Boaventura Santos: “O que mais custa a aceitar é a participação do Judiciário na concretização do golpe. Perdeu oportunidade histórica”

Tempo de leitura: 13 min

Judiciário e o golpe 2

“O que mais custa aceitar é a participação do Judiciário no golpe”

O sociólogo português Boaventura Santos faz uma radiografia da crise política brasileira e pede à esquerda nativa para abrir mão das diferenças

por Miguel Martins, em CartaCapital, 02/11/2016

Desatados os laços coloniais, a proximidade entre Brasil e Portugal se estende para além das velhas rotas do Atlântico.

Nas antigas colônia e metrópole, as trajetórias republicanas são navegadas sob tempestades que carregam ensinamentos para as duas costas do oceano.

A onda neoliberal que atinge hoje o Brasil por meio do governo de Michel Temer chegou como um tsunami em 2011 às terras lusitanas.

Passos Coelho, então primeiro-ministro, tentou aprofundar as políticas de ajuste estrutural exigidas pelo Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, mas o ímpeto dos retrocessos perdeu força diante da resistência unificada do campo progressista em Portugal.

Baseado nessa análise, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos espera comportamento semelhante das esquerdas brasileiras para reagir ao que chama de “golpe constitucional-judicial” e a retrocessos defendidos pelo atual governo.

Em passagem pelo Brasil para o lançamento do livro “A difícil democracia”, publicado pela editora Boitempo, o sociólogo mostra estar atento aos movimentos do governo Temer.

Em entrevista a CartaCapital, faz uma radiografia da crise política brasileira, chama o congelamento de investimentos públicos por 20 anos de “escândalo constitucional e político” e releva sua indignação com a seletividade da Justiça.

“O que mais custa aceitar é a participação agressiva do sistema judiciário na concretização do golpe.”

CartaCapital: O senhor analisa no início de “A difícil democracia” o período entre 2011 e 2013, marcados pelos movimentos Occupy nos Estados Unidos, Indignados no sul da Europa, Primavera Árabe na Tunísia e no Egito e os protestos de junho de 2013 no Brasil. Três anos depois, o senhor aponta um desencanto nas esquerdas. A que o senhor atribui esse desencanto?

Boaventura de Sousa Santos: As situações foram muito diversas, nem todas permitiram uma clara distinção entre esquerda e direita, e em cada uma atuaram fatores específicos que condicionaram os resultados.

Temos de distinguir entre os países que tinham uma democracia minimamente credível e os que a não tinham. Nestes últimos, a luta era pela democracia. Só a Tunísia teve algum êxito.

Nos outros, a luta era por uma democracia real, ou seja, pela maior distribuição da riqueza e pelo fim da corrupção no sistema político.

Apesar da radicalidade dos discursos, os objetivos, quando existiam, não iam além da renovação do sistema político e do reforço da social democracia.

Na Espanha houve alguma renovação política através da emergência de um partido de tipo novo, o Podemos, e de muitas associações políticas autônomas que hoje condicionam a vida política regionalmente.

No Brasil, a ambiguidade política dos protestos era inicialmente detectável apenas no twitter.

O governo não foi capaz de ler esta ambiguidade e de apoiar as demandas e forças de esquerda.

CC: A ascensão conservadora explica esse desencanto?

BS: Muitas das irrupções democráticas dos últimos trinta anos ocorreram em períodos de reforço do neoliberalismo, ou seja, da versão mais antissocial do capitalismo.

Foi assim nas transições da ditadura para a democracia dos anos 80 e nos protestos de 2011, depois de a crise financeira de 2008 ter aumentado o poder global do capital financeiro que a tinha provocado e “resolvido” a seu favor.

Enquanto a luta pela democracia fortalecia as forças de esquerda, a aceitação da ortodoxia neoliberal favorecia as forças de direita.

Com o tempo, a direita, muito imaginativamente, soube controlar a pulsão democrática a seu favor, usando para isso vários estratagemas.

No Brasil, por exemplo, seduziu a esquerda durante treze anos para extorquir as maiores vantagens num período de crescimento e de governos progressistas no continente.

Quando achou adequado, desferiu-lhe o golpe constitucional-judicial que, se não a deixou morta, a deixou desmaiada.

Boaventura_capaCC: Na introdução de “A difícil democracia”, o senhor afirma que os países da América Latina e do sul da Europa tendem a ser caracterizados por grande instabilidade política. O Brasil tem confirmado essa tese, com o traumático impeachment de Dilma Rousseff. Qual a sua análise do processo?

BS: Houve interrupção democrática semelhante à que tinha sido ensaiada em Honduras e no Paraguai e, como nas anteriores, levada a cabo com a aprovação ativa dos Estados Unidos.

Tratou-se de uma passagem brusca e sem respaldo constitucional de uma democracia de baixa intensidade, já que eram bem conhecidos os limites do sistema político e do sistema eleitoral em refletir a vontade das maiorias, para uma democracia de baixíssima intensidade, com maior distância entre o sistema político e os cidadãos, maior agressividade dos poderes fáticos, menor proteção social das classes mais vulneráveis, menos confiança na intervenção moderadora dos tribunais.

No caso do Brasil, o que mais custa a aceitar é a participação agressiva do sistema judiciário na concretização do golpe, tendo em vista dois fatores que constituíam a grande oportunidade histórica de o sistema judicial se afirmar como um dos pilares mais seguros da democracia brasileira.

Por um lado, foi durante os governos PT que o sistema judicial e de investigação criminal recebeu o maior reforço não só financeiro como institucional.

Por outro lado, era evidente desde o início que Dilma Rousseff não tinha cometido qualquer crime de responsabilidade que justificasse o impedimento.

Estavam criadas as condições para encetar uma luta veemente contra a corrupção sem perturbar a normalidade democrática e, pelo contrário, fortalecendo a democracia.

Por que é que esta oportunidade foi tão grosseiramente desperdiçada?

O sistema judicial deve uma resposta à sociedade brasileira.

CC: O que acha das primeiras medidas de Temer no poder?

BS: Elas não oferecem qualquer surpresa.

São o receituário neoliberal global num contexto de declínio dos preços internacionais das commodities e dos recursos naturais: criar novas oportunidades de acumulação de capital através de uma nova onda de privataria, como a que aconteceu no tempo de Fernando Henrique Cardoso, reduzir a despesa pública, sobretudo em políticas sociais, impedir qualquer mudança no sistema fiscal ou nas taxas de juros, aumentar a repressão quando a  população acordar da orgia antipetista e começar a ver, aturdida e chocada, o que efetivamente se passou na sua casa, na sua saúde, na educação dos seus filhos.

Devemos notar que a lógica da austeridade já se tinha instalado no segundo mandato de Dilma. Mas há uma diferença qualitativa.

Com o governo do PT essa lógica traduzia-se em algumas medidas de emergência e com a crença equivocada de permitirem a curto prazo o regresso à normalidade de uma governação minimamente inclusiva no plano social.

Com o governo Temer, tais medidas, um menu imenso, são a nova normalidade.

CC: Na terça-feira 25, a Câmara aprovou uma emenda à Constituição para congelar os gastos públicos pelos próximos 20 anos, com profundo impacto em áreas como saúde, educação e assistência social. Como o senhor classifica a medida?

BS: A PEC 241 é um escândalo constitucional e político, produto de um descontrolado fundamentalismo ideológico, desprovido de qualquer eficácia e apenas adotado com dois objetivos de alto poder simbólico.

Primeiro, mostrar ao povão pobre e empobrecido a impossibilidade de esperar algo do Estado, como se ninguém pudesse lhe prometer nada para além do que a direita está disposta a dar-lhe.

Segundo, sublinhar com uma risada legislativa o desprezo, o revanchismo e a arrogância com que, do alto da sua vitória, contempla a ruína da esquerda.

O excesso desta medida, nunca adotada em qualquer país por um período de 20 anos, deve ser visto pela esquerda como um sinal de debilidade.

CC: Como resistir a esse retrocesso?

BS: O caso português tem algum interesse neste contexto. Os portugueses foram vítimas entre 2011 e 2015 de um fundamentalismo ideológico do mesmo tipo.

O Primeiro Ministro de então, Passos Coelho, chegou a dizer que era preciso ir mais longe nas políticas de ajuste estrutural do que a própria troika austeritária exigia, formada pelo FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia.

O maximalismo conservador fez soar nos partidos de esquerda um alerta que não se ouvia há setenta anos:  a arrogância da direita ameaçava destruir tudo o que em termos de inclusão social tinha sido democraticamente construído pelo país depois da Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974.

O país enfrentava uma situação de fascismo social que mais tarde ou mais cedo poderia levar ao fascismo político.

Perante isto era preciso esquecer provisoriamente todas as diferenças ideológicas que pudessem impedir uma aliança das forças de esquerda para pôr termo ao pesadelo reacionário.

Assim se construiu uma aliança de governo entre o Partido Socialista, a coligação CDU (comunistas e verdes) e o Bloco de Esquerda.

Este exemplo pode ajudar as forças de esquerda no Brasil, que, ao contrário de Portugal, se inclui um forte movimento popular frentista, a esquecer as diferenças e articular-se procurando seguir a sabedoria popular: em momentos como este, que se vão os anéis e fiquem os dedos.

CC: As áreas que estão mais em risco no Brasil são saúde, educação e assistência e previdência social, que compõem o nosso Estado de bem-estar social previsto na Constituição de 1988. Por que preservar o Estado de bem-estar social tornou-se uma tarefa árdua?

BS: O Estado de bem-estar consistiu no conjunto de políticas sociais através das quais foi possível compatibilizar a pulsão de concentração da riqueza própria do capitalismo com a pulsão de inclusão social mínima, o contrato social, própria da democracia representativa liberal.

Tal compatibilização tornou possível uma série de interações não-mercantis entre cidadãos, entre elas o SUS, a educação pública, as pensões segundo o sistema de repartição inter-geracional.

Ela foi possível através de níveis de tributação muito altos. Depois de 1945, alguns países chegaram a ter taxas altíssimas para os rendimentos mais elevados.

A partir dos anos de 1980, e perante uma crise de acumulação que tinha começado com a primeira crise do petróleo, o neoliberalismo começou a guerra contra o Estado de bem-estar em duas frentes.

Por um lado, a guerra contra as políticas sociais e serviços públicos por dizerem respeito a áreas como a saúde e a educação e as pensões onde a privatização criaria novas áreas de investimento altamente rentáveis.

Por outro lado, a guerra contra a tributação alta e sobretudo progressiva. Perante a perda de recursos, os Estados tiveram que recorrer à dívida pública eufemisticamente considerada soberana.

Os Estados eram soberanos quando cobravam impostos mas não quando recorriam ao crédito internacional.

Neste último caso, estavam dependentes do capital financeiro que progressivamente se foi tornando a força dominante do capital global.  E assim surgiu o ajuste estrutural e a certidão de óbito do Estado de bem-estar.

Ainda há pouco tempo, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, um clone da Goldman Sachs, declarou que a social democracia tinha acabado.

CC: Há como preservar a social democracia?

Só há futuro para o Estado de bem-estar: quando o futuro do neoliberalismo acabar.

Até lá são possíveis atuações parciais, defensivas, nas margens do modelo dominante, mas que significam muito precisamente para os estratos sociais que estão nas margens, as quais não cessam de inchar.

Para isso são precisas alianças políticas inovadoras e esclarecidas com vontade de correr os riscos, novas formas de participação popular autônoma, novos militantes e lideres partidários de esquerda presentes em permanência nas  ruas e bairros pobres das cidades e nos campos dos camponeses e indígenas devastados pela agroindústria e a mineração socialmente criminosa.

Enquanto vigorar o neoliberalismo, é exigida uma vontade revolucionária para conquistar a mais modesta política reformista.

CC: O senhor defende uma espécie de “divisão do trabalho do inconformismo”, na qual haja uma articulação entre as três estratégias da esquerda: tentar melhorar o que havia, tentar romper com o que havia e tentar não depender do que havia. Mas as esquerdas mostram dificuldade em encontrar pontos em comum para construir uma unidade mais sólida, não? 

BS: Historicamente, as esquerdas dividiram-se em resultado da emergência do mundo soviético.

Organizaram-se segundo essa divisão durante mais de setenta anos e ainda não se recompuseram do fim desse mundo.

As divisões existentes são em grande medida produto de inércia histórica.

Vão ser necessárias ou inevitáveis outras divisões, mas vai ser sobretudo necessária outra forma de afirmar, construir e consolidar divisões, uma forma que permita uma leitura dinâmica do mundo e da sociedade concreta, que saiba ler os sinais de perigo antes de ele ser destrutivo, que não se preocupe com vanguardas e que cuide das retaguardas, que seja tão interpolítica e tão intercultural como é o mundo e a sociedade, que considere que, enquanto durar o capitalismo, nem o colonialismo nem a violência contra as mulheres acabam, apenas se metamorfoseiam.

CC: No Brasil, é comum a análise de que os governos do PT deixaram de lado a formação política e cultural das classes mais baixas e focaram excessivamente na questão material. Neste momento de crise econômica, os que ascenderam nos últimos anos deram as costas ao partido. Por que a população mais pobre parece rejeitar o discurso de esquerda no Brasil?

BS: Essa análise merece uma profunda reflexão, pois tais políticas vão continuar a ser necessárias no futuro, mas vão ter que ser desenhadas de uma maneira totalmente diferente.

O PT fez uma extraordinária distribuição de riqueza, paradoxalmente sem a sociedade brasileira ter deixado de ser uma das mais desiguais do mundo.

Para evitar o clientelismo estatal, entregou na mão da banca milhões de cidadãos de quem se extorquiu seguros de vida, planos de poupança, consumo a crédito, incluindo as famosas viagens de avião dos antes pés descalços.

O enorme esforço de socialização dos brasileiros foi feito promovendo subjetividades individualistas e antissociais.

Para isto ajudou muito a teologia da prosperidade e a substituição paulatina da ideia de justiça social pela de sucesso individual.

A população brasileira não rejeita o discurso de esquerda. Pelo contrário, aprendeu demasiado bem o discurso que a prática de esquerda lhe foi ditando.

CC: Nas eleições municipais brasileiras realizadas em 2 de outubro, vimos uma ascensão de nomes conservadores. São Paulo elegeu João Doria, do PSDB, um empresário de discurso privatista, que buscou demonizar a classe política tradicional e vangloriou-se de ser um self-made man, a exemplo do que ocorre com Donald Trump nos Estados Unidos. A votação de Doria em regiões periféricas de São Paulo foi muito acima do esperado. Por que os mais pobres estão seduzidos pelo discurso da meritocracia?

BS: Na lógica da ideologia neoliberal dominante, a política, enquanto escolha entre opções ideológicas diferentes, tende a desaparecer.

Como não há alternativa, os governantes não necessitam do consenso dos cidadãos, basta-lhes a resignação.

A democracia de baixíssima intensidade consiste na conversão  de diferenças ideológicas em diferenças de qualquer outro tipo que garantam o espetáculo da alternância.

Surgem assim novas polarizações que se afirmam  como as duas faces do sistema neoliberal: a face do sistema e a face do anti-sistema.

Isto tem duas consequências. A primeira é que, como são duas faces do mesmo sistema, os que se afirmam como anti-sistema são aqueles que mais beneficiam dele.

Por isso, os  milionários que terão sido eleitos em grandes cidades brasileiras não terão tido dificuldade em apresentar-se como anti-sistema.

Isto é, os que não são profissionais da política porque têm tido dinheiro suficiente para mandar nos profissionais da política.

A segunda consequência é que, como a política partidária se vai degradando e, com ela, a formação política que ela devia envolver, não são necessárias qualificações específicas para ser dirigente político.

CC: O culto à celebridade chegou à política?

BS: A notoriedade pública em qualquer domínio, seja espetáculo, futebol ou cinema, pode ser qualificação suficiente.

Não surpreende assim que o presidente da Guatemala, Jimmy Morales, seja um antigo comediante da televisão, que Beppe Grillo, o palhaço italiano, esteja à frente de um partido  muito dinâmico (Cinco Stelle), ou que um homem de negócios e de showbussiness como Trump tenha chegado onde chegou.

CC:   Conversamos recentemente com Slavoy Zizek, e ele afirmou que a esquerda precisa redescobrir “a força do Estado”. David Harvey, por sua vez, defende um humanismo revolucionário, em que as diversas tendências de esquerda reorganizem o trabalho de forma associativa para construir uma economia alternativa ao capitalismo. Qual é a sua proposta para o futuro da esquerda?

BS:  A esquerda do futuro deve orientar-se pelo lema democracia sem fim. Se a isso não quisermos chamar socialismo, não tenho problemas.

Democracia não apenas no sistema político, mas também nas empresas, no espaço público, nas igrejas, nas escolas e universidades, nas famílias, no transporte e nas relações com a natureza.

Cada espaço requer uma forma específica de democracia, já que as formas mais conhecidas, a representativa e a participativa, são apenas um pequeno excerto do menu democrático.

Não haverá democracia de alta intensidade enquanto estiverem em vigor as três formas modernas de dominação: capitalismo, colonialismo e patriarcado.

As três formas atuam sempre articuladamente.

Um dos problemas da esquerda do passado foi, no seu melhor momento, centrar-se na luta contra o capitalismo e considerar secundárias ou negligenciáveis as lutas contra o colonialismo e o patriarcado.

Aliás, aceitou acriticamente que o colonialismo tinha acabado com o colonialismo de ocupação territorial estrangeira e não viu que ele continuou até hoje sob outras formas, como racismo, xenofobia, colonialismo territorial interno, expulsão e massacre de indígenas.

Congratulou-se  com pequenas vitórias no dominio patriarcal sem ter em conta que o capitalismo e o colonialismo não dispensam o patriarcado.

CC: Capitalismo, colonialismo e patriarcado tem de ser desconstruídos em conjunto?

BS: A esquerda do passado aceitou que os movimentos sociais se dividissem entre os que lutam contra o capitalismo, os que lutam contra o colonialismo e os que lutam contra o patriarcado.

Por isso, as forças da dominação estão mais unidas do que nunca, enquanto as forças que lutam contra elas estão mais divididas do que nunca.

Alguém pode se surpreender que, quando Michel Temer chega ao poder ilegitimamente e forma um governo para reforçar a dominação capitalista, desapareçam do seu ministério mulheres e afrodescendentes?

Um dos fatores mais promissores da unidade das esquerdas vai ser a natureza, uma vez que é nela onde mais se condensa a articulação entre capitalismo, colonialismo e patriarcado.

O campo da democracia no trato com a natureza é onde se verão melhor os pontos de contacto entre a luta anti-capitalista, anti-colonialista e anti-patriarcal.

O neoliberalismo não vê o grande objetivo de transformar o trabalho com direitos em trabalho sem direitos separado do objetivo de expulsar os camponeses e indígenas das suas terras ancestrais, de contaminar as águas e pulverizar livremente com insecticida os pulmões dos trabalhadores rurais, de sobre-explorar as mulheres com trabalho não pago e aceitar a violência contra as mulheres como parte da subjetividade empreendedora que promove, uma subjetividade ora exuberante com o êxito macho, ora estressada em busca de inimigos ou de descargas emocionais fáceis.

CC: E qual deve ser o papel do Estado para a nova esquerda?

BS: O Estado é hoje um monstro necessário. É um monstro porque reduz toda a diversidade econômica, social e cultural da sociedade a um modelo monocultural, homogêneo de administração.

É falsa a alternativa entre querer ou não querer tomar o poder do Estado, ainda que este seja uma fração cada vez menor do poder social.

É preciso tomar o poder para o transformar e não esperar que ele se transforme antes que a esquerda o queira ocupar.

Mas, para a esquerda, governar enquanto as sociedades forem capitalistas, colonialistas e patriarcais, será sempre um exercício de contracorrente.

Não se pode governar como a direita governa só que para outros objetivos.

Isto significa, entre muitas outras coisas, tolerância zero face à corrupção e reforma constitucional no sentido de criar um quarto órgão de soberania, o controle cidadão por via da participação organizada e autônoma.

Significa também que entre dois males se deve recusar sempre o mal menor se ele for apresentado como o único meio de evitar o mal maior. O mal menor tende a ser a versão em miniatura do mal maior.

CC: Alguns consideram que um projeto de Estado não é prioritário.

BS: Tomar ou não o poder do Estado é uma falsa alternativa, o mesmo sucede com a alternativa entre lutas institucionais, legais, no quadro do sistema político-jurídico existente, e extra-institucionais, ou seja, ações diretas eventualmente ilegais mas pacíficas, isto é, eventualmente apenas contra a propriedade, nunca contra a vida ou a integridade física.

O esvaziamento progressivo da democracia realmente existente e o consequente aumento do caráter repressivo do Estado e da criminalização do protesto social vão obrigar a que muitas das lutas democráticas sejam ilegalizadas e tenham de ocorrer fora do marco institucional.

Já hoje, em vários países da América Latina, bloquear uma estrada para não deixar entrar as máquinas do abate de árvores e da mineração nos territórios indígenas ou afrodescendentes é considerado um ato terrorista.

Amanhã, qualquer manifestação de ecologistas urbanos pode ter o mesmo destino.

Os camponeses, os indígenas e as populações quilombolas que hoje defendem o campo contra a exploração agressiva e sem controle dos recursos naturais estão a defender os habitantes das cidades de amanhã.

Leia também:

Moniz Bandeira: Danos à economia brasileira pela Lava Jato já superam em muito o custo da corrupção


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Ministro do STF Teori Zavascki Vetou a Cobrança de Percentual de 20%

dos Valores Ressarcidos à Petrobras por Cerveró, Pretendida pela PGR.

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HOJE, Quinta-Feira, 3/11
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Lançamento do Livro:
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“A IDEOLOGIA DO MOVIMENTO ESCOLA SEM PARTIDO”
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Otto

Um monte de baboseiras do sociólogo lusitano pósmodernoso, muito cultuado aqui no Brasil (principalmente na PUC).

Cláudio

:
: * * * * 04:13 * * * * .:. Ouvindo As Vozes do Bra♥♥S♥♥il e postando: A grande mídia (mérdia) é composta por sabujos sujos e sabujas sujas a serviço dos ianque$ e do $ionismo de capital especulativo internacional e outras máfias (como a ma$$onaria) dos e das canalhas direitistas…
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PARA A ENÉSIMA PUTifARIA ( patifaria + putaria ) DA DIREITA:
Foi com muito cálculo que se preparou mais essa para o PT (e/ou as esquerdas, o progressismo/trabalhismo). E, ao que parece, o partido não contava nem se preveniu para essa eventualidade. Aliás, é estranho o número de vezes que o PT é pego de calças curtas, desprevenido e perplexo. E, o que mais espanta, é que seus inimigos nem parecem ser tão espertos assim.
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AS MORDOMIAS DOS MARAJÁS EM PÉ DE GUERRA:
Os 17 mil juízes receberam em média 46,1 mil por mês em 2015;
Os 1,2 mil promotores e procuradores de Justiça recebem salário máximo teórico de 33,7 mil mensais;
Magistrados e promotores têm auxílio-moradia de 4,3 mil mensais. Se morarem juntamente com um cônjuge que também tem direito a auxílio, ambos recebem da mesma forma;
Todos têm 60 dias de férias por ano e, em caso de trabalho fora do local, uma diária equivalente a 1/30 da remuneração mensal;
Pena máxima em caso de punição disciplinar: aposentadoria compulsória com salario integral (i$$o é punição mesmo ou é premiação ?…)
.

Poesia contra a distopia (Distopia = Ideia ou descrição de um país ou de uma sociedade imaginários em que tudo está organizado de uma forma opressiva, assustadora ou totalitária, por oposição à utopia. “Distopia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/distopia [consultado em 01-10-2016].)

::
O fetiche da mercadoria
ou
dA coi$ificaçãØ do ser humano
……………………………………………………………para o poetamigo e Doutor em Comunicação Laerte Magalhães
.
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………………………………………………………..ma$$ificaçãoma$$ificaçãoma$$ificaçãØ
…………………………………………………..ma$$ificaçãoma$$ificaçãoma$$ificaçãØØØ
……………………………………………..ma$$ificaçãoma$$ificaçãoma$$ificaçãØØØØØ
………………………………………..ma$$ificaçãoma$$ificaçãoma$$ificaçãØØØØØØØ
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…………………………..ma$$ificaçãoma$$ificaçãoma$$ificaçãØØØ
…………………………..ma$$ificaçãoma$$ificaçãoma$$ificaçãØ
…………………………………………………………………………………………………………(Cláudio Carvalho Fernandes)
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O poema acima (O fetiche da mercadoria…) apresenta-se, no original, em forma de cubo, o protótipo da mercadoria.
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Desalienando a ma$$ificação coi$ificante
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É melhor
Ser um, mesmo que zero, à esquerda
Do que, títere-palhaço, a-penas (só) faz-ser nú-mero$-$$ à direita
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
::
Poema Z
…………………………………………….Para Dilma, Lula e o PT e todas as forças progressistas brasileiras (e mundiais). Sinta-se homenageado/a, também.
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Penso
Logo(S)
ReXisto
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
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Sempre
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A vida
Entre duas pedras:
Sobre
Viver
Ou
Morrer
Sob…
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
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Tão duro mas tão terno
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É preciso
Não ter esperança alguma
Para se construir
Da necessidade (de viver, do viver)
Algo melhor
Do que não ter esperança alguma
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
::
Doce conformismo ?
Ou
Da “queda” da poesia para a história
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As coisas são como são
E não como deveriam ser
Penar por elas é em vão (ou não)
(S)E ultrapassa o próprio viver
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
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ReXistência
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Não deixe que aluguem o seu pensamento:
Simplesmente mude de canal ou desligue a TV
Diga “NãO” à Rede Goebbels
…………………………………………….(Cláudio Carvalho Fernandes)
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(Em la lucha de clases)
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Em la lucha de clases
Todas las armas son buenas
Piedras
Noches
Poemas
…………………………………………….(Paulo Leminski)
::
(Não é a beleza)
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Não é a beleza
Mas sim a humanidade
O objetivo da literatura
…………………………………………….(Salamah Mussa)
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A existência precede a essência.
…………………………………………….(Jean-Paul Sartre)
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Por uma verdadeira e justa Ley de Medios Já pra antonti (anteontem. Eu muito avisei…) !!!! Lula (sem vaselina) 2018 neles (que já tomaram DE QUATRO) !!!!
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Nelson

“É falsa a alternativa entre querer ou não querer tomar o poder do Estado, ainda que este seja uma fração cada vez menor do poder social.”
“É preciso tomar o poder para o transformar e não esperar que ele se transforme antes que a esquerda o queira ocupar.”

Ao invés de adotar uma lógica de gestão diferente nas empresas públicas e estatais, com o objetivo de democratizá-las, valorizando seus funcionários e “cooptando-os” para um projeto novo, o PT deixou-as ao sabor de modelos neoliberais de administração.

Vimos, então, as empresas públicas, exceto em alguns momentos, apenas reproduzindo a ordem neoliberal. Os bancos públicos federais foram deixados imersos nessa ordem pelo governo deletério de FHC e, salvo algumas mudanças mais cosméticas, digamos assim, permaneceram nela com o PT.

Como resultado, vimos, dentro desses bancos, um ambiente de trabalho altamente competitivo e desagregador, ao invés de cooperativo e solidário. O mesmo clima se repetiu em outras empresas estatais, tais como a Embrapa, os Correios, etc.

Nos Correios, a atuação foi lamentável, uma aberração. Os governos do PT pareciam estar fazendo tudo de forma deliberada para destroçar e sucatear a empresa; talvez com o objetivo de justificar sua privatização, atendendo assim aos ditames do FMI. O mesmo FMI que tinha sido mandado embora do país pelo governo de Lula.

Enfim, a postura dos governo do PT com relação às empresas públicas e estatais denota, ao que parece, uma incompreensão, inconcebível a meu ver, da importância do Estado. Ainda que o Estado seja “um monstro” como afirma o Boaventura.

Tivessem adotado o rumo da democratização efetiva dessas empresas e da valorização de seus funcionários – que por valorização não se entenda a concessão de altos salários e mordomias – os governos do PT teriam um “exército” de funcionários públicos a simpatizarem com seu projeto e a defendê-lo.

Como não fizeram isso, há, dentro dessas empresas um enorme contingente de trabalhadores que atenderam ao chamado dos golpistas e andaram batendo panelas pela derrubada da Dilma.

O golpe poderia ter ocorrido assim mesmo? Poderia, mas seria muito mais difícil para os golpistas concretizá-lo. Mas, mais importante, penso que a reação do povo ao golpe já estaria se evidenciando com a força exigida, ao contrário da passividade bovina que vemos, neste momento, da imensa maioria.

marco

Sem dúvidas,ler-se uma entrevista com o aludido senhor,traz para todos nós,conhecimentos e ensinamentos múltiplos.Quero na oportunidade,colocar algo ao respeito de conceito,com o qual não concordo.DEMOCRÁTICO? O que quer dizer?Nos dicionários,em geral,afirma ser REGIME em que todos serão detentores do PODER.Mas onde,quando na HISTÓRIA,isso se deu? Não encontrei em nenhum lugar,onde procuro,qualquer afirmação nesse sentido.Não seria a DEMOCRACIA,uma abstração doutrinária,que consiste em incutir nas mentes de todos,crença nela,na DEMOCRACIA?Para mim,sim.Porque.Não conheço e nem ouvi falar,de nenhum lugar no mundo e durante toda história,desde OS GREGOS,que tal regime,tivesse resolvido os IMPASSES que alega ser capaz de faze-lo.Não seria melhor,adotarmos de vez,o SOCIALISMO,como a melhor forma regimental,de tentar dirimir diferenças entre todos nós,até que se encontre um SISTEMA que privilegia a todos?

C.Poivre

Economia politicamente direcionada é o sucesso da Bolívia:

https://actualidad.rt.com/opinion/alfredo-serrano-mancilla/222573-bolivia-economia-eficazmente-precavida

Edgar Rocha

“Não se pode governar como a direita governa só que para outros objetivos. (…)
Isto significa, entre muitas outras coisas, tolerância zero face à corrupção e reforma constitucional no sentido de criar um quarto órgão de soberania, o controle cidadão por via da participação organizada e autônoma.”

Recado dado aos que elaboram sofismas para alegar que o combate à corrupção não é prioridade do pensamento de esquerda e àqueles que evocam o sucesso dos governos de esquerda, simplesmente por terem feito o que dava pra se fazer, escolhendo sempre o “mal menor” como única opção. Aos hipócritas que alegam ter sido os avanços da direita nos governos de esquerda como efeito natural da luta política e seu jogo de forças, é bom ter o sr. Boaventura pra elucidar que a escolha deveria ter sido feita em prol das lutas e dos projetos sociais que a esquerda sempre defendeu. Governabilidade sem governar não é vantagem. Pensaram que fosse para os que queriam se perpetuar no Governo. Nem pra eles foi.

Ben

Dia dos Mortos

https://goo.gl/PYzcD8

Nilson

Concordo em parte Sr. Luis Carlos Azenha., é que a mídia mente tanto, manipula tanto, que só me resta a revolta. Veja a manchete da Folha de hoje, não é para ficar indignado ?
Daqui a pouco o JORNAL NAZISTA DA CIDADE DE BAURU VAI copiar A DENUNCIA DA FOLHA/EMPREITEIRA CONTRA A DILMA. e A DENUNCIA CONTRA O SERRA NA MESMA FOLHA FALA EM “SUPOSTO’ CAIXA 2 NA SUÍÇA NÃO SAIU UMA LINHA SE QUER NO JORNALISMO DE ESGOTO DO RIO BAURU.

EU QUERIA SABER SE O CERRA COMPROU O JORNAL NAZISTA DE BAURU , OU COMPROU O NAZISTA DONO DO JORNAL ?
EM BAURU COMO EM TODO O PAÍS NÃO EXISTE MAIS DEMOCRACIA.

Alex

O q esperar mais dessa onda conservadora?
http://novoexilio.blogspot.com.br/2016/11/o-gol-da-alemanha-e-revanche-dos-vira.html?m=1
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FrancoAtirador

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Chegou a Hora da Juventude Promover

o Mega-Festival de Música e Arte Popular

ocupando todos os Espaços Públicos.

Um Outro Mundo é Possível, Agora!
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Geraldo

Fora de Pauta e sobre a eleição americana

Hillary ou Trump?

A escolha é mais ou menos essa: você foi condenado a ser decapitado por um machado (antes da guilhotina, era o machado que cortava as cabeças). Mas o todo poderoso monarca resolve lhe dar a oportunidade de escolher entre um carrasco homem ou um carrasco mulher (a palavra carrasca não existe na língua portuguesa).

E o próprio monarca sádico resolve lhe explicar a diferença: no caso do carrasco homem, você perderá a cabeça com uma única estocada pois os carrascos homens são geralmente mais fortes do que os carrascos mulheres. Se o carrasco for uma mulher, depois da primeira estocada sua cabeça poderá ainda ficar parcialmente ligada ao resto do seu pescoço por algum tempo e haverá a necessidade de uma segunda estocada. E então, o que você escolhe?

Veja que loucura é a sociedade americana lendo esta matéria de Pablo Ximénez de Sandoval, publicada no El País

Waco: o coração do ódio paranoico contra Hillary Clinton
A estrada que atravessa Waco, no Texas, está cheia de igrejas de ambos os lados, em sua maioria congregações batistas numa das zonas mais religiosas do estado. Uma dessas congregações, em 1993, colocou o nome de Waco para sempre no imaginário global.

Por Pablo Ximénez de Sandoval, no El País

Charles Pace, o pregador que mora na fazenda dos davidianos em Waco, mostra o lugar da tragédia de 1993. O nome completo era Associação Geral do Ramo Davidiano da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Para o resto do mundo, era a seita dos davidianos. Em 1993, uma tentativa do Governo federal de investigar a seita por comércio de arma acabou em tiroteio, que desembocou num cerco e num pavoroso incêndio onde morreram quase 80 pessoas, incluindo 18 crianças e o líder davidiano, David Koresh.

Neste lugar, chamado Monte Carmelo, a 15 minutos de carro de Waco, hoje se veem de novo três casas e uma capela. Os únicos habitantes são um homem chamado Charles Pace e sua família. Na tarde da última quarta-feira, Pace fazia consertos em sua casa. Ele se juntou aos davidianos nos anos setenta e dedicou sua vida à exploração espiritual até que foi embora da congregação, em meados dos anos oitenta, por discrepâncias com Koresh. Basicamente, Koresh dizia que era o Messias e Pace não acreditava. Não esteve durante o cerco; chegou aqui depois.

“Trump é muito popular aqui”, diz Pace, que ergueu um pequeno altar na entrada onde estão os nomes de todos os mortos no ataque do FBI. Sobre um dos túmulos, há um cartaz que diz: “Hillary para a prisão – 2016”, reproduzindo um lema da campanha de Trump. E logo embaixo ele escreveu: “Os Clinton ordenaram à Força Delta que matasse Koresh e seus seguidores” (Foto abaixo).

É nesse ponto que a conversa com Pace chama a atenção. “Hillary era quem dava as ordens. Era ela que pressionava o marido para que intercedesse.” Pace acredita que o presidente Bill Clinton, que estava havia um mês no cargo e herdou uma investigação que já durava meses, ordenou que não sobrasse ninguém vivo entre os davidianos. O motivo, segundo essa teoria, era que David Koresh sabia coisas sobre a corrupção do presidente.

A matança de Waco está na raiz de todas as teorias conspiratórias da direita alternativa (a “alt-right”, mencionada pela própria candidata), que odeia furiosamente os Clinton, especialmente Hillary. O ódio é misturado com a desconfiança do Governo, com a versão mais radical do direito de portar armas e com teorias esotéricas sobre a Nova Ordem Mundial. Essas teorias estão em vários documentários na internet e são objeto de um livro do comentarista Roger Stone. O candidato republicano, no entanto, jamais se pronunciou sobre essas coisas ou sobre os davidianos.

A resistência dos davidianos em abril de 1993 provocou uma onda de apoio de grupos extremistas contra o Governo. Entre eles estava Timothy McVeigh, que planejou a destruição de um edifício federal de Oklahoma em vingança à tragédia de Waco, exatamente dois anos depois. “Oklahoma foi um trabalho interno. Eles fizeram”, diz Pace, que é uma verdadeira enciclopédia das conspirações das últimas duas décadas.

Além disso, Pace afirma que Trump é o David Koresh de nosso tempo. Está lutando contra o império, e sua arma é a verdade. “Trump está fazendo o mesmo que Koresh, mas em escala mundial. Está indo contra a Nova Ordem Mundial e expondo suas mentiras.” Diz que, se Trump perder, “haverá secessão em alguns estados”. E, quando Hillary tentar estabelecer seu império, vai impor a lei marcial. Charles Pace é a versão mais radical do ódio da extrema-direita contra os Clinton e o establishment. Antes da sessão de fotos, ele troca de roupa. Quer sair com uma camisa anti-Clinton.

Apenas nove pessoas sobreviveram em Monte Carmelo. Uma delas é Clive Doyle, que hoje tem 76 anos e continua morando na cidade de Waco (Foto acima). Doyle relata como conseguiu pular sem ver nada, no meio da fumaça e com a pele chamuscando, por um buraco na parede produzido pelos tanques do FBI. Tinha morado na congregação desde 1966 e ainda hoje está convencido de que Koresh era o filho de Deus. Por isso, não se dá bem com Pace e não voltou a morar em Monte Carmelo.

Doyle estava lá durante o cerco, e a ponto de morrer por uma decisão do Governo Clinton. Mas rejeita todas as teorias conspiratórias. Só não deixa de criticar a atitude do FBI, “as mentiras e erros” que provocaram a tragédia. Por que não saíram de lá? “Era nossa casa. Tínhamos visto o Governo entrar matando, tal como nas profecias da Bíblia”, responde. “É preciso entender a mentalidade dos religiosos que se separam do mundo: o mundo é o inimigo. E você não entrega seus filhos ao inimigo.” Os davidianos estavam convencidos de que viviam uma situação similar aos ataques religiosos da Antiguidade.

Desde então, Doyle viu como o lugar foi sendo colonizado por esses grupos estranhos. “Todo 19 de abril (dia do ataque), organizo ali uma cerimônia de recordação. Um ano, recebi uma carta de um grupo chamado República do Texas dizendo que queriam falar no memorial. No dia seguinte, um integrante da República do Texas me ligou falando a mesma coisa, e respondi que podiam falar. Veio então um monte de gente armada, dizendo que eu não tinha respondido à sua carta. E o fato é que existem três grupos autoproclamados República do Texas, que se odeiam mutuamente”, afirma.

“Faz três anos que digo que posso estar de acordo com boa parte do que esses patriotas armados dizem. Mas são muito radicais e violentos”, diz o davidiano Doyle. “Se algum deles chegar ao poder, nos expulsará do Texas ou nos transformará em escravos. Estou vendo a mesma coisa nessas eleições.” Ele, que poderia muito bem se considerar vítima direta do presidente Clinton, não tem nada contra a candidata democrata e seu marido. “Os Clinton herdaram essa situação e tomaram decisões ruins”, afirma, em contraste com os direitistas que idolatram o cerco de Waco.

Doyle não vai votar nestas eleições. Não acha que possa votar em alguém que não conhece. Mantém intactas suas convicções davidianas. E afirma que continua esperando a ressurreição de David Koresh.

FrancoAtirador

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O Humanismo fundiu-se à Metafísica e foi reconvertido em Metapolítica
cuja Prática Social é Manipulada pelo Aparato de Propaganda Capitalista
para declarar à Humanidade que o Materialismo Científico é um Fracasso.

Em Essência, Cada “Fundamento Metapolítico” – seja ele o Gênero, a Etnia,
a Natureza ou a Religião – é considerado isoladamente nos Grupos Sociais
como Causa Existencial Humana Preponderante ao Próprio Sistema Político
sobrepondo-se aos Instrumentos Políticos Legais do Estado e definindo-os.
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    FrancoAtirador

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    Antes de ser uma Crise da Esquerda ou da Democracia Representativa,

    o que está sendo Questionado é o Conceito de Representação Política.

    http://www.scielo.br/pdf/ln/n67/a03n67.pdf
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Nilson

O que me deixa indignado é a postura de Luiz Carlos Azenha que não denuncia o JORNAL DA CIDADE DE BAURU, que pratica um jornalismo de guerra contra o PT, Lula e Dilma. IGUALZINHO OS JORNALECOS DA CAPITAL.

Procure entender como foi a desocupação de duas escolas estaduais em Bauru pela PM Nazista do Estado de São paulo. Porque este jornalismo não denuncia o fascismo que se instalou-se em Bauru através de apenas um jornal do deputado que um dia disse que passaria um cerca no município. OS IGNORANTES E OTÁRIOS DE BAURU OPTARAM ENTRE DOIS CANDIDATOS DOS FASCISTAS DO PSDB, GAZZETTA DO PSD E RAUL DO PV. DOIS PARTIDOS SAFADOS QUE SÃO APENAS APêNDICE DO PSDB NAZISTA DO ALCKIMIN .

FALE PARA O INTERIOR QUE ESTÁ SENDO MASSACRADO PELOS FASCISTAS DO MUNICIPIO, PM E GOVERNADOR E OUTROS ….. .. …. RADICADOS EM BAURU.

    Luiz Carlos Azenha

    Você já está denunciando. Mas, se puder fazê-lo sem ofensas…

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