Kjeld Jakobsen: Golpes de hoje, em defesa do neoliberalismo, combinam mobilização popular com instrumentos legais

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Em artigo na Carta Maior, Róber Iturriet Avila ligou a variação do salário mínimo ao golpismo

Golpes de Estado de ontem e de hoje

por Kjeld Jakobsen, no Teoria e Debate

Em um momento crítico da Guerra Fria entre as décadas de 1950 e 1970, quando muitos países do Terceiro Mundo lutavam por sua independência política e outros que já a possuíam buscavam um novo modelo de desenvolvimento econômico e social, as grandes potências defendiam seus interesses imperialistas e colonialistas por meio da promoção de golpes militares para derrocar governantes progressistas ou de esquerda.

Esses interesses eram principalmente a preservação do seu espaço geopolítico diante da expansão das experiências socialistas no período pós-Segunda Guerra e a manutenção de suas empresas multinacionais.

Esses golpes, via de regra, eram protagonizados pelas Forças Armadas do país em questão sob o pretexto de garantir a “segurança nacional” e combater o comunismo, contando com o apoio civil de sua burguesia e classes médias, bem como de órgãos de imprensa sob seu controle, empresas, igrejas, entre outros aparatos da superestrutura.

O apoio externo, normalmente norte-americano, assegurava os recursos para bancar a propaganda contra o governo a ser derrubado, a mobilização civil e eventualmente a compra de armas e pagamento de mercenários, caso dos golpes que derrubaram o presidente Jacobo Arbenz da Guatemala, em 1954, e Patrice Lumumba no Congo, uma década depois, além de muitos outros.

O padrão golpe de Estado por meio das Forças Armadas locais com apoio de setores da burguesia nacional para implantar ditaduras civis ou militares com envolvimento direto de agências de inteligência como a norte-americana CIA foi o que vigorou até a queda dos regimes de socialismo real no Leste Europeu e na União Soviética no final dos anos 1980.

Na América Latina, poucos países escaparam dessa sina e a violação de direitos humanos foi recorde. Na já mencionada Guatemala houve o assassinato e desaparecimento de aproximadamente 200 mil pessoas entre o golpe de 1954 e a assinatura do acordo de paz entre o governo e a guerrilha de esquerda em 1996.

O golpe militar que derrubou o presidente Sukarno na Indonésia, em 1965, cobrou a vida de cerca de 700 mil pessoas suspeitas de serem comunistas ou de esquerda. Na Argentina estima-se que a ditadura militar dos anos 1970 seja responsável por perto de 20 mil desaparecimentos.

A conjuntura pós-Guerra Fria significou a adoção do modelo de democracia liberal na maioria dos países que haviam optado pelo regime do socialismo real na segunda metade do século 20, bem como a redemocratização de muitos outros países que conviveram com ditaduras civis ou militares, caso do Brasil e de outros países da América Latina.

Os governos civis que assumiram após as ditaduras em geral adotaram o neoliberalismo como política econômica, aprofundando a concentração de renda, o desemprego e a informalidade.

Quando o resultado eleitoral na Venezuela levou Hugo Chávez à Presidência em 1998, inaugurou-se uma série de mudanças políticas na América Latina que questionavam o modelo neoliberal vigente, bem como a geopolítica hegemonizada pelos EUA.

Esses questionamentos e a busca de vários países latino-americanos por modelos de desenvolvimento mais autônomos provocaram a reação do imperialismo e dos setores econômicos e políticos nacionais a ele vinculados.

Essa reação, no entanto, deixou de ser militar, como durante a Guerra Fria, assumindo nova estratégia e doutrina.

Estas consistem, grosso modo, em gerar um questionamento social ao governante em exercício que possa justificar sua destituição por meio de instrumentos previstos na legislação nacional, mesmo que sua aplicação seja distorcida.

Convém lembrar que, embora as legislações de muitos países latino-americanos que passaram por ditaduras militares tenham sido reformadas após o fim desses regimes, certos poderes mantiveram-se inalterados e conservadores, como o Poder Judiciário.

O sistema presidencialista é o dominante nos países latino-americanos e os Parlamentos possuem mecanismos para destituir o presidente na maioria deles (impeachment). Tais características visivelmente vigoram no Brasil e em outros países do continente.

Portanto, essas são as duas instituições com capacidade de aplicar os atuais “golpes legalizados”, como vimos no Paraguai em 2013, quando em função de um conflito de terras na região de Curuguatay morreram vários camponeses e policiais.

Esse ocorrido pôs tanto a esquerda como a direita contra o presidente Fernando Lugo e, em menos de 48 horas, o Parlamento paraguaio, por meio de um “julgamento político”, votou por sua destituição, uma vez que seu apoio parlamentar era praticamente inexistente. Essa adjetivação da decisão visou impedir qualquer tipo de debate jurídico sobre seu mérito, já que o Parlamento é um organismo essencialmente político.

O golpe aplicado contra o presidente Manoel Zelaya de Honduras, em 2008, quando um pelotão militar o retirou de madrugada do palácio presidencial e o despachou para a Costa Rica, foi referendado imediatamente pelo Parlamento e pela corte suprema do país.

Como justificativa, alegaram que Zelaya pretendia ilegalmente mudar a Constituição hondurenha para possibilitar a reeleição presidencial, embora ele mesmo não fosse diretamente beneficiado, pois o referendo que propôs para definir a questão seria realizado somente na eleição que escolheria seu sucessor.

Entretanto, em outros países da região em que os presidentes têm maior poder e maior representatividade, como na Venezuela, Bolívia e Equador, a estratégia golpista teria de ser mais sofisticada, e assim foi introduzido o elemento mobilização social, bem como atos de violência ou sabotagens que pudessem desgastar o governo.

A Venezuela enfrentou essa situação pelo menos três vezes.

Na primeira, houve um golpe civil-militar clássico que, no entanto, destituiu por menos de 24 horas o presidente Hugo Chávez, pois a população e militares leais o reconduziram ao governo. Nas outras, tudo começou com processos de mobilização como a greve geral de 2002, o questionamento da oposição ao resultado eleitoral que sagrou Nicolás Maduro vitorioso em 2013 e as recentes manifestações articuladas pelos setores oposicionistas mais direitistas, como Leopoldo Lopez e Maria Corina Machado.

Na verdade, essas mobilizações são organizadas por setores sociais minoritários, embora contem com apoio externo. A mídia que as apoia lhes dão uma dimensão muito maior do que a real e, além disso, a introdução do fator violência com mortes de civis por meio de franco-atiradores, conforme verificado em vários momentos na Venezuela ou no já mencionado massacre de Curuguatay.

Essas mortes tendem a ser divulgadas pela mídia como de responsabilidade do governo, que estaria reprimindo duramente manifestações legítimas. A intenção é criar um ambiente que favoreça a intervenção de alguma instituição supostamente republicana para restaurar a ordem e a paz social e dar legitimidade popular ao golpe de Estado.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, enfrentou algo semelhante durante seu primeiro mandato por meio de um movimento separatista que opunha várias províncias ao governo central, quase paralisando o país.

O presidente Lula, no Brasil, também enfrentou um processo político desgastante em 2005 que a oposição brasileira só não levou até o fim porque imaginava que a eleição do ano seguinte resolveria a questão a seu favor. E agora estamos assistindo aos desdobramentos das investigações sobre a Petrobras com as quais a oposição pretende questionar o mandato da presidenta Dilma.

Não é apenas na América Latina que as forças conservadoras desprezam a democracia para defender seus interesses. Na Europa, berço da democracia ocidental, há vários casos da utilização de mecanismos burocráticos para defender certos interesses econômicos em detrimento da opinião majoritária da população.

Por exemplo, a imposição das medidas de austeridade na Grécia pela Troika, formada pelo Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI, impedindo que o governo de Georges Papandreau as submetesse a referendo popular, assim como a pressão da mesma Troika em 2010 sobre o Parlamento italiano para substituir o governo Berlusconi por um “gabinete técnico” que levasse as medidas de austeridade adiante na Itália. Desde aquele momento até hoje o país já está no terceiro primeiro-ministro não eleito pelo povo.

Ou seja, num primeiro momento era importante que o capitalismo neoliberal fosse legitimado democraticamente, e, como não havia contraponto devido à queda dos regimes do socialismo real e a crise da social democracia, foi o que aconteceu.

No entanto, como agora há questionamentos sérios a esse modelo, principalmente pelas experiências alternativas na América Latina, a legitimação democrática torna-se menos importante e, nesse sentido, a pressão que os governos progressistas da região ora sofrem tende a aumentar, pois há poucos aliados com os quais poderão contar no resto do mundo. Ou seja, os golpes de Estado de ontem eram para combater o comunismo e atualmente servem para defender o neoliberalismo.

*Kjeld Jakobsen é diretor da Fundação Perseu Abramo

Leia também:

Guilherme Boulos: Ou o governo Dilma reverte o ajuste, ou golpismo terá base popular


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Comentários

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Carlos de Sá

E tem militantes de esquerda que acredita piamente que os inimigos da classe trabalhadora no Brasil é o PT e a CUT! É lógico que existem contradições nas direções destas entidades. No entanto, fica cada vez mais claro pra mim que a política dos esquerdistas (sectários) leva à conciliação com a burguesia nacional para impor a derrota de um projeto que limitadamente tenta livrar as nações latino-americanas do jugo do imperialismo norte-americano principalmente, quando os pseudos representantes dos trabalhadores não vão à uma manifestação de trabalhadores em defesa dos direitos trabalhistas, em defesa da Petrobras e pela constituinte do sistema político e tenta fazer um paralelo do dia 13 com o dia 15 da reação! É assim na Bolívia e na Venezuela, não sendo diferente aqui no Brasil! Vamos acordar gente! A história está cheia de exemplos de traições da classe trabalhadora com roupagens radicais!

Sidnei Brito

O que venho repetindo: essa história de clamar pela volta do regime militar é só jogo de cena. A galera sabe que os militares não estão muito a fim. É só desvio de foco. Os golpes tendem a se dar na linha hondurenho-paraguaia. Não é por acaso que a gente aqui tem todo esse protagonismo de PF, MP, Judiciário e mídia. Esse conglomerado é, hoje, o que os militares foram em 1964.

    Mário SF Alves

    Qualquer golpe de Estado no Brasil será um golpe pró-imperialista.

Mário SF Alves

Aviso aos navegantes!

Nem tudo que reluz é ouro. e isto tanto serve a um lado quanto ao outro, seja do ponto de vista dos objetivos e ideais que defendemos, seja do lado oposto.
Assim, considerando que o Viomundo desde sua origem vem se consolidando como um espaço plural e democrático, aproveito a ocasião para encaminhar à apreciação de todos e todas parte de um texto, cujo propósito é propiciar um breve momento de deleite para as boas almas que não se apequenaram ante o exercício de tamanha prepotência e força bruta. E que tal oportunidade nos sirva de estímulo ao imprescindível exercício de capacidade crítica contra toda informação vendida como séria, mas que na realidade apenas visa nos desviar a atenção ou nos distrair:

“ATERRORIZADO PORTA AVIONES DE EEUU HUYE DE SUBMARINOS RUSOS HACIA PROTECCIÓN DEL REINO UNIDO”

Verdade ou mentira?
O que vem a seguir talvez nos ajude a descobrir. Caso contrário, penso a simples menção à busca de paz mundial, tantas vezes expressa no texto já nos será útil :

“Su Excelentísimo Presidente Obama,

Le ofrecemos un sendero hacia una paz mundial real a través del desarrollo de esta nueva tecnología para toda la humanidad.

Lo invito a usted y a su gabinete a una presentación directa de nuestra tecnología, para darle en un suelo neutral, donde el Presidente de Irán pueda estar presente también y donde nadie traicione a nadie, de forma que podamos todos entender el cambio fundamental que está a punto de brindársele a la humanidad. De ahi, podamos hablar sobre una paz mundial genuina.

Como lo dije en mi entrevista del domingo en Los Ángeles, convirtamos las fábricas militares de los Estados Unidos en fábricas para suministrar recursos para una organización espacial Estadounidense, de forma que las herramientas de guerra se vuelvan artesanas de una paz universal.

Los portaaviones Estadounidenses se convertirán en nada menos que tinas de baño flotantes si nuestra Tecnología Magrav se usa de forma efectiva y los corredores llenos de F-16 y 18’s y demás no serán más que corredores-museo de pájaros de hierro, pues esos aviones no podrán volar si sus sistemas electrónicos son alcanzados, solo una vez, por la Tecnología Espacial Magrav. Esos aviones y naves de combate tendrán que ser re-cableados desde la A a la Z antes de que puedan volver a operar.

Sr. Presidente Obama, lo invitamos a usted a comprender este cambio y que nos permita mostrarle de lo que se trata esta Tecnología. Luego lo invitamos a la mesa de la paz mundial.”

Continua… http://sorchafaal-en-espanol.blogspot.com.br/2015/03/aterrorizado-portaaviones-de-eeuu-huye.html

Mário SF Alves

Definição de NEOLIBERALISMO: é o processo pelo qual grandes corporações imperialistas – militares, biotecnológicas, petrolíferas, midiáticas, bancos e outras – e demais congêneres a elas associadas se sobrepõem à instância política de um país e instituem o chamado Estado Mínimo; fato que se materializa através de mudança constitucional e subsequente rapinagem/privatização “no limite da iiresponsabilidade” das empresas estatais estratégicas construídas mediante o suor e grande sacrifício da imensa maioria da população. Tal processo, uma vez instituído, imediatamente põe em prática a ortodoxia econômica e inicia a pregação midiática de que não resta outra alternativa ao país senão o arrocho salarial e demais medidas de contenção de despesas, tudo de modo a cumprir as famosas metas internacionais de superavit primário. Nesse contexto, uma vez consolidado o Estado Mínimo, todas as atividades fundamentais passam a ser desempenhas por empresas terceirizadas pagas pelo Estado, cujas novas únicas atribuições passam a ser a arrecadação de tributos e a “regulamentação” das privatizadas e demais empresas consideradas de utilidade pública. Uma vez instituído este Estado, inicia-se a fase do salve-se quem puder. Nesse ínterim as classes médias tradicionais tendem ao empobrecimento rápido e a miséria aumenta avassaladoramente. Em tal circunstância, apenas uma fração mínima da população (coisa da ordem de 1%) escapa a esse vendaval de pirataria e desse inferno neoliberal e enriquece exponencialmente. Os demais habitantes são transformados em meros T.P.M.
Em tempo:
T.P.M. = Tubos de Processar M/aquilo que diariamente passa pelo intestino grosso.

Almir

O Mal desse país nunca foi a corrupção de alguns. O Mal desse país sempre foi a hipocrisia de muitos. Nas manifestações da Av. Paulista e Av. Atlântica no Rio não se protestava “contra a corrupção” coisa nenhuma. Protestava-se contra o salário mínimo “insuportável”.

    Sidnei Brito

    E da sonegação, que custa ao país cerca de cinco vezes mais que a corrupção, ninguém falou nada.

Bacellar

Não apenas o sistema era dependente politicamente da dicotomia bloco soviético/bloco capitalista como a partir da desregulação geral dos mercados da década de 90 economicamente iniciou-se um processo entrópico de auto-destruição.

Valores como qualidade de produção ou supressão de demandas paulatinamente foram substituídos pela fria lógica autômata do capital indicada por Marx: reproduzir-se exponencialmente. Não há freio para o hiper-capitalismo globalizado. A concorrência entre corporações não permite que nenhuma cúpula administrativa possa pensar o sistema para além da expansão. Não importa se expandir via produção ou via operações financeiras, os mercados futuros lotearam e venderam o futuro, e a conta não fecha (e não fecha por muito).

Bloquear a concorrência advinda da periferia é vital para o centro. Na periferia se encontram as maiores possibilidades de expansão. Por se tratar de um sistema plutocrático onde os governos dos países cêntricos são capturados pelas corporações, sobretudo energéticas, bélicas e financeiras, todo o poderoso aparato estatal das potências é mobilizado na captura dos sistemas políticos dos países periféricos. Enorme parcela das commodities mundiais vem das periferias, controlar tais preços é chave.

Se o cerco está apertando por todo o mundo é porque existe consciência de que mais cedo ou mais tarde o grande calote virá, em algum momento os papéis sem lastro voluptuosamente consumidos pelo sistema financeiro internacional precisarão ser revistos. Quem vai pagar essa conta? O desfecho da crise do subprime nos da uma boa pista…

Como fazer alguém pagar por uma dívida que não contraiu? Ou enganando o “devedor” ou na truculência, o velho big stick…

Jair de Souza

Na há forma capaz de resistir a esses novos golpes das forças conservadoras proimperialistas se não houver participação popular ativa em defesa dos projetos progressistas.

Neste momento, considero de fundamental importância refletirmos sobre as palavras emitidas por Álvaro García Linera (Vice-Presidente da Bolívia) no recém-concluído Foro Internacional pela Emancipação e Igualdade, realizado em Buenos Aires.

Ali, García Linera deixa claro que sem a mobilização popular ativa, os governos progressistas estão fadados ao fracasso. Com toda a autoridade que sua posição lhe confere, ele nos recorda que, ao mesmo tempo que se apoderam do aparelho do Estado para dar-lhe um redirecionamento mais favorável às maiorias populares, os governantes progressistas não podem ficar limitados ao mesmo.

Simultaneamente com esse apoderamento das estruturas do Estados, é preciso gerar e fortalecer as instâncias de atuação populares fora do aparelho do Estado. Só a combinação eficaz dessas atuações é que poderá derrotar as investidas das forças conservadoras e proimperialistas em seu afã por reconquistar os espaços perdidos.

Recomendo muito que vejam e prestem muita atenção ao pronunciamento deste insigne revolucionário latinoamericano. O link para ter acesso ao vídeo é:
https://www.youtube.com/watch?v=vHPUX0cmEmI

    Mário SF Alves

    Prezado Jair de Souza,
    Mais uma vez sinto-me grato por poder conviver com o que há de melhor em termos de consciência cívica aqui no Viomundo.

    Sim, é imprescindível o Álvaro Linera. Quanta clareza do processo histórico! Quanta responsabilidade nos ombros de um homem!

    A propósito, tentei pensar um pouco sobre a forma como você se referiu a ele “…insigne revolucionário latinoamericano…”.

    Três vocábulos: o primeiro, ínsigne, lança-me ao dicionário e o segundo e o terceiro, o revolucionário latinoamericano, deu-me voltas à cabeça e me transportou ao cubano José Martí, um dos maiores exemplos de capacidade de resistência anti-imperialista na América Latina e que em razão disso aos dezesseis anos de idade já estava condenado a cumprir pena de reclusão em regime de trabalho forçado.

    Seja como for, revolucionário ou progressista, considero útil ressaltar algumas das afirmações feitas por ele logo no início da palestra (com ligeiras modificações): “Não se trata de imitar modelos. Nenhuma experiência histórica é parecida com a outra. Não há nenhuma rota, não há nenhuma fórmula a imitar. O que há e pode haver e deve haver é experiência compartilhada.”

    Ou seja, nalgum sentido e para efeito prático de análise, não há como negar: Brasil é Brasil, Venezuela é Venezuela. Os processos políticos são diferentes, a geopolítica é diferente, as condicionantes são diferentes. Dizer de bolivarianismo ou chavismo no Brasil interessa a quem? Quem andou e quem anda fazendo este tipo de discurso?

    Voltando ao homem cujas ideias deram vida ao vídeo e que decerto contribuíram e podem contribuir enormemente para a educação política de todos:

    1- De fato, a esperança, a praça, a rua, a organização política (e não a manipulação golpista) do poder civil é a única garantia que temos de que o poder socialmente excludente, do poder de fato, eu diria, será um dia superado. Poder este que conflita, contrapõe, inibe e confronta o poder de direito, e que se mantém através da gritante parcialidade jurídica em decorrência de sua natureza mais ou menos autoritária.

    2- Aos 21’13”: “a chave [ou o segredo] da revolução consiste em fazer com que essa esperança se estenda a maior quantidade possível de pessoas.

    Lembrou-me um pequeno e despretensioso “poema” que um dia rabisquei:

    “Palavra, palavra
    Palavra-forma
    Palavra-força
    Palavra-forma-força
    E me dá esperança”

    3- Apelo à reflexão: “todos nós, revolucionários e progressistas, devemos ser capazes de nos autoanalisar e de nos autoavaliar permanentemente”.

    4- E aqui um aviso à direita europeia e ao governo norte-americano: vocês são e têm sido um perigo para a soberania latinoamericana; um perigo para os estados latinoamericanos; um perigo para a vida em latinoamérica. Hoje a Humanidade está em perigo, hoje a Humanidade está em risco… Agora querem combater o ISIS, mas acaso o EI não é uma criação dos EE.UU e seus aliados governantes europeus? Não foram vocês que destruíram o Iraque, a Síria e a Líbia? E o ISIS não é resultado disso?

    Valeu Jair. Abraço a todos.

    Em tempo: Por mais fascinante que possa parecer a ideia da mudança revolucionária de todo e qualquer entrave à democracia e ao progresso social/desenvolvimento socioeconômico, entendo que não seja hora de revolucionarismos. Temos um desafio enorme pela frente; temos de potencializar a resistência anti-imperialista. É esse o foco. E é isso o que de fato importa.

brasiliano dias dos santos

sensacional este artigo, uma aula sobre o histórico de processos de golpe sobre a América latina, e uma pincelada em alguns casos na europa… pena que materiais como esse ficam restrito a uma pequena parcela da população que busca infirmação fora do eixo manipulatóriao da grande midia brasileira.

Pedrão

Cheque Mate.

ZePovinho

Artigo para o meu amigo Franco Atirador:

http://www.globalresearch.ca/cia-na-america-latina-dos-golpes-a-tortura-e-assassinatos-preventivos/5431510

CIA na América Latina: dos golpes a tortura e assassinatos preventivos
By Nil Nikandrov
Global Research, February 16, 2015

Observações feitas pelo jornalista venezuelano José Vicente Rangel são geralmente vistas como bem informadas e acuradas. Para o programa de televisão Los Conficenciales (Fontes de Confiança) ele relatou recentemente a respeito do trabalho do pessoal suplementar para as estações da CIA na América Latina. De acordo com Rangel, pelo menos 500 reforçamentos chegaram as embaixadas americana, e outros U.S. tipos de quartél-general na América Latina, para ajudar operativos que já lá estavam, a aumentar suas atividades subversivas e de espionagem.

Esses agentes estão a focalizar países como a Venezuela, Bolivia, Argentina, , Brasil, Ecuador, e Cuba. Entretanto, isso não significa que outros países estariam resguardados do policiamento imperial. De qualquer modo, por muito loiais que esses governos sejam em seguir o rastro das diretivas políticas americanas, as agências de inteligência dos Estados Unidos estão sistemáticamente fortalecendo o seu pessoal secreto no México, na Guatemala, Colômbia, República Dominicana, Perú, Chile, e outros países. Na América Latina os serviços presidenciais e governamentais estão sendo deliberadamente infiltrados, assim também como a liderança das forças armadas, dos serviços secretos nacionais, e das agências de contra-espionagem. Os americanos estão forjando alianças para criar uma tropa de vanguarda, e cúmplices, para ajudá-los a opor-se a quaisquer potenciais inimigos deles no continente, especialmente então nos «regimes populares»

As posições operacionais dos serviços de inteligência U.S. na América Latina abriram muitos ramos novos e são agora capazes de levar a frente operações de destabilização. Em recente anos, tais tentativas foram feitas na Venezuela, Bolívia, Equador, e Argentina, onde os governos desses países estiveram resistindo aos planos americanos de total controle do continente abaixo do disfarce de uma criação de uma zona de comércio livre para todo o continente. Os esforços da CIA para forjar uma «revolução colorida» [lê-se golpe de estado] na Venezuela em 2002-2003 deu em nada : o Presidente Hugo Chavez não só sobreviveu mas conseguiu também ter sucesso em unir a América Latina. O seu sucessor, Nicolás Maduro, continua loial aos princípios da Revolução Bolivariana, enquanto rigorosamente resiste as tentativas dos Estados Unidos para underminar as suas realizações, isso sendo feito então através de conspirações econômicas e financeiras além de encorajar provocações vindas da oposição radical na Venezuela.

Uma estrategia similar está sendo usada pela CIA contra o governo de Cristina Fernandez de Kirchner na Argentina. Na Bolívia e no Equador estações da CIA estiveram tentando destabilizar o legitimamente eleito governo com a ajuda de forças policiais, dos quais muitos líderes tradicionalmente estiveram abaixo do domínio de instrutores americanos. O Presidente Rafael Correa do Equador por pouco escapou a morte quando rebeldes circundaram o edifício onde os seus guarda-costas o estavam protegendo do quando franco-atiradores treinados pela CIA estiveram por muitas horas atirando nas janelas do seu refúgio. Um bando de militantes da Europa, usados pela CIA para atos terroristas foram incumbidos com a tarefa de assassinar o Presidente Evo Morales da Bolívia. De acordo com investigadores, a estação da CIA na Irlanda e na Hungria montou os grupos.

A CIA na América Latina está claramente se preparando para exacerbar a situação. A vigilância eletrônica da NSA, agência nacional de segurança dos americanos, apesar das revelações de Edward Snowden, Julian Assange e outros, não só continuam como aumentam, e de muito, a sua intensidade. Os dados obtidos pela NSA está sendo distribuídos para específicos serviços da comunidade de inteligência americana, dependendo das suas áreas de especialização. A CIA é o maior consumidor desse material, o qual é usado para o planejamento de «revoluções coloridas» ou seja, golpes de estado, assim também como para chantagem, recrutamento, provocações, campanhas de propaganda subversiva, e coisas do gênero. Note-se que cada administração americana –de Bush a Obama – focusou na colheita de dados de espionagem, uma tarefa que tinha sido responsabilidade dos chamados «clean» empregados de várias agências, especialmente então do Departamento do Estado dos Estados Unidos. Isso foi motivado pela necessidade de aumentar a luta contra o terrorismo.

Num memorando assinado na época de Condoleezza Rice, mas aprovado pelos seus sucessores, U.S. diplomatas ficavam encarregados de colecionar dados a respeito de instalações militares, sistemas de comunicação usados nos países onde se encontravam, como os líderes eram protegidos, onde eles moravam e estacionavam os seus carros, quais os seus endereços de e-mails, números de telefone, etc. Um componente dessa tarefa é particularmente inquietante – os diplomatas ficaram também incumbidos de colher informação do estado de saúde de seus “alvos”, incluindo-se aqui dados a respeito da estabilidade mental de cada um. Menções também são feitas a respeito da necessidade de obter material visual, impressão digital e «material biológico». Esse último, de acordo com peritos do assunto, seriam úteis no planejamento de assassinatos com uso de tecnologia avançada. Brazil e Venezuela, assim como China e Rússia estão incluidos na lista de alta prioridade do Departamento de Estado americano para relatórios de inteligência de diplomatas na América Latina. Delegados e representantes dos países aqui mencionados devem ser seguidos continuamente, e isso não só na América Latina mas, por todo o mundo.

Entretanto a maior caça é feita contra os cidadãos da Rússia. Para aumentar sua efetividade os serviços de inteligência americanos usam um amplo arsenal de provocações e duplicidade. O piloto Konstantin Yaroshenko, que foi cusado do tráfico de drogas, foi emaranhado num desses tipos de armadilha. De acordo com agências de notícias, uma empregada do pessoal da embaixada U.S. na Colômbia deu um secreto instrumento de gravação para um cidadão local que era um agente da DEA operando abaixo do nome de «Santiago». Depois de vários encontros entre o agente e o piloto, que resultou num vídeo e numa áudio gravação de suas conversas, os mesmos foram redigidos e apresentados a Cortes dos Estados Unidos, ainda que uma significante parte do seu conteúdo tivesse sido apagada, o que deu então um impacto direto no veredito. Cidadãos do Brasil, Argentina, Venezuela, Nicaragua e muitos outros países foram vitimados por esse tipo de operações, sendo que as implicações são sempre as mesmas : A América Latina não conseguiria evadir-se de cooperação com a CIA!

De qualquer maneira, a agência tem um dossier na América Latina que levanta espanto até em governos que são loiais a Washington. Uma augorenta indicação das tácticas estilo-Gestapo da CIA foi a criação da base militar U.S. de Guantânamo, em Cuba, com um campo para prisioneiros suspeitos de atividades terroristas, ou de instigação dos Talibãs. Em dezembro de 2005, Condoleezza Rice declarou-se como defendendo a idéia desse campo, sublinhando o facto de que dessa maneira a CIA «tinha impedido ataques terroristas e salvado vidas inocentes na Europa, assim como nos Estados Unidos, e outros países. » A respeito da revelação das prisões secretas Rice arrogantemente disse que «era para todos esses governos e seus cidadãos se decidirem contra ou a favor a trabalhar com os Estados Unidos para impedir ataques terroristas contra seu próprio país.

Em dezembro de 2014, o U.S. Comité de Seleção do Senado para inteligência publicou um relatório de 500 páginas quanto ao uso de tortura pela CIA para extrair confissões de indivíduos suspeitos de terrorismo. A versão completa tinha quase que 7.000 páginas e incluia muitos detalhes das «melhoradas técnicas de interrogação» usadas pela CIA. A sua desvendação foi considerada como muito perigosa por que essa poderia deslanchar retaliação. O documento original foi redigido e retiraram-se os nomes das prisões secretas na Europa e na Ásia, assim como os nomes dos chefes da CIA que deram seu consentimento a tortura de prisioneiros, assim como o nome do pessoal que as administraram. Eles tiveram especialmente muito cuidado em apagar as informações a respeito das «tácticas avançadas de interrogação» usadas em Guantânamo.

O Secretário do Estado John Kerry também tentou tirar outros fatos do documento dizendo que a publicação iria por em perigo vidas de diplomatas americanos no exterior. Só a intervenção de organizações dos direitos humanos conseguiu impedir isso. Agora a Human Rights Watch, a American Civil Liberteis Union, e outras organizações, estão tentando obter os nomes dos que criaram essas prisões e introduziram o uso de tortura. Entretanto, esses seus esforços estão sendo impedidos pela direção John Brennan da CIA. A mesma desculpa é oferecida – a publicidade poria em perigo a vida dos empregados.

É importante para John Brennan poder manter seus empregados experientes depois das grandes reformas da CIA, projetadas por ele. Informações surgiram na mídia a respeito da natureza da planejada reorganização: em vez de ter departamentos especializados nas agências, e um serviço separado para análises do material de inteligência, centros de fusão serão criados. Esses centros de fusão deveriam ser responsáveis por regiões específicas e por ameaças sistemáticas a segurança dos Estados Unidos. Na perspectiva de John Brennan tem-se que principalmente dado ao facto de que a CIA durante muito tempo esteve concentrada nas guerras no Afeganistão e Iraque, assim também como nas operações do Norte da África e outras regiões remotas, incluindo-se aqui a Ucrânia, essas ameaças estariam agora vindo da América Latina.

Alianças estão sendo solidificadas no continente, e a formação e consolidação de organizações regionais como CELAC, UNASUR, MERCOSUR, ALBA e outras, enfraqueceram a posição dos Estados Unidos no continente. Washington vê as entradas sendo feitas pela China e Rússia [massivas ofertas de financiamentos, empréstimos e desenvolvimento da infraestrutura sem exigências de cortes no desenvolvimento social] e isso não só em comércio e economia como também quanto a tecnologia e exploração espacial. A construção do Canal da Nicaragua com a assistência da China, Rússia e Brasil é um símbolo do desgaste geopolítico dos Estados Unidos.

Tendo-se em conta a natural arrogância dos mesmos, fracassos dessa magnitude são difíceis de serem engolidos, o que poderia explicar maquinações de revange através de simultaneamente destabilizar os governos populares e incitar guerra civíl na Venezuela. As novas tropas chegando nas estações da CIA nas embaixadas americanas, e outros lugares, já estão mergulhando nos seus novos afazeres.

Nil Nikandrov

Referências e Notas:

Artigo em inglés: The CIA in Latin America: From Coups to Torture and Preemptive Killings, strategic-culture.org, 22 de janeiro de 2015

Artigo em russo: ЦРУ в Латинской Америке: от переворотов до пыток и превентивных убийств – http://www.fondsk.ru

Traduzido da versão em inglês baseada no original russo – http://www.strategic-culture.org : Anna Malm, artigospoliticos.wordpress.com para Mondialisation.ca

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