Fátima Oliveira: 2011, Ano Internacional para Descendentes de Africanos

Tempo de leitura: 2 min

por Fátima Oliveira, em O Tempo

No dia 12 passado, a ONU definiu 2011 como Ano Internacional para Descendentes de Africanos. Para o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, “o evento pretende reforçar o compromisso político para erradicar a discriminação a descendentes de africanos, que estão entre os que mais sofrem com o racismo, além de ter negados seus direitos básicos à saúde de qualidade e educação em todo o mundo. A iniciativa também quer promover o respeito à diversidade e herança culturais”.

Pontuou que “a comunidade internacional já afirmou que o tráfico transatlântico de escravos foi uma tragédia apavorante, não apenas por causa das barbáries cometidas, mas pelo desrespeito à humanidade”, e informou que, no centro das atividades da celebração, está Durban 2001 (Declaração e Programa de Ação de Durban, reiterados na Conferência de Revisão de Durban, em Genebra, em 2009, que insta os governos a adotarem metas de integração e promoção da equidade racial, objetivando assegurar, em todos os aspectos, a integração total de afrodescendentes).

Frisou que “a comunidade internacional não pode aceitar que comunidades inteiras sejam marginalizadas por causa da sua cor de pele”. A missão do Brasil na ONU declarou que a celebração do Ano Internacional para Descendentes de Africanos é “uma ocasião para chamar atenção para as persistentes desigualdades que ainda afetam essa parte importante da população brasileira”.

Reproduzo um comentário lapidar em resposta a quem acha a iniciativa da ONU desnecessária, sob o argumento enviesado de que divide a luta dos oprimidos: “Entendo a iniciativa como uma política importante de combate ao racismo. Acredito que os governos ainda fazem pouco para eliminá-lo. Sem falar que ainda confundem racismo com exclusão social, com pobreza. Ocorre que entre pobres de todas as raças que são excluídos e discriminados, aos pobres brancos ainda lhes resta a branquitude como um bem e um valor nas sociedades racistas como a nossa. Aos pobres pretos e afrodescendentes em geral, só lhes resta a vitimização do racismo” (Francisco Aniceto, no Site Lima Coelho, 22.12.2010).

Em “Superação do racismo e da xenofobia exige faxina ética” escrevi: “Como acreditar na boa-fé se o governo, que diz apoiar o Estatuto (da Igualdade Racial), nega se a conferir lastro financeiro específico (Fundo de Promoção da Igualdade Racial) para a implementação de políticas antirracistas? A recusa é uma explicitação de que os recursos públicos são considerados como algo privado, de que o governante do momento pode dispor ao seu bel-prazer, inclusive para manter o status quo racista” (O TEMPO, 18.11.2008). Desde então, muita água rolou e foi aprovado o Estatuto da Igualdade Racial (16.6.2010). Não mudei de opinião, nem arriei a bandeira: apoio sem recursos não é decisão política, é retórica.

Espera-se que a ministra Luíza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), tenha respaldo para enfrentar a agenda oculta do racismo, no âmbito do governo e da sociedade, visibilizando a iniciativa da ONU como um dos pilares do processo de refundação da Seppir; destacando o seu papel de estimuladora de mudanças de padrões culturais, pois o combate sem tréguas ao racismo explícito e oculto é um problema pertinente a um projeto de nação que deseja ser “um país para todos e todas”. É impossível concretizar a consigna “para o Brasil seguir mudando” sem a decisão política de eliminar o racismo de modo consistente e cotidiano.

Publicado no Jornal O TEMPO em 28/12/2010


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Comentários

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Paulo Alencar

Alguém duvida que as gracinhas são todas de autoria de brancos racistas?

2011, Ano Internacional para Descendentes de Africanos | Blog Saúde com Dilma

[…] Matéria tirada do Viomundo – O que você não vê na mídia – http://www.viomundo.com.br Link da matéria: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/fatima-oliveira-2011-ano-internacional-para-descendentes-de-… […]

Gerson Carneiro

Na Paraíba, somente este ano de 2010, pelo menos dois casos graves de violência contra mulheres africanas vieram à tona.

O primeiro, em março, foi o da estudante de Letras Kadija Lu, de 23 anos, natural de Guiné Bissau, agredida a chutes dentro do campus da Universidade Federal da Paraíba.

O segundo, "trata-se de violação dos direitos humanos, racismo, exploração de trabalho, violência contra mulher, privação de direitos dos imigrantes. A vítima é Felicia Aurora, angolana, prestes a ser deportada sem os direitos trabalhistas garantidos pelos antigos patrões. Ele se encontra doente" (Maria Frô).

    Maria Bonita

    Nas Alagoas, somente este ano de 2010, pelo menos 29.876 casos graves de violência contra homens e mulheres de todas as etnias vieram à tona.

easonnascimento

Acrescentando : reconheço que algo foi feito, mas precisamos avançar e muito neste campo.

easonnascimento

O Slogan "Brasil Um país de Todos", precisa sair da publicidade e chegar a realidade. A legião de excluídos ainda é grande e estão nesta condição pela cor da pele.
http://easonfn.wordpress.com

Atanagildo

Tecnicamente todos somos afrodescendentes, já que a paleontologia afirma que a África é o berço da humanidade.
Viva todo mundo !!!!

…..

Ah, sim…qual governo qual nada…temos que fazer é como o Grande Irmão do Norte onde o povo honrou-se a si mesmo elegendo Obama…esperar sentado "ser honrado" pelo cacique é muito chato.

Hildermes Medeiros

Nada contra as políticas que possam beneficiar os negros. Esse papo de afrodescendentes é coisa dos EUA. Segundo se sabe, e ainda não foi cientificamente desmentido, os homens, todos, qualquer etnia, tem sua origem na África. Somos todos afrodescendentes. Agora, está mais do que na hora de aprofundar políticas públcas para resgatar da miséria e da pobreza os negros brasileiros. É urgente. Não sei exatamente qual a melhor forma de fazer, mas sei que devemos ter o cuidado de não implantarmos medidas discriminatórias entre os brasileiros, já que o objetivo maior é reduzir a pobreza e acabar com a miséria, sem nos dividir em etnias como continua fazendo os EUA com seus afrodescendentes.

J,C,CAMARGO

FÁTIMA: e o ano internacional para os nativos da terra ( ou seja, os índios) quando será?! Os descendentes
dos Africanos, em último caso, podem retornar à Mama Africa! E os pobres dos indios nativos para onde irão?! Já pensou nisso?

    Elton

    Os índios para onde irão????? Os descendentes de africanos retornar à África???? Um tanto sem sentido, não acha?

    dukrai

    esta é uma tática de troll, em vez de discutir o tema, muda a questão para criar uma polêmica. E o mais doido, propõe, "em último caso", o retorno dos negros para a África. "último caso" suponho similar à "solução final", ao mar com a negrada que não precisamos mais deles. Fora nazi-racista.

    El Cid

    próximo troll, por favor… esse já defecou bastante no tabuleiro de xadrez !!

Carlos

E quando se cobra dizendo que os afrodescendentes têm que participar dos governos nas 3 esferas de poder, "uns e outros" como se dizia antigamente, vêm com conversa fiada, afirmando que aqui vivemos uma democracia racial. E que todos vivem bem. E que somos encrenqueiros. Que queremos fomentar a divisão no país. Quanta maldade! Quanta hipocrisia! Reitero uma vez mais: somos cerca de 50% da população. Temos voto. Elegemos prefeitos, governadores, presidentes, deputados, senadores. Temos o direito de dividir o poder político. Não é UM secretariado municipal; ou estadual, ou UM ministério que vai nos contentar. Tem que haver proporcionalidade. Por isso, quando vejo um afrodescendente criticando o presidente Lula, eu falo que ele foi o único mandatário no país que teve a coragem de honrar a população afro com a nomeação de 8 ministros, considerando o do Supremo. E com muito pessimismo, afirmo que dificilmente os afros serão tão honrados como foram nesta gestão que se encerra.

Valdeci Elias

Então quer dizer que 2011, vai ser o ano dos brasileiros ?

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