Santayana: Europa colhe o que plantou no Oriente Médio e Norte da África

Tempo de leitura: 3 min

klp

Estação Keleti Pu, em Budapeste

3 de set de 2015

O PATO E A GALINHA

por Mauro Santayana, em seu blog 

(Jornal do Brasil) – Embora não o admita – principalmente os países que participaram diretamente dessa sangrenta imbecilidade – a Europa de hoje, nunca antes sitiada por tantos estrangeiros, desde pelo menos os tempos da queda de Roma e das invasões bárbaras, não está colhendo mais do que plantou, ao secundar a política norte-americana de intervenção, no Oriente Médio e no Norte da África.

Não tivesse ajudado a invadir, destruir, vilipendiar, países como o Iraque, a Líbia, e a Síria; não tivesse equipado, com armas e veículos, por meio de suas agências de espionagem, os terroristas que deram origem ao Estado Islâmico, para que estes combatessem Kadafi e Bashar Al Assad, não tivesse ajudado a criar o gigantesco engodo da Primavera Árabe, prometendo paz, liberdade e prosperidade, a quem depois só se deu fome, destruição e guerra, estupros, doenças e morte, nas areias do deserto, entre as pedras das montanhas, no profundo e escuro túmulo das águas do Mediterrâneo, a Europa não estaria, agora, às voltas com a maior crise humanitária deste século, só comparável, na história recente, aos grandes deslocamentos humanos que ocorreram no fim da Segunda Guerra Mundial.

Lépidos e fagueiros, os Estados Unidos, os maiores responsáveis pela situação, sequer cogitam receber – e nisso deveriam estar sendo cobrados pelos europeus – parte das centenas de milhares de refugiados que criaram, com sua desastrada e estúpida doutrina de “guerra ao terror”, de substituir, paradoxalmente, governos estáveis por terroristas, inaugurada pelo “pequeno” Bush, depois do controvertido atentado às Torres Gêmeas.

Depois que os imigrantes forem distribuídos, e se incrustarem, em guetos, ou forem – ao menos parte deles – integrados, em longo e doloroso processo, que deverá durar décadas, aos países que os acolherem, a Europa nunca mais será a mesma.

Por enquanto, continuarão chegando à suas fronteiras, desembarcando em suas praias, invadindo seus trens, escalando suas montanhas, todas as semanas, milhares de pessoas, que, cavando buracos, e enfrentando jatos de água, cassetetes e gás lacrimogêneo, não tendo mais bagagem que o seu sangue e o seu futuro, reunidos nos corpos de seus filhos, irão cobrar seu quinhão de esperança e de destino, e a sua parte da primavera, de um continente privilegiado, que para chegar aonde chegou, fartou-se de explorar as mais variadas regiões do mundo.

É cedo para dizer quais serão as consequências do Grande Êxodo. Pessoalmente, vemos toda miscigenação como bem-vinda, uma injeção de sangue novo em um continente conservador, demograficamente moribundo, e envelhecido.

Mas é difícil acreditar que uma nova Europa homogênea, solidária, universal e próspera, emergirá no futuro de tudo isso, quando os novos imigrantes chegam em momento de grande ascensão da extrema-direita e do fascismo, e neonazistas cercam e incendeiam, latindo urros hitleristas, abrigos com mulheres e crianças.

Se, no lugar de seguir os EUA, em sua política imperial em países agora devastados, como a Líbia e a Síria, ou sob disfarçadas ditaduras, como o Egito, a Europa tivesse aplicado o que gastou em armas no Norte da África e em lugares como o Afeganistão, investindo em fábricas nesses mesmos países ou em linhas de crédito que pudessem gerar empregos para os africanos antes que eles precisassem se lançar, desesperadamente, à travessia do Mediterrâneo, apostando na paz e não na guerra, o velho continente não estaria enfrentando os problemas que encara agora, o mar que o banha ao sul não estaria coalhado de cadáveres, e não existiria o Estado Islâmico.

Que isso sirva de lição a uma União Europeia que insiste, por meio da OTAN e nos foros multilaterais, em continuar sendo tropa auxiliar dos EUA na guerra e na diplomacia, para que os mesmos erros que se cometeram ao sul, não se repitam ao Leste, com o estímulo a um conflito com a Rússia pela Ucrânia, que pode provocar um novo êxodo maciço em uma segunda frente migratória, que irá multiplicar os problemas, o caos e os desafios que está enfrentando agora.

As desventuras das autoridades europeias, e o caos humanitário que se instala em suas cidades, em lugares como a Estação Keleti Pu, em Budapeste, e a entrada do Eurotúnel, na França, mostram que a História não tolera equívocos, principalmente quando estes se baseiam no preconceito e na arrogância, cobrando rapidamente a fatura daqueles que os cometeram.

Galinha que acompanha pato acaba morrendo afogada.

É isso que Bruxelas e a UE precisam aprender com relação a Washington e aos EUA.

 Leia também:

“Mídia elitista tem obsessão pelo debacle do poder alcançado pela plebe” 


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Comentários

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Carlos Salgado

Vamos para a frente, Humanidade!
Chega de guerra e desamor!

Domenico

Agora entendi a causa da recessão espanhola: 700 anos de dominação árabe.

Luiz Antonio A do Sacramento

Artigo que diagnostica com precisão o panorama desastroso das conexões políticas que permeiam o nosso conturbado mundo.

Francisco

Deve servir de exemplo para a américa latina. Olhem o resultado da “primavera árabe” implantada no oriente médio pelos americanos e seus cúmplices europeus. Olhem o Brasil, américa latina, se cuide. Os brasileiros se cansaram de 12 anos de estabilidade e decidiram acompanhar os black blocs do psol, psdb e rede globo.
Pobre Brasil, nossa “primavera” está sendo preparada também.

Mailson

As guerras minuciosamente programadas e o drama dos refugiados.

Você pode ficar sabendo sobre o começo dessas coisas em menos de 3 minutos.

Tá aqui neste vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=sCDRWEpz5d8

Lopes

Caíram na onda do Obrama e ….
Os EUA deveriam ser acionados para assumir as suas responsabilidades!

Urbano

Uma pequena amostra da Grande Marcha dos espoliados…

Marcia Sara

Excelente artigo. Mais esclarecedor, impossível. A verdade é a de sempre:
“A semeadura é livre; a colheita é obrigatória”.

Nelson

” os Estados Unidos, os maiores responsáveis pela situação, sequer cogitam receber – e nisso deveriam estar sendo cobrados pelos europeus – parte das centenas de milhares de refugiados que criaram”.

– Mais do que cogitar receber os imigrantes, o governo dos EUA está a insuflar a emigração massiva, conforme podemos ver “Os EUA financiam a imigração maciça para a Europa”, de Pierre-Alain Depauw, em http://resistir.info/europa/imigracao_18ago15.html.

O objetivo parece claro. Enquanto a tática de jogar a Europa em uma guerra contra a Rússia – em que ambos os lados se destruam, mutuamente, o máximo possível – não surte o resultado esperado, os EUA usam a tática de acumular o velho continente com os problemas que, inevitavelmente, as migrações massivas geram.

É a velha e conhecida medida de autoproteção capitalista. Quando bate a crise, os capitalistas procuram dela se safar jogando-a no colo daqueles que têm menos poder econômico e político.

    Mário SF Alves

    Reconheço que posso estar cometendo um erro, mas, parece-me que no horizonte da “velha e conhecida medida de autoproteção capitalista” serve, Inclusive, a produção de certos Adolf e certos Mussolini ao ficar provado que determinadas monobras não funcionam mais, e a barra começa a pesar além da conta.
    _____________________________
    Foi assim em 1939; só uma década após a quebradeira de 1929.
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    “Quando bate a crise, os capitalistas procuram dela se safar jogando-a no colo daqueles que têm menos poder econômico e político.”
    ___________________________________________
    É… e sair desta (crise) vai ficando cada dia mais difícil. Pelo que se percebe a saída lógica preconizada já não poderia ser outra senão a “integração” de tudo ou do todo: terra, água, ar e fogo! E… éter.

Lopes

Por que o presidente Obrama não foi citado?

    Mário SF Alves

    Para evitar redundância?

    Lopes

    E pensar que o cara ganhou o Nobel da Paz de2009!

    Tais Ferreira

    Lopes!
    Primeiramente, o presidente os E.U.A não é o culpado dessa história, segundo a constituição norte americana, eles não vivem mais em um absolutismo então não cabe só apara o presidente resolver qualquer questão política .
    Segundamente, os Estados Unidos sempre exercerá sua hegemonia, e a história está aí para provar isso. Ele sempre foi e sempre será um país que não medirá consequências para alcançar seus objetivos. Um exemplo disso é a bomba de Hiroshima e Nagasaki.

Helenita

Não é verdade que a velha França NÃO participou do desmonte dos países árabes, de olho nas riquezas como ÁGUA, petróleo, outros minérios etc; a França foi decisiva para a invasão da Líbia. Inclusive quando havia um grupo de diálogo pela trégua e consequente acordo, o qual era discutido no Cairo, já em fase adiantada de decisões, foi exatamente a França, que não compunha o dito grupo, que se rebelou, com escora na OTAN, e afirmou não permitir que houvesse acordo com Kadafi, só lhe servindo a invasão daquele próspero país, hoje em frangalhos, lembrando ainda que a França afirmou que enviaria seus exercitos com a Otan, e que queria para si AS ÁGUAS do país ocupado!

    Miranda

    A França também interviu no Mali, alimentando uma guerra e vendendo armamentos. Apoiou a invasão do Iraque e todas as ações militares dos EUA

Urbano

O bumerangue de volta e bem no meio da testa…

FrancoAtirador

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QUEM CRIOU O TAL ESTADO ISLÂMICO DO IRAQUE E DO LEVANTE (EIIL/ISIS)?
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17/10/2012 05:00:20
New York Times, via iG
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Envio de Armas para Rebeldes Sírios
Beneficia Islâmicos Radicais [do ISIS]
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De acordo com Autoridades Americanas,
Maioria dos Armamentos Enviados à Síria
por Arábia Saudita e Catar Cai nas Mãos
contrários aos interesses ocidentais
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Os Estados Unidos estão fornecendo Informações de Inteligência
e ‘Outros Tipos de Apoio’ que viabilizam a Transferência de Armas
para a Síria, principalmente orquestrada por Arábia Saudita e Catar.
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Por David E. Sanger
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(http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/nyt/2012-10-17/envio-de-armas-para-rebeldes-sirios-beneficia-islamicos-radicais-dizem-eua.html)
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(http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/37414/wikileaks+eua+armaram+estado+islamico+e+se+recusaram+a+ajudar+siria+no+combate+ao+grupo.shtml)
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14 março 2013
France Press, via DN Portugal
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PARIS E LONDRES QUEREM ENTREGAR ARMAS AOS REBELDES SÍRIOS
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Na véspera do segundo aniversário da eclosão da revolta na Síria,
os Governos Francês e Britânico exprimiram esta quinta-feira
a sua vontade de entregar Armas aos Rebeldes
que lutam contra o Regime de Bashar al-Assad,
independentemente do acordo da União Europeia.
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(http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3107478&seccao=M%E9dio%20Oriente)
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Saiba mais em:
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(http://www.viomundo.com.br/bau/ligando-alguns-pontos-que-nos-levaram-ate-paris.html)
(http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,eua-suspendem-envio-de-armas-a-rebeldes-sirios,1107411)
(http://brasil.elpais.com/brasil/2013/12/11/internacional/1386780655_227878.html)
(http://www.iranews.com.br/noticias.php?codnoticia=12639)
(http://www.orientemidia.org/quem-criou-o-estado-islamico-e-quem-lucra-com-isso)
(http://abre.ai/quem_criou_eiil-isis)
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FrancoAtirador

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100 Mil Crianças Parecidas com aquela que apareceu Afogada na Beira da Praia
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já saíram, com suas Famílias, do Oriente Médio e da África em Direção à Europa.
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De janeiro deste ano até agora, 350 mil refugiados e migrantes conseguiram chegar
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ao Território Europeu, além dos quase 2 Milhões que buscaram Abrigo na Turquia.
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(http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2015/09/unicef-reage-morte-de-crianca-afogada-e-crise-de-refugiados)
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UNICEF: 13 Milhões de Crianças não vão à Escola por ‘Conflitos’ no Oriente Médio
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(http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2015-09/unicef-13-milhoes-de-criancas-nao-vao-escola-por-conflitos-no-oriente)
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    FrancoAtirador

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    27/08/2009 – 00h10
    Herald Tribune, via BOL
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    “Onda de Jovens Afegãos Cruza a Europa”
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    Milhares de Jovens Afegãos, a Maioria de Crianças e Adolescentes,
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    chegam sozinhos ao Território Europeu, em busca de educação
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    e de um futuro que não se materializou em seu país,
    .
    que continua enfrentando a Pobreza e a Violência
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    Oito Anos Depois do Fim do Regime Taleban.
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    Ao todo, o Programa de Crianças Separadas na Europa estima que haja
    .
    100 mil crianças de países não europeus – desacompanhadas dos pais –
    .
    dentro da União Europeia (UE), muitas sem qualquer tipo de proteção.
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    Reportagem: Caroline Brothers, em Paris
    Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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    (http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2009/08/27/ult2680u880.jhtm)
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    FrancoAtirador

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    27/02/2015
    Rádio ONU
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    O Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres
    disse que cerca de 2 Milhões de Refugiados Sírios,
    com Menos de 18 anos,
    correm o risco se tornar uma Geração Perdida.
    .
    Grande Parte das mais de 100 mil Crianças Refugiadas,
    Nascidas no Exílio, poderiam tornar-se Apátridas.
    .
    (http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/02/fecho-de-agencias-devido-ao-isil-impediu-acesso-de-600-mil-sirios-a-comida)
    .
    04/09/2015
    Rádio ONU
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    Desde o Início do Conflito na Síria, em Março de 2011,
    mais de 250 mil Pessoas Morreram,
    cerca de 7,6 Milhões foram Deslocadas dentro do País
    e cerca de 4 milhões Vivem nas Nações Vizinhas.
    .
    (http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/09/entrevista-porta-voz-da-agencia-da-onu-para-refugiados-no-brasil)
    .
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