Altamiro Borges: BC e mídia são contra o crescimento

Tempo de leitura: 2 min

sexta-feira, 11 de junho de 2010

por Altamiro Borges, no seu blog

No momento em que o IBGE anunciou crescimento recorde da economia – já batizado de Pibão, com alta de 9% neste primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano passado –, a mídia rentista soou o alerta contra os rumos do país no governo Lula. O Estadão, por exemplo, deu a manchete sacana: “PIB tem alta recorde e expõe risco de superaquecimento”. No mesmo rumo, outros jornais e emissoras de TV fizeram “ressalvas” sobre os perigos do crescimento.

Embalado pela onda terrorista, no mesmo dia o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aumentar em 0,75% a taxa básica de juros (Selic) para “conter o aquecimento”, segundo festejou o jornalista Carlos Sardenberg, da TV Globo. Com uma penada, o BC elevou a dívida pública em R$12 bilhões e puxou o freio do crescimento. Mas, afinal, o que une os barões da mídia e os tecnocratas do BC na sua histérica oposição ao desenvolvimento do país?

Razões políticas e econômicas

No caso da mídia, ela aproveita qualquer coisa para atacar o atual governo – seja como apátrida, opondo-se ao acordo Brasil-Irã, seja nas ressalvas à alta do PIB. Tudo é motivo para criticar o presidente Lula e, de quebra, fazer campanha para seu cupincha José Serra. Já no caso do Banco Central, cuja diretoria é nomeada pelo próprio Lula, não haveria, em tese, interesse em fragilizar o governo. Mesmo assim, alguns garantem que o BC ainda é a “quinta-coluna” dos tucanos.

Descartada a estranha aliança política entre estes dois setores, sobra a razão principal. Os barões da mídia e os tecnocratas do BC defendem, sem vacilação, os interesses especulativos do capital financeiro. A elevação dos juros, que colocou novamente o país como líder mundial desta brutal roubalheira, contém a produção e o consumo – como efeito, trava a geração de emprego e renda. Em compensação, ela garante maiores rendimentos aos rentistas, parasitas dos títulos públicos.

A força da ditadura financeira

Os vínculos dos tecnocratas do Banco Central com a oligarquia financeira já são notórios. Antes das reuniões do Copom, Henrique Meirelles, ex-dirigente do BankBoston e eterno presidente do BC, reúne-se com banqueiros e rentistas para definir os “cenários econômicos futuros”. Nestes conchavos, distantes da sociedade e do próprio parlamento, são decididas as metas monetárias e cambiais. A ditadura financeira exerce diretamente seu poder de pressão. Na prática, o comando do BC goza de folgada autonomia, colocando-se acima do próprio presidente eleito.

Já no caso da mídia, há muito que ela defende os interesses do capital financeiro. Ela foi a maior propagandista das teses ortodoxas, a principal defensora do tripé neoliberal da política monetária restritiva (juros elevados), da política fiscal contracionista (superávit primário) e da libertinagem cambial. Alguns dos seus comentaristas inclusive defendem estas idéias por interesses próprias, faturando no mercado especulativo. Neste ponto, mídia e BC estão unidos como aço!

“Carta ao povo brasileiro”

Na excelente dissertação “Os jornais, a democracia e a ditadura do mercado”, a jornalista Maria Inês Nassif já demonstrou que o capital financeiro tem enorme poder sobre a pauta da imprensa. Com base no estudo da eleição presidencial de 2002, ela provou que o “mercado financeiro” teve papel decisivo nos rumos da disputa – inclusive na redação da famosa “Carta ao povo brasileiro”, em que Lula se comprometeu a respeitar os “contratos” firmados por FHC com os especuladores. A decisão do Banco Central de elevar os juros mostra que esta aliança permanece atual e forte.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

José A. de Souza Jr.

Tenho dificuldade em entender o trato da moeda fiduciária pelo BC como se assim não o fosse. Creio que Lula e os que o assessoram também não compreenderam ainda os "mistérios" geminados da moeda fiduciária e do Estado soberano. Pena, poderia estar fazendo muito mais. Manter as taxas de juros nas alturas é, a meu ver, uma auto-imposição com base nas inúmeras falácias que correm soltas e facilmente por aí. O tal do mercado poderia se contentar com taxas bem mais civilizadas, como é praxe em lugares onde o surrealismo é predominantemente restrito às artes.

Guilherme Scalzilli

Dossiê é detergente

Funciona assim: contrato alguém para espionar a mim mesmo, descobrir segredos que possam interessar aos adversários. Aparece uma lista de capivaras incômodas e a partir de então ficamos atentos. Assim que os farejadores alheios puxam aqueles rabichos, e antes que possam organizá-los em alguma investigação compreensível, saímos a público denunciando que estão a elaborar um maldoso dossiê. Para provar, até divulgamos o assunto. Sempre que aparece aquela suspeita, reagimos com indignação democrática, devolvendo o prejuízo à imagem dos “arapongas”.
Qualquer campanha a prefeito de cidade mediana tem sua equipe de contra-informação. A maioria é formada por jornalistas (quem disse que o diploma não serve para nada?), mas há também publicitários, ex-policiais e aspones em geral. Eles se conhecem, é um meio relativamente fechado. E não há ingênuos: repórter ou analista que cobre eleições para grande veículo e nega a existência desses grupos em todos os partidos está sendo mentiroso.

C.C. Bregamin

Eu gostaria de acrescentar que o capital financeiro é instrumento de dominação também: quando dinheiro fabrica dinheiro, os donos do capital estão sempre no poder (e isso vale para a classe média bem de vida, ou seja, para os jornalistas do PIG) e a distância em relação à renda do trabalho só aumenta. É instrumento direto de manutenção de status quo.

Antonio

Prezado Pedro Luiz,

Como não entendo quase nada de economia, fico vendido. Gostei muito de seu texto. Achei bastante esclarecedor, pois já deu para perceber que o Lula é um sujeito brilhante, com estratégias interessantes. Dessa forma, o que você fala faz mais sentido do que o que se coloca no texto acima. O resto é alarde.
E a classe média corrobora com a história do superconsumo. Já pensou, pobre comprando carro, atrapalhando o trânsito da gente de bem, tendo pão todo dia à mesa. Já pensou o consumo de pão aumentar tanto, que a classe média vai precisar dividir seus pães com os pobres? Assim não pode, assim não dá, como diria FHC. A mídia golpista, no fundo, tem medo, de perder as mordomias. A elite não quer perder o poder e as tetas do Estado e assim tentam criar o o quanto pior melhor.

Ubaldo

Interessante que o Lula pediu ao Meirelles que ficasse até o fim do ano e não se candidatasse ao governo de Goiás.
Por que Lula mantém o Meirelles e compactua com essa política do BC?
O Meirelles merece ser crucificado mas ele age com o aval e responsabilidade do Lula. Não vai se responsabilizar o divino?
Os acertos, ao divino. Os enganos, aos subordinados.

assalariado.

Pedro Luiz Paredes,pelo jeito voce não trabalha em empresa privada,e muito menos é assalariado como milhares e milhares de trabalhadores que com a elevação dos juros,correm o risco de perder os seus empregos.Voce fala como um autentico social democrata,que pra não perder os previlegios que o capital lhe oferece,depõe contra os interesses da classe trabalhadora,em beneficio dos rentistas do capital,seu discurso foi de um autentico pelego,a serviço da elite.

Pedro Tagua

"Unibanco: oferece Jornal Nacional"
Já explica bastante coisa.

Lógico que o BACEN não é aquele parasita que trabalhava apenas em nome dos rentistas como na época do governo FHC, com juros abusivos e contas CC5, mas tem melhorar muito…
Já que manter como referência o Boletim FOCUS é como colocar raposa de porteiro de galinheiro…

dukrai

Esta análise é de uma unanimidade absoluta, até o Ubaldo e o Serra criticam o BC e seus juros estratoféricos pela alta da dívida pública, pela valorização do real, o impacto na balança comercial e a desindustrialização que promove barateando os produtos importados.
O que ninguém me diz é quais as consequências do Lulinha abandonar a sua bundamolice e peitar o Meireles.

augustinho

alguem ai, pode nos dar uma definiçao decente do venha a ser "cessão onerosa".
Faço a minima ideia.

    Ubaldo

    Augustinho,
    Isso é uma caixa preta. Um tabu. Se você é petista, se manca e não levanta esse assunto aqui.
    Nem queira saber o que significa isso porque você pode querer saber sobre a capitalização da Petrobras e sobre o preço "mandrake" que o governo vai estabelecer (entre 6 e 7 dólares o barril) para a cessão e descobrir que há muito mais truta que parece nesse reino do petróleo e da Petrobras. É de arrepiar os cabelos os interesses envolvidos.

Nivaldo Marques

Precisamos de uma Cristina Kichtner com urgencia para correr com essa cambada de vigaristas monetários.

    Marcos C. Campos

    Será que a Dilma vai encarar ?

Deixe seu comentário

Leia também