Mino Carta: Sinto a presença de Antonio Palocci no bastidor

Tempo de leitura: 3 min

palocci

Uma sombra no bastidor

Sinto a presença de Antonio Palocci por trás do esforço de recompor o esquema inicial do primeiro governo Lula

por Mino Carta, em Carta Capital 

Pergunto de abrupto aos meus botões: seria Antonio Palocci um saudosista? Se os botões pudessem piscar maliciosamente, assim o fariam. Trafega uma sombra pelos meus pensamentos, a deslizar sorrateira no bastidor da cautelosa gestação do futuro governo da República. Algumas nomeações certamente gozam da aprovação paloccica. Mas não seria a sombra dele mesmo, ministro da Fazenda de Lula no primeiro mandato e chefe da Casa Civil de Dilma por alguns meses? Não se teria abalado, o indomável Palocci, a distribuir um ou outro palpite, um ou outro conselho?

É aí que se revela a saudade alimentada pela personagem, como se o projeto fosse reconstituir os começos do primeiro governo Lula, dirigidas as devidas mesuras à casa-grande, aquietados os terrores de quem gostaria de viver em Dubai, tranquilizados os fiéis do deus mercado. Obra capital da operação sorriso, a “Carta aos Brasileiros”. De autoria de quem mais se não Antonio Palocci? Sinto que o homem está em plena atividade, ainda que se esgueire pelos cantos.

Se valem estas minhas arriscadíssimas… procuro a palavra… sensações? Intuições? Suposições? Fantasias? Pois é, caso tenham alguma relação com a verdade factual, a quais conclusões nos levam? Que o entendimento entre Lula e Dilma é muito mais profundo neste exato instante do que se imagina. O filtro entre Palocci e Dilma só pode ser o ex-presidente, sabidamente intérprete magnífico da Realpolitik.

Inquietos, os botões me puxam pelo paletó. Calma lá, suspiram, mas valeria hoje o mesmo esquema que funcionou há 12 anos? Medito antes de responder, e penso em Severina e Maria das Dores, e em todos os brasileiros que nestes 12 anos melhoraram de vida. São eles que, na reta final do pleito recentíssimo, contra o golpismo do mercado, da mídia nativa, dos brasileiros que gostariam de viver em Dubai, da reação tucana, garantiram a sofrida vitória de Dilma.

Houve avanços nestes 12 anos, sociais e na independência brasileira assentada na política exterior que nos convém. O Brasil atual não é mais aquele. A política do poder, destinada a garantir a chamada governabilidade e a enriquecer ilicitamente várias categorias de graúdos, ainda causa, contudo, estragos e atrasos monumentais em um sistema patrimonialista capaz de bater recordes mundiais em termos de cifras envolvidas.

Mudaram, eles sim, os saídos da miséria mais funda, cidadãos como todos os demais. Os graúdos sabem que não se trata do proletariado de décadas atrás nos países mais progredidos, e, antes ainda, dos sans-culottes da Revolução Francesa, o que, de certa forma, os tranquiliza, até sem se darem conta da situação, aceita como fato natural. Nem por isso as circunstâncias atuais deixam de ser bem diferentes em relação ao momento em que Lula chegou à Presidência. Mesmo porque, a crise econômica mundial só eclodiria em 2008 e seus efeitos alcançariam o País ainda mais tarde.

O que está em jogo, de todo modo,  são as esperanças realizadas e aquelas estimuladas. Creio que mais poderia ter sido feito em proveito da inclusão social, mas animadores passos adiante foram dados, e os beneficiados, ou aspirantes aos benefícios, no momento, e por incrível que soe, não pesam na balança.

Que acontecerá com movimentos sociais importantes como o MST? Que acontecerá com o próprio Partido dos Trabalhadores, aviltado por seus pecados, a exibir sua incapacidade de formar quadros à altura das circunstâncias? Nem me atiro a formular este gênero de perguntas aos meus botões, poupo-os nesta hora de grande perplexidade. De saída, sei que citarão um sábio: quem perde a ideologia, ou, se quiserem, a fé, destina-se inexoravelmente à contemplação. O que, sublinho, o qualifica à condição de súcubo.

Tenho uma última pergunta, a subir ao céu para se dissolver nas alturas nevoentas, como o fogo dos peles-vermelhas ao ameaçar a diligência ousada que singra o território hostil no fundo do vale. Se a opção é crescer ou crescer, qual seria o nexo entre o propósito e sua realização se nos rendermos ao deus mercado? Ou é admissível que os empresários brasileiros, abandonados irresponsavelmente, e de várias maneiras ao seu destino, tornaram-se todos, sem distinção, rentistas?

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Comentários

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wendel

Não devemos e não podemos aceitar provocações. A Dilma foi bem clara em seu discurso em Fortaleza. Quanto a ficarmos comemtando se vai acontecer isto ou aquilo, acho prematuro. Vamos esperar e ver como ficará a equipe que ela está montando.
Se ficarmos neste lenga-lenga, é tudo o que os inimigos querem, pois se relaxarmos nossa militância, seja virtual ou boca-a-boca, o bicho pega, e pega brabo!!!!
Não devemos também substimar a inteligencia da Dilma, pois além de confiar na sua capacidade, seu assessor maior, ainda é o Lula !!!!!!!!!!
E sendo ele, saberá orientar nos bastidores a melhor solução de governo !!!!

Julio Silveira

Já eu acho que tomou conta do bastidor foi o presidente Lula.

abolicionista

Bravo, caro Mino Carta, bravíssimo…

Andre

“todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. (…) a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa” frase bem atual de um filosofo do século dezenove….

FrancoAtirador

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E eu sinto a sombra dos US Departments:

“A primeira grande dificuldade é a situação externa,
porque o cenário externo está cada vez pior para o Brasil.

A irresponsabilidade de colocar ações da Petrobras na Bolsa de Nova Iorque
está chegando numa situação que me angustia muito.
Eu quero resolver a crise moral, institucional e econômica da Petrobras.
Quero que essa empresa volte a ser o sonho de modernidade do país,
quero que o Brasil assuma seu papel na geopolítica internacional
a partir da exploração de petróleo do Atlântico Sul.

Porém, sei que isso não é objeto de desejo dos irmãos do Norte.

…o que os americanos conseguiram com o escândalo da Petrobras?

Que fosse transferido para o Ministério da Justiça americano
e para a Comissão de valores imobiliários de Wall Street
o papel de monitorar a política brasileira.

O poder de negociação que agora tem o grande irmão do norte
em relação ao governo brasileiro é total.

Nunca imaginei que haveria uma transferência da decisão sobre o futuro do Brasil
para a Bolsa de Nova Iorque e o Departamento norte-americano.

Não vejo nada favorável.

O cenário está muito difícil para o Brasil,
e Dilma vai ter que caminhar no fio da navalha
para não se cortar muito. Espero que ela consiga.”

Carlos Lessa
Patriota BraSileiro

(http://www.viomundo.com.br/politica/carlos-lessa-prefiro-o-possivel-e-o-impossivel-que-dilma-fara-que-politica-de-desemprego-cruel-que-fraga-faria.html)
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Secretary Pritzker and Secretary of State John Kerry
met with Indian Prime Minister Narendra Modi
http://www.commerce.gov/sites/default/files/imagecache/featured_image_652x270/images/2014/august/spp-kerry-walk_rashtrabati-bhawan-502×334.jpg

Statement from U.S. Commerce
Secretary Penny Pritzker
on Leading Delegation to Ukraine
(http://www.commerce.gov/news/press-releases/2014/09/18/statement-us-commerce-secretary-penny-pritzker-leading-delegation-ukr)
http://www.commerce.gov/news/press-releases?page=1
.
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(http://www.state.gov/r/pa/prs/ps/2014/04/225057.htm)
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O Mar da Silva

Pois é. Se a receita da Dilma volume II for a de Lula volume I podemos ter certeza que os movimentos sociais vão seguir em banho-maria. Esqueçam as reformas estruturais e comemorem a manutenção da política salarial e do sorriso dos rentistas. É o mal menor.

    AT

    A direita ganhou. Conseguiram pôr o ministro ideal para ele na Fazenda. Durante os próximos 4 anos, os que votamos no PT, militantes e simpatizantes, ficaremos a ver navios. A esperança de um 2º mandadto Dilma mais à esquerda se foi graças à mídia com sua LavaJato… E em 2018, para quê nos preocuparmos em votar nesses medrosos? Quem não deve não teme?
    Acabou, já deu. Basta. Conseguiram matar o restinho de esquerda que haveria…

    Lukas

    Não foi a mídia, não foi a Lava Jato, foram as circunstâncias.

    Todos sabiam que quem quer que vencesse as eleições teria um 2015 e 2016 de ajustes. Aécio disse que tomaria medidas impopulares. Dilma prometeu uma viagem à Ilha da Fantasia. Quem quis acreditar, acreditou.

    Dilma mentiu na campanha para se eleger. Não vai colar culpar a mídia.

    Aceitem que foram enganados, ou melhor, que se deixaram enganar.

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