Fátima Oliveira: Entre “Miss” e toalhinhas arrematadas em “ponto Paris”

Tempo de leitura: 2 min

Entre “Miss” e toalhinhas arrematadas em “ponto Paris”
Os lucrativos negócios da indústria farmacêutica

por Fátima Oliveira, em OTEMPO
Médica – [email protected]

Pense numa doidice: nas meninas, o negócio é retardar um rito de passagem, a menarca, a primeira menstruação; nas jovens, suprimir o ciclo menstrual; e, nas climatéricas, mantê-lo ad infinitum, como signo da eterna juventude! Falo de lucrativos negócios da indústria farmacêutica, nada saudáveis.

Iatrogenia, talvez. Sabe-se o lugar da menstruação, desnecessária na maioria dos mamíferos, na procriação humana. Ignora-se por que as mulheres menstruam. A menopausa foi confirmada apenas em elefantas, baleias jorobadas e mulheres! O curto ciclo de vida e a teoria do envelhecimento de Medawar não respondem.

Sem mencionar o desconhecimento dos danos de submeter a hipófise e os ovários a longos períodos de repouso forçado, por ação da “pílula”, a Food and Drug Administration dos Estados Unidos comunicou que os efeitos colaterais da pílula antimenstruação são os mesmos da pílula anticoncepcional, cuja decorrência frequentíssima é a trombose venosa profunda (TVP) – coagulação do sangue nas veias em momento ou local inadequados, ocasionando obstrução venosa parcial ou total e inflamação da parede da veia, podendo causar embolias pulmonar e cerebral (AVC). É a inofensiva!

Fui aos meus guardados, incomodada com as matérias louvando as benesses de não menstruar e a inutilidade de menstruar, como a publicidade “Viva sem menstruar” – invocando a “sujeira”, a falta de higiene e até o “veneno” do sangue menstrual! -, que “quase” diz que menstruar faz mal, a exemplo do ginecologista Elsimar Coutinho no livro “Menstruação, a Sangria Inútil”. Escrevi “As regras e a camisinha” (2003); “As cobaias da terapia de reposição hormonal” e “O estado da arte da terapia de reposição hormonal (TRH)”, sobre a menopausa – palavra de origem grega: fim dos períodos menstruais, estágio fisiológico da vida da mulher.

Neles discorro sobre as formas de “regulação social” de processos biológicos naturais das mulheres, como menstruação e menopausa, via “medicalização” – instrumento de poder político de apresentar e traduzir velhos conceitos e mentiras misóginas com novas roupagens. No tópico “Um olhar da sociologia na medicalização do corpo da mulher”, destaco que fatos naturais inerentes à menstruação e à menopausa são diagnosticados e tratados como doenças!

Em “As regras e a camisinha”, escrevi: “As minhas filhas foram festejadas quando menstruaram a primeira vez. No jantar de uma delas, o Gabriel disse: Não sei por que a gente tem de jantar fora só porque essa menina ficou misturada . E ainda ganhou flores porque agora vai usar Modess! “.

Tive menarca quando Rita Lee não cantava “Mulher é bicho esquisito/ Todo o mês sangra” (“Cor de rosa choque”). Um trecho: “No Maranhão se dizia: ficar moça . Estava com 11 anos. Acordei uma tarde suja de sangue. Apavorada, tomei banho. Vovó perguntou por que eu estava banhando tão cedo da tarde. Disse que sentia calor… Naquele noite, não brinquei de roda. Sentia um medo que me apertava o peito. Foram horas de sofrimento solitário…

Voltei para o internato com peças novas em meu enxoval, as toalhinhas da menstruação, embora levasse também seis caixas de Miss – uma marca de absorvente da época. Vovó e mamãe brigaram. Vovó mandou fazer as toalhinhas e mamãe dizia que era para levar o Miss . Como não se entenderam, coloquei os dois na mala. Nunca usei as toalhinhas, porém guardei-as durante anos. Se perderam no tempo. Eram uma dúzia, arrematadas em ponto Paris . Verdadeiras joias!”.


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Comentários

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isa

sei não… acho ótimo tomar Yass, não ter TPM e quase não menstruar. Quem diz que não é um saco ficar menstruada está mentindo!
A menopausa tbém é outro "X"… não é nada tranquilo perder o viço e juventude.

Sorte de que tem acesso a medicina moderna!!! Sorte que inventaram OB e tampax!!!!

Quem é contra, que volte para as toalhinhas!!!

Samyra

ADOREI!

aroma

AGORA CANTA "PÁRE DE TOMAR A PÍLULAA, ELA NAO DEIXA O MEU FILHO NASCER"
ha va!

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Márcia Lopes

A postura médica diante da menstruação e da menopausa tem sido de tentar fazer alguma coisa, domá-la. Basta ver que a autora chama a nossa atenção das contradições médicas: "nas meninas, o negócio é retardar um rito de passagem, a menarca, a primeira menstruação; nas jovens, suprimir o ciclo menstrual; e, nas climatéricas, mantê-lo ad infinitum, como signo da eterna juventude!".
Isso quer dizer que é negócio de remédio mesmo. A indústria farmacêutica quer vender e para vender o que já existe, nem pesquisa precisa fazer, é inventar novas indicações.

Gracinha

Não entendo como uma assunto tão QUENTE e SÉRIO as pessoas não aparecem pra discuti-lo. Nem aqueles carinhas que adoram tomar conta das vaginas e dos úteros das mulheres… Ah, pode ser que eles achem o assunto mau cheiroso… rsrsrsrsrs

Lousan

ótimo post, também sou totalmente contra o retardamento ou a aceleração das coisas…cada coisa tem seu tempo, nao tem porque colocar a carroça na frente dos bois…

Aline C Pavia

(continuando)
E como ficam os sutiãs com enchimento para meninas? Mandei um email para a De Millus falando que isso é um absurdo. Cada coisa a seu tempo. Se eu não consigo fazer minha filha entender que ela um dia terá, sim, seu sutiã, e ele estará, sim, preenchido naturalmente pelo seu busto, por que é que eu me propus a botar filhos no mundo? Se eu não conseguir explicar a um filho a linha do tempo natural do nosso corpo… e como seria bom se ficássemos crianças para sempre… embora toda idade, toda fase, tenha sua magia.

Vou repetir dr. Marcio Bontempo em "Receitas para Ficar Doente": "livre-me Deus da medicina, que das doenças livro-me eu".

Aline C Pavia

Esse Elsimar Coutinho sumiu. Era outro Roger Abdelmassih da vida, queridinho da TV, mas sinceramente, o que um homem entende sobre o nosso corpo, nossa fisiologia, nossas dores e amores?
Cedemos desde sempre, sempre nosso corpo ao dispor da macharia. Nós engravidamos, parimos, damos de mamar, perdemos as madrugadas em peitos e fraldas e berços. Tudo para por nossa cria no mundo. A condição de ceder é per si inerente à condição de mulher. Fazer o que. Mas assim funcionamos, sangramos, doemos em cólica todo mês. E daí? E daí que a indústria farmacêutica lucra bilhões em cima da desinformação e do servilismo desses "médicos" que referendam e propagam um monte de bobagens.
(continua)

vera oliveria

eu não tomo pilulas à um bom tempo,faço tudo pra não tomar remedios,faço tabela e dá super certo.

Marcia Costa

Sabe, Fátima, seu artigo tem lógica quanto ao posicionamento contrário à febre dos dias de hoje de postergação da menarca, mas olho em volta e já vejo tantas meninas tendo sua infância cada dia sendo mais cedo roubada, que entendo os pais que tomam esta decisão. Sangrar é como despartar para um mundo que nos é tão distante quando somos apenas meninas. Veja só: hoje lendo os textos e comentários aqui no Azenha se vê de tudo – fusão de supermercado, jaqueta de R$29,00 chinesa, exploração imobiliária (especulação, não), capatalismo cada vez mais exproriatório, políticos sem relevância que viram ícones, etc. Ao sangrar, nos imolamos no latar da "adultecência" e passamos a percer todo esse mundo. Ficam para tráz nossas bonecas e inocência, isso quando esses atributos resistem à mídia porca de nossas dias. Se eu pudesse escolher, eu certamente gostaria de ser criança por mais tempo. Acho que é essa a motivação de muitos pais e mães.

    Janete Pinho

    Márcia, só tem lógica. Toda a lógica.
    Postergar a menstruação é para crescer mais! Inventaram que atrasar a menarca faz crescer mais. Não há provas científicas disso. E se houvesse os riscos são muito grandes.
    Entopem as menininhas de hormônios, como nas pílulas anticoncepcionais! Com os mesmo riscos.
    Embolia pulmonar, acidente vascular cerebral. Cada dia, segundo m´dicos d eprontos socorros chegam mulheres cada vez mais jovens com TVP e também com AVC. Todas usam pílulas!
    Isso tem nome é pura saca—– Não há mesmo almoço grátis! Ma so pior é dizer que a mnstruação é sangria inútil. Que dá anemia.
    São contarditórios. A mesma medicina que posterga primeira menstruação e que prega que viver sem mnstrura é bom, dá hormônios para as menopausadas com o intuito de renuvescê-las. Claro que tem algo errado e de muita maldade. Elsimar Coutinho deu hormônio para Marília Gabriela nãos e sujard e sangue por quase 20 anos e agora deve dar para ela se sujard e snague e se sentir JOVEM!

    Edmara

    E quem disse que as meninas só se interessam pelo mundo adulto depois da menstruação, que é isto que que rouba cada vez mais cedo a infância delas?

Mari

Relembro que eua cho a pílula anticoncepcional como algo revolucionário. Só que precisam torná-la mais segura. Avisar dos riscos e sobre os cuidados para evitar a trombose. Como disse Fátima Oliveira, num artigo que não recordo: a pílula separou definitivamente o ato sexual da obrigatoriedade de ter filhos. Fez o ato sexual virar o que ele debve se rum PRAZER sem medo.

Recomendo ir ao Tá lubrinando para ver as ilustrações dessa crônica com absorventes ecológicos. Um show! http://talubrinandoescritoschapadadoarapari.blogs

    Gracinha

    Obrigada Mari! Realmente as ilustrações no Tá lubrinando em si são uma aula, de tantas informações, desde os coletores de silicone aos absorventes ecológicos, de tecido e reutilizáveis. Eu também recomendo.
    Estou preocupada é com o que Fátima fala no primeiro parágrafo. Não tendo mais como expandir seus lucros, eles inventam novas indicações pros seus velhos remédios. Agora é o mesmo remédio para evitar filhos para postergar a menarca. Um absurdo! Assim expõe as meninas aos perigos dos efeitos colaterais mais cedo.

Mari

Quero dizer que você foi bem na jugular. Falou o que era preciso. E a medicina sabe e esconde. Não sei se é bem esconde. Os ginecologistas prescrevem a pílilua antimnstruação e a anticoncepcionqal, mas quem recebe os estragos é o pronto-socorro. Então há ginecologista que nunca viu e nem verá uma TVP, uma embolia pulmonar ou cerebral. É que ele nãoa tende os estragos da pílula, como já disse.
A TVP é uma doença que atinge com maior freqüência pessoas portadoras de algumas condições predisponentes, tais como: uso de anticoncepcionais ou tratamento hormonal, tabagismo, presença de varizes, insuficiência cardíaca, obesidade, tumores malignos, ou história prévia de TVP. Porém, há outras condições importantes no desencadeamento e desenvolvimento da TVP, como: fase final da gestação e o puerpério (pós-parto) e qualquer situação que exija imobilização prolongada (paralisias, infarto agudo do miocárdio, viagens aéreas longas, internações hospitalares prolongadas, etc.); cirurgias de médio e grande portes, infecções graves, traumatismos, idade avançada, anormalidade genética do sistema de coagulação.

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