Narciso Alvarenga Monteiro de Castro: “Não me surpreenderei se Dilma deixar o PT”

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Nilton Monteiro

Nilton Monteiro falou a verdade. CPMI que tinha Delcídio e Cardozo trabalhou para desacreditá-lo

ACORDÃO: O COMEÇO DO FIM DO GOVERNO DILMA OU O FIM DO GOVERNO QUE NUNCA COMEÇOU?

Narciso Alvarenga Monteiro de Castro*

A votação de ontem no Senado pôs a nu a fragilidade do governo Dilma ao aceitar acordo para a entrega do pré-sal às petroleiras estrangeiras, como havia prometido José Serra à Chevron.

A participação decisiva de Renan Calheiros, a abstenção do novo líder no Senado, Humberto Costa… tudo leva à conclusão de Lindbergh Farias: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a sua vã filosofia”.

Ou como diria o Príncipe honesto, na mesma peça de William Shakespeare, “há algo de podre no Reino da Dinamarca”, ao se ver cercado por desonestos e abutres.

Tais divagações a respeito da maior derrota progressista dos últimos anos, me levam a outras indagações, talvez ao maior enigma do governo Dilma, a presença do ministro José Eduardo Cardozo na estratégica pasta da Justiça.

Imune a todas as críticas, parece gozar da confiança irrestrita da presidenta. Os círculos progressistas já se cansaram de malhar o aparentemente sonolento colaborador de Dilma (Cardozzzzzo), que parece aqueles bonecos de “joão bobo”, você lhe dá um soco e ele volta a ficar em pé novamente.

Integrantes da Polícia Federal já o apelidaram de “Eduardo Carbozo”, se referindo obviamente ao palhaço conhecido — e tudo fica por isso mesmo.

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Mas eu tenho uma nova tese. A minha tese é de que o indigitado ministro não é nada parvo. Ao contrário, é muito esperto e faz exatamente o que quer e o que a presidenta quer. E a polícia faz exatamente o que o ministro quer. E a presidenta faz o que quer fazer.

Aqui, e com a votação citada, chega-se à maior distanciação entre o governo e o PT. Há tempos, falei das diferenças entre o PT, o governo e governo do PT. Nunca dantes tais diferenças estiveram tão nítidas como hoje.

Mas voltando ao ministro, desconfia-se que tenha ficado ressentido com Lula, o chefe maior do PT, pois sempre agasalhou pretensões de ser indicado a ministro do STF, pois se enxerga como grande jurista.

Várias vagas foram preenchidas e Cardozo não foi indicado.

Já Dilma preferiu deixá-lo mais próximo. Também já se falou que ficou descontente quando Lula ungiu Haddad como seu preferido (vitorioso) à Prefeitura de São Paulo.

Também se comenta das estripulias do então advogado Cardozo, incluindo seu cliente mais conhecido, o notório Daniel Dantas, esse mesmo do Opportunity…

Então, José Eduardo Cardozo, a esfinge (decifra-me ou te devoro), no meu entender, seria um petista, tipo Delcídio do Amaral, aquele que já foi chamado o maior peesedebista (PSDB) do PT, inclusive foi nomeado por FHC para a Petrobrás, quando integrava o PSDB. Tenho fundadas razões para tal comparação, uma vez que por esses dias andei lendo o relatório da CPMI dos Correios.

Lembram-se, 2005, da chamada CPI do Fim do Mundo? Foi controlada pela oposição exatamente no Senado e “descascou” o PT, o então marqueteiro Duda Mendonça (que havia trabalhado para o PSDB nas campanhas de Eduardo Azeredo, aquele do Mensalão do PSDB, condenado recentemente).

Pois bem, o relatório é composto de três volumes e mais de 1.700 laudas, não é coisa para iniciante.

O presidente da CPMI era exatamente Delcídio do Amaral (PT) e o relator Osmar Serraglio (PMDB). A CPMI teve participação ativa do então deputado José Eduardo Cardozo, que ajudou a “descascar” as contas e campanhas do PT, a descobrir a famosa conta Dusseldorf no exterior. Veja como o mundo dá voltas e retorna ao mesmo lugar! O marqueteiro da vez agora é João Santana, acossado pela Polícia Federal de quem? José Eduardo Cardozo!

Em 2005, se vivia, como hoje, um clima robespieriano, com pescoços sendo cortados ou ameaçados de corte. Veja o tom (falso) moralista no final do relatório, escrito por Serraglio e Delcídio (então arauto do moralismo rasteiro, vejam só, hoje recém-saído da cadeia):

O Brasil vive, com a presente CPI, mais um momento histórico importante para o seu amadurecimento político. Outras CPIs marcaram, em passado recente, circunstâncias desse amadurecimento e expressaram a contribuição que o Congresso Nacional pode e deve oferecer…

Então, este mesmo Congresso Nacional, demonstrando sua sensibilidade aos clamores da sociedade, e sua identidade com o interesse nacional, exibiu o erro em que se incorria. Um indesejado, mas necessário processo de impeachment se impôs. Nesta outra página histórica, a ilusão de que a cidadania devesse ou pudesse delegar as atribuições indispensáveis à redenção nacional a um agrupamento político determinado é destruída pela lógica imperativa dos fatos. Nenhum grupo ideológico, isoladamente, irá redimir a sociedade brasileira.

Não, nós não riremos da honra, nem zombaremos da honestidade. O País que merecemos, que nossos filhos esperam de nós herdar, é o que passamos a desenhar com essa virada de página, evidenciando nosso inconformismo com o malbaratamento dos suados recursos de nossa sofrida gente. Ressaltamos, na Introdução deste Relatório Final, e julgamos necessário repetir em seu momento final: Sem moralidade administrativa, os recursos destinados à educação são desviados, e seguiremos um País de iletrados. (Relatório, vol. III, pg. 1715 e ss).

Coloquei em destaque a pretensão de parafrasear o grande jurista Rui Barbosa, que em discurso no Senado no ano de 1914 disse a célebre frase, tantas vezes repetida, mas nunca com a desfaçatez mencionada:

De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.

Esta mesma CPMI, que em 2005 teve a covardia de mencionar a Lista de Furnas apenas para tentar desacreditá-la, constando apenas as versões da oposição, que tentavam desqualificar o lobista Nilton Monteiro.

Mais tarde ficou comprovado que as denúncias de Monteiro sobre o mensalão do PSDB eram verdadeiras, que a Lista era verdadeira, como também que uma verdadeira Máfia armou contra tal personagem, contra o deputado Rogério Correia. Prenderam jornalistas, advogados e calaram a imprensa.

E para quem leu com cuidado a histórica sentença (de 141 laudas) da ilustre e corajosa Magistrada Melissa Pinheiro Costa Lage Giovanardi, viu que:

É necessário que seja dada credibilidade às declarações de NILTON MONTEIRO, haja vista que diversas de suas afirmações foram confirmadas pelas testemunhas. (p. 110).

E também que:

Enfim, diante de todo o conjunto probatório que fora exposto, não restam dúvidas de que o acusado EDUARDO BRANDÃO DE AZEREDO, para disputar a reeleição ao cargo de Governador do Estado de Minas Gerais, no ano de 1998, criou uma estrutura político-financeira a fim de legitimar, lavar, os vultuosos recursos que seriam utilizados durante a campanha. Criou-se uma organização criminosa complexa, com divisão de tarefas aprofundada, de forma metódica e duradoura. (p.134).

Por isso, ganha credibilidade a tese de Lindbergh Farias, que falou em traição, ao se referir ao espúrio acordo que entregou o pré-sal no Senado, reflexo direto da ação de destruição da Petrobrás, levado a termo pela Lava-Jato. Aqui, já não remanescem dúvidas sobre a intenção de Dilma de manter Cardozo no governo.

Não me surpreenderia se nos próximos dias Dilma seguisse Marta e deixasse o PT. Ou se o PT deixasse o governo.

*É juiz de Direito em Minas Gerais

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