Dr. Rosinha: Do “testar hipóteses” à calúnia

Tempo de leitura: 5 min

por dr. Rosinha, em seu site

A credibilidade é um requisito imprescindível tanto para o exercício profissional do jornalismo quanto para o exercício de qualquer mandato público.

No último dia 9 de junho, minha credibilidade como parlamentar foi alvo de um sério ataque, que não poderia ficar sem resposta. Talvez por desinformação, o jornalista André Trigueiro, em sua conta no twitter, afirmou com todas as letras  que naquele dia eu teria ido à sede da Anvisa “fazer lobby em favor do metamidofós”.

Usado em lavouras de algodão, amendoim, batata, feijão, soja e tomate, o metamidofós é um inseticida que pode prejudicar o desenvolvimento do feto, além de afetar os sistemas neurológico, imunológico, reprodutor e endócrino. Já proibido na União Europeia e em outros países do mundo, está fase de banimento também no Brasil.

Tamanha foi a gravidade da insinuação que, imediatamente, passei a receber mensagens de diversas pessoas, alertando para o referido ataque. A todas elas, expresso aqui a minha gratidão.

Ainda que eu não tivesse um histórico de combate aos agrotóxicos, tal acusação, para não ser leviana, deveria vir acompanhada por algum elemento de prova, o que não aconteceu.

A luta do nosso mandato contra os agrotóxicos não apenas é amplamente reconhecida pelos movimentos sociais, como inclusive há vários projetos de lei de minha autoria contra esses venenos em tramitação no Congresso Nacional.

Depois da polêmica no twitter, recebi uma mensagem, via e-mail, do presidente da Anvisa, Dirceu Barbano. “Quanto às afirmações do jornalista em seu blog, considero que devem ser compreendidas como conclusões dele sobre o conteúdo e a natureza de uma reunião da qual ele não participou”, diz trecho da mensagem.

Ao que complemento: O jornalista em questão não apenas não participou, como acabou por testar em público uma hipótese falsa. Hipótese que repudio com veemência e classifico como calúnia.

No dia seguinte, André Trigueiro propôs encerrar a polêmica no Twitter, pediu desculpas e ofereceu espaço para eu me manifestar em seu blog. “Se sentiu ofendido, peço desculpas”, escreveu.

Reunião na Anvisa

Há cerca de um ano conheci no meu gabinete na Câmara dos Deputados o senhor Michael Haradom, que me procurou em nome da empresa Fersol. De imediato perguntei o que desejava, já que sou –-e deixei isso claro a ele na oportunidade–, ideologicamente contra o uso de venenos.

Ele me respondeu que me procurava justamente por ser contra os agrotóxicos, e que desejava conversar sobre os procedimentos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Estive não uma, mas duas vezes na sede da Anvisa em reuniões das quais também participou Haradom, e em nenhuma delas para fazer lobby em favor de nenhum veneno. A primeira foi para conversar sobre as regras do registro de genéricos do setor.

A segunda reunião, a de 9 de junho, ocorreu após o diretor ter informado que uma ação de vistoria da Anvisa em sua empresa foi acompanhada pela polícia e pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista. Segundo ele, esse mesmo acompanhamento não teria se repetido em visitas de fiscalização a outras empresas.

Relatou ainda a suspeita de o fato ter ocorrido em favor das grandes empresas produtoras de venenos e em prejuízo da sua. O objetivo do encontro foi esclarecer esta situação específica.

Jamais eu iria até a sede da Anvisa, assim como os que comigo foram, para defender a liberação de qualquer veneno, ainda mais o metamidofós. Até porque sabemos da autoridade técnica, científica e profissional que a Anvisa conquistou, e que respeitamos. Da mesma forma sabemos que a proibição liberação de venenos não é uma decisão unilateral e solitária da Anvisa.

Na reunião na sede da Anvisa ficou esclarecido que a polícia que acompanhou a fiscalização foi a Polícia Civil de São Paulo, e não a Polícia Federal. Que tanto a “visita” da polícia como a da Cetesb não ocorreram por solicitação da Anvisa. Também foi esclarecido que todos os desdobramentos posteriores às “visitas” não foram de responsabilidade da agência.

Nesta mesma reunião, perante todos (é possível checar isso com os demais presentes) reafirmei minha posição ideológica contrária aos agrotóxicos. Como médico pediatra com especialidade em saúde pública e em saúde do trabalhador, não poderia ser diferente. Conheço perfeitamente os malefícios desses venenos.

Sobre o metamidofós

O inseticida metamidofós é um organofosforado. Considerado tóxico, é enquadrado nas classes toxicológicas I ou II (altamente tóxicas). Como qualquer outro organofosforado, o metamidofós pode causar neuropatias e pode prejudicar o desenvolvimento embriofetal.

Segundo estudos científicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o produto causa prejuízos imunológicos e toxicidade ao sistema endócrino.

Pela alta toxicidade, o metamidofós já foi banido em vários países, como China, Indonésia, Paquistão, Costa do Marfim, Japão,  Samoa e nos países da União Europeia. No Brasil, está com data marcada para ser banido: a indústria pode produzi-lo até o próximo dia 30 de junho, a comercialização poderá ser feita até dezembro deste ano e a utilização, até 30 de junho de 2012. Decisão que eu apoio e espero que se concretize.

A decisão de seu banimento foi discutida e aprovada na Comissão de Reavaliação, da qual também fazem  parte a Fiocruz,  o Ministério da Agricultura e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). Portanto, reafirmo, não foi uma decisão solitária. Se fosse para fazer lobby, como foi insinuado, eu teria visitado cada um desses órgãos.

Contribuição recusada

Aproveito este lamentável episódio para citar um fato ocorrido em 2006. Na campanha eleitoral daquele ano, recebi um telefonema de um empresário dizendo que queria fazer uma doação em dinheiro. Disse-me que queria me ajudar pela minha história de seriedade e honestidade política ao longo da minha vida pública. E que nada queria em troca.

A campanha de 2006 foi uma das mais difíceis da minha vida. Na noite do lançamento da campanha, eu estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI). Na manhã daquele dia, tinha sido submetido a uma cirurgia cardíaca, que me tirou totalmente das ruas até 20 dias antes das eleições. Estava, portanto, necessitando de apoio político e de recursos financeiros.

Estava convalescente, em casa, quando recebi o telefonema. Dei o número do telefone e solicitei ao interlocutor que entrasse em contato com a pessoa responsável pelos recursos financeiros da minha campanha.

Assim que acabei de falar, desliguei o telefone e telefonei à tesoureira da nossa campanha para reafirmar minha posição: só aceitar contribuição legal e que não se contraponham aos meus princípios, exigência que elimina os fabricantes de agrotóxicos.

No contato com a responsável pela campanha, o empresário identificou-se como da indústria de agrotóxicos (não era da Fersol). Por esta razão, mesmo dentro da legalidade, os recursos não foram aceitos.

Afinal, tal “ajuda” iria depor contra a minha ideologia e os meus princípios. Relato este fato para que o leitor e a leitora, bem como o proprietário deste blog, saiba quem eu sou.

Checar previamente as informações, ouvir o outro lado, não tentar transformar meras hipóteses em fatos e admitir eventuais erros são condutas mínimas que se deve exigir de qualquer pessoa.

Profissionais de imprensa ou não, em redes sociais na internet ou fora dela, todas as pessoas precisam agir com responsabilidade antes de divulgar suas hipóteses em público. Do contrário, jamais terão confiança, nem crédito.

Dr. Rosinha, médico pediatra, especialista em Saúde Pública e em Medicina do Trabalho. Ex-presidente do Parlamento do Mercosul, exerce o mandato de deputado federal pelo PT do Paraná.


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Comentários

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Rodrigo Prado

A Fersol foi fiscalizada pela Polícia Civil?? Desde quando a Polícia Civil tem nos seus quadros pessoas tecnicamente capazes para fazer uma fiscalização atuante??
Esse tipo de coisa que deveria ser pesquisada.
Como sofre São Paulo…

Pardalzinho

Jornalismo moleque… Trigueiro nao passa de mais um golden boy global (na mesma linha do Bonner) coerente com a linha jornalistica de Ali Kamel onde a aparencia conta mais do que o conteudo. Nao valem o que o gato enterra…

    H Aljubarrota

    Boa, Pardal… Azenha que o diga; jornalista na Globo que nao se enquadre no padrao estetico do Ali Kamel (Freud explica…), cedo ou tarde acaba saindo. Todos os noticiarios da Globo, incluindo os da Globo News, deveriam fazer parte do Nucleo de Novelas da emissora.

FrancoAtirador

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A MENTIRA E A INJÚRIA,

A CALÚNIA E A DIFAMAÇÃO

SÃO OS PIORES VENENOS.
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Cláudio Pereira

Por que não processou o jornalista? Ficou só no pedido de desculpas? E as perdas e danos morais?

Fabio SP

O Rosinha é um vermelho um pouco mais claro…

FranX

a) MICOTOXINAS PATOGÊNICAS PARA O HOMEM:

1 Os tricotecenos,são capazes de produzir sintomas respiratórios, como angústia respiratória ou hemorragias.
a) O deoxinivalenol/nivalenol (vomitoxina), tricoteceno.Foi identificado como causador de surtos de doença gastointestinal aguda em humanos.
b) A Toxina T-2, tricoteceno capaz de danificar o sistema digestivo e causar a morte rápida por hemorragia interna. Causador da Aleukia (redução extrema de glóbulos brancos) e da Hemossiderose pulmonar em humanos

FranX

2 A ocratoxina A. Suspeita-se que tenha ação carcinogênica no homem (suspeita pela AIPC – Agência Internacional de Pesquisa do Câncer).
3 A zearalenona. Em humanos já foram detectadas correlações (suspeita-se apenas) entre Zearalenona e os seguintes:
•Efeitos estrogénicos (edema da vulva, prolapse da vagina, alargamento do útero)
•Atrofia dos testículos, atrofia dos ovários, aumento das glândulas mamárias
•Aborto
•Suspeita de ação cancerigina (suspeita pela AIPC – Agência Internacional de Pesquisa do Câncer)

FranX

4 As fumosinas, particularmente a fumosina B1. São suspeitas de carcinogenicidade humana (suspeita da AIPC – Agência Internacional de Pesquisa do Câncer).
5 A citrinina, suspeita-se que foi a causa de danos renais fatal em humanos nos Balcãs.

6 A patulina. Muito tóxica para uso humano, causando hiperemia, congestão e lesões hemorrágicas, particularmente no trato gastrintestinal. É também mutagênica (capaz de mutação alterando o DNA das células), teratogênica (capaz de produzir dano ao embrião ou feto durante a gravidez) e carcinogênica (que facilita o desenvolvimento de um câncer).

7 As aflatoxinas. Estudos em populações africanas e sul-asiáticas sugerem a associação de câncer com o teor de aflatoxina na dieta.

O_Brasileiro

Obviamente que o cara se passa por jornalista, mas não passa de um fofoqueiro…

    Gersier

    E como todo fofoqueiro,um ser sem escrúpulos.O PIG é o refúgio desses canalhas.

Morvan

Boa tarde.

Que o dr. Rosinha é um petista que não se atucanou é sobejamente sabido. Agora não pode é o dr. Rosinha ou qualquer pessoa esclarecida ainda se surpreender com os patifes da Göebbels, a exemplo deste sr. André Trigueiro. Ele não é da GöebbelsNews? Então, onde está o ineditismo?
Dr. Rosinha, processe este canalha – calúnia é crime! No Brasil, ou a gente vai pro pau em cima destes calhordas ou eles vão viver sempre pedindo "desculpe, não foi isso que eu quis dizer…" e fazendo das suas.
É a impunidade da mídia, ou, para estes calhordas, "liberdade de imprensa"…

Morvan, Usuário Linux #433640.

NER

Rosinha. Não se apoquente! A gente que trabalha com a questão ambiental sabe dos fatos e das atitudes das pessoas. Mantenha-se alerta! Um abraço.

joao

Que ele foi para a ANVISA ele assumiu, o que foi fazer é outra questão, dizer agora que foi falar contra etc. é fácil após ter sido desmascarado.

Quem tiver interesse procure quem são os donos FERSOL e tudo se explica.

    betinho2

    João..quem? (Richard)
    Diga, quem são os donos da Fersol e o que isso "esclarece"?

    Leider_Lincoln

    Lindo, Sr. Richard Smith, troll caluniador, difamador e mentiroso! Quer dizer que agora são os acusados que têm de provar que são inocentes, caso sejam acusados por um jornalista? Desde quando, seu…?!?

    BERTOLDO

    e aí João?
    fla pra nós

    Dirval

    Quanta canalhice, seu João Richard. Além de tudo, não tem coragem de assumir quem realmente é?

Fabio_Passos

O Dr Rosinha, assim como o Olívio Dutra, é outro político exemplar do PT.

A parte podre que compromete o PT são os neoliberais estilo malocci, cardozo… uns tipos que são a cara do psdb. Figuras que se converteram sem pudores a direita mais atrasada do Brasil.

    Bruno Moreno

    Fábio, Cardozo não tem nada a ver com Palocci. Cardozo não é da corrente do Palocci e sempre disputou internamente contra o grupo majoritário no PT. Aliás, Cardozo foi duas vezes candidato pela Mensagem ao Partido, campo do qual fazem parte tanto Olívio Dutra quanto o Dr. Rosinha. Ou seja, Cardozo foi o candidato dos dois (e não só dos dois, mas também do Tarso, Raul Pont, Ana Julia Carepa, Luizianne Lins, Pepe Vargas, etc, etc, etc) contra o candidato do Palocci, Vacarezza, etc. que no último processo de eleições diretas do PT foi o companheiro José Eduardo Dutra.

    Essas histórias sobre o Cardozo, e seu envolvimento com Dantas e sua absurda proximidade com o Palocci é de uma irresponsabilidade absurda. Foi reproduzida na blogsfera, várias loucas ilações foram feitas, que para quem conhece o funcinamento interno do PT soam como uma grande piada, e tem-se esta conclusão maluca.

    Fabio_Passos

    Não sabia.
    Minha impressão era outra.
    E o que explica o envolvimento dele com Daniel Dantas?

    Bruno Moreno

    Tem algumas declarações do Cardozo que nunca vi publicadas na blogsfera. Muito menos no PHA. Esta é a resposta contra a denuncia da Folha, na qual se baseou a "investigação do PHA".
    http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Con

    rodrigo.aft

    Fabio,

    mesma pergunta ao Bruno…

    pq Cardozo fica indo a saraus de pessoas a quem deveria investigar?

    pq se envolveu com dantas?

    pq não vem a público e coloca sua posição ao "tema" dantas e outros temas polêmicos?
    eu, particularmente, ADORARIA mudar minha opinião sobre ele…

    pq aceitou comprar VANTs (Veículo Aéreo Não Tripulado) de israel sendo q FAB desenvolve um projeto genuinamente brasileiro e melhor (e mais barato)?

    pq colocou como diretor da pf um delegado com passado não recomendável, como foi o tal do Corrêa?

    pq os delegados q abertamente trabalharam contra a castelo de areia, satiagraha e vazaram informações para a imprensa e os para os 500 advogados de dantas estão na boa e os mais éticos e comprometidos com a verdade são mandados, por ex., para a fronteira do acre ou rorâima? rsrs

    eu não vou afirmar, mas penso q os serviços secretos dos eua e de israel sabem mais sobre tramóias e conspirações no bRAZIL do q a presidente Dilma… nada, até agora, me tira isso da cabeça…

    pois é… cardozo é super competente…

    Ronaldo Cananéia

    Na falta de referências conhecidas ainda fico com o PHA, apesar de não ser dos meus preferidos.

    Aproveite e exponha ou indique conteudo demonstrando que as ilações do PHA sobre o Cardozo são incorretas.

    Tenho opiniões, mas não são imutáveis. É uma questão de argumentos.

    Bruno Moreno

    Por fim: Cardozo foi um dos críticos mais duros da crise do Mensalão dentro do PT e foi por isso que virou candidato da Mensagem. Em todos os seus debates sempre defendeu a visão do PT como um partido socialista. Como isto o aproxima do Palocci eu não sei.

Marcio

Dr. Rosinha, é 2014, entendeu?

benjamim

Pau mandado do OGRO-BO.
Ben

betinho2

Tendo o deputado Rosinha, coerentemente, esclarecido a questão, seria interessante agora sabermos a quem o o jornalista André Trigue andou "visitando" ou por quem foi "visitado". Será que esse também, a exemplo daquele outro "escreve por 50.000 motivos"?

Antonio

Isso está me cheirando trabalho de pau mandado de alguma empresa ou instituição. O sujeito plantou uma mentira para desestabilizar o trabalho de Dr. Rosinha. Que servicinho sujo. Como alguém poderia se prestar a isso? Pensou que faria a gatunisse escondido? Como? O sujeto se coloca, como pessoa e profissional em maus lençóis.

Airton

Não é "bonzinho" porque não aceitou a contribuição do fabricante de agrotóxico. Seria um canalha se aceitasse.

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