informação, da própria história, retorna a velha balela anticomunista de que Jango — um latifundiário liberal ligado ao trabalhismo — ia implantar uma ditadura cubano-soviética no Brasil, ou que algumas dezenas de estudantes poderiam derrubar, quatro anos depois, um regime autoritário fortemente armado, quando não havia nenhuma condição interna ou externa para isso.
“Retorna a velha balela anticomunista de que Jango ia implantar uma ditadura cubano-soviética no Brasil”

Agora, para muitos que se manifestam pela internet, quem combatia pela democracia virou terrorista, os torturadores são incensados e defendidos, e prega-se abertamente o fim do Estado de Direito, como se o fascismo e o autoritarismo fossem solução para alguma coisa, ou o Brasil não fosse ficar, política e economicamente, imediata e absolutamente, isolado do resto do mundo, caso fosse rompida a normalidade constitucional.

Ora, os mesmos internautas que insultam, hoje, o Judiciário, sem serem incomodados — afirmando que o ministro Toffoli fraudou as eleições — já atacaram pesadamente Aécio Neves e sua família, quando ele disputava a indicação como candidato à Presidência pelo PSDB em 2010. São eles os mesmos que agridem os comandantes militares, acusando-os de serem “frouxos” e estarem controlados pelos comunistas, e deixam claro seu desprezo pelas instituições brasileiras, incluindo as Forças Armadas, pedindo em petição pública à Casa Branca uma intervenção dos Estados Unidos no Brasil, como se fôssemos reles quintal dos EUA, quando são eles os que se comportam como abjetos vira-latas, em sua patética submissão ao estrangeiro.

São eles os que defendem o extermínio dos nordestinos e a divisão do país, como se apenas naquela região a candidata da situação tivesse obtido maioria, e não estivéssemos todos misturados, ou nos fosse proibida a travessia das fronteiras dos estados.

São eles que inventam generais de araque, supostos autores de manifestos igualmente falsos, e usam, sem autorização, o nome de oficiais da reserva, em documentos delirantes, tentando manipular, a todo momento, a base das Forças Armadas e as forças de segurança, dando a impressão de que existem sediciosos no Exército, na Marinha, na Aeronáutica, quando as três forças se encontram unidas, na execução de projetos como o comando das Operações de Paz da ONU no Haiti e no Líbano; as Operações Ágata, em nossas fronteiras; o novo Jato Cargueiro Militar KC-390 da Embrer; o novo Sistema de Mísseis Astros 2020 da Avibras; ou o novo submarino nuclear brasileiro, no cumprimento, com louvor, de sua missão constitucional.

O site SRZD, do jornalista Sérgio Rezende, entrou em contato com oficiais militares da reserva, que supostamente teriam “assinado” um manifesto, que circula, há algum tempo, na internet. O texto se refere a “overdose de covardia, cumplicidade e omissão dos comandantes militares” e afirma que, como não há possibilidade de tirar o PT do poder, é preciso dar um golpe militar, antes que o Brasil se transforme em uma “Cuba Continental”.

Segundo o SRZD, todos os oficiais entrevistados, incluindo alguns generais, negaram peremptoriamente terem assinado esse “manifesto” e afirmaram já ter entrado em contato com o Ministério do Exército, denunciando tratar-se o e-mail que divulgava a mensagem de uma farsa e desmentindo sua participação no suposto movimento.

Por mais que queiram os novos hitlernautas, os militares brasileiros sabem que o governo atual não é comunista e que o Brasil não está, como apregoam os “aloprados” de extrema direita que tomaram conta da internet, ameaçado pelo comunismo internacional.

Como dizer que é comunista, um país em que os bancos lucram bilhões, todos os trimestres; em que qualquer um — prerrogativa maior da livre iniciativa — pode montar uma empresa a qualquer hora, até mesmo com apoio do governo e de instituições como o Sebrae; no qual investidores de todo o mundo aplicam mais de 60 bilhões de dólares, a cada 12 meses, em Investimento Estrangeiro Direto; onde dezenas de empresas multinacionais se instalam, todos os anos, junto às milhares já existentes, e mandam, sem nenhuma restrição, a cada fim de exercício, bilhões e bilhões de dólares e euros em remessa de lucro para e exterior?

Como taxar de comunista um país que importa tecnologia ocidental para seus armamentos, tanques, belonaves e aeronaves, cooperando, nesse sentido, com nações como a França, a Suécia, a Inglaterra e os Estados Unidos? Que participa de manobras militares com os próprios EUA, com países democráticos da América do Sul e com democracias emergentes, como a Índia e a África do Sul?

Baboso, atrasado, furibundo, ignorante, permanentemente alimentado e realimentado por mitos e mentiras espatafúrdias, que medram como fungos nos esgotos mais sombrios da Rede Mundial, o anticomunista de teclado brasileiro é sobretudo hipócrita e mendaz.
“Nada contra alguém ser de direita, desde que se obedeçam as regras estabelecidas na Constituição”

Ele acredita “piamente” que Dilma Rousseff assaltou bancos e matou pessoas e que José Genoino esquartejou pessoalmente um jovem, começando sadicamente pelas orelhas, quando não existe nesse sentido nenhum documento da ditadura militar.

Ele vê em um site uma foto da Escola Superior de Agricultura da USP, a Esalq, situada em Piracicaba, e acredita, também, “piamente”, que é uma foto da mansão do “Lulinha”, que teria virado o maior fazendeiro do país, junto com seu pai, sem que exista uma única escritura, ou o depoimento — até mesmo eventualmente comprado — de um simples peão de fazenda ou de um funcionário de cartório, que aponte para alguma prova ou indício disso, como de outras “lendas urbanas”, como a participação da família do ex-presidente da República na propriedade de um grande frigorífico nacional.

Ele crê, piamente, e divulga isso, todo o tempo, que todos os 600 mil presos brasileiros têm direito a auxílio-reclusão quando quase 50% deles sequer foram julgados, e menos de 7% recebem esse benefício, e mesmo assim porque contribuíram normalmente, antes de serem presos, para a Previdência, durante anos, como qualquer trabalhador comum.

Nada contra alguém ser de direita, desde que se obedeçam as regras estabelecidas na Constituição. Nesse sentido, o senhor Jair Bolsonaro presta um serviço à democracia quando diz que falta, no Brasil, um partido com essa orientação ideológica, e já se declara candidato à Presidência, por essa provável agremiação, ou por essa parcela do eleitorado, no pleito de 2018.

Os mesmos internautas que pensam que Cuba é uma ditadura contagiosa e sanguinária, da qual o Brasil não pode se aproximar, ligam para os amigos para se gabar de seu novo smartphone ou do último gadget da moda, Made in República Popular da China, que acabaram de comprar.

Eles são os mesmos que leem os textos escritos, com toda a iberdade, pela opositora cubana Yoami Sanchez — já convenientemente traduzidos por “voluntários” para 18 diferentes idiomas — e não se perguntam, por que, sendo Cuba uma ditadura, ela está escrevendo de seu confortabilíssimo, para os padrões locais, apartamento de Havana, e não pendurada em um pau de arara, ou tomando choques e sendo espancada na prisão.

Mas fingem ignorar que 188 países condenaram, na semana passada, em votação de Resolução da ONU, o embargo dos Estados Unidos contra Cuba, exigindo o fim do bloqueio.

Ou que os EUA elogiaram e agradeceram a dedicação, qualidade e profissionalismo de centenas de médicos cubanos enviados pelo governo de Havana para colaborar, na África, com os Estados Unidos, no combate à pandemia e tratamento das milhares de vítimas do ebola.

Ou que a Espanha direitista de Mariano Rajoy, e não a Coreia do Norte, por exemplo, é o maior sócio comercial de Cuba.

Ou que há poucos dias acabou em Havana a XXXIII FIHAV, uma feira internacional de negócios com 4.500 expositores de mais de 60 países — aproximadamente 90% deles ocidentais — com a apresentação, pelo governo cubano, a ávidos investidores estrangeiros, como os italianos, canadenses e chineses, de 271 diferentes projetos de infraestrutura, com investimento previsto de mais de 8 bilhões de dólares.

Radical, anacrônica, desinformada e mais realista que o rei, a minoria antidemocrática que vai, eventualmente, para as ruas e se manifesta raivosamente na internet querendo falar em nome do país e do PSDB, pedindo o impeachment da presidente da República e uma intervenção militar, ou dizendo que é preciso se armar para uma guerra civil, baseia-se na fantasia de que a nação está dividida em duas e que houve fraude nas urnas, mas se esquece, no entanto, de um “pequeno” detalhe: quase um terço dos eleitores, ou mais de 31 milhões de brasileiros, ausentes ou donos de votos brancos e nulos, não votaram nem em Dilma nem em Aécio, e não podem ser ignorados, como se não existissem, quando se fala do futuro do país.

Cautelosa e consciente da existência de certos limites intransponíveis, impostos pelo pudor e pela razão, a oposição tem se recusado a meter a mão nessa cumbuca, fazendo questão de manter razoável distância desse pessoal.

Guindado, pelo voto, à posição de líder inconteste da oposição, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, por ocasião de seu primeiro discurso depois do pleito, no Congresso, disse que respeita a democracia permanentemente e que “qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão no outro campo político, não estão no nosso campo político”.

Antes dele, atacado por internautas, por ter classificado de “antidemocráticas” as manifestações pedindo o impeachment da presidente Dilma e a volta do autoritarismo, o sociólogo Xico Graziano, também do PSDB, já tinha afirmado que “a truculência dessa cambada fascista que me atacou passa de qualquer limite civilizado. No fundo, eles provaram que eu estava certo: não são democratas. Pelo contrário, disfarçam-se na liberdade para esconder seu autoritarismo”.

E o vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman, também negou, no dia primeiro, em São Paulo, que o partido ou a campanha de Aécio Neves estivessem por trás ou apoiassem — classificando-as de “irresponsáveis” — as manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

É extremamente louvável a iniciativa do presidente da OAB, Marcus Vinícius Furtado Côelho, de pedir a investigação e o indiciamento, que já estão em curso, pela Polícia Federal, com base na Lei do Racismo por procedência, dos internautas responsáveis pela campanha contra os nordestinos, lançada logo após a divulgação do resultado da eleição.

Mas, se essa campanha é grave, mais grave ainda, para toda a sociedade brasileira, tem sido a pregação constante, que já ocorre há anos, pelos mesmos internautas, da realização de um Golpe de Estado, do assassinato e da tortura de políticos e intelectuais de esquerda, e de “políticos” de modo geral, além do apelo à mobilização para uma guerra civil, incluindo até mesmo a sugestão da compra de armas para a derrubada das instituições.

Cabe ao STF, ao Ministério Público, ao TSE, e aos tribunais eleitorais dos estados, que estão diretamente afeitos ao assunto, e à OAB, por meio de seus dirigentes, pedir, como está ocorrendo nos casos de racismo, a imediata investigação, e responsabilização, criminal, dos autores desses comentários, cada vez mais rançosos e afoitos, devido à impunidade, e o estabelecimento de multas para os veículos de comunicação, que os reproduzem, já que na maioria deles existem mecanismos de “moderação” que não têm sido corretamente aplicados nesses casos.

A Lei 7.170 é clara, e define como “crimes contra a Segurança Nacional e a Ordem Política e Social, manifestações contra o atual regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito”.

Há mais de 30 anos, pelas mãos de Tancredo Neves e de Ulisses Guimarães — em uma luta da qual Aécio também participou — e de milhões de cidadãos brasileiros, que foram às ruas, para exigir o fim do arbítrio e a volta do Estado de Direito, o Brasil reconquistou a democracia, pela qual havia lutado, antes, a geração de Dilma Rousseff, José Dirceu, José Serra e Aluísio Nunes, entre outros.

Por mais que se enfrentem, agora, essas lideranças, não dá para apagar, de suas biografias, que todos tiveram seu batismo político nas mesmas trincheiras, enfrentando o autoritarismo.

Cabe a eles, principalmente os que ocupam, neste momento, alguns dos mais altos cargos da República, assumir de uma vez por todas sua responsabilidade na defesa e proteção da democracia, para que a Liberdade e o bom-senso não esmoreçam, nem desapareçam, imolados no altar da imbecilidade.

Jornalistas, meios de comunicação, Judiciário, militares, Ministério Público, Congresso, Governo e Oposição, precisamos, todos, derrubar os pilares da estupidez, erguidos com o barro pisado, diuturnamente, pelas patas do ódio e da ignorância, antes que eles ameacem a estabilidade e a sobrevivência da nação, e da democracia.

L@!r M@r+e5

Aí a Dilma faz o quê com a CartaCapita, única publicação que pode ser levada em consideração a apoiá-la explicitamente? Falta no evento da revista sendo que ela já tinha confirmado e reconfirmado!

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2014/11/10/dilma-falta-a-festa-do-mino/

Até hoje eu estou brigando com gente querendo até golpe de Estado.

Sinceramente, estou ficando cansado de defendê-la…

E, acreditem, muita gente está ficando cansada comigo.

Urbano

Os patridiotas são em sua maior parte desonestos; principalmente com o Brasil e seu povo.

caocaca

Ótimo artigo, é didático e trata do que deve ser dito. Merece ser repassado e compartilhado para que mais pessoas tomem consciência da verdadeira realidade que vivemos, não aquela que é manipulada pela mídia.

Samwise

O governo combate o golpe ampliando sua base social.

Para tal é preciso reconquistar a Classe C das regiões centro-sul do país.

Isso só será feito garantindo e ampliando suas conquistas econômicas.

Sugiro o texto simples e objetivo que segue:

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR.html

Spencer

A política de ódio perpetrada pela mídia do capital está deprimindo a classe média. A insegurança propalada pela mídia está desorientando as pessoas. Basta conversar por algum tempo com alguém que dê atenção (ou não presta atenção) à programação dessa nefasta mídia que ela lhe revelará um ódio e um temor despersonificados. Penso que está na hora do governo federal tomar medidas, inclusive de marketing, que tenham a capacidade de desfazer essa depressão.

Eva

Precisamos manter contato. A presidenta e o povo. O PT e o povo. Nem se for panfletando e convidando para manifestações de apoio. Que as deliberações do congresso e senado seja mostrada nos telões da cidade. Há outras formas de informar o povo e que não passa pela grande mídia.

Alessandra Nilo

Realmente acho que estamos carentes de boas análises sobre o novo contexto da geopolítica e, mais ainda, de análises menos tendenciosas e ideológicas. Desse jeito fica difícil ler a imprensa “alternativa. Carecemos de olhares mais plurais e contemporâneos sobre atuais interesses econômicos e motivações das potências internacionais e menos ufanismo…As vezes acho que os discursos e textos parecem ter parado no tempo. Uma boa leitura de autores modernos, publicações do IPEA e revistas de economia ajudaria muito…

    Nelson

    Minha cara Alessandra Nilo

    A análise do Metri é ideológica, sim. E não poderia ser diferente, pois é disso que se trata: disputa ideológica. Ao mesmo tempo, ela nada tem de tendenciosa, pois retrata, sim, o momento porque passa o nosso país.

    Aliás, momento pouco diferente do vivido por outros governos que ousam destoar do rumos impostos pelo Sistema de Poder que domina os Estados Unidos. Sistema de poder que já domina também boa parte do planeta e tem intenções de dominá-lo por completo.

    Ou tu já esqueceste do Snowden e da espionagem da NSA, Alessandra?

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