Antônio David: Bicudo, Janaína e o “Não desistiremos do Brasil”. “Nós”, quem?

Tempo de leitura: 3 min

Janaína e Bicudo

por Antônio David, especial para o Viomundo

Piada pronta. No mesmo dia em que a Folha de S. Paulo publica artigo assinado por Hélio Bicudo e Janaína Paschoal, autores ao lado de Miguel Reale Jr. do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff, o mesmo jornal noticia: Pedido de impeachment assinado por Hélio Bicudo deve ser arquivado”.

Segundo a reportagem, “a área técnica da Câmara dos Deputados encaminhou ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um parecer em que conclui que, por não apresentar provas, o principal pedido de impeachment contra Dilma Rousseff deve ser arquivado”. A reportagem informa ainda que o parecer foi elaborado por dois setores distintos da casa.

Porém, em seu artigo, Hélio Bicudo e Janaína Paschoal alegam que “a denúncia lastreou-se em vários fatos”. Quais são os fatos que a área técnica da Câmara não viu? Bicudo e Paschoal alegam o suposto “estado calamitoso das contas públicas” e a suposta “relação estreita” da presidente com os “principais envolvidos” na Operação Lava Jato. São estes os “fatos”?

Os autores da denúncia continuam: “Tem-se propalado que a Constituição proíbe que a presidente seja responsabilizada por atos alheios a suas funções. Ora, desde quando função é sinônimo de mandato? Esse argumento é primário”.

O cientista político André Singer resumiu bem a questão, em artigo publicado recentemente: “É triste ver ex-combatentes pela democracia, como Bicudo e Reale Jr., se disporem a legitimar tal farsa. E, no caso de Reale Jr., que há pouco tempo escrevia que ‘a pena do impeachment visa exonerar o presidente por atos praticados no decorrer do mandato. Findo o exercício da Presidência, não se pode retirar do cargo aquele cujo governo findou’ (O Estado de S. Paulo, 7/3/2015), a contradição é patente”.

Se a contradição é patente, por que insiste-se nela?

O combate à corrupção é um valor republicano. Cabe às instituições combater a corrupção, sem seletividade, e aos partidos afastar os envolvidos nos fatos elucidados. Cabe, sobretudo, combater a corrupção em seu aspecto sistêmico, cortar o mal pela raiz. Daí a importância da decisão do STF em proibir a doação de empresas a campanhas eleitorais. Entretanto, o STF tocou apenas numa das pontas da raiz. Há muito mais a ser feito.Ocorre que, para alguns, o combate à corrupção é mero pretexto. Eles não se conformam com o resultado das urnas. O que está em jogo é tirar Dilma da presidência, não importa como, da maneira que for, custe o que custar – mesmo que o custo seja arranhar a Democracia. Apresentam-se como os arautos do combate à corrupção, mas para a corrupção praticada pelo PSDB eles simplesmente fecham os olhos.

Por isso, convém não deixar passar em branco o título do artigo de Bicudo e Paschoal, que é também a frase que o fecha: “não desistiremos do Brasil”. Note-se, caro leitor, que a frase esconde um “nós”: “nós não desistiremos do Brasil”. Caberia indagar: “nós”, quem? A considerar a manifestação pró-impeachment ocorrida na Avenida Paulista em agosto deste ano, sabemos bem quem são estes de quem os autores do artigo pretendem ser porta-vozes.

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 Seria mais digno se estes que alegam “não desistir do Brasil” deixassem de lado os pretextos e tivessem a coragem de dizer quem realmente são.

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