Mauro Santayana: O Estado e as forças naturais

Tempo de leitura: 3 min

06/04/2010 – 22:11 naturais

Por Mauro Santayana, no JBonline

A tempestade que se abateu, segunda-feira, sobre o Rio de Janeiro – em uma estação de natureza particularmente impiedosa no mundo inteiro – tem muitas explicações, todas elas válidas, e todas elas, até o momento, inúteis. Há que se registrar, em primeiro lugar, e sem a histeria imobilizadora de alguns fanáticos, a enlouquecida agressão destruidora do capitalismo. A busca do lucro sem limites destrói as montanhas, a vegetação e suas águas, seja para a extração mineral, seja para a especulação imobiliária, e trata os seres humanos como se coisas fossem.

O Estado, historicamente, tem sido servidor dessa ação depredadora. Mesmo antes do consumo alucinante de recursos naturais, na produção de energia e de artigos industriais, que se acelerou nos últimos 100 anos, o Estado dividia seus súditos em duas categorias. Uma, a dos bem nascidos, senhores, por direito de herança, do bem-estar e do mando; outra, a dos servos, cativos pela cor ou pela origem social. As favelas cariocas, como sabemos, nasceram em Canudos, com a desmobilização das forças que combateram Antonio Conselheiro, no fim do século 19.

Os veteranos das tropas legalistas vieram para o Rio, acamparam-se em um de seus morros, e, em seus descendentes e agregados históricos, continuaram a morrer, como no sertão baiano: a tiros, de fome, e, por fim, nos desabamentos. Ainda assim, tiveram mais sorte do que os vencidos em Canudos, mortos em combate e degolados os prisioneiros inermes, entre eles, mulheres e crianças, em um dos momentos mais abjetos da história brasileira.

Como o Rio não fosse exceção na ordem social de domínio, em todas as cidades, reproduziu-se o mesmo modelo de ocupação urbana e de exploração do trabalho. Em todas elas há, em dimensões equivalentes, os redutos da miséria, sem falar nos casebres dispersos nas regiões perdidas do interior. Há várias humanidades na Humanidade, e, em algumas delas, a vida, em lugar de ser uma graça, constitui terrível castigo.

Quando a Nêmesis da Natureza resolve exercer vingança contra os que a ofendem, pune mais os inocentes do que os culpados. Tivemos, nestes últimos meses, os grandes terremotos, como sofremos, em nossos semelhantes indonésios, o mais violento maremoto registrado pela História. O terremoto do Haiti foi impiedoso, porque impiedosos haviam sido os colonizadores espanhóis e franceses e, bem mais tarde, os homens de negócios norte-americanos. Foram dizimados os pobres: os poucos ricos, estrangeiros em sua maioria, salvaram a vida e o patrimônio.

No Chile, com todo sofrimento e destruição, os mortos foram relativamente poucos, porque, apesar de todos os males – e, nesses males, inclua-se Pinochet – os chilenos conseguiram construir uma sociedade mais justa. Os desastres naturais atingem qualquer lugar do mundo, e os sismólogos preveem abalos telúricos em várias regiões do globo, nos tempos próximos. É de se esperar que quanto mais pobres forem as áreas de ocupação, mais mortes haverá.

Durante os últimos 100 anos, moveu-nos a ilusão de que as cidades grandes eram mais seguras. Nos anos 40, o êxodo para os grandes centros foi explicado pelo desemprego e a segurança do salário mínimo, naquele tempo restrito aos trabalhadores da indústria. A iluminação pública também serviu de atração para os homens do campo. Nos anos 50, uma pesquisa da Arquidiocese de São Paulo revelou que a afluência dos pobres à grande capital era motivada, mais do que pelo emprego, pela assistência hospitalar. Era o medo de morrer à míngua, sem chance de cura, o principal fator da migração. Hoje, a automação das indústrias e dos serviços tem descartado a mão de obra, expulsando até mesmo os trabalhadores especializados para a periferia das cidades. É hora de a ciência encontrar uma forma de produção que confira vida digna e segura a todos os homens.

Lei Maluf

Depois da famigerada “Lei Fleury”, da ditadura, em favor do delegado símbolo da repressão política, só nos faltava a “Lei Maluf”, contra a autonomia do Ministério Público. A proposta é inconstitucional, porque viola a igualdade de todos diante da Justiça, ao privilegiar os agentes públicos. A Câmara dos Deputados está brincando com nitroglicerina.


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Comentários

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manuel morales

Santayana como sempre brilhante. Aliás, descobri um blog dele éhttp://www.maurosantayana.blogspot.com

yacov

Há agora uma nova variável que foi introduzida á equação da exploração cpitalista e que precisa e deve ser considerada, sob pena de não haver mais planeta prá ninguém, que é a questão ambiental. O Consumo desenfreado estimulado pela economia capitalista precisa ser repensado, assim como, o crescimento tão desesperadamente preseguido por todos os países (crescer para onde, para que, para quem???). Como crescer sem dilapidar os recursos naturais e provocar a destruição do planeta???? Se estas condicionantes não provocarem logo uma mudança no comportamento irresponsável e opressor da humanidade, então ela não merece este nome e já abandona tarde a sua miserável existência.

FORA PSDBolhas DEMentes e PIg'SS!!!
QUERO LULA DE NOVO QUERO DILMA 2010 MEU POVO!!!

Curumin

O problema é a ignorância da nossa sociedade, temos que pensar nas proximas geraçoes, EDUCAÇAO para as nossas crianças e jonvens !!!!!

Carlos

Como vivem os atingidos por enchentes em SP?
http://www.pt-sp.org.br/tvpt.php?id=150)

Piá

Santayana é jornalista diplomado?

José Maria Pimenta

O Ministério público tem que ter algum freio em sua ânsia de gerar factóides, muitos deles antendendo interesses políticos menores e em em detrimento dos interesses maiores do país e da população como um todo.

    Piá

    Aperfeiçoar controles sem retirar autonomia.

    Antonio Soares

    Sr. José Maria: e as Corregedorias para que servem ? Deveremos, então, eliminar as Corregedorias e ficar com o Maluf ?

O Brasileiro

Novamente Santayana está certo!
Se o pobre fica no campo, é explorado e humilhado!
Se o pobre vai pra cidade, é explorado e humilhado!
Se o pobre dorme na rua, é humilhado e até queimado!
Mas é o pobre que constrói casas, apartamentos e mansões!
É o pobre que constrói carros, motos e bicicletas!
É o pobre que limpa, recolhe o lixo e que recicla!
Ricos e pobres tentam viver uma ilusão, a de que há dissociação das atividades das pessoas… esse pseudo-individualismo, inerente à natureza humana, é fruto de sua ignorância, e parece ser mais exposto nos países menos desenvolvidos!
As pessoas têm que se tratar como cidadãos, e não como os de mais e os de menos posses ou títulos.
Se alguém não está convencido, tente virar ermitão e ver se consegue ser feliz!

Fernando

Ibama em greve.

Já era pro PAC, não vão licenciar as obras.

Rosania Cunta

Como sempre o Mauro é fantástico nos seus textos,sempre aprendemos história universal e do Brasil. Não se fazem mais "jornalistas como ele", culto e os textos são muitos inteligentes e interessantes. Mais uma vez obrigada,por ter esse privilégio de ler esses magníficos diários. Abraços tb p'ro Azenha por postar esses artigos.

Aldo Luiz

Com o mais absoluto respeito ao VIOMUNDO e ao irretocável, corretíssimo ilustre Mauro Santayana.
Meus caros amigos, a vida tem me urgido concluir… O Estado é, e tem sido, uma concessão e extensão da agora eufemística, milenar e imperialista, "nova" ordem mundial escravagista e seus fiéis banqueiros (atualmente euroangloamericana e nazisionista) sempre renovando sua “NOVA embalagem" para melhor iludir e administrar a "democrática" casa grande e sua inumana senzala. “Midióticamente” imbuídos dessa institucionalizada inverdade acreditamos no que apregoam com o velho e eficiente "low talk and a big steak", e agora, com o H.A.A.R.P., arma de guerra para modificação do clima, trabalhando religiosamente desde os anos 90 sob a sombra da midiocracia vigente para a falácia do aquecimento global e outras "armações inconfessas" como terremotos em alvos estratégicos.
Cairão os morros, inundarão as cidades, imporão vacinações oportunistas e não haverá investimento que resulte algum benefício para salvar os escravizados povos crédulos e enganados, a não ser o dar continuidade ao "invisível" holocausto proposto pelos donos dessa terrível diabólica máquina de guerra para a modificação do clima. É preciso mudarmos o ponto de vista. Avançam sua agenda e o tempo já anda acelerado…
Sou grato.

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