Izaías Almada: “Afinal, quando irão botar fogo no Reichstag e colocar a culpa no PT?

Tempo de leitura: 4 min

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Ilustração do designer André Almada 

A volta dos mortos vivos

por Izaías Almada, no Blog da Boitempo

Escrevo ao som de panelas e gritos de crianças (coitadinhas) de “Fora PT”. O som, desagradável, incomoda mais pela ignorância, pela intolerância e pela tristeza de ver a que ponto pode chegar a manipulação de consciências.

Entorpecido pela campanha sórdida de uma imprensa que não pensa no país, mas tão somente em seus próprios interesses comerciais e corporativos, defendendo seu ultrapassado conceito de neoliberalismo como fruto de um pensamento e uma postura autocrática, para usar uma linguagem civilizada, e tendo ainda a seu favor a ajuda vergonhosa de juízes de direito que estão mais para capitães do mato e chefes de jagunços, o Brasil vem sendo aos poucos empurrado para a vala comum da idiotia, da intolerância, do preconceito e do ódio, se já não bastasse o baixo índice de politização de grande parte de sua  sociedade.

Não é por acaso que o imortal que ninguém leu deita falação pelos jornais “convocando” o país a repudiar o ex-presidente Lula. Logo ele que abriu as comportas da Petrobrás para as grandes jogadas sem licitação e que, por pouco, não vende a empresa a preço de banana no mercado das almas. Ele que comprou a sua reeleição e que chegou com os apaniguados ao limite da irresponsabilidade. Ele e outros liderados de seu partido que outra coisa não fazem, após as eleições do ano passado, senão procurarem chifres em cabeças de cavalo. Hipocrisia em altíssimo grau.

Triste não é só ver tamanha hipocrisia, mas também o destempero ou a falta de competência para o cargo que ocupam ou ocuparam homens como Sérgio Moro, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, a docilidade e a crença de muitos brasileiros, ingênua até certo ponto, na expectativa de que esses homens e boa parte do poder judiciário brasileiro estejam preocupados em julgar com isenção, imparcialidade e fazer minimamente aquilo que nós pobres mortais aprendemos a considerar como justiça.

Com a ajuda da imprensa, cidadãos são julgados sem culpa formada. Com a ajuda da imprensa, ela mesma envolvida em grandes atos de corrupção ao longo de nossa história, outros cidadãos com graves culpas no cartório são mantidos acima de qualquer suspeita, muito embora não consigam explicar suas contas em paraísos fiscais.

Triste é perceber que o país votou nas últimas eleições (estamos falando do décimo quarto ano do século XXI) para a composição de um poder legislativo conservador e tacanho, cujas principais bancadas no Congresso Nacional estão ali apenas para defender interesses próprios ou de grupos e empresas que contribuem honesta e patrioticamente para a campanha dos eleitos, esses também em sua maioria sem qualquer compromisso com a nação brasileira.

Triste é perceber que a palavra “corrupção” perdeu todo e qualquer significado no Brasil contemporâneo, uma vez que é usada e banalizada por um conjunto de cidadãs ou cidadãos das mais variadas profissões, credos religiosos, partidos políticos, apenas para tentarem desclassificar adversários políticos, já que ela é praticada em maior ou menor escala no país há dezenas de anos desde a compra de falsas carteirinhas de estudante ou do guarda de transito na esquina, até depósitos de milhões de dólares em paraísos fiscais, seja na conta de um diretor de empresa estatal ou em sonegação de impostos.

Um país de dimensões continentais como o nosso e de imensa riqueza seja ela natural ou aquela construída pelas mãos de milhões de trabalhadores com o passar dos séculos, até agora, repito, início do século XXI, ainda não conseguiu se libertar do espírito predador de nossos descobridores e colonizadores e muito menos do selvagem uso da chibata e do vil garrote, eterno garante das leis no Brasil. E garante também de uma cultura de submissão.

E assim, aculturados que somos, vivemos, sobretudo nossas chamadas elites, seja lá o significado que isso tenha,  entre ditaduras explícitas e simulacros de democracia, num jogo de faz de conta vergonhoso, onde a luta de classes é varrida para debaixo do mesmo tapete onde há dezenas de anos apodrecem algumas das maiores maracutaias econômicas, políticas e sociais.

E são exatamente os responsáveis diretos por tais maracutaias que hoje incentivam as ruas desmemoriadas a pedir intervenção militar para “moralizar” o Brasil e acabarem com a corrupção, mas de um único partido, numa demonstração acachapante de ignorância histórica, pobreza cultural, má fé e oportunismo político. O recente exemplo da senadora Marta Suplicy com sua ressentida defecção diz muito sobre a matéria e a tal elite. Shakespeare já tratou do assunto com grande sensibilidade há quase quinhentos anos.

O recente e selvagem espetáculo dado por um governador ignorante, no estado do Paraná, amparado ou mesmo incentivador – talvez – dos desmandos e armadilhas judiciárias e policialescas que ali surpreendem o país no dia a dia, fazem vir à tona o que de mais retrógrado e covarde pode produzir os que nada têm a oferecer à sociedade brasileira senão a cantilena sobre a corrupção alheia, quando a sua escondem nas páginas dos jornais e ficções televisivas, acobertadas que são pelas mentiras, pelas intrigas e, se necessário, por cassetetes, jatos d’água e balas (por enquanto) de borracha.

Em Curitiba surgiu e se consagrou de fato o símbolo da direita brasileira, o pitbull, sucessor do pastor alemão dos anos 30 em Berlim. As fotos e vídeos que o novo e principal partido da direita tentou esconder do país, o silêncio de seus principais dirigentes ou, o que é pior, o apoio implícito de alguns deles às cenas de selvageria contra professores estaduais, coloca em alerta o Brasil, fazendo renascer na América do Sul as sinistras imagens de alguns mortos vivos.

Afinal quando irão botar fogo no Reichstag e colocar a culpa no Partido dos Trabalhadores? Nos negros, nos nordestinos, nos judeus? Estamos quase lá.

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Comentários

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RUTH

#VIVADILMALULAPT

sergio m pinto

Enquanto esse incêndio não vem, é possível que algum petista acabe indiciado em crime ambiental por peidar em elevador. As tais “balas de prata” estão começando a enferrujar.

FrancoAtirador

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ROCHA NETO

A direita conservadora com a conivência de autoridades do judiciário e de fiscalização e, a imparcialidade da imprensa, (concessão pública), envenena ingênuos e incautos, diuturnamente, até que se transformam em zumbis e saem a pregar o fim de um governo legítimo e do único partido que mais representa os interesses dos mais pobres e o desenvolvimento do País com um pouco de dignidade e humanidade. O povo que sai desse processo é um povo egoísta, analfabeto político, ignorante, boçal e individualista ao extremo, sem um pingo de solidariedade com seu semelhante. Odeia o LULA por sua preferência em governar para os mais humildes. Mais escolas, universidades, acesso aos meios de transportes, eletrodomésticos, habitação. É só ver o Brasil de Dezembro de 2002 e o de agora.

Donizeti – SP

Excelente artigo, tenho vergonha do que leio e assisto hoje em matéria de política no Brasil.

É o reino dos hipócritas e farsantes, disfarçado de combate a corrupção (de alguns), na luta pelo poder e domínio do Estado Federal e extermínio de um partido legítimo e legal, o PT.

Promotores, juízes de direito e delegados federais instrumentalizando investigações e processos judiciais de forma vergonhosa para fins políticos e disputa do poder do Estado, ao lado de uma oposição que perdeu no voto e nas urnas e dia e noite trama pela queda da Presidenta eleita com apenas 4 meses de governo, nem que para isso tenham que destruir a economia e a paz social do país.

Que nojo dessa gente sem escrúpulos e sem vergonha na cara.

Edgar Rocha

Belo texto! Mas, fica uma pergunta que nenhum de nós consegue responder exatamente: como acontece tudo isto diante tromba esfíngica (esfinge tem tromba????) de Dilma e de seus ministros e parlamentares? Qual a razão de tamanha omissão e subserviência da parte da presidenta e de todas as lideranças do país? Há sim, muitas razões apresentadas, muitas críticas e apontamentos. Na minha opinião, nenhuma das avaliações ainda deu conta de tal comportamento por parte da esquerda em geral, não só do governo federal. Consideremos a esquizofrenia do PSOL e dos intelectuais que se afirmam de esquerda quando avaliam as jornadas de junho e suas irmãs. Afinal de contas, trata-se de movimentos legítimos ou criaturas controladas pela elite e pela grande mídia? Está tudo muito estranho. Tão estranho que a única coisa palpável neste momento é o recrudescimento do pensamento fascista e a evidente descaracterização do Governo e de seu partido. Chegamos a um beco, cuja saída – se é que ela existe – só de conhecimento de quem deliberadamente participa do processo, omitindo dados e evitando assumir uma postura clara perante o povo. Na impossibilidade de se poder confiar nos agentes políticos atuais – nenhum deles! – só nos resta reagir aos efeitos colaterais. Estamos todos tateando um ser gigante sem o enxergarmos. Pode ser um elefante enfurecido. Nos afastamos quando ele respira, cientes do perigo de ter por perto algo tão grande.

Nelson

Amigo.

É a Guerra de Quarta Geração, a guerra psicológica, que está a pleno no Brasil da mesma forma que já vem sendo travada há vários anos na Venezuela.

Veja o texto do jornalista argentino, Manuel Freytas, publicado neste mesmo Viomundo em outubro de 2010. O link é http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/guerra-de-quarta-geracao-aniquilar-controlar-ou-assimilar-o-inimigo.html

Bacellar

Culturalmente confuso
Brasileiro é aculturado
Líbio, libanês, árabe turco
Acha farinha do mesmo saco
Não saca croata, curdo
Não saca iugoslavo
Nem belga, nem mameluco
Não saca Platão, nem Plutarco
Não saca que um cafuzo
Mestiço não é mulato
Que apito toca o Caruso
Que apito que toca Bach
Não saca sueco, luso
Egípcio, tchecoslovaco
Kafka, Freud, Confúcio
Não saca que russo é cossaco

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