Doria apunhala Alckmin ao lado de Ricardo Amaral, Paulo Henrique Cardoso e Maitê Proença

Tempo de leitura: 4 min

Doria (des)embarca ao ritmo de ‘Take Five’

por Cristian Klein, no Valor Econômico

Temer quer que os brasileiros acreditem que ele não sabe como Deus o colocou na Presidência da República.

Mas, na falta de intervenção divina ou parlamentar, João Doria faz de tudo para chegar lá pelo caminho natural das urnas.

Alckmin que se cuide. O prefeito de São Paulo, criatura política do governador, se espraia por plateias para além dos territórios bandeirantes.

Encorpa a pré-candidatura em viagens que mal escondem o propósito. Doria está em campanha.

Em nove dias, veio duas vezes ao Rio de Janeiro para convescotes nos quais foi incensado como saída eleitoral para a crise.

O tucano insiste que o PSDB não deve desembarcar do governo Temer. Mas Doria embarca e desembarca de aviões que alçam seu voo para o Planalto.

Já esteve em Belo Horizonte, Porto Alegre e Florianópolis. Nesta quarta-feira, em Brasília, cumpriu agenda frenética, digna de líder nacional do partido ao se encontrar com os presidentes da Câmara e do Senado, com a bancada de deputados federais do PSDB, com o líder da legenda no Senado, jantaria com parlamentares e fez palestra na Fecomercio.

Doria movimenta-se à vontade. Ocupa espaços e forja alianças estaduais, embora desperte um tipo de entusiasmo comedido — muito diferente do fanatismo que o concorrente da ultradireita, Jair Bolsonaro, consegue inocular.

O prefeito tem uma entonação tão forte de apresentador de telejornal, de quem pronuncia cada sílaba precisamente, que o discurso soa um tanto frio, artificial, muito medido, pouco espontâneo.

Na noite carioca de terça-feira, o tucano foi o homenageado de Boni, Paulo Marinho e Ricardo Amaral em um “cocktail/supper” que atraiu cerca de 150 interessados a ouvi-lo, num evento típico de pré-campanha. Mas de pré-campanha tucana, diga-se: audiência selecionada, garçons servindo Veuve Clicquot e banda de jazz tocando a insidiosa “Take Five”, consagrada por Dave Brubeck — num clima de cilada.

Fomentada pelo PSDB fluminense e sugerida pelo próprio prefeito a Ricardo Amaral, a reunião no Gávea Golf Club teve como objetivo “estreitar os laços [de Doria] com a elite do empresariado do Rio”.

Pontuavam dois ex-presidentes do Banco Central, Arminio Fraga e Carlos Langoni; Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP) David Zylbersztajn; os irmãos Rubem e Roberto Medina; o presidente da Associação Comercial do Rio, Paulo Protásio; o neurocirurgião Paulo Niemeyer; Oskar Metsavaht (Osklen); entre outros.

Políticos, não muitos. O prefeito Marcelo Crivella não foi, mas compareceram seu secretário de Urbanismo, Indio da Costa (PSD) — cotado para a eleição a governador — e os deputados estaduais tucanos Carlos Osorio e Luiz Paulo Corrêa da Rocha.

A atriz Maitê Proença, aos 59 anos, estava entre os destaques da ala feminina. Boa parte dela permanecia sentada nos sofás enquanto os demais ouviam Doria, de pé.

O discurso do prefeito, de 30 minutos, seguiu o mesmo roteiro padronizado do almoço que fizera, na semana passada, no Copacabana Palace.

Apresenta a trajetória de vida com toque popular — do “self-made man” que estudou em escola pública e teria começado a trabalhar aos 13 anos — e com acenos à esquerda e ao Nordeste, pelo pai baiano, deputado federal cassado pela ditadura.

Fala da gestão na prefeitura e, por fim, passa à exaltação programada e raivosa contra a “sem-vergonhice” de Lula e do PT. Mais racional e articulado que Bolsonaro, o tucano arranca aplausos esparsos, puxados por simpatizante próximo.

É certo que são plateias majoritariamente elegantes de empresários, advogados, integrantes do Judiciário. Mas a recepção ao discurso é menos efusiva que a provocada pelo ex-militar, também em pré-campanha pelo país.

Bolsonaro tem lotado aeroportos onde invariavelmente é carregado nos braços por uma turba de fanáticos seguidores do radicalismo de direita. Mesmo para públicos supostamente mais cultos, intelectualizados, educados, suas ideias empolgam e são capazes de provocar uma adesão fervorosa, quase religiosa.

Estamos no plano dos dogmas. Talvez isso explique o clima de euforia que o deputado despertou em abril no clube Hebraica. Ali, parte da comunidade judaica se hipnotizou com o discurso, a despeito do preconceito e do extermínio de que os judeus foram vítimas na Alemanha nazista.

Em vídeo que circula pelas redes sociais, Bolsonaro propaga que as minorias terão que se render à maioria ou simplesmente desaparecer. É o pensamento nu e cru do jurista Carl Schmitt para quem a democracia deveria ser expressão da força da maioria, sem as salvaguardas dos direitos individuais previstos pelo liberalismo.

Fora da Hebraica, a ala progressista da comunidade protestava na rua contra a palestra, na qual Bolsonaro atacava índios, mulheres, homossexuais e descendentes de quilombolas.

“Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”, disse, em declaração pela qual foi processado pelo Ministério Público Federal.

Na mesma ocasião, Bolsonaro disse ter cinco filhos, dos quais quatro homens, mas que deu “uma fraquejada e depois veio uma mulher”.

Doria gosta de falar de Bia, mãe de seus três filhos, que apesar de catarinense, conheceu no Rio. A cidade, conta, lhe rendeu “três dos melhores anos de sua vida”, quando presidiu a Embratur. O paulista afaga os cariocas.

Doria faz “speechs” sob medida para gerar identidade e busca agradar os interlocutores de plantão. Bolsonaro quer neles incitar seus instintos mais primitivos.

O ponto em comum entre os dois é a minoria ideológica a ser atacada, aqueles que o prefeito chama de “istas”: petistas, psolistas, esquerdistas em geral, e os profissionais com potencial de questionar suas ideias, os especialistas e os jornalistas.

Na disputa interna do PSDB, cada vez menos velada, Doria acrescenta mais um grupo à sua lista: os alckmistas.

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Comentários

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Edgar Rocha

Dória e Bolsonaro: já temos dois candidatos. Oba.
Mas, pelo que eu li noutro artigo hoje, vão sobrar poucos ricaços no país pra dar apoio. Tá todo mundo indo embora de mala e conta. Se bem que os de fora votam também. Aí vai ser uma puta sacanagem com requintes de crueldade. Morar fora, roubar o país e ainda ver o circo pegar fogo por aqui não tem preço (vai ser a próxima propaganda de cartão de crédito). Só rindo nervoso.
E eu que acreditava que o golpe se consumaria com a tomada do poder pela direita. Pelo andar da carruagem, as pretensões são muito maiores. Com o horizonte de terra arrasada que a elite pinta com sangue e merda, somado à fuga em massa detectada desde o ano passado com consequente retirada de divisas e investimentos, mais uma suposta “cegueira sádica” e totalmente indiferente do frenesi de desmanche de todo – todo, mesmo! – o patrimônio estatal, natural e humano do país, parece que a finalidade maior do golpe deflagrado é a total inviabilidade do Estado brasileiro para se justificar uma tomada de território por forças internacionais. Seria muito conspiracionismo de minha parte? Até um tempo atrás eu não acreditaria. Mas, hoje, com toda a sinceridade possível, não duvido que sejamos nós, brasileiros comuns, o próximo contingente de refugiados e/ou intrusos em suas próprias terras.
E olha que eu nem mencionei a geopolítica. Caso uma Guerra Mundial – plano conspiranoico já considerado verossímil pela maioria dos analistas sérios – seja deflagrada, não importa o vencedor, poderia dar início a um rearranjo de fronteiras e áreas de influência que beneficiariam o lado vitorioso, na busca de um último fôlego de hegemonia, o qual o sistema econômico atual jamais possibilitaria a nenhuma grande potência atual. Seríamos o bagaço do mundo a fornecer o último caldo antes do colapso total do Planeta. E este bagaço, logicamente, não será suficiente para todos. Alguém vai morrer de inanição para que o sistema tenha tempo de, ao menos, decidir o que fazer depois.
Não pensem que um grupo hegemônico como este que domina a economia planetária não seja capaz de pensar tão adiante ou de cometer a execução de um projeto como este. A atual conjuntura – a nacional e a internacional – não se configurou por um processo espontâneo. Isto é fato. Quem duvidar, pode me colocar no grupo dos apocalípticos, caçadores de pé-grande, ou no dos crentes em deuses-astronautas. Não ligo.
O que sabemos, contudo, é que as vitimas dos grandes processos sempre pensam de forma reativa. Sobretudo, as esquerdas parecem sempre mais incrédulas e são sempre pegas de surpresa. Chego a duvidar se o desejo revolucionário seja capaz de ir além da parte merecida no butim da destruição programada pelos que controlam os destinos do mundo. A agenda política é ditada e todos seguem a cartilha compulsivamente.
Eu não quero minha porcentagem de caldo nesta bagaceira. Já basta de ter que lutar pelo direito de fazer rolezinho em shopping, fumar maconha sossegado, ser considerado humano “porque tô pagaaaano”, ser classe média (pffff!), ou qualquer indignidade que me garanta nada mais que o “direito” de endossar um sistema que visa aprofundar o extermínio de uma maioria inadequada, a qual eu me incluo, até que sejamos um contingente aceitável de miseráveis a garantir um mínimo de produção sem a qual nem a própria elite sobreviveria.
O futuro que nos é reservado pelos donos do mundo tem tudo para ser muito mais sombrio que uma mera ditadurazinha como a de 64 (o diminutivo aqui é comparativo). Talvez, seja preciso um pouco de inocência e muito desprendimento para vislumbrar uma realidade tão negra. Como loucura pouca é bobagem, me permito lembrar o que disse o mais improvável dos analistas políticos deste país. Possuidor de uma sensibilidade à flor da pele, definida pelos que compartilham suas experiências como mediunidade, Chico Xavier tria previsto o desmantelamento do Brasil por razões de conjuntura internacional há muito tempo, tendo sido tal previsão revelada muitos anos antes de qualquer primavera deflagrada entre 2008 e os dias atuais.
A data para o apogeu da crise que, segundo o médium, daria origem à III Grade Guerra seria 2018. A partir daí, a consequente devastação do Hemisfério Norte forçaria um movimento de ocupação dos países do Sul, seno o Brasil, peça chave na disputa por territórios. Seu alerta final nos atenta para o fato de que profecias são ditas para que não se cumpram. Depende de quem as escuta.
Com ousem mediunidade, seja por pura percepção política ou por algum tipo de neurose, temos que admitir hoje que o ano de 2018 promete. Não será por falta de bestas do apocalipse ou anticristos que tal previsão não ocorrerá. Não me lembro de, na história da humanidade, ter havido um tempo com tantos psicopatas e com tanta força destrutiva em suas mãos quanto nesses dias. E motivações borbulham o tempo todo em todo canto em que se busque informação, não importando as análises que delas possam surgir. A coisa tá feia! Trump, o coreano “bonitão”, Tereza May, Putin, o governo chinês (não me obriguem a sabe o nome), pequenos ditadores na África e na América do Sul, todos o grupos terroristas, fascistas europeus pra todo gosto, crime organizado internacional, etc… A próxima Guerra será nuclear. A crise ambiental já é insustentável e irreversível.
Difícil é ter a mesma esperança que Leonardo Boff. Mas ao menos, segundo Chico Xavier, a Natureza há de reagir violentamente e evitar o fim definitivo. Para muitos educados no cientificismo moderno, dói ter de admitir o quanto é tentador aceitar que toda a esperança possível possa estar depositada em forças telúricas e, assim como povos primitivos, ter de buscar alento em algo maior que o ser humano. O mundo está tão desoladamente invertido que eu seria bobo de recusar a mim mesmo esta fantasia. É só ver o Dória e o Bolsonaro pra ter vontade de exclamar:
VEM, METEORO!!!

robertoAP

Eu assisti uns dois episódios de uma novela idiota da globo dos anos 70 com essa tal Maitê, quando eu era bem garoto. Mesmo novinho não aguentei aquela porcaria mal feita.
Eu pensava que essa empregada de novela já tinha morrido de velhice há umas 2 décadas,pelo menos.

Luiz (o outro)

PQP, Bolsonaro, Doria, Alckmin… parece que o poço não tem fundo no Brasil…

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