Julian Rodrigues: Contradições no campo golpista aumentam espaço para esquerda reagir

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Governo Temer em crise: contradições no campo golpista aumentam espaço para resistência

Julian Rodrigues, especial para o Viomundo

“Nos filmes policiais é fácil você arrumar aventureiro para assaltar um banco, mas a coisa começa a esquentar quando você vai dividir o saque. É exatamente o que está acontecendo efetivamente. Você assalta a soberania popular, e na hora de dividir o saque acontece o conflito” Jessé de Souza, ex-presidente IPEA

No finalzinho do ano passado, escrevi aqui no Viomundo que havia a possibilidade de as classes dominantes se livrarem de Temer em 2017, avançando no processo golpista com eleições indiretas.

O clima mudou no início do ano. A Globo aliviou para o golpista. FHC mandou seus sinais de apoio. O PSDB ganhou mais espaço no governo, Moro impediu que Cunha “constrangesse” o presidente enquanto o Senado aprovou, sem piscar, a indicação do troglodita tucano Alexandre Moraes para o STF.

A articulação golpista envolveu muitos atores:

– a burguesia nacional, descontente com a melhoria das condições dos trabalhadores e com as políticas sociais;

– a mídia falida, Globo à frente, que vive de subsídios governamentais e juros altos

– setores do governo dos EUA e grandes empresas de petróleo, de olho no pré-sal, preocupadas com a política externa dos governos do PT;

– a classe média tradicional, que não melhorou de vida nos nossos governos e foi manipulada pela mídia por meio do discurso anti-corrupção.

Acontece que a desgraceira é muito grande. A política ultra-recessiva tocada por Meireles resultou em recorde de desemprego de 13%.

As empresas não investem, não há crédito, não há perspectiva de melhora. São milhões e milhões de brasileiros regredindo, voltando à situação de pobreza e miséria da qual haviam sido retirados na era Lula-Dilma. O país está parado , mal-humorado e sem esperança.

O governo golpista adotou uma estratégia de choque para implementar seu programa autoritário e neoliberal. Em poucos meses tem executado com sucesso uma agenda radical de mudanças regressivas.

São tantos e tão rápidos os ataques que ficamos perplexos e sem condições de organizar uma reação efetiva. Desmonte da Petrobras, congelamento dos gastos sociais, reforma do ensino médio, privatização das terras, das florestas, das águas, retirada dos direitos trabalhistas.

Até aqui o usurpador tem obtido sucesso e garantido sua permanência na presidência, entregando o pacote de maldades.

Só que a aliança golpista é ampla e heterogênea. Os interesses e objetivos da Globo, dos tucanos, da maioria picareta do Congresso, da Fiesp, dos banqueiros (e do Ministério Público, do STF, da Polícia Federal e da turminha da Lava-Jato) não necessariamente se sincronizam e convergem totalmente.

Há uma disputa em curso. Os coxinhas moralistas de Curitiba querem não só destruir mas também o PMDB e o centrão fisiológico. (São tucanos de coração). Sonham em ser um pilar poderoso do bloco que dirige o país no pós-golpe.

O STF idem. Sócio do golpe, os ministros do Supremo descartaram qualquer disfarce. Alinharam-se a Temer e buscam mais influência e poder. Disputam com o Congresso Nacional a condição de definidores dos destinos do país. Colocam-se como fiadores da presidência e de todo sistema político.

A vitória de Trump mudou a política dos EUA para a América Latina e, provavelmente enfraqueceu as articulações dos golpistas com os setores norte-americanos que ajudaram a planejar e executar o golpe. Serra, patético chanceler de Temer, apoiou abertamente os democratas e hostilizou Trump. Com certeza foi um fato que contribuiu para sua saída do governo.

E a delação da Odebrecht? Janot, o Procurador-Geral faz tudo para perseguir o PT, proteger o PSDB e fustigar o PMDB. Por mais que tenham decretado “sigilo”, a delação é uma bomba grande demais para ser abafada. Como vão sentar em cima disso tudo? O STF vai agir em bloco para proteger os peemedebistas?

Por mais que tentem segurar, as coisas vão vazando. Uma dinâmica vai se estabelecendo. Os caras vão querer se safar. A doutrina da Lava-Jato é assegurar o paraíso para os delatores e o inferno para os restantes. Cunha quer sair da cadeia e chantageia publicamente Temer. O amigo do peito do presidente começa a abrir a boca e se assumiu como “mula” de Padilha, principal ministro do governo.

Contradições

A coalizão golpista não é unitária nem homogênea.

Entre os tucanos há disputa aberta para definição do candidato a presidente. Aécio, o “Mineirinho”, desmoralizado por múltiplas menções na Lava-Jato ou o “Santo”, o mais blindado, mas também o menos popular fora dos limites do Tucanistão?

A burguesia nacional está presa aos ganhos fáceis dos juros altos, a orgia dos títulos públicos. Mas essa recessão profunda e continuada interessa ao conjunto dos empresários? A indústria brasileira segue minguando.

E temos os coxinhas do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário. Essa turma baba contra o PT, mas também odeia o PMDB e “a classe política” (exceto tucanos, claro). Querem ainda mais status, mais privilégios, mais salário. São uma corporação constituída por um extrato de classe média alta, proto-fascista que se incrustou no Estado.

Gostaram da visibilidade e da influência que ganharam. São adestrados ideologicamente, formados alguns nos EUA. Um bando de bobalhões entreguistas e moralistas.

Viabilizaram o golpe e agora querem continuar na cruzada “anti-corrupção” (além de tudo, uma parte deles é messiânica e religiosa como o tresloucado Deltan).

Enquanto isso, as pesquisas mostram Lula com 30%. A ficha do povo começa a cair. Tiraram Dilma para saquear o país. Uma mulher honesta foi afastada para que uma quadrilha assumir o governo e tirar direitos da classe trabalhadora.

A proposta de reforma da previdência é tão perversa e direta que facilita muito o diálogo e o convencimento das massas trabalhadoras. Movimentos sociais ganham fôlego. Muita gente que estava insatisfeita com Dilma começa a entender o que realmente aconteceu.

Eleições 2018?

Parte da militância de esquerda atua como se o Brasil estivesse apenas em um parcial “Estado de exceção”. Acham, no fundo, que em 2018 teremos eleição normalmente. Que Lula poderá disputar e ganhar.

O próprio Lula sabe que não é assim. As elites não deram um golpe para entregar o governo ao PT dois anos depois.

Por outro lado, tem um negocinho chamado luta de classes. Uma coisa é o que a direita planeja, outra coisa é o que vão conseguir fazer. Sem fechar o regime é possível implantar o programa completo dos golpistas?

Existem condições internacionais que permitam uma guinada autoritária?

As Forças Armadas ou as Polícias Militares, de conjunto, se integrariam a um governo ditatorial?

Há unidade nas elites para bancar um regime abertamente repressivo?

Os setores das classes médias que apoiaram a derrubada de Dilma concordariam em sustentar um regime fechado e neoliberal?

Talvez tenha sido mais fácil para eles dar o golpe do que organizar um projeto de médio prazo para governar o país.

A sociedade brasileira é mais complexa e diversa do que os caras imaginam. Os setores progressistas têm força e enraizamento. Lula segue sendo nossa maior liderança popular. O extremismo bolsonarista não tem potencial para constituir uma maioria e governar. Não passarão de 15% dos votos.

Temos uma brecha grande para reagir, sair da defensiva. Vamos para as ruas contra a reforma da previdência, por Diretas já. E Lula Presidente!.

Julian Rodrigues é jornalista, ativista LGBT e de direitos humanos, militante do PT-SP.

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FrancoAtirador

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Quando os Pobres Tiverem Medo da Polícia.
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