Uneafro: Votação revelou Congresso racista e fascista; MTST promete radicalizar

Tempo de leitura: 4 min

IMG_6195Cunha garantiu entrada livre no Congresso ao MBL, tropa de choque da direita

MST: “Não tem porque desanimar. Há um novo processo histórico de lutas”

Movimentos populares já articulam ações contra o golpe e prometem intensificar lutas ainda esta semana

José Eduardo Bernardes e Rute Pina

Brasil de Fato, em 18.04.2016

“Esse resultado da votação [do impeachment na Câmara] vai trazer mais gasolina para essa crise que está colocada no país. A direita não precisa ter dúvida. Os trabalhadores vão às ruas”.

A declaração é de João Paulo Rodrigues, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), após a vitória do “sim” ao processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados neste domingo (17).

Ele acrescentou: “Nós mobilizamos o país inteiro como não se fazia há mais de 20 anos. Não tem porque desanimar. Temos que nos preparar para as batalhas políticas, e eu acho que serão batalhas maravilhosas. Nossa geração vai viver um período rico que até então não conheciamos nesse país”.

Na mesma linha o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) prometeu radicalizar, a partir desta segunda-feira (18), as ações contra a tentativa de golpe. “A gente ainda não definiu datas, mas se o impeachment passa esse país não vai ter um dia de sossego”, afirmou Natália Szermeta, coordenadora estadual do movimento.

Na avaliação de Natália, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e vice-presidente Michel Temer, ambos do PMDB, não têm “a menor legitimidade de governar este País”. Natália disse que o movimento deve se reunir nesta segunda para articular diversas ações.“Isso não vai passar na história brasileira. Nós não vamos permitir. Nós vamos fazer resistência popular”, sentenciou a dirigente.

Para Ricardo Gebrim, advogado e membro da Campanha pela Constituinte do Sistema Político, é preciso avançar na mobilização popular. “Diferente do que aconteceu com o Collor, a presidenta Dilma não vai renunciar, e nós vamos redobrar nossa capacidade de luta. E isso vai surpreender muito, porque nós não vamos permitir que esse golpe se consume da forma como eles estão tentando. E essa capacidade de luta que vai crescer, ela está politizando as pessoas. Aproveitar que estão abrindo suas consciências para ver o que é essa farsa, o que é esse Congresso grotesco”.

Em nota, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que articulam movimentos populares como o MTST, MST, CUT e UNE, convocam a população a se mobilizar para as próximas lutas. “Faremos pressão agora sobre o Senado, instância que julgará o impeachment da presidente Dilma sob a condução do ministro Lewandowski do STF. A luta continua contra o golpe em defesa da democracia e nossos direitos arrancados na luta, em nome de um falso combate à corrupção e de um impeachment sem crime de responsabilidade. […] Continuaremos na luta para reverter o golpe, agora em curso no Senado Federal e avançar à plena democracia em nosso País, o que passa por uma profunda reforma do sistema político atual, verdadeira forma de combater efetivamente a corrupção”, afirma o documento.

Douglas Belchior, da Uneafro (União de Núcleos de Educação Popular para Negros e Classe Trabalhadora), acredita que ficou “explícito”, na fala dos deputados favoráveis ao impeachment que o Brasil é representado “pelo que tem de pior na política”.

“É um Congresso majoritariamente conservador, racista e fascista. E isso justifica a nossa presença nas ruas”. Ele acredita que agora os movimetos populares devem intensificar as lutas aproveitando este momento, que para ele, é de levante das organizações populares. “Precisamos continuar esse processo de politização em nome das reformas e das lutas da classe trabalhadora e dos movimentos”, finalizou.

Nas ruas

As manifestações começaram cedo neste domingo. Já pela manhã, às 10h, o Vale do Anhangabaú recebia as primeiras pessoas que viriam a acompanhar o processo de votação na Câmara. A professora de artes Silvia Maria de Oliveira, 46, da rede pública estadual, e seu companheiro Fábio Mauro, 35, vendedor, tiraram cedo da cama a pequena Ligia, de 7 anos. “Ela tem que aprender desde criança o que é democracia”.

Mesmo com o clima tenso, eles decidiram sair de casa hoje por acreditarem que devem defender a democracia brasileira, que “ainda é jovem”. Segundo os organizadores, 150 mil pessoas estiveram presentes no ato em São Paulo.

Quando se inicaram os votos, a partir das 17h, acompanhados por telões instalados pelo Vale, pos manifestantes já demostravam tensão. “Estou tenso, mas esperançosa que a gente não vai retroceder. Vamos manter os avanços e todas as melhorias deste país pela lembrança de todos aqueles que morreram por nós”, disse Jaqueline Chaves, fiscal de tributos.

A votação foi marcada por falas contovérsas, como o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que exaltou a figura do coronel Carlos Brilhante Ustra, reconhecidamente responsável por torturar militantes contra o regime durante ditadura militar, gerando muita indignação entre os que estavam no ato. “Se isso fosse um processo coerente, esses votos ‘sim’ deveriam ser anulados. Não tem prova nenhuma contra Dilma. Isso é um terceiro turno”, disse o contador João Brás. Mesmo assim, os manifestantes não esmoreceram e permaneceram em grande número até o fim da votação.

Já eram 22h30 e ainda eram necessários obter cerca de 70 votos para barrar o afastamento, quando o líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE), reconheceu a derrota na votação do impeachment em plenário. “Os golpistas venceram, mas a luta não acabou. A luta continua nas ruas e no Senado. As ruas estão conosco e o mundo inteiro começa a se mobilizar”, destacou.

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Comentários

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Roberto

O primeiro ato da chapa Temer/Cunha será a lei antiterrorismo que Dilma não teve coragem de enterra, então será bandeira verde para persegui e acabar os movimento sociais.

Urbano

Por acaso cheguei a ver um afrodescendente acéfalo, no momento em que ele deu um voto a favor da casa grande fascista e contra ele mesmo.

Fausto

No Brasil, o negro se volta contra ele mesmo.
No Brasil, o pobre defende aquele que o humilha.
Quem aparece com esse discurso do texto, em grande parte das vezes, não é pobre, nem negro.
Os pobres – e, pela nossa situação histórica, portanto, os negros – elegeram aquele congresso que vimos ontem.
A não ser que alguém queira dizer que foi a “elite” – mas, que eu saiba, igrejas evangélicas, em sua maioria, são frequentadas por pobres e, portanto, negros.
Paulo Freire disse que quando a educação não liberta, o sonho do oprimido é tornar-se o opressor.
Talvez fosse bom a esquerda reler Paulo Freire e, principalmente, mudar esse discurso derrotado.
Sob pena de termos, em breve, um presidente abertamente fascista ou evangélico.

Paulo rodrigues

Lamentável o golpe dado ontem, vão ressuscitar a república das bananas. Não estou otimista eles vão ficar o tempo que quiserem no poder. A própria esquerda continuará com suas ridículas briguentos internas. Os radicais de esquerda não tem visão de futuro, provaram isso apoiando as jornadas de 2013, que resultou nesse congresso fascista.

Bel

URGENTE! Precisamos parar para refletir como a oposição em conluio com a mídia golpista planejou o golpe. A própria mídia soltou alguma coisa a respeito, talvez para no futuro se eximir de culpa alegando que denunciou em suas telas cinzas.
http://m.politica.estadao.com.br/noticias/geral,g-8-do-impeachment-teve-reunioes-durante-um-ano,10000026435. Mas eu, estou achando que a oposição também foi buscar ¨know how¨ com a oposição e a mídia golpista da Venezuela. Vê que tudo o que eles repetem com intensidade, para colar em algum ouvido manipulado, depois se apresenta ao contrário. Exemplo: dizem que Dilma é corrupta e vimos na votação como na verdade agem os corruptos. Outra: anos e anos repetindo que o governo da Venezuela vive dando golpe e agora vimos claramente.quem dá o golpe. Se não tomarmos lado da Democracia, o Brasil está fadado a ser uma Venezuela, com os patos da FIESP demitindo, exportando tudo que produzem e deixando o povo à míngua para forçar uma queda de governo eleito pelo povo. Mas eles esquecem que o Brasil é quase um Continente e que para dar o golpe em um Continente, só países bélicos como os EUA. Talvez por isso estão indo se aconselhar com o Império.

Braulio Neves

Ver negros e principalmente mulheres negras votando com a Casa Grande foi a maior demonstração de serviçais!!!! Não honraram seus antepassados!

    Silvana Gomes

    E eu que sou negra, também me envergonhei profundamente. A educação precisa levar a história recente do Brasil para as salas de aula. É preciso que se conheça as tramas desses golpes, de modos operandi semelhantes, para que a sociedade brasileira possa se defender futuramente. Como pernambucana fiquei horrorizada com as votações de parlamentares que cospem no prato que comeram (Os governos petistas ofereceram condições de crescimentos ao Estado. Algo nunca antes visto. Assim foi com todo o Nordeste), ferem mortalmente a tradição pernambucana de luta, maculando a imagem de quem lutou por seu povo (Miguel Arraes, Paulo Freire, Lula e tantos mais), choram lágrimas de crocodilo, quando se sabe que venderam o voto para se safarem de suas corrupções. No geral foi um circo de horrores com homenagem a torturadores e elogios a um pústula. Não se envergonham de nos deixar cabisbaixo perante o mundo. “Somos madeira de lei que cupim não rói” e a luta ininterrupta será contribuir para que esses cafajestes não mais se elejam e deixem de nos envergonhar. Às ruas porque a luta não acabou!

Densus

Causou-me estupor e indignação ver deputados e deputadas negros votando a favor do impeachment de um governo trabalhista. Um governo no qual as políticas afirmativas, os direitos sociais e de ascenção econômica foram priorizados aos afrodescendentes desde o fim da escravatura (ou seja, desde nunca). Daí a reação das elites, que se acham brancas, que não admitem esse tipo de nivelamento. Só isso deveria ser suficiente para que esses deputados entendessem que o papel deles não deveria ser o de sabotadores.

FrancoAtirador

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Qualquer que seja o Resultado da Votação Final
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esse Parlamento já #EntrouParaOLixoDaHistória
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“A Pior Câmara dos Deputados
Que o Dinheiro Pôde Comprar
Decidiu Sabotar a Democracia.
A Plutocracia, Por Ora, Venceu.”
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(https://twitter.com/DCM_online/status/721883833818333186)
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