Max Altman: Israel não é — e não pode ser o “Estado Judeu”

Tempo de leitura: 5 min

gaza

por Max Altman, no blog do Altamiro Borges

Faz tempo que as forças da direita e extrema-direita em Israel, hoje amplamente majoritárias, e as entidades do ‘establishment’ judaicos em todo o mundo, tentam criar a matriz de opinião de que o antissionismo é a outra ou a nova face do antissemitismo.

Este argumento, produzido com o objetivo de criar a ilusão da verdade, é inconsistente, incorreto e deliberadamente enganoso

. A estratégia é clara e serve aos interesses ideológicos dos sucessivos governos de direita de Israel: qualquer crítica a esses governos, a sua política belicista e expansionista ou aos objetivos históricos do sionismo leva os críticos a receber a pecha de antissemitas, e se forem judeus, ainda a de traidores e de vergonha de serem judeus.

A identificação de antissionismo com antissemitismo é levantada como escudo moral, esperto e cínico.

É que antissemitismo carrega uma conotação milenar de discriminação, perseguição, humilhação, condenação, extermínio de um povo pelos detentores de poder nos vários momentos da História: Inquisição, “pogroms”, Holocausto …

Vasta parcela da humanidade defensora das liberdades, dos direitos humanos, da justiça social, da convivência e fraternidade entre os povos, da paz, em especial a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, e diante dos horrores do nazi-fascismo, passaram a ver a discriminação contra os judeus como a mais abjeta das discriminações raciais.

Qualquer manifestação antissemita é imediatamente condenada e seus responsáveis execrados.

Foi no cenário de pós-Segunda Guerra Mundial que as Nações Unidas aprovaram a Partilha da Palestina.

Judeus progressistas não sionistas e de esquerda em todo mundo — e pode-se afirmar que na altura tinham importante peso numérico — saudaram o novo Estado. Afinal, a União Soviética saia da hecatombe mundial com enorme prestígio.

O Exército Vermelho, principal responsável pela derrota de Hitler, salvara a humanidade da sanha do nazi-fascismo. E na sua ofensiva ao coração da Alemanha nazista abriu as portas do sinistro campo de extermínio de Auschwitz.

Isto calou fundo na alma de grande parte do povo judeu. O episódio da libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas marca nos dias de hoje a lembrança anual do Holocausto.

Na decisão da Partilha da Palestina a URSS logo se mostrou favorável ao anseio dos judeus sionistas de se estabelecer nas terras ancestrais. A ideia de uma região autônoma judaica já tinha se tornado realidade na criação – algo esdrúxula — pelo governo soviético em 1934 de Birobidjan na longínqua fronteira com a China, mas o projeto não foi adiante.

Os Estados Unidos a princípio se mostraram reticentes e a Grã Bretanha, por seus interesses na região, resistiu o quanto pode.

Os judeus progressistas não sionistas saudaram a proclamação da independência de Israel.

No conflito bélico que se seguiu, armas provenientes da Tchecoslováquia, país-membro do bloco socialista, serviram para consolidar o Estado.

Mas criticaram duramente a expulsão e a pilhagem dos habitantes que há séculos viviam naquelas terras, bem como os massacres praticados por organizações terroristas judaicas como o Irgun e o Stern contra a população palestina.

Centenas de milhares de judeus de todo o mundo emigraram para Israel. Muitos dos sobreviventes da “solução final” simplesmente queriam iniciar uma nova vida no país que se formava.

A maioria acreditou na consigna de Theodor Herzl “dar a um povo sem terra a uma terra sem povo”, essência do sionismo. Historicamente falso, porque aqueles territórios eram ocupados por uma população autóctone palestina que convivia com uma população judaica, então minoritária.

Os fundadores da nação israelense eram militantes sionistas na Europa nas primeiras décadas do século 20, bastante influenciados pelos ideais do socialismo e da social-democracia. E isto se refletiu no modelo de país que acabaram formando.

Os dois pilares desta construção – e a marca daqueles primeiros tempos – foram, na cidade, o Histadruth, a poderosa federação de trabalhadores, no campo, os ‘kibutzim’, fazendas coletivas de forte inspiração socialista (hoje reduzidos a uma expressão desprezível).

Constituiu-se como um Estado laico, embora com pesadas concessões ao segmento religioso conservador especialmente no que dizia respeito aos direitos civis.

Um expressivo contingente populacional árabe permaneceu no território no novo Estado. Partidos trabalhistas de centro-esquerda e esquerda sionista dominavam o Knesset (parlamento) e o partido da esquerda não sionista que reunia judeus e árabes tinha importante presença na cena política. A convivência com os palestinos e os países árabes vizinhos era tolerável.

As coisas começaram a mudar quando Israel resolveu estabelecer no começo dos anos 1950 com os Estados Unidos uma íntima relação geo-estratégica.

A situação foi se tornando complexa e se sucedem guerras – nacionalização do Canal de Suez, Guerra dos Seis Dias, Guerra do Yom Kipur, ocupação, atentados terroristas com homens bombas, massacres – Munique, Sabra e Chatila, Intifadas, retaliações sangrentas de lado a lado, o ódio se alastrando e o fosso da discórdia se abrindo.

Houve momentos em que as negociações de paz poderiam chegar a bom termo – Acordo de Camp David, Acordos de Oslo. O assassinato de Yitzhak Rabin por um fundamentalista de extrema-direita pôs tudo a perder.

Outro fenômeno foi uma radical mudança na composição demográfica. O denso fluxo imigratório dos judeus da ex-União Soviética e dos países árabes, além do crescimento da população religiosa judaica ultraconservadora nos anos 1980 fez com que a base eleitoral se inclinasse hegemonicamente para a direita elegendo, daí por diante e por grande maioria, partidos de direita e extrema-direita que hoje governam Israel.

O sionismo dessa gente comandada por Netanyahu e Lieberman, pelas mãos de seus cães de guerra, está cometendo crimes de guerra, ultrajando moralmente os valores seculares do judaísmo.

O repetido massacre de crianças, recolhidas em abrigos das Nações Unidas, constitui uma grave e imperdoável violação das leis humanitárias universais.

Seria capaz algum ser humano sensível e justo defender essa selvageria, a punição coletiva de um povo? O ser humano, seja ele judeu ou não, que abomina o horror dos bombardeios a que se assiste em Gaza pode ser acoimado de antissemita?

Podem ser chamadas de antissemitas as pessoas que se opõem à política sionista de extensão dos assentamentos na Cisjordânia, anexando aos poucos o que chamam de Judeia e Samária, ou seja, o “Grande Israel”, expulsando os palestinos para fora dessas fronteiras?

Circula nas redes sociais manifesto de entidades progressistas judaicas de longa tradição da Argentina, do Brasil e do Uruguai.

Condenam a direita israelense e o Hamas como cúmplices da destruição de qualquer avanço nas negociações em direção a uma paz justa e duradoura.

E propõe:

1. Um imediato, incondicional e permanente cessar-fogo entre Israel e a Faixa de Gaza, com a retirada das tropas israelenses. Que o cessar-fogo seja supervisionado pelos capacetes azuis da ONU;

2. Desocupação dos territórios palestinos, estabelecendo-se novas fronteiras com base nas linhas existentes antes da guerra de junho de 1967 e respeitando-se a resolução número 242, da ONU, aprovada em 22 de novembro de 1967;

3. A implementação da fórmula dois povos para dois estados, com reconhecimento mútuo e garantias para a segurança de ambos. Que o estado palestino tenha direito a manter todas as instituições definidoras de um estado moderno;

4. O combate a todas as manifestações de antissemitismo originadas no conflito entre os dois povos. Repudiamos energicamente as tentativas de criminalizar todo o povo judeu por conta de atitudes dos governos israelenses. Podem essas entidades que tradicionalmente se opuseram e se opõem ao sionismo também ser tachadas de antissemitas?

Israel não é — e não pode ser o ‘Estado Judeu’.

Nele habitam atualmente cerca de 21 por cento de cidadãos árabes-israelenses.

Um ‘Estado Judeu’ os excluiria e se transformaria numa nação racista. Amplos setores políticos já vem propondo essa limpeza étnica.

O chanceler Avigdor Lieberman, por exemplo, líder do partido Beiteinu (Nosso Lar) com forte bancada no parlamento, defende que os árabes-palestinos sejam deslocados para algum território fora das fronteiras atuais de Israel. Isto se chama limpeza étnica.

Há um clima atual em Israel de patriotismo fanático, cego e opressivo. Já não é raro se ouvir nas ruas de Tel Aviv e Jerusalém gritos de “Morte aos árabes” e “Morte aos esquerdistas”. É assustador. A História já nos mostrou.

Leia também:

Palestina: Rendição incondicional ou aniquilação total


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Comentários

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Julia Almeida

Acho q antes de vcs ficarem escrevendo tanta besteira, deveriam vir visitar Israel e conhecer de perto o que eh democracia e liberdade. Quem faz massacre, estupra, decapita, etc sao seus amigos do estado islamico, sao os terroristas do hamas, do hizbollah, do fattah, do jihad islamico.
Em Israel eh democracia. Eh onde pessoas de varias religioes, cores e orientacoes sexuais podem viver livres e sob as mesmas leis e direitos. Acho q vc se confundiu…

Francisco

Na Áustria, que pariu Hitler, o judeu que quiser morar é só pedir o visto. Se aceito, poderá votar e ser votado e ter cidadania plena nos termos da Lei de lá. Poderá, na terra que pariu Hitler, miscigenar com quem amar. Um ou outro abestado (skin-head ou velhusco) pode fazer careta, mas não passará disso.

O mesmo para palestinos. Na verdade, o mesmo que ocorre na Áustria ocorre no Brasil e nos EEUU e no resto do mundo civilizado.

Não me consta que haja algum tipo de barreira para que nos países do continente americano, se impeça a participação ativa de ameríndios na política e na vida comum. nem qualquer tipo de reserva quando à manutenção de “pureza racial” por qualquer motivo ou desculpa.

Em Israel, palestino não é gente. Não entra, não vota, não é votado, nem mesmo miscigena. Não que a Lei explicite isso, mas pelo gosto dos patrícios. Pelo que sei, palestinos não criam qualquer tipo de prevenção à miscigenação com quem quer que seja. Árabes, de um modo geral, são muito acolhedores, inclusive nesse quesito.

Quando vai resolver isso? Quando um dos dois meter o outro numa câmara de gás. Quem está mais perto de conseguir reunir o poder para isso?

Sinto muito, sou afro-brasileiro e muito sensível à ideia de exclusão, faixas de Gaza, quilombos e senzalas. Aqui no Brasil, ainda que insatisfatoriamente a coisa resolveu na medida em que deixou de haver “dois” e passou a haver “um”. E ainda assim a tanto a resolver…

augusto2

pediria com sinceridade aos leitores que pensem a fundo se nao estamos num tempo especial da historia. Estamos , todos os atores da historia do mundo num carro a 220 km/h e adiante uma curva cega, duas, tres e mais.O freio se funciona está a 30%…
em março derruba-se um governo e poe se outro em Kiev, some um aviao malaio no Indico, sem rastro algum, a russia sob tremenda pressão retoma a crimeia sem dar um tiro, o Japao decide se rearmar, israel invade gaza recebendo na vespera grande estoque de armas e municçoes de uoxinton,
kiev ataca o Leste do pais, a rússia age com extrema moderaçao as provocaçoes, a matança em Gaza é brutalissima, um simples juiz de comarca estadunidense se atribui o direito de abarrotar fundos abutres com um lucros imorais que podem como q matar um pais soberano, um grupo de BRICS decide tomar rumo diverso para o proprio futuro e um missil (ou melhor um ataque de aviao caça ucraniano) assassina 298 passageiros em ferias,
as acusaçoes em horas recaem sobre Moscou pelo coro da midia mundial e manobras militares se sucedem em varios locais e uma radicalissima rebeldia muçulmana cresce como cogumelo em armas,dinheiro e odio,após dubios apoios externos ameaça voltar-se contra seus criadores…
muçulmana e uoxinton consegue convencer europeus a sancionar seu parceiro comercial que nao leva desaforos…
Enquanto isso a economia americana derrete, sob um manto escuro ainda de numeros e estatisticas fraudadas por uolstrit.
Isso tudo em meros cinco meses.Nao é para sentir que alguma merda muito muito grande vem logo logo por ai ?

    renato

    Dá Augusto!
    Só espero que o Aécio não chegue aos 22%.
    Seria o caos..
    Apesar que acho que o individuo não tem nem 11%.

raimundo santana novaes

Boa ideia,Valcr Barsanulfo,Até mesmo porque o estado de Utan foi um território que os EUA tomaram do México depois da invasão dos Mormons no século XIX. Seria uma maravilha,tudo em casa!

Pedro

O Estado de Israel é um estado de guerra.

FrancoAtirador

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PODER E IGNOMÍNIA: OFUSCADOS POR ISRAEL, CEGOS EM GAZA.

Por Tariq Ali, na Carta Maior, via O Palheiro

Tradução: Daniella Cambaúva

O Senado norte-americano vota de modo unânime para defender Israel, incluindo o senador Bernie Sanders, de Vermont.
Não acredito que ele tenha feito por dinheiro.
É um membro assíduo do PETEI (“Progressistas em Tudo, Exceto Israel”), o segmento liberal da sociedade norte-americana que não é progressista em muitas coisas, incluindo Israel.
Tomemos, como exemplo, o caso do “coronel” Sanders.
Eu pensava que meu finado amigo Alexander Cockburn às vezes era muito duro com Sanders, mas eu me enganei.
Sanders leva muito tempo sendo um puxa-saco, tal como nos informou Thomas Naylos, desfazendo os mitos que rodeiam o senador no artigo do CounterPunch em setembro de 2011:
“Ainda que possa ter sido socialista no passado, nos anos 1980, quando era prefeito de Burlington [Vermont], hoje socialista é o que ele não é.
Ele mais se comporta como um tecnofascista disfarçado de liberal, que respalda todas as repugnantes guerrinhas do presidente Obama no Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão, Somália e Iêmen.
Dado que sempre “apoia as tropas”, Sanders nunca se opõe a qualquer projeto de lei de gastos com Defesa.
Respalda todos os contratistas militares que levam a Vermont postos de trabalho muito necessários.
O senador Sanders raramente perde a oportunidade de fazer foto com as tropas da Guarda Nacional de Vermont quando elas são enviadas ao Afeganistão ou ao Iraque.
Está sempre no Aeroporto Internacional de Burlington quando elas voltam.
Se Sanders apoiasse de verdade as tropas de Vermont, votaria rapidamente para acabar com todas as guerras”.
Um voto unânime no Senado é raro. Portanto, o que explica o fato de ele ser mais leal a Israel do que o são vários judeus críticos desse mesmo país?
Um fator importante é, sem dúvida, o dinheiro.

No ano de 2006, quando a London Review of Books publicou um artigo (encarregado e rechaçado pelo Atlantic Monthly) dos professores Walt e Mearsheimer sobre o grupo de pressão israelense, produziu-se a habitual agitação dos suspeitos habituais.
Não do defunto Tony Judt, que defendeu publicamente a publicação do texto e que se viu submetido a violentas ameaças e a odiosas correspondências por parte de já sabemos quem.

A New York Review of Books, por acaso envergonhada de sua falta de determinação nessa questão, entre outras coisas, encomendou um texto a Michael Massing que apontava alguns erros do ensaio de Mearsheimer/Walt, mas, ao mesmo tempo, proporcionava algumas cifras interessantes.
Seu artigo merece ser lido como um todo, mas o seguinte trecho ajuda a explicar o voto unânime de apoio à atuação israelense:
“Os defensores do AIPAC [Comitê de Ação Política Norte-americano-Israelense] gostam de defender que seu exército se explica por sua capacidade de explorar as oportunidades que dispõe na América do Norte democrática.
Até certo ponto, é verdade.
O AIPAC dispõe de uma formidável rede de apoio dos EUA.
Seus 100 mil membros – aumentaram em 60% nos últimos 5 anos – têm controle das nove oficinas regionais do AIPAC, suas dez oficinas satélite, e uma equipe em Washington de mais de cem pessoas pessoas em Washington – entre elas, gestores, pesquisadores, analistas, organizadores, publicitários, respaldados por um orçamento de 47 milhões de dólares…

Essa descrição, no entanto, não abarca um elemento-chave do êxito do AIPAC:
o dinheiro.

O mesmo AIPAC não é um Comitê de Ação Política [entidades que recolhem dinheiro para campanha política nos EUA].

Após avaliar o histórico de voto e as declarações públicas, elas proporcionam informações a esses comitês, que dão dinheiro aos candidatos. O AIPAC as ajuda a decidir quem são os amigos de Israel de acordo com os critérios do AIPAC.

O Center for Responsive Politics, um grupo apartidário que analisa as contribuições políticas, recolhe uma lista de um total de 36 pró-israelenses, que no conjunto doaram 3,14 milhões de dólares aos candidatos nas eleições de 2014. os doadores pró-israelenses dão muito mais milhões. Nos últimos cinco anos, por exemplo, Robert Asher, junto de vários de seus parentes (um mecanismo habitual para maximizar os aportes), doou 148 mil dólares, sobretudo me somas de mil ou 2 mil dólares, a um ou outro candidato.

Um antigo membro do AIPAC me descreveu como esse sistema funciona.

Um candidato entra em contato com o AIPAC e expressa suas fortes simpatias por Israel.
O AIPAC informa que não patrocina candidatos, mas se oferece a apresentar pessoas que podem apoiá-los.
O candidato será apresentado a um associado ao AIPAC para que este atue como uma pessoa de contato.

Reunirão cheques de 500 ou mil dólares provenientes de doadores pró-israelenses e enviarão ao candidato com uma clara identificação com as opções políticas dos doadores (tudo isso é perfeitamente legal).
A isso se acrescentam reuniões para arrecadar fundos em diversas cidades.

Frequentemente, os candidatos vêm de Estados com uma população judia insignificante.

Um membro do pessoal do Congresso me contou o caso de um candidato democrata de um estado montanhoso que, desejoso de ter acesso ao dinheiro pró-israelense, contatou o AIPAC, que lhe designou um executivo de Manhattan ansioso por ascender na organização do AIPAC.
O executivo organizou uma reunião para arrecadar fundos em seu apartamento do Upper West Side, e o candidato saiu dali com 15 mil dólares.
No reduzido mercado de anúncios televisivos e de imprensa em seu estado, essa soma demonstrou ser um fator importante.
Assim o congressista se transformou em um dos vários membros nos quais se pode confiar para votar seguindo os desígnios do AIPAC (a pessoa em questão me deu o nome do congressista, mas me pediu que não o dissesse para evitar a vergonha).

Tudo isso é possível graças à política oficial norte-americana desde 1967.

Se os EUA chegasse algum dia a modificar sua posição sobre esse assunto, os votos unânimes seriam impossíveis.
Mas nem sequer nos EUA chegaram a proibir as manifestações públicas que se opõem à brutalidade israelense e o consequente desdobramento do terror estatal.

Em um fim de semana (18-19 de julho de 2014) no qual houve manifestações em diversas partes do mundo, o governo francês proibiu uma marcha em Paris organizada por inúmeros grupos – entre eles, várias organizações judias não sionistas da França.

Desafiaram a proibição.
Vários milhares de pessoas se vieram em meio a gases lacrimogêneo lançados pelas odiadas CRS (as Companhias Republicanas de Segurança).

O primeiro-ministro Manuel Valls – desesperado oportunista e neocon, açoite dos romanos na França, que compete com Le Pen pelo volto da direita, e é um enfeite, nada surpreendentemente, de um Partido Socialista Francês que continua o modelo de um desavergonhado embusteiro e criminoso de guera (Tony Blair) – explicava a proibição em razão de “não fomentar o antissemitismo” etc.

O controle do grupo de pressão de Israel na França é total.
Domina a cultura dos meios de informação franceses e as vozes críticas a Israel (tanto judias como não judias) ficam efetivamente caladas.

O poeta e crítico israelense Yitzhak Laor (cujas obras, que retratam a brutalidade dos soldados israelenses, foram às vezes proibidas em seu próprio país) descreve a nova ascensão do eurossionismo em termos mordazes.
A “ofensiva filossemita” é ahistórica:

Seria simplista considerar essa cultura memorial como uma crise tardia da consciência internacional, ou um sentido da justiça histórica que tardou tanto tempo em se materializar…

A maioria dos membros da Assembleia Geral das Nações Unidas surgiram de um passado colonial: são descendentes dos que sofreram genocídios na África, Ásia ou América Latina.
Não deveria haver razão alguma para que a comemoração do genocídio implementado pelos judeus levasse a bloquear a memória desses milhões de africanos ou indígenas americanos assassinados pelos civilizados invasores ocidentais de seus respectivos continentes.

A explicação de Laor é que, com o desaparecimento da velha dicotomia amigo-inimigo da Guerra Fria, era preciso encontrar na Europa um novo inimigo global:

No novo universo moral do “fim da história”, havia uma abominação – o genocídio judeu – em torno da qual que todos podiam se unir para condenar; e o que é igualmente importante, ficava firmemente no passado.

Sua comemoração serviria tanto para consagrar a tolerância liberal-
humanista da nova Europa frente ao “outro (que é como nós)”
e redefinir “o outro” (que é diferente de nós)”
em termos de fundamentalismo muçulmano.

Laor desmonta habilmente os Glucksmann, os Henri-Levy e os Finkelkrauts, que dominam a imprensa escrita e televisiva na França de hoje.
Depois de abandonar suas crenças marxistas de juventude no final dos anos 1970, fizeram as pazes com o sistema.
O surgimento de uma corrente ultrassionista na França é anterior, no entanto, aos “Novos (sic) Filósofos”.

Tal como explicou o professor Gaby Piterburg em sua resenha dos ensaios de Laor na New Left Review:

Igual a dos EUA foi a guerra de 1967, que instou a uma mudança decisiva na consciência judia francesa.
Um jovem comunista, Pierre Goldman, descreveu a “gostosa fúria” de uma manifestação pró-israelense no bulevar Saint-Michel, onde se encontrou com outros camaradas, “marxistas-leninistas e supostos antissionistas regozijados pela capacidade de guerra das tropas de Dayan”.
Mas a reação política do Eliseu foi oposta à da Casa Branca. Alarmado pelo fato de Israel bagunçar o equilíbrio de poder no Oriente Médio, de Gaulle ordenou a agressão, e descreveu os judeus como “um povo de elite, seguro de si mesmo e dominante”.

As organizações judias francesas que haviam dado como certa uma política exterior pró-israelense começaram a se organizar sobre uma base política, ao passo que Pimpidou e Giscard continuavam o embargo de armas de de Gaulle nos anos 1970.

Em 1976, o Comitê Judeu Ação (CJA) organizou um “dia de Israel”, que mobilizou 100 mil pessoas.
Em 1977, o CRIF, conselho representativo de cerca de 60 organismos judeus, anteriormente agradável, elaborou uma nova carta na qual denunciava o “abandono de Israel” por parte da França, publicada pelo Le Monde como documento de fato.
Nas eleições presidenciais de 1981, o fundador do CJA, Henri Hajdenberg, fez uma campanha a favor de um voto judeu contrário a Giscard; Mitterrand venceu por uma margem de 3%.
Acabara o boicote e Mitterrand se tornou o primeiro presidente a visitar Israel.
Ficou assim selada uma cálida relação entre o CRIF e a elite do Partido Socialista, e se cobriu com um discreto voto de silêncio o papel de Mitterrand durante a guerra como funcionário de Vichy.

[Uma breve nota: quando o professor Piterburg (antigo oficial das FDI, o exército israelense) é atacado pelos sionistas em suas intervenções públicas, acusando-o de ser um “judeu que odeia a si mesmo”, ele responde dessa forma: “Não odeio a mim mesmo, mas sim a vocês”.]

O mesmo vale para a França oficial [governamental].
O País [Povo, População,] é diferente.
As pesquisas de opinião revelam que, no mínimo,
60% dos franceses se opõem ao que Israel está fazendo em Gaza.
São todos antissemitas?
Não podem influir nos meios de comunicação, certo?
Porque estes estão absolutamente a favor de Israel.
Será que a população francesa não ignora Hollande, Valls
e os ideólogos mercenários que os apoiam?

E o que acontece com a Grã-Bretanha?

Aqui, tanto o Extremo Centro que governa o país como a ‘oposição’ oficial devidamente apoiaram seus senhores de Washington.

A cobertura dos recentes sucessos de Gaza na televisão estatal (BBC) foi tão espantosamente unilateral que houve manifestações em frente aos escritórios da BBC em Londres e Salford.

A mínima experiência que eu mesmo tive com a BBC revela quão temerosos e pusilânimes que eles se sentem em seu interior.

Conforme contei em meu blog da London Review of Books (http://www.lrb.co.uk/blog/author/tariq-ali),
aconteceu isto:

Na quarta-feira, 16 de julho, recebi quatro ligações
do programa Good Morning Wales, da BBC.

Primeira ligação da manhã:
[Perguntaram se] poderiam contar comigo
para uma entrevista sobre Gaza amanhã de manhã?
Respondi que sim.

Primeira ligação da tarde:
[Perguntaram se] eu poderia contar o que falaria?’
Disse que
(a) Israel é um estado assassino, mimado e malcriado pelos EUA e seus vassalos.
(b) Apontar e matar crianças palestinas é um velho costume israelense.
(c) A cobertura da Palestina feita pela BBC é abominável
e, se não me cortasse, eu explicaria como e por quê.

Segunda ligação da tarde:
[Se eu] estaria disposto a debater com alguém favorável a Israel?
Respondi que sim.

Mensagem para meu telefone à tarde:
-Sentimos muitíssimo. Houve um acidente em uma rodovia de Gales,
de modo que decidimos derrubar sua intervenção.

Poucos cidadãos britânicos são conscientes do papel que seu país desempenhou na hora de criar esse imbróglio.

Foi há muito tempo, quando a Grã-Bretanha era um império e não um vassalo, mas os ecos da história nunca se desvanecem.

Não foi por acidente, mas intencionalmente, que os britânicos decidiram criar um novo Estado, e não foi apenas Balfour.

O Centro de Informação Alternativa de Beit Sahour, uma organização conjunta de Israel e Palestina que promove a justiça, a igualdade e a paz de palestinos e israelenses, publicou recentemente um texto.

Era uma menção do Informe Bannerman, escrito em 1907 pelo primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Sir Henry Campbell-Bannerman, cuja importância estratégica fez com que fosse ocultado e não se tornasse público até muitos anos mais tarde.

“Existe um povo que controla espaços-territórios [os árabes] que agiram recursos ocultos e à vista.
Dominam as interseções das rotas mundiais.
Suas terras foram berço de civilizações e religiões humanas.
Essa gente tem uma fé, uma língua, uma história e as mesmas aspirações.
Nenhuma barreira natural aparta essas pessoas uma das outras…
se, por azar, essa nação se unificasse em um Estado,
tomaria o destino do mundo em suas mãos
e separaria a Europa do resto do mundo.
Levando tudo isso em comparação,
deveria se implantar um corpo estranho no coração dessa nação
para impedir a convergência de suas alas,
de forma que possam esgotar seus poderes em intermináveis guerras.
Também poderia servir ao Ocidente para conseguir seus cobiçados objetivos”.[1]

NOTA
[1] Dan Bar-On & Sami Adwan, THE PRIME SHARED HISTORY PROJECT,
em Educating Toward a Culture of Peace, páginas 309–323,
Information Age Publishing, 2006.

(http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Poder-e-ignominia-ofuscados-por-Israel-cegos-em-Gaza/6/31550)

*Tariq Ali (http://tariqali.org) é jornalista, escritor, historiador, cineasta e ativista político (http://www.lecturalia.com/autor/2502/tariq-ali).
Nascido em 1943 no Paquistão, atualmente vive na Inglaterra,
onde colabora com diversos periódicos, dentre eles o The Guardian
(http://www.theguardian.com/profile/tariqali)
e a London Review of Books (http://www.lrb.co.uk).
É também um dos editores da revista New Left Review
(http://newleftreview.es/search/hybrid?query=TARIQ+ALI).
É especialista em política internacional
e tem se destacado com análises sobre o Oriente Médio e a América Latina.

Íntegra em:

(http://www.opalheiro.com.br/poder-e-ignominia-ofuscados-por-israel-cegos-em-gaza/#prettyPhoto)
.
.

    Cecilia

    Genocídio, Franco??!!!
    Mas fala mais do Estado Islâmico, ok?

Flavio Wittlin

Gatos & Ratos.

Não conheço a posição de Art Spiegelman no conflito do Oriente Médio.

Mas, se fosse-lhe encomendado adaptar o seu “Maus” àquela região, como ele representaria os povos e as forças presentes ali?

Eu que descendo diretamente dos ratos, pergunto: honestamente, quem seriam os gatos e os ratos?

Ao verem tremulando as bandeiras de Israel e Palestina, qual delas assustaria de fato os ratos e seus filhotes? Qual reafirmaria a glória ingloriosa dos gatos?

Art arriscaria mostrar quem são os gatos do OM que lançam todo tipo de perversidade contra os ratos: ratoeiras, “ratorturas”, raticidas, etc?

Teria a sinceridade de mostrar quem são os ratos que perderam — pela morte, ferimentos, prisão ou tortura — seus filhotes, fêmeas e velhos? E viram desmoronar suas famílias? E tiveram arrancados  o alimento, a água, o abrigo, sua dignidade, a alegria da vida, teria esta sinceridade?

Nomearia, claramente, os gatos e ratos nesta história de atrocidades sem fim? Nesta história em que os felinos confinam centenas de milhares de murinos em guetos, imundície e doença, privando-os de tudo?

Art mostraria que os gatos são bacanas por que defendem sua espécie? Ou demonstraria que a sua força de defesa tem sido desde 1967, na verdade, uma força de agressão e ocupação da terra dos ratos?

Ele acataria –ou desmontaria– as felinas alegações que sustentam que os terroristas murínicos usam sua colônia civil como escudo?  Aceitaria — ou rebateria — que por isso, exterminam-se os ratos civis, varando-os de bombas e balas para supostamente atingir os militantes murínicos do terror?

Art tentaria explicar como parte da atual geração nascida de ratos sobreviventes da opressão felina do passado transmutou-se em gatos? Falaria sobre como estes, com a ética dos kapos, passou a barbarizar uma colônia de ratos que historicamente são seus primos-irmãos? E adotou, em terra alheia, o apreço por escombros, morte e horror, onde as únicas cores que são vistas vêm do cinza, do fogo e do sangue?

Concluo aqui e quem souber que me diga que posições Art Spiegelman tem sobre o Oriente Médio.

Luís Carlos

O Estado sionista de Israel tem que ser denunciado, permanentemente pelo racismo e violência permanentemente praticada contra palestinos, em especial crianças palestinas. Tem que ser isolado política e economicamente.

Mauro Silva

Crimes de guerra, genocídio, crimes contra a humanidade …
Não existe um Estado de Israel: o que existe é uma organização criminosa com esse nome.

Fabiano Araújo

Precisa ficar bem claro: o Estado de Israel NÃO é um estado judeu é um estado SIONISTA. Não se deve confundir o povo judeu que tanta contribuição deu à civilização ocidental (Newton, Spinoza, Marx, Freud, Einstein, Chomsky, etc) e brasileira (Scliar, Schemberg, etc.) com o Sionismo, uma ideologia criada por um jornalista de Viena, no final do século XIX, fundamentada no nacionalismo alemão mais virulento. Talvez, isto explique porque o sionismo apresenta semelhanças com o nazismo. Os nazistas queriam exterminar todo um povo, o judeu, enquanto que a estratégia do estado sionista é eliminar ou expulsar do oriente-médio, o povo palestino (lembremo-nos que, Hitler, antes do início da Segunda Guerra Mundial, queria expulsar os judeus da Alemanha e mandá-los para Madasgascar. Esta ilha seria transformada em uma nação judaica. A política da “solução final” somente foi adotada após a invasão da União Soviética, em 1941). Israel ainda não adotou, pelo menos oficialmente, a política da “solução fina” com relação ao povo palestino. Chegará lá ? O mais estarrecedor é o apoio dos EUA à política do estado sionista.

Flavio Lima

Artigo lúcido e didático.

Jose Mario HRP

O Anão que gera liderança e é ponto de partida.
Viva o anão corajoso liderado por Dilma.
http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2014/08/esperamos-o-embaixador-brasileiro-de-volta-a-israel-o-quanto-antes-diz-consul-em-sp-9923.html

Jose Mario HRP

Lá das colonias do céu onde nos reciclamos para novas vidas imagino aul Newman com lágrimas nos olhos diante de tanta atrocidade mundo afora e em especial na faixa de Gaza, ainda mais porque ele aul era judeu e um Homem bonissimo
Israel tem que ser parado
Quanto ao Hamas, é só mais uma mostra de em todos nós há o mal.
Só que alguns querem te-lo cultivado, outros e quiça a maioria queremño trancado nas masmorras do mais fundo do nosso subconsciente.
Viva palestina Livre!

Jose Mario HRP

Como os bons vinhos com o tempo ele fica ainda melhor e mais afiado.
Viva Mauro Santayana!!
E Viva alestina Livre!!

http://www.maurosantayana.com/2014/07/a-tragedia-palestina-e-vitoria-dos.html

Regina Braga

O complicado é que os pacifistas israelenses estão sendo espancados pelo ultra direitistas e os jornalistas estão sendo ameaçados.E como disse um judeu…Os Governos não representam mais o povo.

valdir freire

BOICOTE ISRAEL !!!

Estes assassinos só vão parar quando pararem de sustenta-los…

Colabore não consumindo os produtos que sustentam Israel !!!!

http://somostodospalestinos.blogspot.com.br/2009/01/boicote-israel.html

    Wagner Souza

    A primeira coisa que faco ao comprar algo e olhar de onde veio, se veio de Israel eu nao compro, simplesmente isto, sem atirar, sem matar, sem difamar, sem chamar nomes…nao compro e pronto!

Francisco

Antes de tentar entender o Oriente Médio, um fato:

75% dos brasileiros têm DNA de povos indígenas.

O Brasil não é um país amoroso com os indígenas (não preciso nem entrar em detalhes sobre a vexaminosa “competência” do nosso Ministro da Justiça…). Todo mundo sabe disso. Mas o Brasil tem a maior população indígena do continente (e crescendo).

O que é Israel? É um Estado que se formou sem miscigenar com os “povos autóctones”. Se miscigenassem, Palestinos e Israelenses seriam a feliz população morena de uma democracia, que a essa altura, já seria quase proporcional na ocupação democrática dos cargos políticos eleitos.

Mas judeus não miscigenam. Fica difícil separar semitismo de sionismo…

marcosomag

O ideal seria um único Estado na Palestina, com direitos iguais para todos os seus cidadãos. Como palestinos e judeus não são pessoas civilizadas (principalmente, as suas lideranças), a ONU fez a boa escolha pela “solução de dois Estados”.

A postura arrogante de Israel em relação ao mundo vem do fato de estar protegido de qualquer sanção mais dura pela ONU pois seu aliado, os EUA, veta tudo o que tenha efeito prático na questão da Palestina.

Então, acredito que Israel sairá desta posição arrogante apenas quando sofrer o mesmo tipo de isolamento internacional que a África do Sul sofreu depois do “Massacre de Sharpeville”.

Suspensão da ONU, COI, FIFA, FIBA, ATP, WTA, FIA. Fim de qualquer intercâmbio cultural, artístico ou científico com os Estados membros da ONU.

Com o bloqueio internacional, os judeus vão mostrar mais uma vez que são pragmáticos. Aceitarão a “solução de dois Estados”, e com as fronteiras originais de 1947, rapidinho!

Jair de Souza

É muito bom constatar que uma pessoa de ascendência judaica como Max Altman sabe reconhecer que Israel não pode nunca ser aceito como um Estado Judeu numa terra alheia. Com este posicionamento, Max Altman deixa claro o que eu também venho tratando de esclarecer há muitos anos: judaísmo não é equivalente a sionismo. Eu entendo o fato de que ainda existe muita gente que faz esta identificação. A culpa não é deles, uma vez que toda a máquina mundial de desinformação sionista martela esta falsidade diuturnamente, sem parar. Então, não é de se estranhar que haja tantas pessoas condenando os judeus pelos crimes dos assassinos sionistas de Israel. Para o sionismo, esta identificação é vital, sem ela, seu estado racista e assassino ruirá em pouco tempo.

No entanto, gostaria de dizer que o próprio surgimento de Israel na Palestina foi um crime cometido contra toda a população que habitava milenarmente aquela região. Deste crime hediondo não podem ser exculpados nem mesmo aqueles que se diziam, ou se consideravam, de esquerda socialista. Ninguém imbuído de um sentimento verdadeiramente socialista (em um socialismo proletário, humanista e solidário) poderia justificar a construção de um Estado socialista em terras roubadas de um povo humilde e trabalhador. Os judeus socialistas e os socialistas não judeus que acataram aquela infame decisão tomada pela ONU em 1948 devem ser considerados cúmplices deste crime, ainda que, em muitos casos, involuntários.

Por maior que tenha sido o significado positivo e esperançoso que a URSS representou para todos os que cultivávamos (e ainda cultivamos) o sonho socialista, a decisão do governo de Stalin de apoiar a criação de Israel naquela território e naquelas condições deve ser vista como outra das atrocidades que Stalin praticou contra humildes povos camponeses. São conhecidas por sua crueldade e injustiça as várias remoções em massa de camponeses em terras que compunham o território da ex-URSS. Nada disto pode ser justificado, muito menos em nome da construção do socialismo, de um sistema social que deveria prezar pela igualdade, justiça e solidariedade entre todos os trabalhadores.

Não tenho clareza de quais eram as reais motivações por trás do posicionamento de Stalin, de seu governo e dos governos dos países que estavam sob sua esfera de influência naquela época (caso, entre outros, da Tchecoslováquia). Suponho que tenha algo a ver com a ideia de que a remoção de uma população camponesa e sua substituição por outra de caráter proletário, mais “consciente” da necessidade da construção do socialismo, representaria um avanço social no rumo da expansão do socialismo pelo planeta. Se algo disto esteve presente, foi uma grande besteira, assim como as remoções forçadas no interior da ex-URSS também o foram. Em lugar de estimular o crescimento da consciência socialista, estas medidas serviram para revigorar justamente sentimentos opostos a ela. O tempo tratou de deixar patente o que de fato representaram estas medidas: o fracasso do socialismo na própria URSS, com o crescimento dos sentimentos antisocialistas por parte de todos os povos vitimizados, assim como a deturpação da consciência socialista daqueles que foram instalados nos territórios usurpados. Tudo isto pode hoje ser constatado na prática em nos lugares onde as remoções forçadas ocorreram, inclusive na ex-URSS e na Palestina-Israel.

Em relação à justiça internacional, não há como defender em bases sólidas o roubo de suas terras e a expulsão do povo palestino para substituí-lo por imigrantes europeus que vinham sendo perseguidos ferozmente há séculos em países europeus onde predominava o cristianismo, repito, países europeus majoritariamente cristãos. O povo palestino nunca em todo sua existência se dedicou a perseguir os judeus ou a prática do judaísmo. Se as potências vencedoras da II Guerra Mundial tivessem tomado a decisão de criar o Estado de Israel em território da Alemanha (principal país responsável pelos massacres contra os judeus por aqueles anos), na Polônia ou na Rússia (com toda sua tradição de pogroms antijudaicos), a medida poderia ser aceita sem grandes refutações morais: os praticantes de crimes estariam sendo penalizados pelos mesmos. Claro que ainda assim muita injustiça seria cometida com gente que não teria participado das perseguições. Mas, com os palestinos não há nenhuma argumentação sensata que possa prevalecer (não me refiro às imbecilidades dos que defendem que se está cumprindo as disposições de Deus, visto que não creio que Deus possa ser um ser racista, assassino e ladrão, tudo ao mesmo tempo).

Entendo também que já não é possível regressar ao passado anterior à criação de Israel (embora esta seja fruto de um crime horrendo), assim como não podemos regressar à situação anterior à chegada dos exterminadores europeus nos territórios que vieram a fazer parte dos Estados Unidos. Mas, é sim possível defender e lutar para que a injustiça cometida contra o povo palestino seja suavizada, permitindo que um Estado Palestino soberano possa existir nos territórios pré-Guerra de 1967. Isto é o mínimo que podemos exigir. Quanto ao Estado de Israel, cabe-nos defender sua transformação em um estado de seus cidadãos, não um estado de base teocrática e racista como o atual. É claro que isto acabaria por acarretar o próprio fim do Estado de Israel como foi concebido pelos sionistas. O sionismo e seu estado judeu não podem sobreviver em uma terra onde haja justiça e igualdade de condições, direitos e deveres para todos seus cidadãos.

Elias

Por isso faz-se necessário denunciar a ascensão do sionismo em Israel. E o sionismo, é necessário dizer, é uma forma de racismo, algo pernicioso à humanidade, tal e qual o nazismo. Sua política não foi e não é de instalação de um Estado israelense em parte de terras palestinas, sua política é de expansão e tomada total do que foi e ainda é território palestino. Se nos determos ao que Israel já tomou do mapa da Palestina, veremos que falta pouco para Israel acabar de uma vez com o território que um dia foi território palestino. E também, faz-se necessário corrigir o vício de se usar a expressão “antissemita”, porque toda aquela região é habitada por semitas, palestinos, libaneses sírios são todos semitas, assim como seu irmãos judeus. A praga nefasta que deturpa esses irmãos é o sionismo. Um movimento de ultra-direita que pouco difere do nazismo tão condenado e execrado após a segunda guerra mundial.

Urbano

Os Judeus verdadeiros estão sendo governados por bandidos da pior espécie, devidamente encabeçados pelo tanatonyau, conforme têm mostrado ao Mundo inteiro. Sem se falar nos comparsas e iguais que estão ajudando direta ou indiretamente nesse extermínio dos palestinos.

    Urbano

    Na verdade, tanatoanyahu…

Zilda

Fiquei assustada ao ler a entrevista de Amós Oz, quando ele afirma: “contra a agressão só há uma resposta, a força”. Com base nessa afirmativa ele crítica os “pacifistas europeus”, que segundo ele não contribuem em nada. Essa filosofia do “olho por olho, dente por dente” está produzindo mais uma tragédia contra a humanidade.

    Elias

    Cara Zilda

    Aproveito sua observação: “olho por olho, dente por dente”

    Para dizer que essa guerra não é guerra, é extermínio. Porque para cada dente perdido em Israel, várias arcadas dentárias são destruídas na Palestina.

    Urbano

    O olho por olho, dente por dente nem cabe nessa situação infernal vivida pelos palestinos. E não cabe até porque estes estão encostados na parede, simplesmente esperneando na mais óbvia tentativa de não ser tão somente exterminados. Do lado dos fascistas é ainda mais inapropriada a utilização dessa máxima, pois para atendê-la deveriam pegar os alemães, seus parceiros no holocausto judeu. Sem contar inclusive, que o normal é a vindita não ocorrer simultaneamente à agressão sofrida; o que também nem é o caso de ter sido agredido pelos palestinos, muito pelo contrário.

FrancoAtirador

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Para obter cidadania israelita há que jurar lealdade ao ‘Estado Judeu’

Controvérsia
2010-10-11
Diário de Notícias (Portugal)

O Governo liderado por Benjamin Netanyahu quer mudar as regras para obter a cidadania israelita.

Ontem, aprovou uma polémica emenda legislativa que impõe aos não judeus que queiram adquirir a nacionalidade israelita jurar lealdade ao país como “Estado judeu e democrático”.

A lei, proposta pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Avigdor Lieberman, da extrema-direita,
e apadrinhada pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu,
foi aprovada com 22 votos a favor e oito contra,
entre os quais os dos cinco ministros trabalhistas.

O projecto-lei deve agora ser aprovado pelo Knesset (Parlamento),
onde o Governo de direita tem maioria.

O texto suscitou vivas críticas da minoria árabe de Israel,
que corresponde a cerca de 20% da população,
que o considerou “racista”
e dirigido contra os palestinianos
que casam com árabes israelitas
e pretendem instalar-se em Israel.

Netanyahu defendeu o projecto-lei, afirmando que ele reflecte a essência de Israel.

“O Estado de Israel é o Estado nacional do povo judeu
e é um Estado democrático em que todos os cidadãos –
judeus e não judeus – gozam de direitos iguais.
Quem se nos quiser juntar tem de nos reconhecer”.

(http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=1682695)
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    FrancoAtirador

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    Israel é um Estado Teocrático de Fato.
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    Cecilia

    Tão tá.

    Tariq Ali, Franco??!!
    Faça-me o favor.

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