Antônio David: Discurso de Vladimir Safatle bloqueia a reflexão

Tempo de leitura: 5 min

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Um fantasma ronda a esquerda: uma forma autoritária de pensar

por Antônio David, especial para o Viomundo

Não é de hoje que a esquerda brasileira vive às voltas com impasses. Por isso, deveríamos no mínimo fazer o esforço de tentar olhar para trás de maneira honesta e generosa, se quisermos entender os impasses em torno do “lulismo” e enfrentá-lo da melhor forma. Mas nem isso conseguimos.

Em seus mais recentes artigos, O que podemos?  e Frente de esquerda para quê?, Vladimir Safatle insiste na tese de que os impasses da atual conjuntura reduzem-se à “falta de coragem” – uma maneira nova de dizer o velho bordão “falta de vontade política”.

Segundo Safatle, enquanto a esquerda brasileira “não tem mais nada a oferecer de realmente novo e diferente do que vimos”, os espanhóis “não temeram procurar reinventar a força da política através de uma confiança renovada no povo”.

Safatle argumenta: “Se a esquerda quiser ter alguma razão de existência (pois é disso que se trata), ela deve começar por fazer uma rejeição clara do modelo que foi aplicado no Brasil na última década, seja no campo político, seja no campo econômico. O modelo lulista não chegou a seu esgotamento por questões exteriores, pressão da mídia ou inabilidades de negociação da senhora Dilma. Ele se esgotou por suas contradições internas e quem o criou não é capaz de criar nada de distinto do que foi feito”.

Atente-se bem para os termos empregados: “realmente novo e diferente”, “rejeição clara”. As palavras são fortes e contundentes. Todavia, por trás dessa aparente assertividade, há algo de lacunar no discurso de Safatle. A verdade, como sabemos, aparece melhor nos silêncios do discurso. Vejamos.

Tendo criticado a evocação de Lula por uma Frente de Esquerda, Safalte conflui: “não é a falta de direção que acomete a esquerda brasileira. É a falta de coragem”.

Afinal, de quem exatamente Safatle está falando? Do PT ou da esquerda no seu conjunto? No caso, a “esquerda brasileira” da qual fala Safatle envolve toda a esquerda – incluso a esquerda à esquerda do PT, incluso seu próprio partido, o PSOL?

À primeira vista, a pergunta parece conduzir à velha e inútil cultura da picuinha. Porém, abaixo da superfície, há uma questão de fundo.

Se, como sustenta Safalte, o lulismo “se esgotou por suas contradições internas e quem o criou não é capaz de criar nada de distinto do que foi feito”, cabe indagar: quem o criou? Safatle não diz. Não é por acaso.

Ao contrário do que Safatle sugere – sem, no entanto, dizer -, a estratégia do lulismo – pois é de uma estratégia que se trata – não foi criada pela mente (genial ou doentia) dessa ou daquela pessoa, desse ou daquele grupo, mas pelo confronto no interior do PT ao longo da década de 1990. Formulada no curso dessa década como resposta à derrota de 1989, essa estratégia é a síntese da luta interna travada no interior do PT.

Vistas as coisas sob essa ótica, é necessário reconhecer, se quisermos de fato enfrentar os impasses do lulismo, que se a estratégia do lulismo guarda limites, deméritos, vícios, a esquerda brasileira no seu conjunto – no que se incluem as correntes que deram origem ao PSOL – é tão responsável pela estratégia do lulismo quanto àquelas que se mantiveram no PT.

Claro que essas correntes recusarão esse ponto de vista. Afinal, elas se opuseram à estratégia. Como podem então ser responsáveis? Tal como tratei longamente em outro artigo, na estratégia do lulismo está inscrita a incapacidade de as correntes que a ela se opuseram, seja enquanto estavam no PT, seja depois que saíram, de oferecer uma alternativa.

Na ausência de alternativas, na recusa a discutir o que de fato merece ser discutido – estratégia –, tudo se resume a apontar os culpados. Para tanto, forjou-se uma narrativa: o campo majoritário fez filiações em massa; os congressos foram fraudados; a maioria esmagou a minoria. Sem dúvida, é mais cômodo olhar os acontecimentos históricos sob essa ótica.

No entanto, se nos perguntarmos a quem o discurso de Safatle é dirigido e com vistas a quê esse discurso é produzido, será que essa ótica ainda se sustenta?

Ao defender a tese de que o problema se resume a “falta de coragem”, Safalte está como que dando um recado. É como se estivesse dizendo: “Não percam tempo em discutir estratégia. Isso é pretexto. Quem discute estratégia quer no fundo desviar a atenção da questão central: ter ou não ter coragem”.

Se o que Safatle diz é verdade, livros como Os Sentidos do Lulismo, de André Singer, não têm valor algum. No fundo, trata-se de um grande blá-blá-blá que apenas desvia o leitor da questão central: ter medo ou ter coragem.

Não admira que, para Safatle, correlação de forças mereça aspas. (Claro que, se questionarmos Safatle das razões pelas quais seu partido não logra realizar o sonho do triunfo eleitoral, para o qual declaradamente nasceu, imediatamente será evocada a correlação de forças desfavorável: não fosse a desigualdade do financiamento de campanha e do tempo de TV, tudo seria diferente).

Faço a ressalva: Safatle tem razão em parte. Todos sabemos haver fanáticos entre os que defendem o governo Dilma e o PT, para os quais a estratégia do lulismo é inquestionável.

De fato, estes usam e abusam da expressão correlação de forças. Para estes, nada é possível por conta da correlação de forças. Todavia, note-se bem que, ao recusar colocar a expressão no seu devido lugar – isto é, no interior de um debate sério sobre estratégia -, o que estes fanáticos fazem não é outra coisa senão… recusar discutir estratégia. No fundo, e ironicamente, a atitude dos defensores fanáticos governo Dilma e de Safatle é exatamente a mesma. Ambas as abordagens apenas atestam a incapacidade de parte da esquerda de oferecer alternativas à estratégia do lulismo.

Qual é o segredo desse discurso?

Ao analisar o discurso do movimento integralista nos anos 1920 e 1930, Marilena Chaui constatou que se tratava de um discurso que trabalha com pontos fixos, ou seja, como verdades tomadas de antemão, sobre as quais o pensamento não se debruça. Com isso, o discurso integralista “não só permite economizar a reflexão acerca dos processos históricos, mas permite sobretudo assegurar ao destinatário um suposto conhecimento” prévio da realidade, com base na reafirmação e repetição de preceitos tomados de antemão, de modo que o discurso tenha “força persuasiva e até mesmo constrangedora”.

Chaui nota que o aspecto político dessa operação reside exatamente na exclusão da reflexão: “Unido e disperso, a imagem, espelho dos dados imediatos, exclui a reflexão e, simultaneamente, cria a ilusão de conhecimento, graças ao seu aspecto ordenador”. Trata-se, em suma, de uma forma autoritária de pensar.

Ao trabalhar com pontos fixos, tomados como verdades de antemão – “realmente novo e diferente”, “rejeição clara”, “falta de coragem” –, o discurso de Safatle cumpre exatamente esse papel: bloquear a reflexão. Como explicar que um discurso que se pretende mobilizador do pensamento realize-se como bloqueio à reflexão?

A pergunta deveria ser: a quem, afinal, o discurso de Safatle é dirigido?

O discurso é dirigido à militância e aos simpatizantes do PSOL. Cumpre a função de coesionar essa militância. Assim como o discurso integralista, o discurso de Safatle “não só permite economizar a reflexão acerca dos processos históricos, mas permite sobretudo assegurar ao destinatário um suposto conhecimento” prévio da realidade, com base na reafirmação e repetição de preceitos tomados de antemão, de modo que o discurso tenha “força persuasiva e até mesmo constrangedora”.

Não tenho dúvida de que se trata de um discurso bem-sucedido e até mesmo útil em face do propósito de formar um exército de soldados – aliás, todos devidamente uniformizados. Os militantes e simpatizantes do PSOL ficarão felizes lendo os artigos de Safatle. Sentirão alívio. Terão a consciência apaziguada. Não terão de enfrentar o fantasma da crise interna que se abriria com a reflexão. Eles sabem que a estratégia do lulismo é um fracasso – aliás, sempre foi – e que a sua estratégia é a verdadeira, ainda que ela não possa ser exposta. E por que precisaria? Sua verdade é autoevidente, tão autoevidente que toda tentativa de reflexão sobre a estratégia não passa de pretexto e serve apenas para esconder o medo de fazer o que deve ser feito. Enfim, não há o que discutir: a culpa é dos outros, da sua “falta de coragem”. Nós estamos certos.

Estranho falar em reflexão quando nós da esquerda continuarmos a aceitar estruturas dirigistas, hierárquicas, hegemonistas e centralizadas.

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Comentários

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Roberto Locatelli

O PSOL só pensa numa coisa: destruir o PT.

Críticas ao PT todos temos, e precisamos explicitá-las. Mas ódio ao PT deveria ser privilégio da direita.

Fabio SP

As manifestações são uma falácia do PSDB para desmoralizar as conquistas do trabalhadores!
A crise é um teoria do FHC para controlar os direitos dos trabalhadores!
As vaias são um golpe da mídia golpista para desrespeitar os direitos dos trabalhadores!
Os altos índices de rejeição do governo são um golpe da direita fascista para manipular os movimentos sociais!

http://www.geradordedesculpasdopt.com.br/

Antonio Lobo

Caro Antonio David,

Eu li o artigo do Vladimir na CartaCapital e concordo inteiramente com você. Inclusive deixei um comentário lá dizendo que por trás do que ele dizia estava apenas uma estratégia do PSOL.

O fundamentalismo do PSOL é evidente para quem é professor da UFRJ. Eles dirigem o sindicato dos professores desde tempos imemoriais. E o que você comenta no artigo, é o que nós vemos: a “verdade” está posta, não há discussão possível porque eles “detém a luz”. E por conta disto, o movimento deve sempre partir para o confronto, pela política do quanto pior melhor. E o que é pior, agora eles conseguiram arregimentar um pequeno exército de estudantes cujo propósito é o mesmo.

Luís Ribeiro

Repararam que neste mesmo artigo o Safatle apresenta uma lista de 16 bandeiras para a esquerda e que a reforma de mídia não ficou nem com a mísera 16ª posição? Não dava para criar um 17º item? Não. E ainda mandou que “a pressão da mídia” não tem nada a ver com a crise do lulismo.

    Bonobo, Severino de Oliveira

    Se faltou a proposta de resgate do direito à informação, sequestrado do povo brasileiro, faltou um item fundamental indispensável a qualquer elaboração de sociologia e política que se faça sobre o Brasil, por descuido ou udenismo involuntário. O único modelo que se propôs a conviver, com grande sucesso, diga-se “em passant”, até o momento, sem mexer nesse item fundamental, foi o lulismo. Que agora enfrenta o preço dessa audaciosa opção de luta. Mas como o pensador “autentico” não tem compromisso com o quadro político REAL, essa questão das comunicações pode ser considerada um detalhe e não teria sido a GLOBO que mostrou todo o seu poder corrompendo a mais alta corte do país, numa ousada operação desenvolvida desde 2005 até 2012, para produzir sentenças de condenação encomendadas para colar o rótulo de “corrupto” no ÚNICO partido que ousou enfrentar o stablishment.

Rpepino

Chegou a hora de ler “O Caminho da Servidão” de Hayek e também “A Sociedade Aberta” de Popper. É o que os coxinhas esclarecidos têm feito.

abolicionista

Os stalinistas também debatiam estratégia quando davam as mão a Franco e fuzilavam os guerrilheiros durante a Guerra Civil espanhola. Estratégia.

    Roberto Locatelli

    Ha há, você tocou no cerne da questão! O stalinismo hoje (fortíssimo no PT, PCdoB, PSOL etc) se recusa a enfrentar as questões centrais. A primeira delas é organizar e mobilizar a classe trabalhadora. O PT (exceto uma pequena parte dele) abriu mão dessa tarefa e prefere ficar nos confortáveis tapetes de Brasília. Se formos hoje visitar um bairro pobre de, digamos, Rio ou São Paulo, veremos duas forças presentes e organizadas: as igrejas evangélicas e o tráfico de drogas. Procure-se por uma sede de núcleo do PT, e não se encontrará.

    Essa mesma atitude stalinista de não organizar os trabalhadores se casa perfeitamente com a atitude de não enfrentar a mídia burguesa (PIG), de colocar no BC presidentes a serviço dos banqueiros (taxa de juros subindo) e de não responder à altura os ataques que o PT sofre, a começar pelo “mensalão”.

    Para além de PT, e mesmo do PSOL e PCdoB, está surgindo uma força de esquerda que não se submete a essa paralisia do PT. Essa força está presente em setores da classe média (blogueiros), nas comunidades carentes (blogs e rádios comunitárias), em movimentos como o Movimento dos Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e outras organizações populares.

    abolicionista

    Concordo em gênero, número e grau. Espero viver para ver esse movimento ganhar força e se espraiar.

    Sobre a atuação do stalinismo, recomendo:
    http://orientacaomarxista.blogspot.com.br/2010/06/guerra-civil-espanhola-e-frente-popular.html

carlos saraiva e saraiva

Caro Antonio David, eu estava no Forum social em PA, e participei de uma reunião, em que os companheiros, discutiam a saida do PT. Estavam presentes, entre outros, Plinio de Arruda Sampaio, Mauro Iasi. Eu ponderei, melhor reflexão e a possibilidade da permanência, onde se podia aprofundar as discussões. Tenho muito respeito aos companheiros(as). Infelizmente, o que se verifica, por parte de muitos(as), não é uma proposta alternativa de esquerda e sim uma disputa hegemônica, que visa a liquidação do PT, pela via da desqualificação ideológica. Parece, desejarem ser o PT de seu nascimento, como a grande sigla oposicionista. Lembro , que o PT, surgiu, com uma concepção libertária , plural, democrática, de massa, de esquerda, com uma estratégia socialista clara, sem nenhuma visão de disputa hegemônica , com a esquerda da época. Sabemos que muitos comunistas, se agregaram ao novo projeto. Portanto, não vou repetir, suas reflexões, com as quais concordo. Apenas, acho, que devemos refletir, algumas causas, outras, fora as contradições do PT, para explicar a conjuntura, a ofensiva anti PT e sua posição. O não reconhecimento do sucesso do projeto petista, me parece, sectário, bem como a simples acomodação. Sejamos, de esquerda, sejamos fraternos, solidários e sobretudo, fortes, unidos nas ações, contra o adversário comum , a direita, o fascismo.

    Bonobo, Severino de Oliveira

    Eu entendo que o Antônio David está certo. O que vejo nos discursos de Safatle e Luciana Genro é uma espécie de combinação de ressentimento e incapacidade de elaborar propostas politicas de consenso na sociedade. Parece que procuram ignorar, aparentemente por ignorância ou conveniência, a imposição do sistema de coalizão de forças imanente na legislação vigente. Isso decorre de falta de visão, o que não se espera de quem se qualifica como intelectual, ou oportunismo udenista, o que seria também pouco inteligente porque seria indicativo do entendimento de que o extraordinário conjunto de forças reacionárias, nacionais e internacionais, que se juntou, seria capaz de destruir o PT. Qualquer um que tenha um mínimo de principio ético e moral entenderia que é hora de por as diferenças ideológicas de lado e fazer a luta em favor do Brasil e dos direitos dos brasileiros. Isso o PSOL já demonstrou que não está a altura de fazer quando se recusou a participar do movimento em defesa da Petrobras, baseado apenas em visão mesquinha de interesses fisiológicos. No meu entendimento esse comportamento não difere muito daquelas hordas que colocam a marca da CBF no peito e a bandeira dos EUA nas costas e saem na Paulista bradando contra a “corrupção”.

Paulo Falcão

Ver Safatle apanhando em público é sempre interessante, mas chega a ser covardia. Ele é fraco demais. Não há dúvida que Antônio David é mais lúcido, mais inteligente e mais articulado que Safatle. Neste artigo, ele dá um novo “pito” público no buliçoso professor. Sobre o “pito” anterior, escrevi o artigo “COMPANHEIRO, VOU FAZER SUA AUTOCRÍTICA” : http://goo.gl/m1hzWv
Deixo aqui o convite para a leitura.

Jair de Souza

Interessante: Safatle e o PSOL têm plena consciência dos problemas enfrentados pelos trabalhadores brasileiros e a maneira adequada para solucioná-los. Parece que o único problema é sua incapacidade política para convencer as maiorias a aceitar sua visão e propostas.

Reitero que isto é interessante porque sempre pensei que exercer ativamente a política implicava necessariamente em saber como influenciar a outros para que compartilhessem de nosso posicionamento. Vejo que me enganei. Na verdade, a depender do que “aprendemos” com Safatle, tudo depende mesmo é de nossa determinação (ou coragem, como alguns preferem dizer).

Será que nossa extrema esquerda vai continuar com esta crença de que, por mais isolados que se mantenham do conjunto da sociedade, por mais incapazes que sejam de convencer as maiorias, a verdade e a luz está com ela e com ninguém mais?

Safatle chega até mesmo a expressar algo que eu (perdoem-me por expressar-me assim) considero uma verdadeira bobagem: dizer que nós deveríamos tomar o caminho que está sendo trilhado por forças políticas europeias. Imagino que ele esteja se referindo a Podemos, na Espanha, que está conseguindo chegar a ser terceira força política por lá ao inspirar-se profundamente nas forças políticas que chegaram ao governo em países da América Latina e começaram a pôr em xeque o neoliberalismo.

No entanto, as limitações de Podemos são bastante patentes: não há na Espanha, e em quase nenhum outro país da União Europeia, forças sociais significativas que estejam conscientes, organizadas pela base e decididas a lutar seriamente por uma transformação social de cunho radical.

Na Espanha, Podemos sabe que, apesar de discursos inflamados, não tem condições de defender junto ao eleitorado que busca cativar a substituição do capitalismo por outro tipo de sociedade. Em nenhum momento tem ido além das críticas à corrupção e às mazelas do neoliberalismo, sua influência junto ao movimento operário é muito pouco significativa.

É triste para nós que alguns teóricos de esquerda latinoamericanos ainda estejam imbuídos de boa dose de eurocentrismo. Hoje, nenhum movimento, partido ou organização política da Europa está em condições de servir como modelo para a inspiração daqueles que travam as lutas em nossa América. O contrário, sim, é totalmente válido.

A crítica às insuficiências do modelo petista é necessária e deve ser feita, mas não menosprezando sua importância e os valiosos avanços que nosso povo conquistou durante os últimos 12 anos.

    Ibsen Marques

    A questão é: a continuar nesse ritmo, em quanto tempo teremos entregue às conquistas sociais dos últimos 12 anos e as trabalhistas de muitos mais. Uma coisa é você compor para vencer, a outra é se vender para governar. Não dá prá justificar a nomeação de um ex FF (FMI-FHC) para a Fazenda nem uma latifundiária para a Agricultura. O Frei Betto tem razão em sua crítica. Os governos petistas facilitaram o acesso do pobre aos bens pessoais, mas não aos bens sociais.

    Jair de Souza

    Ibsen Marques, concordo com sua observação. O que eu não aprovo é o ultraesquerdismo neo-udenista, que se junta ao coro dos pseudo-moralistas e ajudam a inflamar as camadas médias alienadas com a martelação de sua fobia “anticorrupção” (entre aspas porque, quase sempre é uma fobia seletiva), mas que nada de concreto propõem para que nosso povo venha a avançar no processo de consolidação de suas conquistas e na obtenção das muitas outras ainda necessárias. Gostaria de pedir-lhe apoio para ajudar a nosso povo a superar as limitações do atual governo, sem incorrer na estupidez de ignorar os avanços conquistados e sem contribuir para que aqueles que não aceitam nem mesmo essas ainda limitadas conquistas venham a recuperar o poder político em nosso país e, com isso, ponham fim a tudo o que com muito sacrifício pôde ser obtido.

    abolicionista

    Sua leitura não leva em conta a luta ideológica. A longo prazo, é ela que conta. É isso que o esgotamento do lulismo está mostrando. O PT desprezou a luta ideológica (o próprio Lula o disse). O partido nunca teve um jornal. Abandonou gradualmente o trabalho de base. A direita brasileira, por sua vez, apostou todas as fichas na luta ideológica, e agora colhe os frutos tóxico de seu trabalho. É isso o que os petistas se recusam a enxergar.

    Antônio David

    Abolicionista,
    Você tem razão, mas o que eu procurei argumentar é que não foi apenas o PT que renunciou à luta ideológica. Essa recusa à luta ideológica é generalizada na esquerda. Quase todos renunciaram, cada um à sua maneira. A “oposição de esquerda” quer, não consegue fazer luta ideológica na sociedade. O PSDB consegue. Marina Silva conseguiu (e só não ganhou porque cometeu erros demais na campanha). A esquerda, não. A crítica para ser consistente, tem de ser dirigida à esquerda no seu conjunto. Caso contrário, o que se fará é uma caricatura de crítica.
    AD

    abolicionista

    Entendo. Acho que o PSol é tão pequeno que não dá para responsabilizá-lo por nenhuma alteração significativa no quadro político ideológico nacional. Contudo, certamente cometeu erros graves em alguns de seus posicionamentos, talvez até mesmo por inexperiência. Safatle, sem querer desmerecer a enorme capacidade intelectual dele, é mais hegeliano que marxista, ele mesmo o admite. Acho que o caráter abstrato de sua crítica tem mais a ver com isso do que com sectarismo.

    Antônio David

    Sim, mas é necessário ver a relação de causa e consequência. O PSOL não é pequeno por natureza; é pequeno justamente porque não consegue oferecer alternativa à estratégia do “lulismo”, e não o contrário. Marina Silva saiu do nada, do zero, e quase foi para o segundo turno. Ela conseguiu oferecer alternativa – infelizmente, à direita – e, por conseguir, tornou-se grande e forte. Aliás, se ela ainda levar adiante o projeto de fundar a REDE, provavelmente será um partido no mínimo de porte médio, com base social importante e grande expressão eleitoral. Eu me concentro nisso porque, na minha opinião, precisamos de uma esquerda (à esquerda do PT) grande e forte, que não só resista, mas tenha projeto de poder, para empurrar a sociedade para a esquerda. O PT não consegue fazer isso. O PSOL, menos ainda.

    Bonobo, Severino de Oliveira

    Interessante notar que o PSOL se isola no seu posicionamento “autentico” (que alguns chamariam de sectário) e deixam uma lacuna à esquerda que força o PT a escorregar à direita e depois vem justamente criticar o PT por fazer composições com a banda reacionária do espectro político. Quanto mais faltar apoio à coalizão de governo à esquerda, mais Levys, Cunhas e outros expoentes do conservadorismo fisiológico encontrarão espaços. E, ao final, parece que a culpa pelo crescimento de espaços para esses fósseis é do PT, na visão esquizofrênica dos “autênticos”.

    Matt

    Deixa eu ver então Antonio David: o sistema político-eleitoral brasileiro não é feito para formar plutocracias com alta concentração de poder político nos mesmos grupos que concentram o poder econômico. Não existe financiamento empresarial eleitoral, nem centenas de milhões de cargos comissionados com cabos eleitorais nomeados, nem instrumentos para transferir recursos orçamentários para empresas e ONGs ou para unidades federativas menores. O caráter minoritário da esquerda brasileira (a verdadeira, não esse arremedo de pseudoesquerda que é o neopetê) é porque eles são fracassados e pronto.

    Só que em se tratando do desempenho fracassado do governo Dilma, suas decisões cada vez mais à direita, aí a retórica muda de figura. O PT não conquista a maioria do Congresso por culpa da mídia, dos “coxinhas” e das “elites” que por alguma razão estranha conspiram contra o PT mas financiam o newPT. A nomeação do Ministro Bradesco e da Ministra Motosserra, a derrota humilhante para um cruzamento de Collor e Feliciano que atende pelo nome de Eduardo Cunha, o ajuste jogando nos ombros dos trabalhadores o custo de toda a crise provocada pelo superlucro financeiro (que cresce 30% enquanto a renda per capita do país passa da estagnação à queda livre).

    O PSOL perde por culpa do PSOL, e a mesma lei de aplica ao PCB, PSTU e PCO. Já o PT é uma pobre vítima das circunstâncias.

    Governismo é a arte de só enxergar o que convém.

    Antônio David

    Matt,

    Sim, é isso mesmo.

    Eu não ignoro isso tudo que você disse, mas existem brechas. Caso contrário, Lula não poderia ter polarizado o país em 1989, o PT não teria ganho governos estaduais e prefeituras na década de 1990, Edimilson Rodrigues (já no PSOL) não poderia ter chegado ao segundo turno em Belém em 2012, Marcelo Freixo não poderia ter tido uma votação razoável em 2012 etc.

    Embora o PT tenha muitos deméritos, penso que não existe espaço político <> para o PT crescer muito mais no Congresso. Talvez um pouco mais, mas não muito mais.

    Penso, ao contrário, haver um espaço político <> que pode ser ocupado por uma esquerda à esquerda do PT. Um espaço entre os trabalhadores que já ascenderam e não enxergam mais no PT (ou no governo) a possibilidade de continuar a ascender, e que estão numa encruzilhada, podendo ser ganhos tanto pela esquerda como pela direita. Por isso, só pode ocupar esse espaço quem apresentar uma alternativa ao PT.

    Esse espaço foi ocupado nas eleições de 2014 por Marina Silva. As pesquisas mostraram que ela teve votos predominantemente entre trabalhadores. O ponto é que ela ocupou esse espaço pela direita, mas eu acredito que esse espaço poderia ter sido ocupado pela esquerda, mesmo com mídia, financiamento empresarial, sistema eleitoral e tudo o que você apontou, que eu não ignoro. Quando eu digo “ocupar o espaço”, eu não estou pensando em ganhar as eleições. Estou pensando em criar força social através das eleições. Se esse espaço tivesse sido ocupado pela esquerda, isso empurraria a sociedade (e, com isso, a conjuntura política) para a esquerda.

    Em suma, penso que a esquerda à esquerda do PT poderia ter ocupado esse espaço, mas não ocupou e não consegue ocupá-lo por suas opções estratégicas, por seus erros, que ela não admite reconhecer e criticar. A opção estratégica do antipetismo e da oposição de esquerda impede que a esquerda à esquerda do PT tenha influência na sociedade. Acho que existe um espaço entre oposição de esquerda e governismo. Infelizmente, se Marina ocupar esse espaço, com sua Rede, ela vai empurrar a sociedade mais à direita.

    (Essa é uma crítica dirigida não só aos grupos que formaram o PSOL, mas ao conjunto da esquerda à esquerda do PT, inclusive aquela que ainda está dentro do PT).

    AD

Flavio de Oliveira Lima

Pegou no ponto: discutir a estratégia.
Pena que os psolistas evitam “o” ponto.

mz

Talvez seja simplismo da minha parte, mas: retirar milhões de pessoas da linha da miséria e fome, permitir ganhos reais do salário mínimo, melhorar o acesso de toda a população ao ensino superior, descentralizar o desenvolvimento regional, são estratégias de esquerda. Nós tivemos um movimento anterior de redução da taxa de juros, que infelizmente retrocedeu.
A retomada do desenvolvimento nacional com a política de conteúdo local é estratégia de esquerda no Brasil porque a direita é entreguista. Investimento no modal ferroviário sempre foi discurso da esquerda.
O jogo de forças políticas no congresso mudou a partir do primeiro governo Dilma e no segundo o desenho é completamente desfavorável com o anseio de protagonismo do PMDB para 2018. Qual vai ser a estratégia da esquerda frente o avanço da direita? Será a de tentar ocupar os espaços do lulismo ou somar a este?

Yacov

A esquerda desunida do Brasil é a esquerda que a direita adora.

“O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

C Político

Como historiador fico vendo observando as coisas e me decepciono ao ler este tipo de desabafo.
Mas pergunto, qual foi o erro do PT? Fazer uma esquerda possível?
O que querem que o PT faça?
Magica?
Um partido chega ao poder e onde foi parar a militância?
Dois dias antes da marcha coxinha, lá estava eu na Avenida Afonso Pena e mais uma meia dúzia de gatos pingados que tiveram a felicidade de contar com uma mão do MST se não seria o maior vexame.
Domingão ensolarado de abril e lá estava eu na porta da Globo na Avenida Américo Vespúcio em B Hte pra gritar que o povo não é bobo e abaixo a rede Globo”.
Contei nos dedos quantas pessoas tinham e não encontrei uma alma conhecida.
Sem povo e com militância que sentou no seu banquinho quando Lula assumiu não dá!
O PT continua aí, tomando dos velhos barões da Casa Grande e ainda aparece a senzala pra baixar o bambu.
Onde estavam os milhões de militantes que iam meter medo nas elites quando foi enviado o projeto de participação popular?
O mais importante projeto da história deste país, o meu sonho, nenhum gato pingado de novo.
Dói saber que os barões perderam o medo e gozam a nossa cara.

    Bonobo, Severino de Oliveira

    Eu enxergo nos “autênticos” o mesmo problema ou solução enfrentados pela Direita. A fixação no Lula para destruí-lo, talvez por diferentes motivos, nos autênticos é emocional e na Direita, como sempre, é fisiológico. E o Brasil? Ora o Brasil, a gente depois reconstrói tudo juntando os caquinhos da nossa maneira “autentica” e com toda a pureza que ele merece.

Julio Silveira

Me diverte ver o modo como certos elementos da esquerda trabalham a critica, ou auto critica, de qualquer um, mesmo que este se declare esquerda. A tentativa de enquadrar o sujeito, para levá-lo para o lado de pensamento único, é incrivel. Ainda que hajam varias correntes de pensamento na chamada esquerda, alguns não se conformam com a diversidade. Isso que esquerda se traduz, para mim, como um frente para dar espaço a diversidade. Mas não a diversidade na forma absoluta, que alguns mostram levantando bandeiras, me refiro a diversidade abstrata, a do pensamento. Na esquerda, assim como na dieita, basta alguem levantar uma bandeira contra uma unanimidade burra, que se se procura impor uma ordem para enquadrá-lo. Patrulhando da mesma forma como procedem os adversários da esquerda, em relação ao todo das ideologias, dos seus principios. Francamente, é direito do Safatle ter seu pensamento, é democratico expô-lo, é educado ouví-lo. Podendo ser absorvido, algo de sua posição, ou não. Deselegante, mau educado, a meu ver, é trazer sua manifestação para emparedá-lo, constrangê-lo, como interpretei, levá-lo ao silencio. Se o articulista discorda de posição poderia ( já que estão em pé de igualdade na oportunidade de expor seus pensamentos), procurá-lo para juntos chegarem, ou não, a um denominador comum. Levar a um debate publico, com base nas interpretações particulares, não solidificam a esquerda, muita gente teleguiada não está pronta pata refletir sobre esse interim. Alias, a esquerda brasileira não se une por que se perde nos oportunismos e na vaidade, nisso se nivelam aos da direita. Deve ser a cultura colonial impregnada.

    Julio Silveira

    Desculpem a repetição, mas achei de melhorar o texto. Obrigado.

    Dimas

    O que queríamos que o PT fizesse? Simples. Apenas cumprir um mínimo da sua plataforma. O autor, como os petistas vem fazendo desde que assumiram o governo federal, voltou à mesma justificativa.
    O Eduardo Cunha com um partido todo fragmentado, fez mais pela direita em um mes do que o PT nesses 12 anos fez pela esquerda.
    Fala sério…

    Julio Silveira

    Concordo Dimas.

Julio Silveira

Me diverte ver o modo com que certos elementos da esquerda trabalham a critica, ou auto critica, de qualquer um, mesmo se este se declare esquerda. A tentativa de enquadrar o sugeito para levá-lo para o lado de pensamento único é incrivel, ainda que hajam varias correntes de pensamento na chamada esquerda. Alguns não se confirmam com a diversidade isso que a esquerda se traduz como um frente para dar espaço a diversidade. Mas não a diversidade que absoluta que alguns levantam bandeiras, a diversidade abstrata, do pensamento. Basta alguem levantar uma bandeira contra uma unanimidade que se quer impor para já sofrer a patrulha da mesma forma que procedem os adversários da esquerda em relação ao todo, aos seus principios. Francamente é direito do Safatle ter seu pensamento, é democratico expô-lo, é educado ouví-lo, podendo se absorver algo de sua posição ou não. Deselegante, mau educado é trazer sua manifestação para emparedá-lo, constrangê-lo como interpretei. Se o articulista discorda de sua posição poderia, já que estão em pé de igualdade na oportunidade de expor seus pensamentos, procurá-lo para juntos chegarem, ou não, a um denominador comum.
Travar um debate de pensamento com base nas interpretações particulares não solidificam a esquerda. Alias, a esquerda brasileira se perde nos oportunismos e na vaidade, nisso se nivelam aos da direita. Deve ser a cultura colonial impregnada.

Bernardino

DISCUSSAO de FUMAÇA dos dois: io SR DAVID e o sr SAFATLE!!!!
Temos as ESquerdas mais INcompetentes ,Corruptas e Covardes de toda America Latina.É so comparar e ver: ARgentina,venezuela,Equador,Bolivia e Uruguais todos enfrentaram a direitona e kpeitaram a MIDIA BANDIDA com puniçao aos Milicos torturadores e aqui bolsa familia e dinheiro no bolso de donos de faculldades sem qualidade(prouni) e o ensino fundamental desstruido que é a base de uma NAÇAO,temperado com os bandidos do PMDB se loclupetando das estatais em nome da Governabilidade,Eufemismo de COVARDIA

Tereza

Tô com o Safatle.

Leo V

Mas o central no artigo “Frente de esquerda para que?” do Safatle é apontar que essa suposta frente esquerda com Lula nas cabeças só serve a dar sobrevida ao PT, a continuara cooptação da esquerda e dos movimentos sociais para dar apoio a um governo que sabe-se que age em grande parte contra os trabalhadores.

    abolicionista

    Leo V, as premissas são diferentes. Para eles, não há uma outra forma de fazer política, eles já abriram mão de qualquer horizonte emancipador e se renderam à Realpolitik. Parte-se do pressuposto de que o povo na rua não é mais capaz de fazer política, essa só existe dentro da estrutura institucional estabelecida. Eles não percebem que é justamente contra essa estrutura que devemos nos insurgir. De certo modo, isso não é novo, o PT sempre foi um partido conciliador, mas acho que a adesão ao neoliberalismo ocorreu na Carta aos brasileiros, esse documento sim pode ser considerado uma traição de classe. Foi um verdadeiro pacto fáustico por meio do qual o partido vendeu sua legitimidade política em troca de vantagens eleitorais. Mas esse tipo de mágica tem data de validade, e o que é pior, rifa a imagem de toda a esquerda e engrossa as fileiras do fascismo. A consequência está aí: a direita nas ruas, com discurso radical, e a esquerda acuada, com discurso conciliador e “estratégico”.

    Bonobo, Severino de Oliveira

    Aí vc deixa clara a sua visão que comunga com o Safatle e a Luciana Genro e outros tantos que observam a realidade com os olhos míopes do oportunismo político. A ideia central da formação de uma brigada política para enfrentar a frente organizada para destruição dos direitos do povo brasileiro, da qual certamente o PSOL não fará parte, porque os “autênticos” nunca fizeram parte de nenhuma composição politica organizada, é travar a luta pela defesa dos interesses do PAIS, seriamente ameaçados nesse momento por uma coalizão fortemente apoiada por organizações internacionais, em ações coordenadas focadas em metodologias denominadas PSYOPS. O Lula, nesse caso, é simplesmente o cara que tem a melhor qualificação para coordenar, apoiar e até liderar esse movimento de resistência e talvez esteja disposto a encarar esse desafio. O problema é que o PSOL enxerga que se esse movimento nascer, crescer e alcançar seus objetivos, quem sairá vitorioso é o Lula e não o Brasil. Ou seja, pensam com o fígado, e não com o cérebro. As emoções nunca foram boas conselheiras.

    abolicionista

    Olha, me desculpe, mas quando é que politizar a classe trabalhadora e pensar a luta ideológica (coisa que o PT não faz e não indicou que fará) pode ser considerado oportunismo político?

    São visões diferentes, apenas isso. Uma quer mudar o sistema por dentro, a curto prazo, com conquistas estratégicas, quer preservar as conquistas (ainda que vá, gradualmente, perdendo terreno); outra, quer preparar o terreno para uma mudança futura, de grande escopo, definitiva (ainda que isso pareça irrealizável, ao menos num futuro próximo).

    Essas duas visões sempre disputaram o campo da esquerda. Eu fico com a segunda delas. Em parte porque me afino com essa opção, em parte porque constato que o discurso da estratégia só tem conseguido, a duras penas, retardar um pouco o avanço do desmanche neoliberal. Acho que o tipo de capitalismo com viés social, ou de gestão social, visado pelo PT se tornou inviável, e não apenas no Brasil, e isso devido a mudanças estruturais do capitalismo que, desde a década de 70, vem diminuindo radicalmente a necessidade de extração de mais-valia, por meio da financeirização do capital e do aumento exponencial da produtividade, sem que tenha havido um aumento equivalente no consumo.

Ismael José da Silva

Esse Vladimir Safatle é o cara mais em cima do muro que eu conheço. Sou fã do PT, apesar de todo o defeito é o que faz pelo povo e pelo Brasil como um todo. O PT nos deu alguma dignidade, nos colocou na agenda mundial, temos liderança na América Latina. É só ver o Brasil antes e depois do PT. Nós somos do Brics, vamos fazer a estrada de ferro transoceânica e etc, etc, etc,,,,,,,,,, e tal. Chupa que é de manga.

Lucas

malabarismo retórico para tentar salvar os militantes da desfiliação.

    Mário SF Alves

    Ta vendo aí, Lucas? Essa é a esquerda que os galinhas verdes juram piamente que vai introduzir o comunismo no Brasil.
    __________________________
    Esses Azevedos, esses Olavos, esses Constantinos… comunismo… cada uma. ]
    Humm… essa CIA… pra que gastar tanto com coxinhas e com tais coxões? Pra quê?

Carlos Jurandir

O PT não é um partido revolucionário, e foi até onde pôde ir, a verdadeira esquerda foi eliminada pelos milicos.

Bacellar

Chega de sectarismo na esquerda!

O Dr.Safatle clama pela coragem que lhe faltou na candidatura ao governo quando deixou o próprio partido de pinico na mão. O Dr. David clama pela união desunindo. O pior: São dois grandes pensadores que merecem toda atenção. Enquanto isso a direita consegue a façanha de unir fascismo com neoliberalismo, em teoria, correntes completamente antagônicas.

    José Atílio Pires da Silveira

    Penso que Safatle é feliz, não sei se por querer, quando afirma que a esquerda não teve coragem para apresentar nada além daquilo que já era dado. Talvez a razão dessa falta de coragem seja a incapacidade da esquerda conversar entre si e alcançar um entendimento mínimo que lhes dê robustez representativa para avançar nas conquistas sociais e políticas. A esquerda destrói seu parceiro treinando para enfrentar seu adversário.

Edgar Rocha

Beleza de texto. A estratégia foi o centro da ruptura do PT e da esquerda toda, incluindo o PSOL, com seu discurso inicial em defesa da organização popular, da politização e participação direta da sociedade nos processos transformadores. Eu ia dizer ruptura com suas raízes, mas, depois de tanta reflexão pode-se concluir que a raiz política – ideológica dos que tomaram as máquinas partidárias para si sempre foi muito diferente da raiz dos que foram arregimentados no início da reorganização da esquerda nos anos 80 para alavancar a chegada de lideranças ao poder. A base sempre esperou uma coisa, enquanto suas lideranças projetavam outra bem diferente, prescindindo da primeira à medida que se conseguia mais e mais representatividade política. Uma vez tendo um time escalado e dentro do jogo, o resto é só torcida e ponto final. O processo de amadurecimento político foi deliberadamente abortado em benefício de atalhos muito mais rápidos no caminho do poder. Atalhos estreitos demais pra suportar os anseios dos que construíram a picada inicial no peito, abrindo caminho com as próprias mãos para que as cúpulas partidárias pudessem caminhar mais livremente depois de alcançar o cerradão aberto que precede o Planalto Central. Levaria mais tempo se a opção tivesse sido a de ser fiel ao projeto inicial de construção da democracia e formação de consciência cidadã dos brasileiros. A desculpa para a sujeição das bases ás mudanças de estratégia, delineadas pela cooptação, descaracterização ideológica e concessões às antigas estruturas foi forjada, mesmo que inconscientemente, pelo saudoso Betinho, desde a discutível Ação da cidadania contra fome, a miséria e pela vida. O mote, apesar de bonito, abriu a porteira da incoerência e da falta de escrúpulos para muitos setores das organizações sociais, desde parte do clero católico, passando pelo sindicalismo e redundando nas próprias lideranças partidárias. Em nome do discurso de que “quem tem fome, tem pressa”, distorções ideológicas se sedimentaram tornando-se o que hoje sabemos ter sido, a verdadeira base política e ideológica das novas estratégias para se chegar lá. Tudo era possível em nome dos mais pobres, de quem desesperadamente esperava o momento de colocar o feijão na panela, com uma urgência muito mais justificada do que a paciência dos que, aparentemente insensíveis, temiam dar um passo em direção à decrepitude ideológica e ética. O lulismo venceu e foi tolerado pelos antigos – e agora silenciados – agentes políticos advindos da base proletária. Ora, como resistir a tamanha coação moral? Como não ver a prudência por vezes evocada como fruto de elitismo puro, de coisa de burguês, de gente que tem barriga cheia e não vê problemas em aguardar pacientemente uma chegada ao poder e uma democracia construída de dentro para fora da sociedade? Lula, com sua estratégia pragmática era o único capaz de realizar o enorme feito de vencer FHC apesar de todo o apoio logístico que este recebia dos setores mais conservadores. A hora era aquela.
Bem , o resto da história, já conhecemos e vivenciamos ainda hoje. Protelaram-se conquistas, negociaram com a luta alheia, silenciaram os que aguardavam o salto qualitativo da sociedade brasileira para uma vitória mais sólida em direção à justiça social, à democracia plena, à cidadania de fato. O projeto, hoje sabemos nunca foi este. Fizeram o bolsa família, cumpriram a promessa de erradicar a fome. Salve São Betinho! Mas, a que custo? Por quanto tempo? Com qual propósito? Com que grau de solidez? A resposta, quem nos dá é a Dilma, a Kátia Abreu, o Levy, o Cunha… Foi uma vitória de Pirro? Talvez, não. Nem de um jeito, nem de outro. Nem do lado do PT, já que este construiu um patrimônio político a ser evocado por muito tempo no futuro. Nem por parte da sociedade organizada, que de vitória viu muito pouco e com data de validade marcada.
Acho que se o texto se propõe a discutir estratégia, creio que esta deva ser delineada a partir de seus pilares ideológicos. São eles que adiaram tanto a crise que se instala atualmente. E toda a cúpula da esquerda abraçou a isto, apoiando ou não apenas de acordo com o tamanho de sua fatia no bolo. Deixou de ser esquerda, simplesmente.

ricardo silveira

O PSOL, parece, é muito simples, tem um projeto de poder e acha ser o PT a pedra no seu caminho.

ailton

As vezes a cegueira ideológica é de uma grandeza assustadora. O autor do texto acima vê coisas onde não existem, escrevendo justamente para os que ele chama de petistas fanáticos, mas não olha seu fanatismo, a partir do ponto de colocar palavras prontas e querer traduzir o discurso de safatle.

O PSOL tem divergências serias internamente, fruto de uma democracia não vista em outros partidos, mas que as vezes trazem também seus ranços dos antigos embates dentro do pt, do autoritarismo e, as vezes de um certo culto ao personalismo. Hoje, bem menos do que quando a Heloísa estava no partido, este culto ainda tende a buscar lideres sem levar em conta o caráter libertário do partido.

Mas voltando ao texto, fica claro também, se por desconhecimento ou má fé, que o autor não se deu ao luxo de olhar para o pt, de hoje, considerado por muitos como neo pt, que não tem dialogo interno, manipula as massas como sempre fez e, ao contrário do que era esperado quando ascendesse ao poder, que seria o mais liberto de todos os partidos em relação aos velhos cancros que necrosam qualquer governo, a saber: mídia, mercado financeiro, industriais velhacos, agronegócio e políticos corruptos, ou elite politica. A crítica segue os modelos dos mav petistas, que não pesam, não pensam e não tem capacidade de avaliar nada que não seja suas argumentações pequenas, o ataque ao PSOL tem sido muito mais intenso vindo do pt do que da direita mais retrograda, como se, para protegerem seus erros, tivessem que atacar quem quer que seja, de preferência os que tem atuado à esquerda. É comum ver em qualquer texto colocado por petistas na rede, de ataques aos partidos de esquerda, a alienação, o oportunismo barato e a sandice do ataque ao PSOL. Se os tucanos nos atacam, os petitas o fazem com igual força e se juntam para tal, se o PSTU, pco ou outro o faz, nas suas análises emburrecidas, o pt está lá para fazer mais e pior.

Fique claro, apesar de ver de fora, no caso do pt, acompanho sua historia desde inicio da década de 80, que internamente os PSOL tem seguidos caminhos claramente mais centrados na ideologia, vejamos, expulsão dos que não sejam aderentes aos princípios partidários, principalmente quanto aos que ocupam cargos eletivos, notas desautorizando militantes que sentem se no direito de falar em nome de toda a militância quando fere os preceitos partidários, o afastamento sistemático de figuras megalomaníacas, a manutenção de representatividade de todas as correntes que consigam números de representantes internamente nas instâncias partidárias, entre outras.

A ideia não é, neste comentário, simplesmente defender o PSOL, mas voltar o olhar que o Antonio David, em sua sanha por defender seu partido, tenta usar de artifícios execráveis para, não dialogar, mas destituir de validade o texto do safatle, se apegando a frases e termos descontextualizados, alem de achar que, dentro do PSOL, safatle seja um líder que todos seguem cegamente…

Poderia ser uma análise de discurso eficiente, mas tendencioso como é este texto, fica difícil acreditar na capacidade de avaliação e discernimento de quem o escreveu.

    Museusp Batista

    Para defender-se, o PSOL primeiro tem que parar de atacar o partido que deu abrigo aos seus membros contaminados de inspirações e pretensões messiânicas (pois, Messias, só cabe um em cada Seita) e depois tem que mostrar-se capaz de construir algum consenso sobre alguma coisa em algum grupo maior que duzentas pessoas. Depois que passar por esse estágio de treinamento de amadurecimento deverá fazer umas praticas de atualização para compreender como são compostas as forças políticas no Brasil e prossiga treinando enquanto não entender que a grande maioria, mais influente, é simpatizante do escravagismo do século XIX e, por mais que alguns possam gostar da ideia, não pode ser simplesmente eliminada do cenário e tem que ser respeitada no debate sobre os problemas do país. Uma das maiores acusações que vejo ser lançada contra os maiores políticos brasileiros consiste justamente em criticá-los duramente porque conversam com essa gente. Não são muito diferentes daqueles que vestem as cores da CBF no peito e as da bandeira do EUA nas costas e saem por ai bradando pela volta da Ditadura (civil) militar.

    Antônio David

    Meu caro,

    Li e reli seu comentário. Para além do fato de você ter afirmado que eu disse coisas que eu não disse, eu confesso que não entendi onde você quis chegar.

    Agora, se você acha que meu artigo é “ataque ao PSOL” e “defesa do PT”, lamento, mas você não entendeu nada do que eu escrevi. Recomendo que você releia.

    Dou quatro dicas: 1) o artigo defende a tese de que o debate central é de estratégia (e, portanto, parte do pressuposto de que a estratégia do lulismo tem de ser criticada); 2) o artigo sustenta que ninguém até agora conseguiu oferecer uma estratégia alternativa (séria e consistente) à estratégia do lulismo; 3) por conta disso, o artigo é uma crítica (não ataque) à esquerda no seu conjunto; 4) o artigo é um ataque (agora sim) à atitude de evitar e impedir a reflexão sobre os pontos 1, 2 e 3 (atitude essa presente no PT, presente no PSOL, presente em todos os partidos de esquerda).

    Se você quiser me criticar, tudo bem, mas critique isso, pois foi isso o que eu disse.

    AD

joão

Parabéns pelo artigo

    joão

    O artigo é uma reflexão séria, concorde-se ou não. Eu concordo especialmente com a ultima frase…

Antonio Crispim

Confesso ter sentido “refluxo” ao ler o texto do sr.David, e fiquei em dúvida se preciso professar minha fé ao santo Lula, ao Santo PT e o Graal que ele inventou, ou se fico mesmo com Safatle e sua mania de ser honesto. Dilemas, nada mais que isso.

Alexandre Tambelli

Os governos petistas foram revolucionários. Viraram a pirâmide social do país de ponta cabeça. Vai levar muito tempo para que exista uma análise precisa de todo o fenômeno ocorrido.

Eu sempre digo que não existe mais a possibilidade de se dizer quem seriam os 30% de incluídos numa suposta volta à uma sociedade dos tempos de FHC para trás.

Hoje tem muita gente ascendendo socialmente e se estabelecendo no Mercado de Trabalho que não faziam parte da sociedade dos 30% de antes. E muita gente de classe média tradicional estagnada.

A extrema-esquerda, muitas das vezes, enxerga o mundo dentro de uma linha reta, onde não se pode haver um só atalho, um só desvio, porque se está fugindo da Teoria, do planejado.

Constrói-se o caminho a ser precorrido antes de percorre-lo e quando se põe o pé na estrada tudo teria de ser igualzinho ao mundo idealizado na Teoria. Porém, o mundo real não é o mundo da Teoria.

Se tudo não sai perfeitamente igual aos livros escritos se feriu a Revolução, se fez a traição aos anseios da emancipação do proletariado e transformação da sociedade para além do Capitalismo.

O povo não é feito apenas de revolucionários, aliás, a maioria é pequeno burguesa e sonha com posses e Poder. É difícil para a extrema-esquerda conviver com este fato.

E como trabalhar com este fato real? Eu pergunto.

Entender o que fez o PT é entender que ele não fez nada em linha reta, não se preocupou com os manuais de instrução dos revolucionários. Ele foi fazendo e bagunçando o coreto.

Hoje vivemos esta realidade de confronto entre o passado e o presente em busca do futuro que chegará um dia, não muito distante, para além da Direita, dos extremistas da Esquerda e da Direita.

É notório entender que as críticas da extrema-esquerda, muitas das vezes, se faz porque há uma certeza: não chegarão ao Poder ou não almejam chegar, então, criticar se torna fácil, não vai haver o confrontamento no Poder do escrito ou falado. A realidade não vai modificar/ confrontar a Teoria do teórico que a escreveu.

Difícil é estar no meio do fogo, no seio desta sociedade da Casa Grande e antinacionalista da qual fazemos parte e ter de buscar transformá-la em algo diferente.

Revolucionário é o PT bagunçando o coreto, penso eu.

Para além de qualquer rótulo. Lulismo, ou não, o que seja esta realidade criada no Brasil, é tudo revolucionário.

Imaginemos algumas coisas:

15/20 anos atrás as pessoas morriam de fome porque não tinham o que comer! Crianças não iam para a escola porque não tinham como chegar lá ou iam sem comer ou sem material escolar! Muitos lugares não tinham nem água para beber! Muitas crianças andavam descalças porque não tinham um par de tênis para colocar nos pés! Muita gente não sabia o que é ter lazer, como é gostoso um churrasco com cerva com os amigos! Como é bom dar um rolezinho nos shoppings e curtir um cineminha! Como é bom ir ver o mar, mesmo que no seu carro 1.0! Como é bom poder crescer na Vida com uma chance de um curso superior ou técnico! Como é bom ter um emprego diferente para além de ser simples cópia dos pais! Como é bom ter uma TV por assinatura! Como é bom acessar a Internet banda-larga ou via 3G! Como é bom viajar de avião e ir ver as Cataratas do Iguaçu! Como é bom poder ter 10 anos e brincar! Como é bom poder oferecer ao filho mais do que a palavra não por não ter um tostão no bolso!

Isto é ou não é revolucionário?

As pessoas que ascenderam a este patamar vão aceitar caladas um retrocesso deste quadro?

Vamos dizer que só nós, os já nascidos em berço esplêndido sabemos o que é revolucionário?

Quero ver ser revolucionário pegando um CPTM todo dia às 6 horas da tarde.

E chegando em casa, como era antes, ter muito pouco o que comer e nenhuma diversão extra.

E viva a Revolução petista com todas as suas contradições e erros.

A luta é pela convergência e não pela dissociação das esquerdas.

Façamos os dois passos seguintes. Melhorar sobremaneira a qualidade do ensino e criar mecanismos de implementar na população noções de consumo consciente, Estes os passos seguintes de nossa Revolução.

E como diz o Antonio David: abramos espaço para o pensamento e, pensamento coletivo, para reflexões aprofundadas e abertas e não fechadas para melhorar a realidade do Brasil cada dia mais, e não querendo tirar algum dividendo pessoal ou eleitoral.

    Ivan Huol

    Parabéns Alexandre. Muito boa sua reflexão e o texto de Antônio David.

    Museusp Batista

    Clap! Clap! Clap! Aplausos, de pé para o esclarecimento. Eu considero que o que esse Safatle e Luciana Genro fazem é, por ignorância ou má fé, oportunismo puro e burro. Burro porque seria oportunismo inteligente se houvesse qualquer possibilidade real de o maior e talvez o único partido político que pode ser chamado por esse nome no Brasil, pudesse, de uma hora para outra, ser destruído pela ação dessa formidável organização de forças que se pôs em marcha com esse intento. A trajetória de todas essas dissidências, no rumo do sectarismo e da irrelevância no cenário político, é reveladora do caráter autoritário e personalista das suas lideranças que, não enxergando espaço para impor a sua vontade, não são capazes de aceitar e compor com a posição majoritária e preferem (ou só lhes resta) a ruptura. Quando saem (não é de surpreender) não são capazes de realizar nada e passam a atirar em quem ficou e realiza. Como diz o autor do post,

    “…na estratégia do lulismo está inscrita a incapacidade de as correntes que a ela se opuseram, seja enquanto estavam no PT, seja depois que saíram, de oferecer uma alternativa.”

    Ou seja, não são capazes de conduzir e ajustar suas propostas na agremiação em que participam, não aceitam a deliberação da maioria em sentido divergente das suas posições (de inspiração messiânica) e, quando se afastam, mostram-se incapazes de criar novos ambientes de debates onde suas idéias possam frutificar e ser multiplicadas. Tornam-se presas fáceis paras o oportunismo das velhas oligarquias conservadoras e acabam adotando o discurso estéril do ressentimento. Para o bem da auto estima abalada, passam a chamar seu sectarismo fracassado de pureza ideológica.

    Alexandre Tambelli

    Valeu Ivan! Abraço, Alexandre!

    Liberal

    Quero ouvir de novo seu parecer daqui há um ano sobre as conquistas do PT.

Alemao

Só falta o articulista descobrir que a esquerda não é detentora de TODA bondade existente na Terra.

    Carlos Santos

    Por favor um argumento de verdade — e de preferência um nome, também — em vez de tergiversar e atacar o autor do artigo pelo que “falta” escrever.

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