Ipea admite erro: 26%, e não 65%, apoiam ataques a mulheres

Tempo de leitura: 2 min

Errata da pesquisa “Tolerância social à violência contra as mulheres”

do site do Ipea

Vimos a público pedir desculpas e corrigir dois erros nos resultados de nossa pesquisa Tolerância social à violência contra as mulheres, divulgada em 27/03/2014. O erro relevante foi causado pela troca dos gráficos relativos aos percentuais das respostas às frases Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar e Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. Entre os 3.810 entrevistados, os percentuais corretos destas duas questões são os seguintes:

Corrigida a troca, constata-se que a concordância parcial ou total foi bem maior com a primeira frase (65%) e bem menor com a segunda (26%). Com a inversão de resultados entre as duas questões, relatamos equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente por seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação e motivou amplas manifestações e debates na sociedade ao longo dos últimos dias.

O outro par de questões cujos resultados foram invertidos refere-se a frases de sentido mais próximo, com percentuais de concordância mais semelhantes e que não geraram tanta surpresa, nem tiveram a mesma repercussão. Desfeita a troca, os resultados corretos são os que seguem. Apresentados à frase O que acontece com o casal em casa não interessa aos outros, 13,1% dos entrevistados discordaram totalmente, 5,9% discordaram parcialmente, 1,9% ficou neutro (não concordou nem discordou), 31,5% concordaram parcialmente e 47,2% concordaram totalmente. Diante da sentença Em briga de marido e mulher, não se mete a colher, 11,1% discordaram totalmente, 5,3% discordaram parcialmente, 1,4% ficaram neutros, 23,5% concordaram parcialmente e 58,4% concordaram totalmente.

A correção da inversão dos números entre duas das 41 questões da pesquisa enfatizadas acima reduz a dimensão do problema anteriormente diagnosticado no item que mais despertou a atenção da opinião pública. Contudo, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros. As conclusões gerais da pesquisa continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates da sociedade sobre seus preconceitos. Pedimos desculpas novamente pelos transtornos causados e registramos nossa solidariedade a todos os que se sensibilizaram contra a violência e o preconceito e em defesa da liberdade e da segurança das mulheres.

Rafael Guerreiro Osorio* e Natália Fontoura

Pesquisadores da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc/Ipea) e autores do estudo

* O diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea pediu sua exoneração assim que o erro foi detectado.

 Leia também:

Fátima Oliveira: Bandidos da paternidade acobertados pela Justiça


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Eunice

Não sejamos cínicos também.

A família reproduz o que recebe, mas os membros se separam e as crianças recebem a bandalheira da TV, das rádios, vejam os programas humorísticos e pensem.

Daí vem uns professores moderninhos e acham que não se deve passar valores nas escolas, só os profissionais. E o MEC se cala. E não temos tradição comportamental.

Se há bárbaros e não sabemos como contê-los e o mercado gosta bem disso, pois um bárbaro compra mais, precisamos ao menos tentar encontrar uma solução.

Eunice

Nível da deseducação brasileira. Já se disse que um ministro da deseducação teria dito que “o português é uma espécie de espanhol mal falado”, só como exemplo. Precisamos mudar completamente as estruturas educacionais e as aplicações se quisermos acabar com essa bandalheira comportamental.

tania vargas

Em primeiro lugar, não vejo motivo para que se tenha feito uma tal pesquisa ou melhor, talvez haja o motivo. Mas não é o de informar. Porque qualquer pessoa com dois neurônios ia saber a repercussão que um tal assunto teria, ainda mais quando o resultado é o que foi divulgado. Então, desde o início, ao contrário de muitos que comentavam eu cantei esta bola, disse que em época de eleição qualquer coisa aparentemente sem relação com a política poderia sim, ter uma intenção subjacente. Se boicotar a Copa é desejo da oposição, então isso poderia vir a ter algum resultado no sentido de assustar possíveis turistas porque já somos alvo do estigma da violência inclusive coma aquela históira da turista estuprada dentro da van. Eu falei isso para uma amiga que mora no Rio e ela me afirmou que o IPEA era idôneo. FUi até em busca de informações e cheguei a um artigo com comentários de leitores que apontavam muitas irregularidades neste instituto. Sendo assim, acho que não foi porque teve que MELHORAR o resultado que aquele técnico se demitou, mas porque foi descoberto que fora dado o resultado com aquela percentagem justamente para criar polêmica e de alguma forma atingir indiretamente o governo. Alguém acredita em sã consciência que pessoas co tal responsabilidade iriam largar algo assim na mídia, sem ter absoluta certeza? E repito , qual a utilidade de se lançar isso, como se por causa do resultado, alguma pessoa fosse mudar de ideia? Pelo contrário, quem pensa assim se sentiu muito apoiado e ainda poderia levar outros sem opinião de arrasto.

bira

não acredito em erro do IPEA. acho que os dados eram aqueles, mas diante da repercussão mundial forçaram uma “mudança” nos dados, para ficarem mais palatáveis. por não concordar com isso, o diretor se demitiu.

só não vê quem não quer.

e a sociedade é, sim, machista. muito. ouvi recentemente um comentário da esposa do meu cunhado, que perguntou se eu “não tinha medo de virar viado” porque eu estava lavando a louça para ajudar minha esposa, que tinha feito o almoço.

respondi a ela que não era uma lavagem de pratos que trocaria a sexualidade de um homem, e que entendia porque o marido dela não lavava pratos nem ajudava em nada, é porque ele estava no limiar de virar viado e um pires poderia tê-lo feito virar viado de vez(nada contra os viados, a vida é deles, respeito a opção mas gosto de mulher). isso dito por uma pessoa esclarecida(ela), com 2 cursos superiores, duas pós-graduações, porém, altamente machista a ponto de me dizer o que disse.

a pesquisa mostra o óbvio. o mesmo povo que se delicia vendo bundas de fora no BBB é aquele que diz que mulher tem que se comportar para não ser estuprada. povo machista.

Regina Braga

Se a imagem do Brasil já não era muito boa…com a pesquisa detonou tudo!Mas o lado bom é que está ocorrendo mobilização…quem sabe se agora vamos debater a situação da violência contra a mulher pra valer!

Hell Back

Não se tem conhecimento dos dados dos outros países, mas isso não vai influir em nossas relações com outros países? Não poderá afetar o turismo por exemplo? A turista feminina como irá reagir? Deixará de visitar o Brasil por causa disso? Essas são algumas das inúmeras questões que esse erro poderá vir a causar.

FrancoAtirador

.
.
Mas esta, infelizmente, continua valendo:

“58,5% dos entrevistados concordam com a ideia
de que se as mulheres soubessem como se comportar,
haveria menos estupros”

E caberia aqui, em cima dessa resposta, uma outra pergunta:

“O que é exatamente ‘saber se comportar’?

Há estupradores que são tarados por evangélicas. E aí?

(http://www.youtube.com/watch?v=ptPcO96BB88)
.
.

    FrancoAtirador

Pedro Ribeiro

Mas o IPEA é um instituto sério ?

Agora quanto ao assunto, ele precisa sim assumir o ônus da intenção.

Luís Carlos

Rafael Osório e Natália Fontoura deveriam seguir caminho do diretor do IPEA que se demitiu. Falha gravíssima! E a demora para manifestação e correção denota que houve muita conversa nesse dias e muito vacilo. Macula a imagem do IPEA. Pior, macula imagem do Brasil. Pedir desculpas é pouco.

Silvestre

Não vamos nos iludir.
O que era mais surpreendente naquele resultado errado não era as pessoas terem respondido a pergunta afirmativamente, o que surpreendida de verdade era tantas pessoas terem tido a “coragem” de responder afirmativamente.
A sensação era que apenas confirmava oficialmente um óbvio que todos já sabiam muito bem. A outra pergunta “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros” faz um questionamento muito parecido ao mesmo tempo que não exige que a pessoa “se assuma” tão diretamente. Essa pergunta teve uma afirmativa muito próxima a outra com o resultado errado, uma parecia reforçar a outra.

O problema ainda está lá, ainda é real.
Um quarto das pessoas terem aquela opinião é grave, tão grave quando dois quartos terem aquela opinião apenas de forma menos escancarada.

    VRADIMIR

    Concordo plenamente com o informante acima, uma pesquisa com esta proporção, estar óbvio que foi clara e retrata a realidade de nosso país. Agora não adianta corrigir, o que todos já sabem, e teve a coragem de bater, sem ser pisoteados.

    claudia dornelles

    Concordo

lukas

O estrago está feito. Mas 26 ainda é muito.

Sagarana

Aposto que esse post não dura até amanhã no blog.

    Mário SF Alves

    Por quê?

Sagarana

Pobre IPEA. Triste!

    Mário SF Alves

    O problema com as generalizações é exatamente esse: o geral é sempre julgado a partir de um dado particular.

    Além de nada técnico, deixa no ar a dúvida: quem age dessa forma, o faz por quê?

    1- Por ser totalmente alheio à ciência?

    2- Por motivos publicamente inconfessáveis?

Urbano

Dizer que foi erro é porque não conhece estupidez… Será que já ouviram falar em consistência de dados ou de informação?

    Urbano

    Na verdade, de dados e de informação.

Bonifa

Agora, que a notícia correu pelos principais sites do mundo. O juízo internacional sobre o país está feito e não vai ser desfeito, um desmentido não vai jamais percorrer os principais sites do mundo. Tal irresponsabilidade não mereceria um severo processo?

Deixe seu comentário

Leia também