Emilio Lopez: A raiz da violência na escola pública paulista

Tempo de leitura: 3 min

por Emilio Carlos Rodriguez Lopez

O jornal Estado de S. Paulo do dia 1º de agosto trouxe a informação que 62% da rede estadual enfrenta problemas de violência dentro do ambiente escolar, de acordo com relatos dos próprios diretores. São roubos, depredações, pichações, violência contra professores, alunos, e funcionários e até brigas entre estudantes. Hoje a rede tem aproximadamente 5271 escolas, ou seja, 3268 escolas tiveram cenas de violência, que como a matéria mostra se tornou algo do cotidiano escolar.

Ocorre que este problema tem uma raiz mais profunda: a ausência do Estado nas escolas e a conseqüente ausência da autoridade na rede estadual. Devemos lembrar que o governo do Estado na gestão desastrosa de Rose Neubauer/Mário Covas promoveu uma série de reformas educacionais, que visavam “economizar recursos para o cofre do Tesouro Estadual” e alcançar as famosas metas de superávit primário, deste modo é que se implanta a aprovação automática.

A pretensa economia visava diminuir os índices de repetência e evasão. No fundo, foi transferido para a sociedade e empresas o custo de reciclar a mão de obra, devido às precárias condições de ensino oferecidas. Desta forma, em 2010, a secretaria de Educação gastou R$ 18 bilhões e por aluno a despesa chegou a 4,4 mil reais por ano. Como hipótese, se devido a má formação recebida na escola, as empresas tiverem de aplicar vinte por cento dos gastos realizado pela secretaria de Educação, isto representaria R$ 3,6 bilhões por ano. Isto implica no aumento do custo São Paulo para que se possa cobrir as deficiência da educação pública paulista.

A garantia da não repetência, ou seja, o “passa-passa” nas escolas públicas de São Paulo na Educação simbolizou para os alunos a possibilidade de agir na escola com a certeza de que não haverá consequência. A sensação da impunidade, aliada a destruição de laços familiares, do desmoronamento de valores éticos e do avanço do crime organizado levaram a rede estadual a se transformar em um depósito de alunos e não em escolas. Por isso, as más notas e a baixa qualidade educacional.

Para que a Educação dê frutos é necessário disciplina e respeito entre professor e aluno; e para isto é preciso que o Estado esteja presente no cotidiano escolar, coíba a violência contra o educador, melhore as condições de trabalho e permita que o professor seja professor, e não um mero estafeta que cuida do amontoado de alunos.

Além do mais, vivemos um sistema que o bom aluno é punido, visto que entre que ele e o mau aluno passam igualmente de ano, com isso, o mérito do bom aluno e esforço de aprender são jogados na lata do lixo. Uma rede que apenas quer dar conta de tirar o aluno da rua e não educa-lo, só pode ser ineficaz e ser o reino completo da violência e da barbárie.

A primeira providência neste sentido seria o fim do grotesco modelo do ciclo-série paulista, uma mistura de série e ciclo, feita para promover a economia de recursos para o Tesouro Estadual. Neste momento, o melhor seria a volta da seriação que contribuiria para diminuir a sensação de impotência do educador e início da restauração da autoridade.

Antes de qualquer coisa é preciso lembrar que autoridade não quer dizer autoritarismo. A idéia de autoridade estava vinculada ao direito legítimo do exercício do poder e ao seu valor pessoal. Já o autoritarismo, tem de ver com o despotismo, o domínio pela força física e violência, que pressupõe a ausência do diálogo, como condição fundamental para o exercício democrático. O autoritarismo se manifesta quando a autoridade é surda para os demais e se impõem pela força, e não por um conjunto de idéias.

Nos 16 anos do PSDB temos visto muito autoritarismo e pouca autoridade, basta citar as constantes violências sofridas pelos educadores na escola, veiculada pela mídia. Por que o Estado usa polícia para punir o professor ou servidor que faz greve e o mesmo governo não oferece segurança para o funcionário público poder exercer a sua função??? Quantos professores não se encontram desiludidos por não poderem repartir o que levaram anos estudando?

A mídia muitas vezes faz o papel que este Estado ausente da escola quer: responsabiliza o professor pela crise na Educação e faz a grande transformação: de vítima passa a ser o responsável pelo caos. Quanto ao governo, este não é responsável pelo que ocorre.

A melhora na Educação passa por fortalecer o núcleo familiar e melhorar as relações humanas. Os pais deveriam lembrar que dinheiro nenhum paga a atenção e o carinho com os filhos. Lembro ainda, que segundo pesquisa da Unicamp publicada a dois anos atrás, 70% da educação depende da família; inclusive o hábito de leitura se aprende em casa. O aluno deveria ser burilado, mas agora querem que a escola faça o trabalho da família, mas isto é impossível devido às condições reinantes.

Creio, como foi mostrada em muitos lugares, quando a autoridade do Estado está presente à violência diminui. Como os tucanos adoram passar os problemas para os outros resolverem, já aviso, não há como terceirizar a autoridade.

Emilio Carlos Rodriguez Lopez é formado em História pela USP.


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Comentários

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Thiago M Silva

Bom artigo mas com um sério problema: ele dá a entender que, já que a educação vem de casa (70% dela), transfere a culpa da violência escolar aos pais. E assim, eternamente iremos discutir sem apontar mais claramente as responsabilidades do Estado. Oras, assim como os professores não podem levar a culpa, tampouco a família. A pressão do trabalho e o sistema de transporte extenuante tiram as condições dos pais tratarem com mais cuidado a educação dos filhos. A questão principal que o artigo não trata é: o que o Estado pode fazer levando em conta toda essa realidade? Além de criar escolas de período integral, com atividades culturais diversas, a presença de assistentes sociais e psicólogas em ambiente escolar deveria ser vista como tendo papel tão fundamental quanto a dos professores. Com a inclusão massiva de classes sociais mais baixas na escola, durante a década de 90 principalmente, o tratamento humano a essa população nunca deveria ter sido desprezado. A cultura do estudo, da leitura, para famílias que nunca tiveram essa oportunidade, não é algo automático. Dessa forma, exige-se muito mais investimento em Educação, do que os políticos gostariam de admitir.

Marcelo de Matos

(parte 2) Mas impunham disciplina. Eu e meu primo viemos continuar os estudos em Sampa. Eu entrei, sem cursinho, na faculdade de Direito da USP; ele na de Medicina. As escolas públicas podiam ter mil defeitos, mas, ensinavam. Hoje os professores, muitas vezes, fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem. Enquanto o professor conta os dias para a salvadora aposentadoria, vai se tratando como pode em algum psicólogo. É evidente que o sistema precisa ser mudado. É preciso restaurar a disciplina e restabelecer o “exame de admissão”. Ninguém pode sair de um ciclo para outro sem um exame. No meu tempo era exigido para ingressar no ginásio. Despejar formandos na sociedade sem selecioná-los é o mesmo que servir água não tratada à população.

Marcelo de Matos

(parte 1) A escola deve funcionar como um filtro, selecionando os melhores, aqueles que querem estudar e seguir uma carreira. A turminha dos “atos infracionais”, ou seja, os criminosos mirins que se refugiam entre os muros da escola, devem ser expulsos. A escola é um microcosmo da sociedade. Em tempos não muito antigos, os pais educavam os filhos. Essa missão foi transferida para a escola. Nos meus tempos de curso primário ouvi muito pai apresentar o filho ao diretor e dizer – Este é o meu filho. Ele virá aqui para estudar. Se for preciso pode “chegar a mão nele”. O que eu quero é que ele saia daqui um homem. Hoje o “de menor” goza da proteção legal do ECA e outras leis. Foi bom? A atual situação escolar responde à pergunta. O professor não pode nem olhar feio para o “de menor” e os casos de professores espancados por alunos se multiplicam. Eu e um primo estudamos em um grupo escolar, no interior, onde a piaba cantava. As professoras usavam uma grande régua de peroba e tanto batiam na mesa, nas carteiras, como nos próprios alunos.

operantelivre

Uma observação. Diz-se que há carência de mão de obra qualificada como se a culpa fosse do "pobre indolente". É algo do tipo: te deixam sem tomar água por 24 horas e depois dizem que você é culpado por estar com sede; te tiram a educação e te ensinam o violência e depois te convencem de que és culpado por seres um analfabeto funcional.

O conhecimento liberta, em geral com dor, mas liberta. E não podemos achar que os que se encontram encastelados vão querer perder seus postos. Por isto regulam a educação e se mantém no poder em algumas capitanias. Mas, com Lula, um sobrevivente deste campo de concentração, as coisas começaram a mudar. São Paulo e Minas não são o Brasil.

Vejam-se, por exemplo as relações de trabalho em que o conhecimento é protegido quase que a qualquer custo. Isto entre pessoas muito bem alfabetizadas. Na educação vemos o mesmo modelo em escala gigantesca. Precisamos de muitos LULAS e DILMAS comprometidos com políticas de igualdades de chances. Pode levar algumas décadas, mas é este o caminho em que vejo o Brasil. E os tucanos estrangeiros, os Murdochs da vida vão tentar sabotar a todo custo, aliados a uma imprensa que não aprecia garis, domésticas, enfim " gente que se diferencia mesmo, quando a chance se alia à oportunidade". São os Lulas e Dilmas da vida brasileira que estão nas ruas, nos escritórios e também nos quartéis – ainda bem que existem.

Mauro A. Silva

[youtube 9LmCTWe97IE http://www.youtube.com/watch?v=9LmCTWe97IE youtube]
É uma pena que o professor historiador não fez nenhum comentário sobre a violência praticada por funcionários, professores e direção escolar…
http://movimentocoep.ning.com/

    Marcelo de Matos

    Você está falando sério?

    Mauro A. Silva

    [youtube 4NJbQoQnZc0 http://www.youtube.com/watch?v=4NJbQoQnZc0 youtube]
    marcelo,
    Existe uma conspiração para não divulgar a violência praticada por agentes públicos.

Fabricio Alves

Sugismundo Freud. Vale mais um grão de sabedoria que 100 gramas de ouro.

Elton

E se levarmos em conta que alguns articulistas como Gustavo Ioschpe (Veja) que sempre dizem que o professor "ganha demais" pelo que produz, que é o responsável pelo mau momento da educação no brasil e blábláblá……
Ou seja, sempre há os que criam teorias para defender o absurdo, o inconcebível. Economia em educação é sempre das mais burras, das mais imbecis. É a isso que conduz.

Klaus

Enquanto isto, no restante do Brasil…

    Rodrigo Leme

    Hahhahaha, o restante do Brasil é a Suíça….agora, se o PT ganhar eleição em SP no dia 1º, no dia 2 já vão aparecer artigos aqui sobre como SP é "humana, progressista, exemplar". O estrume ideológico de sempre.

    Pedro Germano Leal

    Isso é fácil, né? Difícil é vocês aprenderem a pensar sem precisar usar uma falácia do tipo 'tu quoque'.

    Rodrigo Leme

    99% dos argumentos desse blog são do estilo "tu quoque", especialmente quando alguém fala de desvios petistas de caráter.

    Vinícius

    Concordo se você estiver falando dos comentaristas. Os artigos, só uns 30% são rasos assim.

mestre dos mestres

Caros amigos,
é preciso levar em conta que existe uma grande quantidade de escolas que mais parecem empresas do que escolas .Essas escolas funcionam como campos de concentração a mando de usurpadores , onde muitos usam a escola para o lucro individual de alguns diretores,surpevisores e de parcerias…é o fundo do poço
A escola Rui Bloem, que fica no Mirandópolis é um pequeno campo de auschiwitz máscarado pela mídia.Só um exemplo……..Almirante Barroso,Maria Zilda……..

Augusto

Saem quase todos analfabetos funcionais. Mal conseguem compreender o que é pedido nas questões. Todos passam, exceto por faltas, isso tem causado um caos. Alunos que não querem fazer nada. Vão passar mesmo… E ainda vinculam o tal do bônus ao desempenho dos estudantes! quando vai mal, dizem que a culpa é do professor! Quando há greves, o PIG se limita a dizer que o trânsito ficou um caos. Uma das estratégias do PSDB, tenho certeza, é deixá-los assim como estão: alienados, para que assim possam ser manipuláveis e, portanto, votar em qualquer idiota que parecerá o salvador do mundo. O 'apagão' da educação está próximo. Quase ninguém mais quer ser professor, inclusive eu. Abandonarei a docência.Triste realidade aqui em SP.

josaphat

Conciso o artigo, toca em muitas feridas que a catástrofre chamada educação tem, não só em nosso país, mas em boa parte de nossa mundo dito civilizado.

Sobre o trecho:

"Além do mais, vivemos um sistema que o bom aluno é punido, visto que entre que ele e o mau aluno passam igualmente de ano, com isso, o mérito do bom aluno e esforço de aprender são jogados na lata do lixo. Uma rede que apenas quer dar conta de tirar o aluno da rua e não educa-lo, só pode ser ineficaz e ser o reino completo da violência e da barbárie."

quero acrescentar que o bom aluno é punido pelo simples fato de ter de sobreviver em meio à violência trazida pela licenciosidade com que se trata a delinquência dentro das salas de aula. O discurso se apropriou de teorias do tipo "zona de conhecimento proximal" para nos convencer de que maçãs podres podem se tornar saudáveis em presença de outras-hoje-em-dia-pouquíssimas-por-sinal maçãs saudáveis. Morro de pena dos alunos que querem estudar e só podem frequentar escolas públicas.

    Vinícius

    Minha mulher uma vez passou de ano em primeiro lugar. Os manos pegaram ela e jogaram na valeta… lembro disso toda vez que ela começa a ter umas febres vindas do nada e que somem sem mais também.

    Enfim, isso foi nos anos noventa, imagina 15 anos depois. Quem se destaca da média leva insulto e agressão de graça. Some-se a isso que pedabobos acastelados dentro da academia, que não vêem um adolescente há décadas, enchem o saco do mundo inteiro pra você não disciplinar ninguém.

    Não que os violentos e problemáticos devam ser abandonados. Mas na verborragia do discurso acaba-se abandonando a todos.

José Ruiz

Li um comentário, não me lembro aonde, de uma australiana que dizia que as autoridades do seu país não educavam os aborígenes com medo de perder o poder. Acontece exatamente a mesma coisa no Brasil, com a diferença de que aqui as vítimas são principalmente descendentes de pretos e índios (e se tratando de Brasil, é muita gente – e sem prejuízo para muitos descendentes de europeus que frequentam escolas públicas). Não há erro. As vezes temos a impressão de que a situação atual chegou a esse ponto por negligência, incompetência, indolência, etc. Não! É um sistema muito bem planejado para controlar essa parcela da população. Misture escola pública com TV brasileira e você terá um incrível formador de pessoas completamente alienadas, facilmente manipuláveis… ou a gente quebra esse sistema e reconstrói o modelo de educação nesse país ou ficaremos eternamente assistindo os absurdos que decorrem dessa situação… e não é necessário nenhum exercício de futurologia… os frutos desse processo escabroso já podem ser colhidos na violência diária das nossas cidades…

    Leider_Lincoln

    Li o mesmo comentário. Era uma reportagem sobre a escola queridinha do Criança Esperança, aonde há o mui afamado Afro Reggae, emque há muita cultura muita diversão e IDEB 1,9 (basicamente, de um ponto de vista estatístico, os alunos ao fim do ano sabem menos do que no começo ). No caso da Tucanolândia, este vasto espaço que vai do Paraná [este mais recentemente] a Goiás, passando por SP e MG, aonde a educação pública piora ano após ano, penso que é mesmo um processo planejado. Não há como tanta incompetência ser incidental…

    Fabricio Alves

    onde eu assino?

    Luiz

    Levanto outra questão que tem a ver com o teu comentário. E se até a economia foi manipulada, antes da era Lula? Para ver se isso bate é necessário achar o pensador que funtamenta tudo isso que a direita brasielira, aliada com a direita internacional, usa como filosofia de base. Se o que Lula vez com a economia já ituíamos, então é possível que as "dificuldades" anteriores sempre foi fabricada para atender interesses de grupo, até interesses de poder desses grupos.

Carlos Nobre

Mais um da turma da Bebel?? mais um da turma que queima livros??? outro baderneiro??

Por isso que eu digo, vão levar mais uma surra… continuem queimando livros e promovendo arruaças.

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