José Luís Fiori: O homem que enxergou o ABC como futura ameaça a Washington

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Colunistas| 05/12/2007 | Copyleft

DEBATE ABERTO

Nicholas Spykman e a América Latina

Para o principal geoestrategista norte-americano do século XX, qualquer ameaça à hegemonia dos EUA na América Latina deverá vir do sul, em particular da Argentina, Brasil e Chile. Uma ameaça à hegemonia nesta região terá que ser respondida através da guerra, escreveu Spykman.

José Luís Fiori, na Carta Maior, sugerido pelo ZePovinho

O principal “geoestrategista” norte-americano do século XX, nasceu em Amsterdam, em 1893, e morreu nos Estados Unidos, em 1943.

Era de origem holandesa, mas fez seus estudos superiores na Universidade da Califórnia, e foi professor da Universidade de Yale, onde dirigiu o seu Instituto de Estudos Internacionais, entre 1935 e 1940.

Morreu ainda jovem, com 49 anos, e deixou apenas dois livros sobre a política externa norte-americana: o primeiro, America’s Strategy in World Politics, publicado em 1942, e o segundo, The Geography of the Peace, publicado um ano depois da sua morte, em 1944.

Dois livros que se transformaram na pedra angular do pensamento estratégico norte-americano de toda a segunda metade do século XX, e do início do século XXI. 

Nicholas Spykman não foi um cientista, foi um “geopolítico” e a geopolítica não é uma ciência, é apenas uma disciplina que estuda a relação entre o espaço e a expansão do poder, antecipando e racionalizando as decisões estratégicas dos países que exercem poder fora de suas fronteiras nacionais.

É por isto, aliás, que só existe produção geopolítica relevante, nas chamadas “grandes potências”, e cada uma delas tem sua própria “escola geopolítica”, com suas preocupações, objetivos e racionalizações específicas.

Como no caso clássico da “escola geopolítica alemã”, de Friederich Ratzel e Karl Haushofer, com a sua teoria do “espaço vital” e do “pan-germanismo”, que serviu de ponto de partida para explicar a “necessidade geográfica” de expansão alemã, na direção da Europa Central, e da Rússia/União Soviética.

Ou também, como no caso da “escola geopolítica inglesa” de Halford Mackinder, com sua famosa tese de que “quem controla o “coração do mundo”( situado mais ou menos entre Berlim e Moscou), controla também a “ilha mundial” (a Eurásia), e quem controla a “ilha mundial” controla o mundo”.

Teoria que serviu de base para justificar a política externa britânica durante todo o século XX, e seu permanente veto e bloqueio de qualquer aliança entre a Alemanha e a Rússia/União Soviética.

Dentro desta tradição, não há dúvida que Nicholas Spykman foi o pai da “escola geopolítica norte-americana”. Ele partiu das idéias de Halford Mackinder, mas modificou sua tese central: para Spykman, quem tem o poder mundial não é quem controla diretamente o “coração do mundo”, é quem é capaz de cercá-lo, como os Estados Unidos fizeram durante toda a Guerra Fria, e seguem fazendo até os nossos dias.

Spykman escreveu seus dois livros antes da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, e por isto chama atenção a sua capacidade genial de prever o que aconteceria depois da guerra, tanto quanto a semelhança entre suas propostas estratégicas e a política externa que os Estados Unidos adotaram efetivamente, durante a segunda metade do século XX, na Europa, Ásia e América.

Em 1942, Nicholas Spykman defendeu a necessidade de uma aliança estratégica e de uma hegemonia conjunta, anglo-americana, para “gerir o mundo” depois do fim da Guerra, como de fato ocorreu, em São Francisco, em Bretton Woods, e na formulação da Doutrina Churchill-Truman da “cortina de ferro”.

Além disto, Spykman defendeu a necessidade de que os Estados Unidos reconstruíssem e protegessem a Alemanha, depois da guerra, para facilitar a “contenção” da União Soviética, como aconteceu durante toda a Guerra Fria. E defendeu também a necessidade de reconstruir e proteger o Japão, para enfrentar a ameaça futura da China, que era na época o principal aliado asiático dos Estados Unidos.

Por fim, Spykman se opôs ao projeto da unificação européia, e defendeu a manutenção do equilíbrio de poder europeu, tutelado pelos Estados Unidos, como vem acontecendo cada vez mais, depois da queda do Muro de Berlim.

E com relação à América, o que foi que previu e propôs Nicholas Spykman? Sobre este ponto, chama a atenção o grande espaço que ele dedica na sua obra à discussão da América Latina, e em particular, à “luta pela América do Sul”. Ele parte de uma separação radical, entre a América dos anglo-saxões e a América dos latinos.

Nas suas palavras “as terras situadas ao sul do Rio Grande constituem um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos. E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina do continente tenham que ser chamadas igualmente de América, evocando uma similitude entre as duas que de fato não existe”.

Em seguida, ele propõe dividir o “mundo latino” em duas regiões, do ponto de vista da estratégia americana, no sub-continente: uma primeira, “mediterrânea”, que incluiria o México, a América Central e o Caribe, alem da Colômbia e da Venezuela; e uma segunda que incluiria toda a América do Sul, abaixo da Colômbia e da Venezuela.

Feita esta separação geopolítica, Spykman define a “América Mediterrânea como uma zona em que a supremacia dos Estados Unidos não pode ser questionada. Para todos os efeitos trata-se um mar fechado cujas chaves pertencem aos Estados Unidos.. o que significa que o México, Colômbia e Venezuela (por serem incapazes de se transformar em grandes potências ), ficarão sempre numa posição de absoluta dependência dos Estados Unidos”.

Donde, qualquer ameaça à hegemonia americana na América Latina deverá vir do sul, em particular da Argentina, Brasil e Chile, a “região do ABC”. Nas palavras do próprio Spykman: “para nossos vizinhos ao sul do Rio Grande, os norte-americanos seremos sempre o “Colosso do Norte”, o que significa um perigo, no mundo do poder político. Por isto, os países situados fora da nossa zona imediata de supremacia, ou seja, os grandes estados da América do Sul (Argentina, Brasil e Chile) podem tentar contrabalançar nosso poder através de uma ação comum ou através do uso de influências de fora do hemisfério”.

E neste caso, conclui: “uma ameaça à hegemonia americana nesta região do hemisfério (a região do ABC) terá que ser respondida através da guerra”.

O mais interessante é que se estas análises, previsões e advertências não tivessem feitas por Nicholas Spykman, pareceriam bravata de algum destes populistas latino-americanos, que inventam inimigos externos e que se multiplicam como cogumelos, segundo a idiotia conservadora.

*José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

PS do Viomundo: A cacofonia dos que agora pretendem justificar, na mídia brasileira, o golpe fast food que aconteceu no Paraguai, se divide entre os convictos, os bobo-alegres que falam de orelhada e os porta-vozes da SPI-Embajada. Notem que os repórteres vão a Assunção mas ficam reproduzindo o oficialismo, as declarações de autoridades, sejam pró ou contra o Lugo. Os deserdados paraguaios, do campo, não são ouvidos e não podem mandar delegações a Brasília para fazer lobby.


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Comentários

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E. S. Fernandes

Permitam-me tratrar questão pontual.

É muito séria a situação no Paraguai.

A extrema direita paraguaia concentra-se na ANR ou popularmente conhecida como Partido Colorado. Tal partido é o pior câncer do Paraguai: é o partido da mais loga ditadura da América Latina, a stronista, cerca de 5 décadas; nas décadas anteriores, as de 20, 30 e 40, os quadros deste partido eram todos filofascistas (observem o ideólogo colorado Juan N. Gonzalez que confirmarão o que digo); hoje são neoliberais convictos; amam o império do norte; odeiam Cuba e Venezuela; não permitiam que este país adentrasse no mercosul; amam um latifúndio e uma grilagem de terra feita na era stronista; enfim, são a oligarquia política reinante. Estão loucos para sair do Mercosul e firmar um tratado de comércio com os EUA. O pior de tudo é que efetivamente este partido tem enraizamento social, dado a exploração secular do nacionalismo lopizta.

Veja a frase do deputado colorado Justo Pastor Cardenas:

“Se podría establecer con Estados Unidos una suerte de diálogo fluido”

Fonte: UltimaHora.com

neopartisan

Este artigo do Fiori nos informa que a luta anti-imperialista é coisa de gente grande, estratégica devendo ser ao mesmo tempo operacioanal, com pouca retórica, presencial mais do que virtual (isto é, não se reduz à internet devendo operar sobretudo no mundo real).
A ordem imperialista, que muda de país e continente no curso da História, faz com que os homens -até mesmo os seus principais agentes, defensores e serviçais – já não se pertençam, mas sim à ordem.
As máquinas de guerra, sejam aquelas postas ao seu serviço, sejam outras em ação por obra de conflitos localizados, tribais ou semi-tribais, no mais das vezes tem no homem apenas uma das suas peças.
Os imperialismos têm razões acima das leis, do humanismo e dos sentimentos.
Não duvidemos de que para a hegemonia ianque, a “onda esquerdista” atual que varre a América Latina é apenas um interlúdio. Para que não seja, devemos provar o contrário (talvez guerreando a uma certa altura conforme o curso da História mais adiante, não?).

RICARDO GODINHO

As cartas estão na mesa.
Essa monstruosa crise está drenando a Europa. O velho vampiro, num último esforço para se manter vivo, suga sem dó o sangue dos europeus pobres, assistido e apoiado por seus vassalos e servos fiéis.
A crise é filha da recorrência dos ciclos do capitalismo, mas é também um instrumento de guerra do velho vampiro. Prevendo a emergência do novo poder oriental, e a inevitável gravitação de toda a vizinhança em torno desse novo centro, o velho vampiro aproveita a crise para subjugar de vez a velha Europa não-WASP, tentando arrancar dela a força econômica e o poder militar necessários para conter o dragão chinês.
Mas essa guerra tem quatro grandes frentes, todas loucamente desgastantes econômica e politicamente: O front europeu, onde é preciso impor algum tipo de federalização, com alinhamento automático em torno do vampiro; o front russo, com seu pesado custo militar e estafante esforço político; o óbvio front sino-asiático, principal perigo; e o front sulamericano, já que a ausência da submissão do Cone Sul, e até pelo contrário, sua clara hostilidade, expõe perigosamente esse flanco.
Será que a Europa exangue tem condições de financiar essa guerra do velho vampiro?

AndreB

trecho da coluna de P.Moreira Leite , da Época, sobre o Golpe recente no Paraguay:
http://colunas.revistaepoca.globo.com/paulomoreiraleite/2012/06/25/falsos-democratas-perdem-pudor-no-paraguai/

“A história do ciclo militar latino-americano dos anos 60 começou com um golpe no Peru. Foi assim: um candidato de esquerda iria ganhar as eleições até que uma intervenção militar impediu que o pleito fosse realizado na data correta.

Quando as eleições ocorreram, após pressão internacional, o ambiente político do país havia mudado e um candidato conservador foi vitorioso. Depois do Peru, ocorreram duas intervenções militares na Guatemala e na Republica Dominicana.

Nesses dois lugares, Washington temia a consolidação de governos de esquerda e ajudou militares dispostos a derrubá-los.

Foi nesse ambiente que John Kennedy e o embaixador Lincoln Gordon discutiram, em 1962, como apoiar o movimento militar que derrubou João Goulart, em 1964. Um assessor de Kennedy, Richard Goodwin, estava presente ao encontro.

Quando o presidente americano começou a demonstrar um certo pudor em apoiar o golpe de forma descarada, Goodwin reagiu de forma irritada. Lembrou que a Casa Branca deveria deixar sua posição de forma clara, sob o risco de desmotivar os golpistas. Na prática, o assessor estava dizendo algo parecido a “vamos deixar de frescura, presidente.”

Não é preciso tentar adivinhar o futuro e encontrar indícios de rupturas democráticas aqui e ali. Mas muita gente resolveu “deixar de frescura,” concorda?

Basta reparar que, na queda de Lugo, um considerável número de vozes conservadoras já demonstrou menos pudor em relação aos rituais democráticos. Foi apoio direto, na lata.”

timoteo batalha

O Grande idiota!!!

Bastava promover por toda a AL, desenvolvimento economico e social, somado à divulgação em massa de suas ações sociais; colocar as armas de lado, e distribuir riqueza, ciência e tecnologia; casa própria para os que não têm, alimentos, tecnologia de saúde pública, tecnologia para preservação da natureza e tratamento sutentável de lixo e resíduos industriais…bastava abrir as cadeias e responder aos agressores com perdão e benefícios…perdoar dividas de países pobres, marcar presença massiva ante catastrofes naturais!!!
Ninguém rsistiria aos EUA se assim fossem.

Não são; logo, perecerão!!!

augusto2

uma conhecida frase de Brzinski, listando os principios de um bom imperialismo resume-se mais ou menos assim: ‘ deve-se manter os vassalos dóceis e impedir os adversarios de se unirem’.
O diabo é que nao estao mais conseguindo a contento nenhum dos dois itens.

augusto2

Foram spykman e George kennan, os indigitados que nos termos deles fizeram o bom trabalho.
Depois deram sorte com o artefato ”necessario” de hiroshima e com a implosao sovietica.
Mas nao iriam prever tudo… Nao imaginaram o capitalismo de estado chinês… a ida com muita sede ao pote pós muro de berlim, pós 11/9 nem muito menos mediram os pentagonais deficits cumulativos. Nem a super voracidade banksterista dos trilionarios derivativos da rua do muro.
Nem que o excesso de crença emseu proprio liberalismo pudesse ser tao destrutivo.
Se isso tivesse acontecido nos idos de 1960 eles teriam imposto sua soluçao domestica. Agora nao mais.

Horridus Bendegó

Sempre defendi em oposição à necessidade da guerra de Spykman, a necessidade de uma guerra prévia por aqui.
Para se erradicar o quinta-colunismo.

Ricardo Ferreira

Senhores,
Quero aqui parabenizar os comentaristas pelo excelente nível dos comentários.
É tão bom adentrar um blog onde, além da atulizacao das notícias locais e internacionais, adquire-se mais conhecimento com comentários como os abaixo.
Violando, continue assim.

Zezinho

Olhem esta notícia:

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-06-26/governo-cubano-tambem-retira-embaixador-do-paraguai

Nao é um primor?

Mário SF Alves

Não custa imaginar em qual seria a cara de alguns dos âncoras do PIG-vênus platinada, um certo WW, por exemplo, ao se deparar com uma manifestação dessas:

“…E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina do continente tenham que ser chamadas igualmente de América, evocando uma similitude entre as duas que de fato não existe”.

Será que fariam cara de paisagem?

    Juan

    Eles ficariam (e Ficam) em extase de tanta excitação. Seria o Nirvana pra eles.

    neopartisan

    Quando criança, embalado por parente próximo, brasileiro de nascimento, e depois do green card, americano, americanófilo e americanista, eu queria ter nascido nos EUA.
    O parente me consolava trazendo brinquedos deslumbrantes, que só os fabricantes do Norte faziam, e completava: você também é americano…do sul.
    Puxa, sabendo agora que o holandês Spykman, que virou americano, americaófilo e americanista disse isso de nosotros, a quem vou recorrer para chorar as minhas mágoas?
    Muito mau este holandês que desfez minha fantasia!

Paciente

Conheci a expressão “ABC Power” (“poder ou fator ABC”) ao ganhar uma Enciclopédia canadense de uma irmã há uns trinta anos. Me lembro de ter ficado muito surpreso deles mencionarem que, unidos, esses países poderiam ser um contraponto ao poder dos EEUU.

Adolescente, sem internet na época, sai a somar as forças armadas dos três países, os PIBs e as populações… Há trinta anos, para mim, fez-se a luz! Os EEUU não precisam ter três países de direita, alinhados à sua politica, pra domar a América do Sul. Doutrinariamente, só precisam de um.

Não é que os três somados “ganhariam” uma guerra contra os EEUU ou mesmo “empatariam” com às forças deles. É que, somados posição estratégica (passagem do Atlântico para o Pacifico e acesso a todos os mares do mundo através do Mar Antártico), tropas e – principalmente – extensão territorial – seria um pandemônio ocupar militarmente uma bagaça desse tamanho. Poderiam ganhar todas as batalhas e… não levar a vitória definitiva (vide o caso do Vietnã e, mais recentemente, do Afeganistão).

Os países ABC são “muita coisa para pôr debaixo do braço ao mesmo tempo”.

O “ABC Power” faz parar para fazer contas e ver se realmente vale a pena uma aventura militar desse tipo. Principalmente se os três: Argentina, Brasil e Chile tiverem apoio de outros países da região e, desgraça das desgraças, de algum país da América Central e Caribe.

Um pais do Caribe ou América Central “fora da rede”, poderia ser aquilo que, no futebol, se chama de “bola nas costas”. Uma frente de combate distante, estranha, desconhecida, num ambiente natural hostil completam o quadro.

Entendem agora porque eles oferecem tantas vantagens ao Chile? Não precisa comprar os três, só precisam levar um… O problema para os EEUU neste momento (momento que só existe porque andaram se metendo em três guerras ao mesmo tempo e entraram em crise – idêntica à da URSS) é que apesar de “possuírem” o Chile, este está na UNASUL, o Caribe esta “bichado” (Cuba e Venezuela – esta comprando jato militar de ponta como quem compra pipoca) e os elos fracos (Honduras, Paraguay, Bolívia, Equador) estão sendo monitorados pelo “Fator ABC” de uma forma que… exigem dos EEUU quase a mesma dedicação que a Europa requer. Para influir, criar cizânias, etc.

Não tenho certeza absoluta, mas trata-se do acrônimo de países mais antigo em uso. Muito antes de criarem o “BRIC”, já havia o Fator ABC. E ele ainda pesa.

    isnard carvalho

    Os BRIC’s (que agora incluem a África do Sul) são a geopolítica mundial que Spikman não viveu para prever.Militarmente fazem um contraponto tão grande quanto a produção industrial e de commodites,com um peso universal.EUA e Europa pssam e continuarão a passar maus pedaço mesmo por que,cada vez mais,fica mais difícil “somar forças”sem a inclusão dos desvalidos do capital.Os Africanos tornam-se ,assim,o grande fiel da balança desse tabuleiro e nessa questão o Brasil está definitivamente à frente.Nosso peso torna-se maior na medida que,estrategicamente,”ocuparmos a África” com tecnologias para novas explorações agrícolas.O jogo está a favor.

Frank

Ainda bem que este cara morreu cedo. Na certa, o lá de baixo o chamou ao inferno no meio da Grande Guerra pois devia estar precisando de alguém para gerenciar o alto fluxo de almas que lá chegavam.

ZePovinho

Luiz Roberto Tizoco:

São boas perguntas.Como o artigo é de 2007,o Fiori(se dar uma passada por aqui) bem que podia tecer considerações nesse sentido.

jnascimento

Pobre México,tão longe de Deus e tão perto do Estados Unidos.
Pobre Paraguay,Tão pequeno,tão pobre e tão alinhado com os estados unidos!

Juan

Explica realmente muita coisa. Por exemplo, o grande empenho Estadounidense de tirar Hugo Chavez do Poder, Já que a Venezuela é um daqueles lugares onde a “supremacia dos Estados Unidos não pode ser questionada”, junto, é claro, com Cuba.

Isso me Parece mais um teoria auto-realizavel, se vc perceber que caso eles não tivessem a ambição de ser os Donos do Mundo, ninguém teria a necessidade de se defender deles.

Hans Bintje

Ironia da História: se existe um holandês preocupado com a ameaça ABC, tem outros preocupados com os deserdados do ABC.

É um fato antigo, a gente mandou os brasileiros plantarem mandioca para o sustento de seus compatriotas. Foi um escândalo que pode ser visto neste link: http://www.klepsidra.net/klepsidra3/holandeses.html

Trecho:

“A política de Nassau para combater a fome criou diversos atritos do governo com os senhores, já que se exigiu a plantação de mandioca para consumo local, e os senhores, que não aceitavam a imposição muitas vezes passavam por vexames em suas próprias terras obrigados pelas forças holandesas a iniciar o novo cultivo. Estes fatos foram decisivos para a decisão dos senhores de iniciarem uma rebelião em 1645, criada e sustentada pela elite agrária de origem portuguesa.”

Não é bondade holandesa: uma mão-de-obra subnutrida é pouco produtiva. Isso deveria parecer óbvio.

Mas foi considerado uma ofensa tanto pelos senhores de engenho no Brasil do século XVIII e seguintes, quanto para os latifundiários paraguaios do século XXI.

O pensamento é: nós dependemos dos serviçais, para que maltratá-los, criar rebelados, viver em medo permanente?

Seria para justificar a assistência de um “Grande Irmão” do Norte, do capitão do mato ali do lado, qualquer um que faça esquecer a imensa frustração de uma existência dentro de uma gaiola de ouro?

    Marcelo de Matos

    Hans. Parece que o seu comentário não tem muito a ver com o ABC – Argentina,
    Brasil e Chile, nem com o ABC – Santo André, São Bernardo e São Caetano. Você falou sobre a invasão holandesa. É um tema interessante. Certa vez consultei um livro de um historiador brasileiro na biblioteca do congresso americano. Esse historiador dizia que o Brasil fundou Nova Iorque, ao expulsar os holandeses que se refugiaram na ilha de Manhantan. De fato, tempos atrás poderíamos pensar que foi um despautério expulsar os holandeses. Se os tivéssemos deixado aqui, poderíamos ter no hemisfério sul uma civilização tão próspera como a dos States. Hoje, diante da decadência dos EUA, podemos rever esse conceito.

    josé

    Marcelo, penso que o que o Hans falou tem tudo a ver com o texto referido. Ele tenta “redimir” seu país ao fazer uma ligação do Spykman com um outro holandês, Maurício de Nassau, que foi vítima da falta de visão da elite local, e como isso ainda ocorre hoje, quanto à necessidade de se desenvolver uma sociedade justa e menos desigual. Ontem, a elite agrária nordestina, no caso da mandioca. Hoje, a elite agrária paraguaia, em cima de uma das maiores concentrações de terra do mundo. Quanto à Nova Iorque, na verdade quando os pernambucanos expulsaram os holandeses a cidade já existia. Eles apenas foram pra lá. Nessa leva também foram judeus de pernambuco que fundaram a primeira sinagoga das américas e, com a derrocada da colônia holandesa, perderam a tolerância garantida pelo reino de orange e tomaram o rumo de Nova Amsterdã, que depois viria a se chamar Nova Iorque.

    Jotace

    Caro Marcelo de Matos,

    Seus comentários se justificam. Pois é incontestável, e há muitas provas disso, que alguns ricos judeus que viviam em grande número no Nordeste e haviam emigrado para Nova Yorque, participaram das lutas pela independência dos Estados Unidos na conquista da ilha onde hoje a cidade de Nova Iorque está situada Uma dessas provas está num quadro da época, comemorativo, no qual figura um judeu pernambucano entre os famosos ‘Heróis da Independência’ norteamericana. Por outro lado, alguns estudiosos nordestinos, Gilberto Freyre, por exemplo, apesar de reconhecerem quão benéfica foi a passagem de Maurício de Nassau pelo Nordeste, não aceitam muito a tese ‘desenvolvimentista’ de um Brasil holandês. Alegam que os portadores do racismo, da brutalidade, religião etc., que assentaram as bases do ‘apartheid’ na África do Sul, não teriam logrado êxito em desenvolver a região como sucedeu, até certo ponto, com os portuguêses pelos seus costumes e sua capacidade de miscinegação com pretos e índios. Abraços, Jotace

    Jotace

    Caro Hans Bintje,

    É, vocês sugeriram continássemos com a mandióca, mas levaram a batata dos pobres habitantes de países vizinhos ao ABC (rsr..). Uma curiosidade: quando do surgimento de importantes movimentos sociais no campo nordestino (Ligas Camponesas, por exemplo), o cultivo de plantas alimentares na zona canavieira era tão combatido, ou ainda mais, quanto o foi à época de Nassau. Ainda que dispusesse tal região de solos e clima próprios para sua quase totalidade, tais cultivos eram satanizados por senhores de engenho e usineiros. Consideravam os dois últimos que, uma vez assegurada a alimentação pelos trabalhadores da cana, não necessitariam estes trabalhar praticamente como escravos como acontecia…Cordial abraço, Jotace

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