Rafael Losso: Por que não falamos sobre o PMDB?

Tempo de leitura: 3 min

eduardo cunha e renan calheiros

PRECISAMOS FALAR SOBRE O PMDB

por Rafael Losso, no Facebook

Quem me segue no Facebook sabe que sou um daqueles que ocasionalmente escrevem longos textos defendendo o governo Dilma. Também são publicados diariamente inúmeros textos apoiando apaixonadamente as decisões dos governos tucanos.

Mas não há em toda a internet mais do que um punhado de frases enaltecendo qualidades do PMDB.

Uma mínima perspectiva histórica basta para compreender os motivos, como no texto do Janio de Freitas na Folha de S. Paulo dessa semana.

De fato, o MDB nasceu nas entranhas da ditadura para deixar de ser uma mera oposição simbólica e corroer por dentro o poder do criador.

Estabeleceu assim um padrão para a política nacional que persiste até hoje, fortalecido pelo estabelecimento econômico, enrijecido pela burocracia institucional e pelo próprio passar das décadas.

A brecha aberta pelos reflexos negativos da crise mundial do petróleo sobre a economia do Brasil foi a deixa para que a articulação entre o PMDB e a mídia desencantada engatilhasse o fim do regime. Soa familiar, não?

Pois essa foi uma aliança suficientemente forte a ponto de conseguir anular o autoritarismo histérico e censurador dos generais, superando a barbárie dos porões e os sumiços em alto-mar, como ideologia nenhuma foi capaz. Não precisamos imaginar o que poderia fazer aos governos democráticos de espírito pacífico que sucederam.

De mecanismo improvisado à consagração com o cerco a Sarney, um ex-ARENista que foi parar na presidência sob a agremiação por obra do acaso.

A obscena distribuição de concessões de canais de rádio e TV em troca de apoio parlamentar sacramentou as relações com as redes de comunicação, transformando braços midiáticos do PMDB em redes nacionais.

Não é à toa que, em plena era de colunismo partidário se atracando pelas manchetes dos jornais, ser “peemedebista” não tenha assimilado os sentidos pejorativos associados aos apelidos “petista”ou “tucano”.

Como pontuado por Janio, desde então o entra e sai do poder é uma ode à influência do “Partidão” sobre nossa vidas. Sejam os caciques locais, ou os grandes latifundiários de todos os setores, a construção do Brasil acontece através dele, por ele, da maneira dele.

O único e breve momento que o país não precisou se submeter a essa Realpolitik fracassou justamente pela cópia ao fisiologismo peemedebista, no arranjo entre José Dirceu e José de Alencar que desembocaria no circo armado do mensalão.

Vivemos momentos tensos para todas as agremiações e ideologias, que indicam o desgarramento do PMDB do governo Dilma para tentar alcançar o posto mais alto da política nacional em 2018, ou até mesmo antes disso, e como é cruel a ironia de um partido que se diz democrático entreter a noção de descartar 54 milhões de votos no lixo.

Pois a questão que deveríamos estar levantando, debatendo e questionando, para longe das contradições do seu histórico, é justamente qual a proposta concreta e o modelo de país que o PMDB pode representar para sair das alcovas e amealhar o protagonismo que seu ressentimento sugere merecer.

Afinal, participar do jogo político se ausentando do debate ideológico nunca despertará a paixão ou a legitimidade necessária para impulsionar à Presidência da República, e garantirá apenas o papel perverso de oposição irresponsável ao Brasil.

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Comentários

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italo

O PMDB está instalado nas entranhas do Estado, por garantia cooptou quem pode fiscalizar e quem deveria informar. vivemos combatendo ou apoiando quem orbita o partidão, até que eles mesmos promovam uma mudança no governo do País à despeito da vontade popular. A corrupção persiste, tem blindagem que dificilmente uma ou duas Instituições de Estado ousaria contrariar. Educação de qualidade e povo na rua, em frente às Instituições que devem se prestar ao fim que se propõe.

FrancoAtirador

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O PMDB é um Partido de Massas…
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…Amorfas que aderem ao Poder.
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Urbano

O que há para falar é que ele perdeu o cadarço quando da passagem do bipartidarismo para o pluripartidarismo. De lá para cá foi só desenvoltura ampla, geral e irrestrita… Contaminou-se com o paciente que tentava curar.

Julio Silveira

O Brasil conseguiu construir uma aberração sem princípios. Criou um visgo para unir o que de pior pode haver na politica para descaracterizá-la com a falta de personalização, e meticulosamente ter a justificativa de poder aderir sem mea culpa a toda e qualquer vertente politica. Institucionalizou o fisiologismo como instrumento politico, que dessa forma cria apoios que facilitam a destruição de princípios muito inconvenientes para muitos poderosos velhacos, hipócritas e licenciosos, que no país tem vida fácil.

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