Mino Carta: Confronto inevitável

Tempo de leitura: 3 min

26 de novembro de 2010 às 17:29h

E quando Meirelles disse “ou eu ou ele” teria selado definitivamente o seu destino

por Mino Carta, em CartaCapital

Um velho amigo comentou dias atrás: “Ele se meteu em uma enrascada sem saída quando disse: ou ele, ou eu, como Golbery”. Bom assunto para um almoço pacato. Comparava o chefe da Casa Civil de três ditadores, Castello Branco, Geisel e Figueiredo, com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que se prepara a deixar seu posto para Alexandre Tombini, diligente funcionário do próprio banco do qual é o atual diretor de Normas.

O impasse para Golbery deu-se logo após a desastrada operação que resultou na tragicomédia do Riocentro, a 1º de maio de 1981. A bomba explodiu no colo do terrorista de Estado que a carregava de carro, destinava-se a provocar uma hecatombe em meio a um espetáculo musical que reunia 20 mil pessoas. Felizmente, uma apenas foi para o Além, quem sabe o Inferno, enquanto o que dirigia o veículo ficou gravemente ferido. O inspetor Clouseau não se sairia melhor.

O humor negro do episódio não haveria de abrandar a profunda irritação que tomou conta do chefe da Casa Civil de João Baptista Figueiredo. Logo depois de ser informado a respeito do evento, caminhou até o gabinete presidencial e exigiu a demissão imediata do comandante do I Exército, sediado na Vila Militar do Rio, o general Gentil Marcondes, primeiro responsável por uma missão de inauditas dimensões criminosas, da qual ele teria de estar necessariamente a par.

Na visão de Golbery, era nítido o propósito da operação fracassada, inserida em um programa de atentados em escalada, que já haviam visado bancas de jornais no Rio e em São Paulo, a sede da OAB nacional e as oficinas da Tribuna da Imprensa. Pretendia-se precipitar um clima de tensão extrema, de sorte a implodir o plano da chamada abertura e a justificar a permanência dos militares no poder. Quer dizer, depois de Figueiredo, previsto como o derradeiro ditador, viria outro da casta fardada, e ele já tinha nome, o general Octávio Medeiros, chefe do SNI e protetor do general Gentil.

Uma guerra surda eclodiu dentro do Palácio do Planalto, a cheirar cada vez mais a quartel, o comandante do I Exército ficou onde se encontrava, o inquérito sobre a tragicomédia debandou para a farsa, e foi então que Golbery impôs: ou Medeiros, ou eu. Figueiredo optou por aquele. Assim como Dilma Rousseff escolheu Mantega e, portanto, Tombini.

É o pensamento do velho amigo, também sábio. Está claro que enredo e protagonistas são bem diversos daqueles, mas a chave da compreensão da saída de Meirelles aí estaria. De todo modo, o confronto era inevitável, em um caso e noutro. Há na imprensa quem se esforce para provar que Mantega foi escolha de Lula, bem como a dos demais da equipe econômica. É do conhecimento até do mundo mineral, contudo, que, desde a composição do primeiro gabinete de Lula presidente, Meirelles foi indicado por ele, e depois, anos a fio, por ele mantido a despeito das críticas crescentes, partidas de conselheiros importantes e de largos setores do empresariado, às políticas rígidas do BC.

A autonomia do presidente do banco é reivindicação teoricamente aceitável. Assim se dá em outros países reconhecidamente democráticos, onde se enxerga o presidente do Banco Central como alto funcionário a serviço do Estado e não deste ou daquele governo, estável na função independentemente dos resultados eleitorais, personagem imanente, digamos assim, em lugar de contingente. No Brasil atual, a ideia de Meirelles é impraticável.

De fato, ou Mantega ou Meirelles. CartaCapital não se surpreendeu com a escolha final da presidente eleita, e aqui manifesta seu apreço pela decisão. E sabe que Tombini chega com o aval da presidente e do seu futuro ministro da Fazenda. No mais, é perfeitamente possível que meu velho e sábio amigo esteja certo: na hora azada, o aut-aut de Meirelles foi a gota decisiva. O mesmo amigo murmura: “É um bancário que deu certo”.


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Comentários

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Sagarana

Dispensou o Pelé e ficou com o Felipe Melo. Vai endenter…

Marcio

Eu fico muito tranquilo quando vejo que a Mirian Leitão fica intranquila. Ela estava preocupada com a indicação do Tombini para a presidência do BC. Dilma, tô com vc.

a barbosa filho

Deixem o Meirelles curtir seus dividendos do BankBoston, do qual foi presidente antes de sacrificar-se pela Pátria, ganhando 10 ou 12 paus no Banco Central!
Fez um bom trabalho, os banqueiros agradem profundamenta (ou seja, em cash), e ele pode continuar sua carreira pelo mundo. Na Turquia ouvi muitos elogios ao Meirelles, quem sabe?

    Luis Armidoro

    Prezado Barbosa

    O Meirelles contiunou presidente do Bank Boston durante suas "férias" no BC: todos atos e ações neste 8 anos de trevas foram contrarios aos interesses nacionais, insultando toda a população. Agora, quis blefar para ficar e levar um bico bem dado

Osvaldo

O ex-presidente do Banco Central dos EUA era um alto funcionário a serviço do Estado?

    ratusnatus

    EX=
    Pessoa que deixou de ser alguma coisa.

augustinho

no, no, klaus, mais noçao de politica. Lula, antes que a espigas ficassem maduras, ACENOU com mercairelles para vice de Dilma.
Muito pouco do sucesso da economia neste periodo se deveu ao rentairelles.
aH, como foi? voce admitiu o sucesso da economia neste periodo? mas não houve um Tsunami em 2008 e inicio de 2009?

Geysa Guimarães

Estou sem entender esse "chega pra lá" em Meirelles. Ele não ia ser candidato nas eleições e desistiu a pedido de Lula? Pensei que tivesse atendido ao presidente mediante a garantia de que continuaria no cargo.
Alguém me explique, por favor.

francisco p.neto

Klaus
Menos.
Há controversias.
Não se atire assim cegamente.
O ex-ministro do MAPA Roberto Rodrigues também disse que Mantega era um incompetente.
Só fico imaginando então se Mantega fosse competente!

yacov

Um sucesso para quem, cara-pálida??? Para os "mercados", por supuesto??? Aí, concordo. Mas chega de dar colher de chá para esses rentistas FDP. Precisamos de mais investimentos sociais e na produção. Os banqueiros que se explodam, ou acabam por explodir o planeta com seus achaques aos povos do mundo!!! Meireles era a garantia que o governo LULA precisou dar aos banqueiros para não ser boicotado. Não precisamos mais disso, Então este Mala-ireles jà vai é tarde…

"O BRSAIL PARA TODOS não passa na gLOBo – O que passa na glOBo é um braZil para TOLOS"

francisco p.neto

Se não tivesse ocorrido esse enfrentamento com os marginais traficantes senhor Marcelo Freixo, seu comentário nem estaria na Folha.

Messias Macedo

Sobre dialética comezinha!

… Ao que parece o senhor Antônio Palocci terá a incumbência de atuar como o interlocutor privilegiado do governo federal junto aos setores neoliberais; ao passo que Gilberto Carvalho assumirá a Secretaria Geral da Presidência, exercendo o papel de "ponte" entre o governo e os movimentos sociais. A presidente Dilma Rousseff "dar uma [pancada] no cravo, outra na ferradura!"…
… É o jogo de xadrez da política! Fazer o quê?! Dilma "deve estar se vendo rodada", para acomodar tantas pressões, interesses e desafios!…

Hasta la Victoria Siempre!

Messias Franca de Macedo
Feira de Santana, Bahia
Transição República de Nós Bananas/Brasil Nação [RISOS]

Fabio_Passos

Vamos torcer prá que a irresponsabilidade do Meirelles seja superada com ações concretas.

Klaus

Lula queria Meirelles para vice de Dilma; Meirelles foi um dos poucos ministros que ficou quatro anos no governo Lula; muito do sucesso da economia neste período se deve a ele; sua política econômica continuará com Tombini no BCB. O cara é um sucesso.

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