Mídia esconde encontro de Stedile com o Papa Franscisco

Tempo de leitura: 4 min

stedile

Stedile esteve na semana passada com o Papa Francisco, no Vaticano.  Mídia brasileira ignorou encontro

Stedile encontra Papa Francisco: “Lutaremos juntos para parar os bancos e as transnacionais”

por Salvatore Cannavò, do jornal Il Fatto Quotidiano, em O Escrevinhador, via página do MST

João Pedro Stedile olha a primeira página do jornal Il Fatto Quotidiano em que se vê Maurizio Landini enfrentando a polícia. “Um líder sindical sem gravata? Sério?”

A piada sintetiza muito o perfil e a história desse dirigente, já de nível internacional, do movimento “campesino”.

O Movimento dos Sem Terra (MST) é uma organização fundamental do Brasil, imortalizada pelas históricas imagens de Sebastião Salgado e com uma história de 30 anos feita de vitórias e de derrotas, mas sempre no primeiro plano da organização dos agricultores.

Stedile é o seu dirigente mais importante. Ele nunca usou gravata e sempre concebeu o seu papel como porta-voz de uma realidade pobre, muito em busca da sua própria emancipação.

Marxista ligado à história da teologia da libertação, ele foi um dos organizadores do Encontro Mundial de Movimentos Populares que ocorreu no Vaticano na semana passada.

Em uma das sessões desse debate, que ocorreu entre as curvas sugestivas da sala do Velho Sínodo, ele sugeriu aos apurados presentes que canonizem até “Santo Antônio… Gramsci”.

Os Sem Terra, a imponente organização que ele dirige, com cerca de 1,5 milhão de membros, têm uma história antiga de ocupações de terra, de lutas e conflitos também duros.

Mas também cultivam uma relação “leiga” com o poder, ou, como ele explica, de “autonomia absoluta”. Por isso, na última eleição brasileira, apesar de não se envolver muito no primeiro turno eleitoral, depois apoiaram Dilma Rousseff no segundo.

Chegando na Itália para o encontro no Vaticano, ele fez uma turnê de encontros na península apresentando o livro La lunga marcia dei senza terra [A longa marcha dos sem-terra] (EMI Edizioni), de Claudia Fanti, Serena Romagnoli e Marinella Correggia.

No sábado à tarde, foi visitar a Rimaflow, em Trezzano sul Naviglio, a fábrica recuperada que Stedile, diante de 300 pessoas, batizou como “embaixadora dos Sem-Terra em Milão”.

Como nasceu o encontro no Vaticano?

Tivemos a sorte de manter relações com os movimentos sociais da Argentina, amigos de Francisco, com os quais começamos a trabalhar no encontro mundial. Assim, reunimos 100 dirigentes populares de todo o mundo, sem confissões religiosas. A maioria não era católica. Um encontro muito proveitoso.

O senhor é de formação marxista. Qual a sua opinião sobre o papa e a iniciativa vaticana?

O papa deu uma grande contribuição, com um documento irrepreensível, mais à esquerda do que muitos de nós. Porque afirmou questões de princípio importantes como a reforma agrária, que não é só um problema econômico e político, mas também moral. De fato, ele condenou a grande propriedade. O importante é a simbologia: em 2.000 anos, nenhum papa jamais organizou uma reunião desse tipo com movimentos sociais

O senhor foi um dos promotores dos Fóruns Sociais nascidos em Porto Alegre. Há uma substituição simbólica por parte do Vaticano em relação à esquerda?

Não, acho que Francisco teve a capacidade de se colocar corretamente diante dos grandes problemas do capitalismo atual como a guerra, a ecologia, o trabalho, a alimentação. E ele tem o mérito de ter iniciado um diálogo com os movimentos sociais. Eu não acho que há sobreposição, mas complementaridade.

Em todo caso, assumo a autocrítica, como promotor do Fórum Social, do seu esgotamento e da sua incapacidade de criar uma assembleia mundial dos movimentos sociais.

Do encontro com Francisco, nascem duas iniciativas: formar um espaço de diálogo permanente com o Vaticano e, independentemente da Igreja, mas aproveitando a reunião de Roma, construir no futuro um espaço internacional dos movimentos do mundo.

Para fazer o quê?

Para combater o capital financeiro, os bancos, as grandes multinacionais. Os “inimigos do povo” são esses. Como diria o papa, esse é o diabo. Mesmo que todos nós vivamos o inferno.

Os pontos traçados do encontro de Roma são muito claros: a terra, para que os alimentos não sejam uma mercadoria, mas um direito; o direito de todos os povos de terem um território, seu próprio país, pense-se nos curdos de Kobane os nos palestinos; um teto digno para todos; o trabalho como direito inalienável.

Os Sem Terra organizam cursos de formação sobre Gramsci e Rosa Luxemburgo. Nenhum problema para trabalhar com o Vaticano?

Nós vivemos uma crise epocal. As ideologias do segundo pós-guerra se aprofundaram. As pessoas não se sentem mais representadas.

No entanto, essa crise também oferece oportunidades de mudança, desde que ninguém se apresente com a solução pronta no bolso. Será preciso um processo, um movimento de participação popular. E qualquer pessoa disposta a participar dele deve ser incluída.

No Brasil, vocês apoiaram a eleição de Dilma Rousseff. Qual é a sua opinião sobre o governo do PT e o seu futuro?

A autonomia, para nós, é um valor importante. O PT geriu o poder com uma linha de “neodesenvolvimentismo”, mais progressista do que o neoliberalismo, mas baseada em um pacto de conciliação entre grandes bancos, capital financeiro e setores sociais mais pobres.

A operação de redistribuição da renda favoreceu a todos, mas principalmente os bancos. Agora, porém, esse pacto não funciona mais, as expectativas populares cresceram.

O ensino universitário, por exemplo, integrou 15% da população estudantil, mas os 85% que ficaram de fora pressionam para entrar. Só que, para responder a essa demanda, seria preciso ao menos 10% do PIB, e, para levantar recursos desse tamanho, se romperia o pacto com as grandes empresas e os bancos.

Então?

O governo tem três caminhos: unir-se novamente à grande burguesia brasileira, como lhe pede o PMDB, construir um novo pacto social com os movimentos populares ou não escolher e abrir uma longa fase de crise.

Nós queremos desempenhar um papel e, por isso, propomos um plebiscito popular para uma Assembleia Constituinte para a reforma da política. A força do povo não está no Parlamento.

Qual é a situação do Movimento dos Sem Terra hoje?

A nossa ideia, no início, era a de realizar o sonho de todo agricultor do século XX: a terra para todos, bater o latifúndio. Mas o capitalismo mudou, a concentração da terra também significa concentração das tecnologias, da produção, das sementes.

É inútil ocupar as terras se, depois, produzirem transgênicos. Não é mais suficiente repartir a terra, mas é preciso uma alimentação para todos, e uma alimentação sadia e de qualidade.

Hoje visamos a uma reforma agrária integral, e a nossa luta diz respeito a todos. Por isso, é preciso uma ampla aliança com os operários, os consumidores e também com a Igreja. Somos aliados de qualquer pessoa que deseje a mudança.

*A tradução é de Moisés Sbardelotto

Leia também:

“Os médicos cubanos tocam na gente para examinar; os outros às vezes nem olham no nosso rosto”


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Comentários

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Marat

A impren$$$a brasileira adora uma ditadura, adora uma censura: Dizem o que querem, e vetam o que não lhes agrada. Papel ridículo. O melhor caminho para esses idiotas é o da falência!

Nelson

João Pedro Stédile é um lutador pela Reforma Agrária, pelas causas populares, pelas causas da humanidade, as causas da vida, as nossas causas.

Vida longa a ele e ao MST.

FrancoAtirador

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Em dezembro de 2013, o Líder João Pedro Stédile

já havia ido à Itália, a convite de Francisco,

participar de Debate no Seminário Científico

promovido pela Pontifícia Academia do Vaticano,

para tratar do Problema dos Excluídos no Mundo.

Vídeo:(http://abre.ai/joao-pedro-stedile_dezembro-2013_seminario-vaticano-francisco)
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11/12/2013 10:09
iG São Paulo

“Agora estão tentando privatizar inclusive o ar”,
diz João Pedro Stédile

Após participar de encontro no Vaticano, líder do MST criticou, em entrevista,
o sistema capitalista e defendeu um novo modelo de reforma agrária que una ‘campo e cidade’

Por Vasconcelo Quadros

Principal dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
o economista João Pedro Stédile, voltou de uma audiência com o Papa Francisco, no Vaticano, disposto a dar uma guinada no modelo de reforma agrária clássica que o movimento pregou nos últimos 30 anos.

Stédile quer uma mudança de paradigma:
“É preciso lutar por uma reforma agrária popular, que interesse a todo o povo
e não apenas aos camponeses (…), uma aliança que junte
os trabalhadores das cidades e do campo”, afirma o dirigente do MST
em entrevista gravada em vídeo e divulgada nesta terça-feira.

Segundo ele, o atual modelo, baseado na divisão de terras
aos pequenos produtores, já se esgotou.
Até na Venezuela, onde o ex-presidente Hugo Chávez formou um estoque
de sete milhões de hectares, diz, faltam camponeses para assentar.

João Pedro Stédile diz que a reforma agrária tradicional foi “bloqueada
e está parada” no Brasil e no mundo inteiro pelo sistema capitalista,
que está promovendo uma verdadeira avalanche de capital financeiro e das transnacionais para expandir o agronegócio baseado na monocultura.

“Eles (empresas multinacionais e bancos) vão aos países
para privatizar a terra, a água, os recursos naturais das florestas.
E agora estão tentando privatizar inclusive o ar
com essa política de crédito de carbono”, afirma o economista.

Stédile sustenta que as empresas usam GPS para mapear os níveis de oxigênio e fotossíntese das florestas, transformando esses recursos em títulos de valores fictícios que são vendidos nas bolsas europeias para compensar a emissão de gás carbônico produzido por esses mesmos grupos.

“É uma hipocrisia completa.
O capitalista está ganhando dinheiro (com a poluição que produz)
e se apropriaram de forma privada até do ar”.

O novo modelo de reforma agrária, segundo Stédile, deve ser o da agroecologia,
com uma revolução nos métodos de produção, substituindo a monocultura
pela diversificação, a destruição das matas pelo reflorestamento
e as commodities agrícolas por alimentos.

“Tem de trocar a matriz tecnológica predadora
– baseada no uso intensivo de máquinas e defensivos agrícolas –
pela agroecologia e investir na produtividade
em equilíbrio com a natureza”, afirma.

Segundo ele, o novo modelo passa também pela democratização do conhecimento
através de uma revolução educacional que alcance famílias
de trabalhadores urbanos e camponeses.

Stédile acha que embora o modelo atual de reforma agrária,
iniciado no século 20, tenha sido suplantado
pelo avanço do capitalismo, o novo modelo é possível.

“Sou otimista. Ainda verei uma reforma agrária popular no mundo
e o Papa Francisco vai nos ajudar”, disse o dirigente,
que participava do encontro com o Papa Francisco, no último dia 7.

No vídeo, gravado no Teatro Valle Occupato, em Roma, Stédile fala também
sobre o predomínio de multinacionais e bancos no controle da terra
e dos sistemas de produção e critica o fracasso dos governos neoliberais
e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO)
na produção de alimentos e combate a fome.

(http://linkis.com/a0Cf)
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    Ary Xavier

    Franco Atirador,
    obrigado mais uma vez pelo comentário oportuno; é preciso sempre informar que o Papa Francisco não é “bolivariano”, “comunista” ou coisas assim. Ele apenas recoloca as palavras do Mestre em termos atualizados, como de seu dever.
    Parabéns.

    FrancoAtirador

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    Muito Agradecido, Caríssimo Ary.

    Francisco demonstra determinação
    na intenção de liquidar com o diabo…
    o diabo da exploração e do massacre
    promovidos pelo sistema financeiro
    que só será regulado com a União
    dos que buscam, na Verdade, Justiça.

    (http://cartasprofeticas.org)

    Um Grande Abraço Camarada e Libertário.
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Fabio Passos

A excelência do atendimento e a capacitação dos médicos cubanos é reconhecida internacionalmente.
O preconceito de uma parte idiotizada da nossa classe média envergonha o Brasil.

Finalmente a população carente tem acesso a atendimento médico de qualidade.
Isto deixa a “elite” branca e rica e o PiG inconformados.

    Theo Lucas

    Stedile faz parte da “elite” branca – e rica da esquerda, companheiro. Deixa de ser racista!

Eduardo

Poisé… não fossem os blogs sujos eu nem saberia disso!
Hoje mesmo, eu digitei no google: Papa faranciso + Stedeli. Não tem notícia em NENHUM jornal, nenhum bloga nada… só nos blogs sujos!

FrancoAtirador

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CHEGOU A HORA DE DERRUBAR A CASA GRANDE E A SENZALA

No Brasil, infelizmente, se Perpetua uma Ditadura Civil

no Coronelismo e no Latifúndio, em Cartéis e Oligopólios.

A Casa Grande e a Senzala ainda estão em pé.

A Democracia Representativa pelo Voto Direto, por si só,

não é Suficiente para uma Mudança nas Relações Sociais.

É preciso uma Ação Governamental Regulatória Incisiva,

principalmente no que se refere à Comunicação Social,

à Relação Capital-Trabalho e à Função Social da Propriedade,

nos seus mais Amplos Aspectos, tal como enunciou, em certo Dia

de Iluminação Espiritual, o Magnânimo Dom Pedro Casaldáliga:

“Não haverá Paz na Terra, não haverá Democracia

que mereça resgatar este Nome Profanado,

se não houver Socialização da Terra no Campo e do Solo na Cidade,

da Saúde e da Educação, da Comunicação e da Ciência”.

E, para tanto, não é preciso Nenhuma Revolução Armada.

A Constituição Federal está aí, esperando por ser Cumprida,

para finalmente derrubarmos a Casa Grande e a Senzala

e Construirmos uma Morada Verdadeiramente Democrática:

Constituição Federal – CF – 1988

Art. 5º – Todos são iguais perante a lei,

sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros

e aos estrangeiros residentes no País

a inviolabilidade do direito à vida,

à liberdade, à igualdade, à segurança

e à propriedade, nos termos seguintes:

XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;

Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano

e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,

conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I – soberania nacional;

II – propriedade privada;

III – função social da propriedade;

IV – livre concorrência;

V – defesa do consumidor;

Art. 220 – …

§ 5º – Os meios de comunicação social

não podem, direta ou indiretamente,

ser objeto de monopólio ou oligopólio.

[CUMPRA-SE!]

(http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cf220a224.htm)
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Luiz Gonzaga Belluzzo na Fazenda!

Marcio Pochmann no Planejamento!

Maria Luisa Fattorelli no Banco Central!

Franklin Martins nas Comunicações!

Luis Nassif na SECOM!

Roberto Requião na Agricultura!

João Pedro Stédile no Desenvolvimento Agrário!

Para enfim acabar com os Monopólios

do Dinheiro, da Palavra e da Terra.

(http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/Contra-os-tres-grandes-monopolios-do-dinheiro-da-terra-da-palavra/2/23797)
(http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=488)
(http://www.viomundo.com.br/denuncias/saul-leblon-o-jogral-contra-a-politica-economica.html)
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“Um País de 203 Milhões de Habitantes não pode ser Seqüestrado

por um Punhado de Famílias que, com seus Monopólios Midiáticos,

fazem da Notícia Manipulada um Instrumento de Manutenção do Poder”

(Jeferson Miola, na Carta Maior)
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O Golpe Eleitoral da Mídia Bandida
é construído a cada dia, ano a ano.
Na véspera da votação só se consuma.

i.imgur.com/g4GfSY4.jpg
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Tempo Destinado à Propaganda
dos Partidos pela Lei Atual:

(http://imgur.com/g4GfSY4)
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MARCO REGULATÓRIO ECONÔMICO DA MÍDIA-EMPRESA

!!! JÁ !!!
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O Mar da Silva

Mídia também esconde que Bradesco e Itaú usam a elisão fiscal para ‘sonegar’ tributos no Brasil. Exceção da Folha. Mas sem escândalos e sem ataques como costuma fazer contra o governo.

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