Wanderley dos Santos: Socialistas constrangidos a votar contra si próprios

Tempo de leitura: 4 min

marina-erundina

Socialistas constrangidos a votar contra si próprios

PSB-MARINA SILVA: UM NOIVADO MAL ARRANJADO

por Wanderley Guilherme dos Santos,  no Manchetômetro

A candidata a presidente Marina Silva não tem partido e o Partido Socialista Brasileiro não têm candidato. A morte de Eduardo Campos subverteu a hierarquia da coalizão (proto-Rede e PSB) impondo um noivado em que nenhum dos nubentes escolheria voluntariamente o outro. Certamente, Marina Silva nunca foi uma socialista e nem o Partido Socialista Brasileiro teria imaginado apoiar a hegemonia de um banco na Presidência da República. O pacto eleitoral que servia a Eduardo Campos e ao carona Rede passou a acorrentar mutuamente Marina Silva e o Partido Socialista Brasileiro.

Candidata a vice-presidência, Marina podia difundir o Rede, continuando a apologia de uma política de princípios inegociáveis, enquanto cabia a Eduardo Campos conduzir a campanha de acordos eleitorais conforme a conveniência.

Eventuais vetos de Marina, como a recusa de participar da campanha em São Paulo, oficialmente em virtude de oposição ao PSDB de Geraldo Alkmin, ratificavam a aura da imaculada candidata a vice. Perdendo a eleição sairia dela pura como entrara, levando na algibeira uma possível bancada parlamentar de marineiros. Se vencedora, continuaria com maior rigor a vigilância de superego à sombra da coligação, permanecendo Eduardo Campos responsável pelos inevitáveis acordos de governabilidade. Faria seu caminho institucional em direção à direita sem se chocar explicitamente com os ambientalistas não reacionários.

Cabeça de chapa, Eduardo Campos estava a salvo de interpelações sobre temas delicados, protegido pelo patrimônio ideológico do PSB. Ao mesmo tempo, esperava se apropriar de parte substancial dos eleitores seduzidos por Marina, revelados na surpreendente votação que ela obteve em 2010. Liberando-a para atitudes dissonantes, destinadas a marcar posição sem danos sérios à campanha (afinal,o vice-governador de São Paulo pertence ao PSB), Eduardo Campos operava com inteligência para fazer com sucesso a travessia em que o Partido Socialista Brasileiro estava empenhado.

O Partido Socialista Brasileiro foi um dos dois partidos de esquerda a ter crescimento parlamentar constante nas últimas três eleições. O outro foi o Partido Comunista do Brasil, crescendo 25% entre 2002 e 2010.

O salto do PSB, de 22 para 35 deputados, correspondeu a excepcional crescimento de 59%, em oito anos. Comparado aos outros 13 partidos que apresentaram candidatos nas três eleições, verifica-se que 6, entre os 13, obtiveram uma representação em 2010 inferior à de 2002. Eis a lista: PT, PSDB, PP, DEM, PTB e PPS. Conquistou ainda o Partido Socialista Brasileiro, em 2010, razoável número de governos estaduais. Tendo sido coadjuvante leal e solidário nos períodos presidenciais do PT, as eleições de 2014 propiciaram excelente oportunidade para galgar posições e adquirir lugar de protagonista na política nacional. Se perdedor na corrida presidencial, o Partido Socialista Brasileiro contava, no mínimo, eleger uma bancada de deputados que consolidasse sua posição de segundo partido de esquerda mais relevante na composição governamental e, quiçá, superior até mesmo aos centro-direitistas da coligação, PP e PR. Enquanto vivo o candidato, embora os esperados eleitores do Rede não comparecessem nas intenções de voto presidencial, a trajetória do Partido Socialista Brasileiro se antecipava muito bem sucedida.

A morte de Eduardo Campos não trouxe tragédia apenas à sua família e ao seu partido. Marina Silva perceberia em breve que o mórbido presente que supôs ter recebido da Providência Divina abrigava a inevitável revelação do verdadeiro destino de sua trajetória: a direita. Por um momento tentou mantê-lo sob disfarce à força de uma retórica peculiar, mas arguta. Em 2010 declarara, em espetacular golpe de marketing, que perdera, vencendo. Agora, ciente do poder das palavras, fazia acrobáticos pronunciamentos de difícil interpretação. Ou vazios como a declaração de que seus dois adversários queriam o embate e, ela, o debate. Mas a fuga durou pouco.

A rápida subida nas pesquisas de intenção de voto precipitou um relaxamento em sua guarda e iniciou os anúncios e declarações absolutamente incompatíveis com o histórico do PSB. Inimiga da economia material, à qual sempre contrapôs alternativas futurísticas e inteiramente descoladas da agenda real e urgente do País, apresentou improvisado programa de governo e indicou assessores, cujos pronunciamentos revelaram assustadora ignorância da economia e das articulações entre a política econômica e a política social no Brasil.

As reacionárias passagens de seu programa, associadas a desastradas declarações de conselheiros só fizeram trazer à lembrança a adesão de Marina a posições hiper conservadoras durante sua passagem pelo ministério do Meio Ambiente e pelo Senado Federal. Ao mesmo tempo, a preferência pelo lado do capital financeiro em competição por lucros com o agronegócio, marcada por violenta agressão ao senador da bancada ruralista, Ronaldo Caiado, esclareceu-se pelo congraçamento entre a candidata e o setor financeiro.

Hoje, é patético o papel do PSB como avalista da aproximação entre Marina e o setor agrário moto mecanizado. Do desnudamento do projeto marineiro às retificações do programa de governo, aos subterfúgios linguísticos e aos repúdios de convicções passadas, não se passaram mais do que duas semanas. Mas seu projeto de transformar o Rede em importante partido de direita foi truncado pela tragédia de Eduardo Campos e exposto à luz da competição ideológica real.

O incômodo da coligação entre Marina e o Partido Socialista Brasileiro resulta da associação de dois projetos truncados e opostos: sendo o de Eduardo e do PSB o de elevar o partido a grande protagonista na esquerda e o de Marina alcançar destaque na rede da direita, dona de um partido de ambígua definição ideológica. O resultado não podia ser outro: uma campanha amarga e gaguejante da candidata a presidente em que os socialistas se vêem constrangidos a votar contra si próprios.

 Leia também:

Dilma na abertura da 69ª Assembleia Geral da ONU. Ouça o discurso completo


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

FrancoAtirador

.
.
TRÉPLICA DE MONIZ BANDEIRA RETRUCA ROBERTO AMARAL

Em nova carta ao presidente nacional do PSB, Roberto Amaral,

o historiador e cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira

voltou a adverti-lo sobre os riscos da candidatura Marina Silva,

advertindo-o para uma possível interferência da Open Society Foundation,

do magnata George Soros, a New Endowment for Democracy ou a própria USAID,

entre ONGs, que assumiram a função de promover regime change

e patrocinaram demonstrações na chamada Primavera Árabe e na praça Maidan, em Kiev, Ucrânia”.

Leia a seguir a segunda carta de Moniz Bandeira a Roberto Amaral,

e, depois, a resposta do dirigente do PSB que motivou esta réplica:

Íntegra em:

(http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Em-nova-carta-Moniza-Bandeira-volta-a-advertir-lider-do-PSB-sobre-Marina/4/31885)
.
.

laura

Sinto muito mas Eduardo Campos já não se apresentava como candidato de “esquerda”. Vendeu-se a direita por ambição, tanto quanto Marina. Ela é sómente mais “eficiente” e candidata mais direta destas forças. Não a toa, morreu Eduardo.

Ana Maria

Erundina, tome vergonha na cara respeite seus antigos eleitores.

DARCY BRASIL RODRIGUES DA SILVA

Não há nada de inexplicável na transição de Marina Silva para a direita que fica à direita do próprio PSDB ( se , por hipótese, houvesse um absurdo segundo turno entre Marina e Aécio, ver-me-ia constrangido a votar no tucano, segundo a linha de evitar o mal pior).Embora a mim tenha surpreendido, reconheço, posto que acreditei que seu programa seria o mesmo que empolga as proposições “verdistas”, absolutamente infactíveis enquanto durar o capitalismo , mas que poderíamos considerar como derivadas de preocupações legítimas, na medida que os problemas ambientais estão a se agravar, com destaque para as mudanças climáticas evidentes, a se manifestarem, por exemplo, na seca que castiga a região sudeste do Brasil. Mas de “ecológico” o seu programa nada tem, muito tendo de “banqueirológico”. E ainda assim, a transição de Marina pode ser não apenas justificada como também quantificada. Da mesma forma que as transições pregressas de FHC e Arnaldo Jabour. A resposta se encontra nas PALESTRAS remuneradas que colocaram no lugar do ovo frito que a ex-ecologista alimentava na infância, os sabores sofisticados que somente os que desfrutam da hospitalidade de “gente fina” como a banqueira herdeira do Itaú são permitidos. Quanto ao PSB, ocorreu com ele o mesmo que sucedeu com o PDT de Brizola: no esforço de organizar-se nacionalmente, permitiu a filiação sem lastro ideológico e programático, abriu-se para setores da direita que , aos poucos, o assaltaram por dentro e passaram a hegemonizá-lo em quase todo o Brasil. É realmente constrangedora a situação de pessoas como Roberto Amaral. Este deveria ouvir os bons conselhos de Moniz Bandeira e chutar o balde. Aliás, a propósito, o PT também sofreu uma inversão dentro de sua composição que foi diretamente proporcional ao crescimento de seu poder político institucional, atraindo muita gente que nada tem a ver com as concepções ideológicas fundadoras deste partido ( a tática de contrabandear ideologia burguesa para dentro de partidos com o perfil do PT é velha e foi a responsável pela destruição da social-democracia na Europa).

    Mário SF Alves

    “…poder político institucional…”
    __________________________
    É essa a definição do poder que conquistamos ao eleger nossos representantes.

    E… quão distante do poder de fato.
    E… quão distante está do verdadeiro PODER, aquele que constitucionalmente emanaria do povo e não ATRAVÉS do povo.

    ___________________________________
    Estado de direito versus estado de fato
    Estado de direito = estado democrático
    Estado de fato = estado autoritário/totalitário

    Logo:

    Poder de fato = ?
    Poder de direito = ?

    _______________________________________
    Mais uma vez, digo-lhe o quanto nos honra seus comentários, prezado Darcy Brasil Rodrigues da Silva.

Cláudio

Também acho um absurdo(,) incompreensível a atitude da Erundina, assim como a inexplicável transição de Marina para a direita mais execrável. Quem vai conhecer as (des)razões humanas ? O que podemos fazer é manter a coerência com uma visão de mundo humanista(,) a preservar a vida de todos/as, para todos e para todas.

Com Dilma, a verdade vai vencer a mentira assim como a esperança já venceu o medo (em 2002 e 2006) e o amor já venceu o ódio (em 2010). ****:D:D . . . . ‘Tá chegando o Dia D: Dia De votar bem, para o Brasil continuar melhorando!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D . . . . Vote consciente e de forma unitária para o seu/nosso partido ter mais força política, com maioria segura. . . . . ****:L:L:D:D . . . . Lei de Mídias Já!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. ****:D:D … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …:L:L:D:D

    laura

    Não acho inexplicavel a postura de Erundina. Ela é isso mesmo que suas ações denotam.Simples assim. Ou seja, infelizmente havia e há muita ilusão sobre Erundina. Tá aí que é ela.Roberto Amaral parecia ser outro. Mostrou quem é. para mim acabaram de vez.

jef

O PSB deixou de ser um partido sério faz tempo… Aqui em Santa Catarina, por exemplo, era apenas uma legenda de aluguel, comandado, inclusive, por gente de outros partidos. No fim, o Paulinho Bornhausen entrou para o partido e virou o grande nome (sic!!!) do PSB catarinense…

Luís CPPrudente

Luiza Erundina se negou a ser vice de Haddad por causa do Maluf, mas aceita apoiar o Nosferatu Cerra para o senado e apóia a atualização (flexibilização ou perdas) dos direitos trabalhistas.

Mas que vergonha hein Erundina!

josaphat

Eu não sei o que é mais ridículo: se comentários em blogs de esquerda como este chamando a Marina de candidata da direita, ou os comentários em blogs de direita dizendo que o Brasil esta se tornando comunista. A peculiar perspicácia nacional.

    Daniel

    Primeiro aprenda a ler, e depois aprenda a raciocinar. Até o mundo mineral consegue ver no texto as RAZÕES para considerarem que a Marina está se voltando para a direita, enquanto que o pessoal da direita ao falar que o Brasil está se tornando comunista não mostram razões para tal.

    Mário SF Alves

    Gostei deste: acorda Josaphat!

    Luís CPPrudente

    O mais ridículo é ler comentários como o seu.

    Pelo que a Marina sinistra promete, percebe-se muito bem que ela se encaminhou para a direita, mas se você não consegue entender isto, não podemos fazer nada por ti.

    Borges

    Josafát é ma-rina..rssss

edward

Não me conformo com o comportamento da Erundina. Aqui, nesta foto, coisa de endoidecer qualquer um que quer um País mais justo, com as classes sociais mais homogêneas.

Para mim, é uma tristeza, pois sempre a admirei pela sua postura e rentidão.

Fabio Passos

marina é a candidata do PiG!

PSB é barriga de aluguel.

Francisco

Casamento em que um noivo não deseja o outro não para na porta da Igreja porquê?

Porque os nubentes estão casando com as vantagens que o casamento traz…

PS. A noiva casa para ser “cabeça do casal” o noivo casa porque… bem, o baú tem dinheiro do Pré-sal até a tampa…

Gui Milani

Estou cada vez mais descrente com os rumos de nossa política. A questão agora não é apenas apontar o dedo na cara do oponente e acusá-lo de corrupção, o drama infelizmente tornou-se maior: Agora trata-se de apontar o dedo um na cara do outro e disputar de maneira despudorada qual deles protagonizou o maior escândalo. Desisti do Brasil!

    Mário SF Alves

    De qual Brasil fala?

    O BraZil com Z, o de 64, o do subdesenvolvimentismo capitalista, o marino-aécista?

    Ou o outro Brasil, o Brasil real, o Brasil dos últimos doze anos, o Brasil, cujos últimos 03 governos lutam como gigantes contra o entreguismo e a covardia da pior elite do mundo, então você só terá razão de reclamar nas seguintes hipóteses:

    Se você for gigolô de banqueiro e/ou associado;
    Se você for integrante da equipe de telejornalistas do PiG;
    Se você for ecologista politicamente ingênuo;
    Se você for acionista majoritário de alguma corporação;
    Se vocẽ amar a política externa do imperialismo norte-americano;
    Se vocẽ acreditar em Papai Noel.

Elias

Peço permissão para um “fora de pauta” sobre Rafinha Bastos

Ontem Rafinha Bastos mostrou que não difere do antecessor do Agora É Tarde

Rafinha Bastos em entrevista com Luciana Genro defende “…e liberdade…até pra que a imprensa possa destruir o governo.”

A entrevista tem 25:43 de duração. Rafinha defende a opinião acima aos 21:05. Luciana Genro faz defesa inflamada da liberdade de imprensa, porém contra os donos de TVs que promovem golpes, mas Rafinha muda de assunto.

O vídeo está no endereço abaixo

http://www.youtube.com/watch?v=U3bi2Ho6Ocs

    Mário SF Alves

    Fui lá e vi: a Luciana tem saúde. No entanto está longe de desmontar o novo FEBEAPA – Festival de Besteiriias que Assola o País e que tanto entrava a discussão da realidade política e econômica que nos é afeta. O que é lamentável.

    Mais lamentável ainda é saber que nestes termos poucos intelectuais estão em melhor condição do que a dela.

    E é exatamente por isso que se vê prosperar tanto a população dos néscios em política que nada fazem além de fomentar o tal festival.

    Mas… temos progredido, bem pouquinho, é verdade.

Eleitora

Pois é… Erundina fez tanto estardalhaço com o Haddad por causa daquela aliança com o Maluf (eu tb era contra, só para esclarecer), e agora aparece nesse projeto puramente neoliberal, muito pior, extremamente pior e equivocado, desigual!

Para mim, foi a gota d’água.

Resultado: à Erundina sobrou Marina; e Haddad hoje está cada dia melhor, com aprovação crescendo.

BEM FEITO! Vão “morrer abraçados”, como diz o ditado: Marina, Erundina e Aécio. Bye bye direita!

Obs.: com os novos dados do Vox Populi, em que Dilma ganha até em Santa Catarina, assistam de camarote a debandada do PSB nestes últimos 10 dias até as eleições.

Vinicius Garcia

Me admira Erundina, conhecida pela sua trajetória ter de posar, ouvir e intervir por Marina. Uma situação um tanto estranha, pois, apesar da origem das duas ser a mesma (o PT) a conduta e declarações são opostas, um tanto bizarro este quadro…

Deixe seu comentário

Leia também