Mark Weisbrot: Reunião de Kerry com Serra é uma atitude podre para um Secretário de Estado dos EUA no século 21

Tempo de leitura: 4 min

serra e kerry

Reunião de Kerry com ministro interino brasileiro revela apoio ao governo ilegítimo

Em 25 de julho, 43 membros da Câmara dos Deputados dos EUA escreveram ao Secretário de Estado Kerry. A carta diz:

Escrevemos para expressar nossa profunda preocupação com os acontecimentos recentes no Brasil, que ameaçam as instituições democráticas do país. Nós também pedimos que Vossa Excelência exerça máxima cautela nas relações com as autoridades interinas do Brasil, e que se abstenha de declarações ou ações que possam ser interpretadas como apoio à campanha de impeachment lançada contra a presidenta Dilma Rousseff.

Nós acreditamos que nosso governo deve expressar forte preocupação em relação às circunstâncias que envolvem o processo de impeachment e apelamos para a proteção da democracia constitucional e do Estado de Direito no Brasil.

Na segunda-feira, o senador Bernie Sanders também expressou sua opinião, observando que, “após suspender a primeira presidenta mulher do Brasil com argumentos duvidosos, sem um mandato para governar, o novo governo interino extinguiu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.” E acrescentou: Os Estados Unidos não podem permanecer em silêncio enquanto as instituições democráticas de um de nossos mais importantes aliados são atacadas.”

É extremamente raro ver este tipo de questionamento sobre a política do governo dos Estados Unidos por membros do Congresso do mesmo partido, especialmente sobre um país tão grande e importante como o Brasil. Ao lidar com tal país, que possui um território maior do que a área continental dos Estados Unidos, com mais de 200 milhões de pessoas, e que representa a sétima maior economia do mundo, seria esperado que os parlamentares democratas não interferissem nesse tema, especialmente em um ano eleitoral.

Talvez eles tenham tomado tal decisão porque sabem que a administração de Obama estaria apoiando o impeachment. Um membro do Comitê de Relações Exteriores da Câmara me disse recentemente que este seria realmente o caso, e existem evidências de que seria verdade.

Em uma coletiva de imprensa em 3 de agosto, o porta-voz do Departamento de Estado disse que Kerry responderia à carta do Congresso. Nenhuma resposta escrita foi recebida até agora, mas Kerry pode ter enviado uma resposta não-verbal ao encontrar-se com o ministro das Relações Exteriores do governo interino, José Serra, durante sua recente viagem ao Brasil. Se esta é a sua resposta para os membros do Congresso, equivaleria a levantar o dedo do meio.

Kerry não teve a ousadia de se reunir com o presidente interino, Michel Temer. A grande maioria dos brasileiros quer que Temer renuncie, e não complete os dois anos e meio restantes do mandato presidencial que está ocupando. Mas se o Senado brasileiro votar pela condenação da presidenta Dilma Rousseff no final deste mês, ele ocuparia a presidência até 2018.

Temer nem sequer foi apresentado nos Jogos Olímpicos, falou por cerca de 10 segundos e, de acordo com o Washington Post, foi ruidosamente vaiado. Temer foi condenado por violar leis de financiamento eleitoral e está impedido de concorrer a cargos públicos por oito anos, além de estar envolvido em outros escândalos.

Ao reunir-se com Serra, e ao emitir declarações conjuntas sobre uma série de questões após essa reunião, Kerry mais uma vez mostra o apoio a um governo de legitimidade questionável.

Afinal, Serra não foi escolhido por um presidente eleito. Na verdade, pode-se fazer uma argumentação constitucional de que o presidente interino Temer — que foi vice-presidente antes do impeachment — não poderia nomear um novo ministério e mudar o rumo das políticas anteriores (não coincidentemente, composto somente por homens brancos e ricos).

A presidenta eleita não foi removida definitivamente; ela foi suspensa enquanto aguarda o resultado do julgamento no Senado. Portanto, o governo interino deveria atuar como uma administração temporária e não agir como um governo eleito, que acabara de ganhar um mandato político por uma grande maioria.

Ao reunir-se com Serra, Kerry ajuda a legitimar o que muitas pessoas no Brasil e em todo o mundo consideram um golpe de Estado das forças de direita. Ele poderia facilmente ter evitado o encontro com Serra, como evitou com Temer. Isso não seria um problema diplomático ou de protocolo. Kerry se aproximou do governo interino e gerou a impressão de que Dilma já estaria condenada pelo Senado. Na verdade, o procurador federal designado para o caso concluiu há poucas semanas que Dilma nem sequer cometeu crime.

Kerry está escolhendo um lado em uma situação política polarizada. E está escolhendo o lado formado por uma conspiração conservadora de políticos corruptos, os quais — segundo transcrições vazadas de conversas telefônicas — buscam remover a presidenta democraticamente eleita, com o propósito de se proteger de investigações e possíveis condenações criminais.

Essa é uma atitude podre para um Secretário de Estado dos EUA no século 21. Muitos brasileiros lembram o papel que Washington desempenhou no golpe militar de 1964, que levou a mais de duas décadas de uma sórdida ditadura, sob a qual o antecessor de Dilma, Lula da Silva, foi preso, e sob a qual Dilma foi torturada. No caso de alguém ter perdido o cordão umbilical da história, que conecta aquele golpe ao golpe atual, um dos deputados pró-impeachment“expressamente elogiou, no Congresso do Brasil, a ditadura militar e saudou incisivamente o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador-chefe da ditadura (responsável pela tortura de Dilma).”

A resposta do governo de Obama a esse golpe também será lembrada por muito tempo e provavelmente irá afetar as relações com futuros governos brasileiros. Enquanto isso, 43 membros do Congresso dos Estados Unidos ainda esperam a resposta por escrito de John Kerry à sua carta.

Mark Weisbrot é co-diretor do Centro Pesquisa para Economia e Política em Washington, D.C., e presidente do Just Foreign Policy. Também é autor do livro “Failed: What the ‘Experts’ Got Wrong About the Global Economy” (2015, Oxford University Press). Você pode subscrever para receber seus artigos aqui.

 


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Comentários

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Marcus

Os comentários dos petistas é de dar nojo. Como podem ficar a favor de um governo que afundou o Brasil (com provas), durante 13 anos – no minimo, criou uma conspiração para atender um projeto que fede a mofo, criado por Lula/Fidel (foro de São Paulo) (com provas), Lula grande traidor que agiu às escondidas nesse plano sórdido de transformar o Brasil e a América em uma ‘Grande Nação’ sem que nenhum brasileiro tomasse conhecimento (com provas). Saqueou os cofres públicos (com provas) para atender a esse projeto de poder do Lula/PT.
Foi isso que mais motivou o brasileiro ir às ruas para depor esse governo responsável por mais de 13 milhões de desempregados (com provas). governo que por sinal foi colocado por eleições ilegitimas pelas urnas eletrônicas da Smatmatic (empresa Venezuelana (com provas).

FrancoAtirador

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Tempos de Monarquia Absolutista do Capital em Escala Planetária
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Cláudio

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: * * * * 04:13 * * * * .:. Ouvindo As Vozes do Bra♥♥S♥♥il e postando: A grande mídia (mérdia) é composta por sabujos sujos a serviço dos ianque$ e do $ionismo de capital especulativo internacional e outras máfias (como a ma$$onaria) dos canalhas direitistas… …

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* 1 * 2 * 13 * 4
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.:.
♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
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Por uma verdadeira e justa Ley de Medios Já pra antonti (anteontem. Eu muito avisei…) !!!! Lula 2018 neles !!!!
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Lauri Guerra

É o chefe passando tarefas ao seu agente, simples assim.
Acho que foi Requião quem afirmou que o cérebro e o cofre do golpe estavam em Washington. Taí o recibo passado.

FrancoAtirador

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Não Deu no Jornal Nazi-onal da Rede Globo:

https://twitter.com/enioverri/status/763185289904861184
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FrancoAtirador

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Na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos,
as Delegações Mais Aplaudidas pelos Interinos
do Temer foram as de Honduras e do Paraguai,
depois da Delegação dos IúnáitStêits, é obvio.
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FrancoAtirador

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Não é só a Globo, a CIA também é #BRA, de BRAdesco.

https://twitter.com/CIA/status/761741914567761920
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FrancoAtirador

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Para quem desconhece o Significado de Usurpação e Usurpador:

https://twitter.com/MichelTemer/status/763505800300167168
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Nelson

“Kerry mais uma vez mostra o apoio a um governo de legitimidade questionável.”
“Essa é uma atitude podre para um Secretário de Estado dos EUA no século 21.”

A frases de Weisbrot brilham pela obviedade. Elas representam a conduta natural de muitos governos dos EUA, não apenas do atual.

Então, nada há de surpreendente no comportamento de Kerry. Ele estava, apenas, passando instruções a seu cãozinho amestrado e, possivelmente, parabenizando-o pelo sucesso do golpe.

O “Governo Oculto”*, que realmente governa os EUA, não está e nunca esteve comprometido com a verdadeira democracia. Até porque o sistema econômico-produtivo que é defendido com unhas e dentes por esse governo oculto não rima com democracia.

* Expressão cunhada pelo diplomata canadense Peter Dale Scott.

    Nelson

    Uma correção importante: o termo realmente cunhado por Peter Dale Scott é “Estado Profundo”.

Geraldo Maia

O encontro do secretario americano com serra, não é nenhuma novidade, pois a mão que comanda a batuta do golpe é americana. Eles não toleram a dupla Lula/Dilma pelos avanços no nosso país interna e externamente. eles querem o gigante latino americano dominado e submisso aos seus interesses. para isso, precisam apoiar políticos sem caráter, que desconhecem o que é dignidade, para assim fazer faler seus interesses.

Polêmico!

Só o Cerra e o Kerry estavam? E o Rui Falcão?

Julio Silveira

Não se pode esperar outra coisa desse país que nos considera, nas palavras do próprio Kerry, seu quintal, e recebendo assim de mãos beijadas pelos próprios nacionais traíras e entreguistas, essa confirmação de submissão, não há como negar.

Marly A A Zacarias

Sinto medo. Medo do retrocesso do meu Pais, medo do desmantelamento de todas as politicas publicas
e das retiradas de direitos legais(trabalhistas, previdenciarios, penais,civis etc), com essa pressa
e desrespeito ao programa com o qual foi eleita a chapa da qual faz parte,por lamentavel equivoco, esse vice traidor.
Sinto-me orfa de informaçao acerca do q pretendem os politicos da ala vencedora no Congresso Nacional, da justiça, de etica, de lealdade, de responsabilidade dos representantes das instituiçoes e dos lideres politicos.Marly A A Zacarias

    Nelson

    Minha cara Marly.

    A meu ver, esta corja de ladrões e corruptos está colocada contra a parede, sob pressão. Ou eles implementam as reformas exigidas pelo Sistema de Poder que domina os EUA ou a Justiça vai chamá-los a prestar contas da roubalheira que perpetraram.

    Então, a corja está pensando o seguinte: “Dane-se o povo brasileiro e o país. Eu quero é salvar o meu pescoço”. Se eles implementarem as tais reformas, o Sistema de Poder que citei vai lhes garantir a liberdade e o gozo do butim acumulado.

    De outra parte, o que quer o Sistema de Poder que domina os EUA é que todos os países da Nuestra América sigam o caminho do México, em 1994, e da Guatemala, em 2005. A assinatura de tratados de “livre comércio”, os chamados TLCs, é este caminho.

    Se assinarmos tais tratados, abdicaremos de uma vez por todas do que ainda temos de soberania e aí, minha amiga, deveremos dar adeus à construção do país que tanto sonhamos.

    O economista estadunidense, Paul Craig Roberts, alerta: “aos países que venham a assinar tais tratados, só restarão duas opções, a revolução ou a morte”. Tu podes ler o artigo de Roberts, “A reescravização dos povos ocidentais”, em http://resistir.info/crise/roberts_09nov15.html.

Bacellar

Pela milionésima vez:
A NSA centrou sua espionagem no Brasil na Petrobrás (ou seja, em seus altos funcionários) isso é um fato. Os EUA possuem um vasto histórico de imperialismo e intervencionismo, contando muitas vezes com agências de inteligência, em suas ações geopolíticas; fato. Antes do meio de 2013 o governo Dilma possuía altos índices de aprovação, fato. No fim de 2012 é assinado o RP do Pré-sal que em muito contrariou os interesses do “Big Oil”, fato. Falamos em reservas que podem chegar a 250Bi de barris, fato. Neste mesmo ano a equipe econômica dá uma porretada na Selic que vai a 7,25%, a menor desde a criação do copom, irritando os maiores rentistas e patrimonialistas do Brasil, mais um fato. Ao mesmo tempo nessa tentativa de quebrar a exótica taxa de juros, tanto real como base, através de BB e CF o governo coloca pressão no spreead do bancos privados; facto! Julho de 2013 tem todos os componentes de uma “revolução colorida” ou ao menos da tentativa de imposição de uma revolução colorida e é o marco da queda de popularidade do governo, factum. Desde 2008 o poder transnacional claudica e procura re-arranjos indispensáveis para sua manutenção…Percebem? O governo Dilma se posicionou contra o rentismo nacional e as oligarquias regionais e contra o capital grosso transnacional que comanda o governo nos EUA. Fizeram o que com o material levantado pela NSA? Engavetaram? A OLJ surge do nada com uma investigação corriqueira de postos de gasolina, mas de repente sabe exatamente quem chamar e com o que pressionar figurões da maior cia energética nacional? A lógica precisa ter algum valor em nossas considerações…Claro que os EUA não são um bloco monolítico uniforme e setores norte americanos progressistas estão contra o Golpe. Mas nem Hilary nem Trump são exatamente progressistas, não?

lulipe

É o mimimi made in USA…..

Roberto

O Império não aceita sua perda gradativa de poder no mundo, e tenta reverter isso.

Rogério Bezerra

Enquanto isso…
Militares brasileiros esperam a situação piorar, ainda mais, para voltarem como “salvadores da pátria”. Uma nova Redentora… Ocorre que sabemos que eles, Militares, apoiaram este golpe de estado. Por tanto, são, sim, co-responsáveis pelo Interino e suas decisões, todas ilegais.
Ditadura Militar, Judiciária ou de qualquer tipo NUNCA MAIS!

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