Marilena Chauí: Governos tucanos são responsáveis pela crise da USP

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Chaui na aula magna na USP - Foto Daniel Garcia - Adusp

Marilena Chauí em aula magna na USP. Foto: Daniel Garcia/ADUSP

Chauí critica ensino ‘tecnocrático’ e afirma que governo de SP é responsável por crise da USP

Em aula magna para discutir a crise da USP e a greve de trabalhadores, Marilena Chauí afirma que ‘universidade voltada ao mercado é dirigida como montadora de automóveis ou rede de supermercados’

por Malú Damázio, da RBA publicado 09/08/2014 13:46, última modificação 09/08/2014 15:22

São Paulo – A filósofa Marilena Chauí afirmou ontem (8), em aula magna sobre a greve de funcionários e professores da Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste de São Paulo, que a crise financeira e administrativa da universidade é resultado da “metamorfose da instituição social pública em organização operacional”.

Na visão de Marilena, este tem sido o principal objetivo do governo do estado de São Paulo, administrado pelo PSDB há 20 anos. A professora criticou os governos tucanos ininterruptos no estado, e lembrou que lideranças do partido, originado em uma dissidência do PMDB, já governavam o estado muito antes do PSDB vencer eleições.

“Comecemos com a entrada deles no poder no governo Franco Montoro (PMDB), seguido por Orestes Quércia (PMDB), Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB), Mário Covas (PSDB), José Serra (PSDB) e Chuchu Beleza [Alckmin]. Eles estão aí faz 30 anos! Eu quero alternância de governo! É claro que eu quero, porque, no que diz respeito a nós, vamos ver o que foi que foi feito da educação do estado nesses 30 anos.”

A greve de funcionários e professores da USP dura 73 dias. No último domingo (3), as ocupações realizadas pelo movimento enfrentaram a reintegração de posse de áreas como o restaurante universitário, institutos de ensino e o Centro de Práticas Esportivas (Cepe USP) pela Polícia Militar. O reitor, Marco Antonio Zago, anunciou nesta semana o corte de ponto de trabalhadores grevistas.

Segundo Marilena, a crise na universidade começou a ser gestada ainda nos anos 70, quando a USP abandonou o modelo de instituição social humanista, inserida no universo político e voltada à comunidade, e passou a assumir uma formação rápida e voltada ao mercado de trabalho. Um boom de parcerias da universidade pública com o mundo empresarial na década de 1980 e a expansão de instituições de ensino privadas consolidaram, nas décadas seguintes, um modelo de administração neoliberal. Nele, a USP tem status de organização administrativa que, com gestão de recursos e índices de produtividade, busca estratégias de desempenho e eficácia e se articula com outras instituições públicas de ensino superior por meio da competição.

“O modelo tecnocrático de gestão voltado à sociedade de mercado dirige a universidade da mesma forma que administra uma montadora de automóveis ou uma rede de supermercados. USP, Volks, Walmart, Vale do Rio Doce são todas administradas da mesma maneira, porque tudo se equivale”, explicou a filósofa.

O aumento de horas-aula, a diminuição do tempo para mestrados e doutorados, a avaliação de estudantes e docentes por meio da quantidade de publicações, colóquios e congressos realizados e a multiplicação de cursos voltados à formação técnica são, para Marilena, evidências de que a formação da universidade é regida por normas alheias ao conhecimento, e que contribuem para a degradação interna e pública da USP.

A professora ainda aponta a privatização de direitos sociais – estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 – por governos neoliberais, como o de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002), como uma das principais razões para a privatização e crise do ensino público. “Os direitos sociais como saúde, educação, liberdade de expressão, religiosa e sexual foram transformados em serviços não exclusivos do estado, que podem ser vendidos e comprados, pelo ideal neoliberal do estado mínimo.”

As mudanças no sistema de gestão da USP se deram, de fato, em 1996, quando o estado de São Paulo, governado por Mário Covas (PSDB, 1995-2001), adotou a agenda de mudanças no ensino público recomendada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a reestruturação das universidades da América Latina e do Caribe. O tratado federal havia sido assinado em 1994, por Itamar Franco, e passava a tomar corpo pelos governos estaduais. De acordo com Marilena, as normas do BID para financiamento aplicavam ao ensino superior os mesmos critérios utilizados em qualquer outro investimento: custo benefício, eficácia e operância e produtividade. As universidades privadas são indicadas pelo banco como modelo para as instituições públicas.

“As universidades privadas, além de serem prestadoras de serviços a governos democráticos, são ágeis em termos evolutivos, adaptam-se a ambientes conflitantes e fazem muito do que as universidades públicas paquidérmicas, excessivamente politizadas, nunca fizeram ou nunca conseguem fazer ao longo do tempo. Nós vivemos em um mercado competitivo, é assim que pensam as universidades privadas e, por isso, ganham o seu próprio dinheiro e regem-se de forma autônoma”, diz o documento.

O texto do BID é, na visão da filósofa, o que rege, até hoje, a atuação do governo tucano na administração da educação pública do estado de São Paulo. Marilena ainda citou que os termos de gestão operacional estão evidenciados em uma carta da reitoria enviada aos docentes da USP em 21 de julho. Nela, Zago afirma buscar “um novo modelo de gestão compartilhada, de modernização e de priorização da vida acadêmica”, além de reforçar que o “comprometimento orçamentário está muito acima dos recursos disponíveis”.

“A autonomia universitária que o governo do estado de São Paulo busca nada tem a ver com o sentido sociopolítico de universalização do conhecimento voltado à sociedade. Ela está ligada à gestão de receitas e despesas, metas, indicadores de desempenho e contratos de gestão”, reforça a filósofa.

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Notívago

VÍDEO CHOCANTE!

Vídeo elaborado com manchetes de jornais sobre desemprego na era FHC/PSDB. É chocante, simplesmente chocante. Só um louco para querer a volta disso tudo, desta feita sob a batuta de AÉCIO NEVES ou Eduardo Campos. Vade retro, Satanás!

http://youtu.be/sTC8AYN82Y8

matuto

E o Serra quietinho. O silêncio dos psicopatas babões.

pimenta

fugindo do assunto:

Não era “garantido” que não haveria racionamento, Dr. Alckmin? E o erro de Landau e Leitão?
11 de agosto de 2014 | 09:42 Autor: Fernando Brito

A reportagem de capa da Folha, hoje, revela, sem resposta possível, o papel de Tartufo desempenhado pelo Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, semana passada, quando, em entrevista ao Estadão, que “não há racionamento de água em São Paulo.

Não, exceto para mais de dois milhões de pessoas, que vivem em 18 municípios paulistas que assumem estar controlando os horários em que a água é fornecida a residências, comércio e indústrias.

E pouco passamos da metade do inverno, período mais seco do ano.

O curioso é que, à medida em que se torna desesperadora a situação em São Paulo, as vozes da direita ressuscitam o fantasma do racionamento de energia.

Elena Landau, a musa das privatizações de Fernando Henrique Cardoso, na Folha, e Míriam Leitão, em O Globo, voltam ao discurso do apagão.

Estas senhoras, que se apresentam como “técnicas” estão desafiadas por este modesto blog a provar que a situação está se agravando em moldes minimamente parecidos ao que ocorre em São Paulo, embora ninguém seja estulto de negar que há, sim, uma grave estiagem.

E você mesmo pode comparar.

No dia 28 do infernal mês de fevereiro, que deveria ser de chuvas no Sudeste, mas lembrou o que ocorre no semi-árido nordestino, o Brasil tinha 111,4 megawatt/mês de energia armazenada, em forma de água, nos reservatórios das hidrelétricas. A região mais crítica, o Sudeste, tinha 34,6% de seu armazenamento

Nesta mesma data, o Sistema Cantareira, tinha 16,4% de seu volume útil, o que, somado ao “volume morto” (mais 18,5%) que seria utilizado depois, dava 34,9% de capacidade reservada.

Sexta feira passada, o Sistema Integrado Nacional tinha exatos 114,2 megawatt/mês acumulados, o mesmo que há pouco mais de cinco meses. Os reservatórios do Sudeste, os mais castigados, tinham 33,7% de sua capacidade, apenas 0,9% abaixo da marca de cinco meses antes.

Já o Cantareira tinha baixado daqueles 34,9% totais para meros 13,9%, já incluídos nos dois valores o tal “volume morto”.

Mas foi por mágica que um lado se mante e outro secou, embora ambos estejam igualmente castigados pela seca?

A diferença é o o Governo Federal deu o lombo a bater com toda esta história do preço da energia geradas pelas usinas térmicas, mas não deixou os reservatórios baixarem ao nível da irresponsabilidade como o governador paulista.

É simples assim, meus amigos, e revela quem é que que está sendo politicamente irresponsável com o uso da água.

Dona Miriam Leitão e Dona Elena Landau, deveriam, a esta altura, se fossem capazes de uma análise técnica isenta, estariam era elogiando o que, comparado á água de São Paulo, é um “milagre” no sistema elétrico nacional.

E que não se valham das tais “consultorias de energia”, porque elas adoram prever um caos que aumente o preço da eletricidade.

Para essa gente, água é dinheiro, muito dinheiro.

Julio Silveira

A Marilena Chaui é uma acadêmica importante, menos quando se torna militante do tipo dos aloprados, como foi quando apontou as baterias contra a classe média ao lado do presidente Lula, que tanto fez para elevar a classe media grande contingente de cidadãos. Sob determinados aspectos, as vezes, dependendo do que se fala, mais atrapalha do que ajuda. Mas neste assunto está certa.

Mariza

Os defensores desses governos que se expliquem. E na verdade nunca entendi direito esse amor que os paulistas tem a governos que vem atravancando o desenvolvimento do Estado paulista. Se Freud fosse vivo, nem ele explicaria tal sentimento paulistano.

laura

Pois é a UFABC esta recebendo dinheiro público é nova e cresce.
O que esta acontecendo com a USP e demais estaduais além de contenção orçamentaria sãoos feudos. As capitanias hereditarias de 4a geração.
Eles mesmo dizem.
“4a geração”. Não há qualidade que aguente aulicos.

laura

O que eu sei é que encontrei estalagmites e estalagtites caindo e subindo de tetos e chaõ de Universidades federais nos anos FHC (agora não tem mais)- vi isso na UFRJ Escola de Belas Artes Ilha do Fundão, de chorar. Dado o abandono por falta de dinheiro e investimento. E nos anos do PSDB em SP, na FAU/USP, no predio do Artigas. Igualzinho.
Também de chorar.

Fernando Garcia

Caros Azenha e Conceição, sério mesmo?

Boa era a USP na década de 70… poucos alunos em sala de aula, aulas do FFLCH em francês, não precisava publicar resultados, etc. É isso mesmo? Um modelo ainda mais elitista que o atual?

Vamos ser sérios. A USP, assim como UNICAMP e UNESP, sofrem as influências que querem sofrer. Possuem independência financeira assegurada pelos contituição de SP. A culpa da crise da USP é dos professores titulares da USP, que são os responsáveis por sua adiministração, dentre os quais a Profa Dra Marilena Chaui.

Se a USP cede a pressão dos tucanos é porque, em sua maioria, seus professores são tucanos ou, até mesmo, são os que formulam a prática dos tucanos.

Fica claro que determinados setores da USP poderiam ter na mão todo o orçamento do estado brasileiro, não apenas o de SP, e não conseguiriam formular um modelo de ensino superior publico, gratuito e de qualidade, que é direito de todos.

É muito difícil defender a USP hoje como instituição, retornar ao passado é ir em uma direção ainda mais elitista.

    carlos de paula

    Onde você comprou essa maconha Fernando? Falar tanta besteira assim só com maconha estragada.

    Arnaldo

    Fernando, não fale asneira. Esse aspecto, foi inclusive, um ponto levantado pela própria Marilena na aula. Ela ressalta ” é claro que eu não quero a USP da década de 70, afinal eu tenho consciência histórica. O motivo da minha luta é garantir uma USP melhor do que foi e não o que ela é hoje”

    E pelo amor, não culpe o corpo de funcionários por uma crise que não lhes pertence. Se alguém deve ser responsabilizado, esse alguém é o governo do estado que vem há anos interferindo na alta administração da USP.

Elias

PUC
USP
UNICAMP
MaPoFei
SÃO FRANCISCO
Onde andam meus amigos
Pra explicar-me o que é isso
Pra explicar-me o que é isso
Que eu não sei mais o que é
Que dói muito na cabeça
Quando não pega no pé

As universidades de modo geral (publicas e privadas) tem decaído muito nas últimas décadas. Marilena Chauí aponta os últimos 30 anos, mas podemos dizer que bate 50 anos. Da Ditadura Civil/Militar, portanto, desde 1964, o ensino acadêmico começou a degringolar. Basta conferir o curriculum dos grandes nomes que hoje estão na faixa dos 50 anos, todos têm extensão universitária fora do Brasil. Mas a professora e pensadora Chauí está certa. Realmente, o que aconteceu na USP nessas últimas três décadas é assustador. Não é à toa que sua posição entre as melhores do mundo caiu 11 pontos em 2014.

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