Osvaldo Bertolino: Setores da mídia são entulho do golpe de 64

Tempo de leitura: 13 min

Os fundamentos do golpismo da mídia brasileira

Por Osvaldo Bertolino*, no site da Fundação Maurício Grabois, em 02.11.2011

O vendaval anticomunista que varre o país nestes dias trouxe à tona novamente um velho dilema brasileiro.

A multiplicidade que caracteriza a nação implica em conviver com elementos que são verdadeiros entraves ao progresso, ao mesmo tempo em que estimulam a procura de caminhos flexíveis para o desenvolvimento com justiça social. A ampliação da democracia nas administrações do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva mostrou com mais nitidez a existência de vários “países”, superpostos ou enfileirados, que trazem consigo as mais variadas formas de consciência e comportamento políticos.

Essa característica brasileira parece não existir para aqueles setores que se dedicam a criar e vender falsas imagens de ordem, progresso e moralidade. A pregação monolítica desses extratos sociais pretende, à força da repetição, condicionar atitudes, formar hábitos e conter os anseios populares em limites por eles estabelecidos. Uma complexa engrenagem publicitária se encarrega de fazer campanhas dessa natureza, mostrando um país com ares de gente rica, que compra mais carros e mais eletrodomésticos, que viaja mais, que festeja mais, graças a suas doutrinas e aos seus mandamentos.

Comunistas e os filo-comunistas

Os métodos desses arautos da mentira, que vivem de jogadas financeiras e de notórias negociatas, nada ficam a dever ao nazi-fascismo. Tenho sempre presente na memória esse fato porque as fórmulas da direita invariavelmente recorrem a tais práticas.

Para documentar-me, procuro estudar o que foi aquela experiência, tão bem retratada em obras como Diário — últimas anotações, 1945, de Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Adolf Hitler;Ascensão e queda do Terceiro Reich, de William Shirer; e Por Dentro do Terceiro Reich, de Albert Speer. Nelas é fácil verificar, em inúmeras passagens, como se produzem ondas de mentiras ou de meias-verdades.

Hitler e Goebbels puseram a culpa dos seus atos de loucura nos “judeus internacionais” e nos “comunistas”. Os porta-vozes do conservadorismo brasileiro repetem monotonamente que os comunistas e os filo-comunistas são os culpados por não termos um país sustentado em bases morais ditadas por eles. Trata-se, sabemos muito bem, de espetacular hipocrisia. O que eles não toleram mesmo é a luta por uma vida melhor, mais justa e mais digna para o povo. Isso fica evidente nos ataques à vida política brasileira.

Não se conhece outra forma para fazer o país avançar sem a ampliação da democracia, com partidos organizados e representativos, com vida regular das instituições e com amplo direito à informação.

O sistema partidário brasileiro, desde a política regional das oligarquias, tem sido caracterizado por organizações político-eleitorais de representação, predominantemente, das classes dominantes. Em poucos interregnos sobressaíram, como forças dominantes, partidos de raízes populares. As arenas decisórias sempre ofereceram alternativas que não ameaçavam o satus quo.

Nas poucas ocasiões em que as forças progressistas se apresentaram com condições reais de assumir as rédeas do processo histórico brasileiro, essas representações dominantes reagiram com violência. Foi assim em 1937, com o golpe do Estado Novo após a insurreição de 1935; foi assim na década de 1940 com a densidade eleitoral do Partido Comunista do Brasil (então PCB); foi assim com a efervescência das massas no início da década de 1960; está sendo assim agora.

Atitude de Juscelino Kubitschek

Em poucos meses de governo da presidenta Dilma Rousseff a direita já acumulou um farto material que será usado nas campanhas eleitorais de 2012, cujos resultados serão decisivos para a sucessão presidencial de 2014. Essa condensação tem como fio condutor, que perpassa e une essas etapas golpistas, o que a etimologia define como mass media, “meios (de comunicação) de massas”, instrumento mediador, elemento intermédio. Ou por outra: aquilo que medeia uma ideologia. No Brasil, essa ideologia, que já foi chamada de “pensamento único”, expressa o propósito político e os usos e costumes dos conservadores — a elite brasileira.

Conferir credibilidade ao seu projeto equivale a fundar, hoje, um partido a favor do colonialismo. A ideologia conservadora guerreia com o Brasil em transformação pelo menos desde o início da década de 1940 do século XX, quando as forças populares começaram a deixar de ser marginais para tornarem-se capazes de influir no grande jogo político do país. Um exemplo disso foi a atitude de Juscelino Kubitschek que, por conta do sentimento patriótico entre o povo desenvolvido pelos setores progressistas da sociedade, em sua campanha eleitoral para a Presidência da República foi forçado a reformular a sua proposta de governo sobre o petróleo, conforme ele mesmo disse.

Por não expressar os anseios do povo, as organizações partidárias da ideologia conservadora sempre foram efêmeras, no mais das vezes formadas para disputar eleições. O que tem dado sustentação ao seu programa de governo, desde tempos remotos, é exatamente a mídia. Em torno dela se organizam movimentos que, por não ter nada a oferecer ao povo em termos de futuro, apelam para a hipocrisia, para as campanhas difamatórias, para os falsos moralismos. Numa palavra: para o golpismo. Nessa trajetória golpista, há uma data determinada para se ter uma referência da mídia que existe hoje no Brasil — 1º de abril de 1964, quando os conservadores consolidaram o golpe que tentavam há muito tempo.

Jornalismo americano

Os golpistas promoveram substanciais reformas legislativas com a outorga dos Atos Institucionais (AIs) que submeteram a mídia ao completo domínio da ideologia conservadora. O AI-2, de 27 de outubro de 1965, dizia que não seria “tolerada propaganda de guerra, de subversão da ordem ou de preconceitos de raça e de classes”. Para o regime, “subversão”, conceito não definido na legislação, era tudo aquilo que as forças progressistas defendiam. A Constituição de 1967 consolidou todos os atos discricionários anteriormente preparados. O AI-5, de 13 de dezembro de 1968, reforçou ainda mais o controle do regime sobre a liberdade de expressão.

A mídia tratou de se adequar rapidamente ao novo sistema. Nelson Werneck Sodré, em sua obra História da imprensa no Brasil, publicada em 1966, insinua — possivelmente para fugir da censura e da repressão — que o jornalismo conservador se integrou facilmente às novas regras. “O desenvolvimento da imprensa no Brasil foi condicionado, como não podia deixar de ser, ao desenvolvimento do país. Há, entretanto, algo de universal, que pode aparecer mesmo em áreas diferentes daquelas em que surgem por força de condições originais: técnicas de imprensa, por exemplo, no que diz respeito à forma de divulgar, ligadas à apresentação da notícia”, escreveu.

Segundo ele, o jornalismo americano criou o lead, cujos princípios se fundaram na regra dos cinco W e um H; qualquer foca americano sabe que a notícia deve conter, obrigatoriamente, os seguintes elementos: Who, que; When, quando; Where, onde; Why, por quê; e How, como.

“Qualquer jornalista sabe, por outro lado, estabelecer a distinção entre o que é a notícia e o que não interessa, dentro daquela malícia de Charles Dana que, para ensinar a alguém essa diferença elementar, contou: ‘Se um homem vai andando pela rua e um cão o morde, isso não é notícia, a não ser que esse homem tenha projeção política, social, financeira, notoriedade por qualquer motivo; mas se um homem morde um cão, isso é notícia’”, afirmou.

Orientação empresarial

Sempre se referindo ao jornalismo americano, Nelson Werneck Sodré escreveu que o “foca” (jornalista principiante), utilizando aplicadamente a técnica do lead, “transforma qualquer sinal de um problema social constante em fatos isolados que se repetem diariamente e cujas raízes reais ficam apagadas sob os detalhes específicos de cada história”. É o que se vê na mídia, um veículo repetindo o outro, todos divulgando as mesmas coisas, com a mesma conotação. A criminalidade, os efeitos da pobreza, a corrupção, os problemas ambientais e o que mais for de relevância para a sociedade se perdem entre doses diárias maciças de propaganda ideológica conservadora.

A informação fragmentada, sem mostrar a relação de um acontecimento e sua causa, na verdade é uma técnica de encobrir os interesses e as relações econômicas dos grupos monopolistas que controlam a mídia na estrutura da sociedade de classes.

O golpe de 1964 moldou essa configuração de maneira mais sólida, mas ela vinha sendo ensaiada desde quando o movimento nacionalista no Brasil começou a ganhar projeção com o objetivo de combatê-lo. Em 1948, chegou ao país a Seleções do Reader’s Digest, uma publicação de matérias selecionadas em diversos veículos mundiais. Em 1950, foi a vez do grupo Vision Inc criar a revista Visão e várias publicações corporativas.

No golpe, segundo René Armand Dreifuss no livro A conquista do Estado — ação política, poder e golpe de classe, os clãs midiáticos eram o centro do que ele definiu como ”elite orgânica”, de “orientação empresarial”, que atuou intensamente na desestabilização do regime democrático pré-1964 para pôr no lugar a ”ordem empresarial” após o ”golpe de classe”. O exemplo mais evidente é o da TV Globo, conforme relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada na época para apurar o papel do grupo Time-Life no surgimento da rede de televisão.

Intermediação de Victor Civita

O caso foi resumido pelo jornalista Genival Rabelo, em artigo publicado na Tribuna da Imprensa, em 1966, com o título “O exemplo americano de ‘liberdade’ de imprensa”, onde se lê:

“As investigações sobre a invasão ianque na imprensa brasileira, ou melhor, sobre o complexo processo de alienação da consciência brasileira, no sentido de nos levar a admitir que a ‘solução está nos Estados Unidos’, chegarão, forçosamente, às seguintes conclusões:

1 –  A Constituição foi brutalmente burlada desde que Seleções obteve permissão para ser impressa em português no Brasil, acelerando, desde então, o processo de manipulação da opinião pública com objetivos políticos-ideológicos.

2 – Depois de dominar praticamente o setor de revistas, os americanos voltam suas vistas para os jornais, estações de rádio e televisão.

3 – A TV Globo, inequivocamente, foi financiada pelo grupo Time-Life.

4 – A discriminação publicitária, exercida por agências americanas (J. W. Thompson, McCann-Erickson, Grant Adversiting, International Adversit-ing Service, Multi Propaganda etc.), compromete a grande imprensa brasileira, quase toda ela constituída de jornais que baseiam suas receitas em mais de 80% de publicidade.”

A trama para a criação da TV Globo foi intermediada por Victor Civita, da Editora Abril. Ele quase foi convencido a criar a TV pretendida pelo grupo Time-Life, mas o temor de ser flagrado em delito por ser estrangeiro e possuir um grupo de comunicação — um impedimento legal, e por isso ele vivia no anonimato — o fez transferir o negócio para o amigo Roberto Marinho. Pelo acordo, a Globo comprou equipamentos a uma taxa de dólar um terço mais baixa do que o valor de mercado em vigor. O grupo Time-Life daria assessoria técnica à emissora.

Escândalo instaurado

De acordo com o contrato principal, o grupo norte-americano obteria parte dos lucros líquidos da Globo — ou seja, um ato ilegal, já que não podia haver participação estrangeira nos lucros de empresas brasileiras de comunicação. No contrato de assistência técnica constava a “obrigação” de o grupo Time-Life “colaborar” na elaboração do conteúdo da programação e noticiários — mais uma prática proibida.

Era uma violação do código brasileiro de telecomunicações da época. O acordo sequer foi apreciado pelo Conselho Nacional de Telecomunicações (Contel). Apenas dois anos após a assinatura dos contratos a Globo enviou um deles — o de assistência técnica — para a Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) — hoje com o nome de Banco Central (BC). Mesmo assim, os documentos não puderam ser lidos porque continham muitas rasuras. O contrato sem rasuras só seria entregue, por ordem do Contel, em julho de 1965.

Novamente para burlar as leis, a Globo, com o escândalo instaurado, trocou o contrato principal por um de arrendamento de um terreno onde se localizava a sede da televisão. Pelo contrato, a Globo seria locatária de um prédio vendido ao grupo Time Life. O problema é que o documento foi feito antes da venda do local aos norte-americanos. A Globo alugou um prédio que era seu. Em troca do uso, a televisão se comprometeu a pagar 45% do lucro líquido da empresa pelo aluguel. Somado aos 5% do lucro liquido, destinado à assessoria técnica, o grupo norte-americano detinha 50% da Globo.

Condenação por unanimidade

Para impedir qualquer tipo de fiscalização, alguns documentos da transação desapareceram. Depois de muita insistência do Contel, a Câmara dos Deputados, contrariando os golpistas, decidiu instaurar a CPI para investigar o caso. O assunto ganhou dimensão de escândalo público.

Em 22 de agosto de 1966, a CPI divulgou a condenação, por unanimidade, da Globo. ”Os contratos firmados entre a TV Globo e o grupo Time-Life ferem o Artigo 160 da Constituição, porque uma empresa estrangeira não pode participar da orientação intelectual e administrativa de sociedade concessionária de canal de televisão; por isso, sugere-se ao Poder Executivo aplicar à empresa faltosa a punição legal pela infrigência daquele dispositivo constitucional”, dizia o parecer do relator, deputado Djalma Marinho, que pertencia à Arena, o partido que sustentava a ditadura.

O primeiro presidente do ciclo golpista, Humberto Castelo Branco, pedira que o caso fosse investigado. Mas seu sucessor, Artur da Costa e Silva, decidiu não acatar a decisão da CPI e apoiar oficialmente a Globo. Em 1969, o grupo Time-Life desistiu dos contratos. A emissora de televisão da família Marinho, no entanto, já era um poderoso meio de comunicação — posição conquistada por meio de linhas de créditos abertas pela então estatal Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel). “Sinto-me feliz todas as noites quando assisto ao noticiário, porque na Globo o mundo está um caos, mas o Brasil está em paz”, disse o terceiro general no poder, Emílio Garrastazu Médici.

Devidamente recompensados

Outras negociatas favoreceram os grupos que hoje dominam a mídia — como O Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo, a Editora Abril, que também deram amplo respaldo ao regime de 1964 e foram devidamente recompensados pelos golpistas.

O rompimento de Júlio de Mesquita Filho, do grupo O Estado de S. Paulo, com a ditadura, por exemplo, começou quando Castelo Branco não contemplou todos os seus interesses na formação do ministério. Quem conta a história é ninguém menos do que Armando Falcão, homem das entranhas do regime, no livro Tudo a declarar. O grupo de Júlio Mesquita Filho continuou apoiando o regime, mas a relação com o governo começou a se deteriorar, explica Armando Falcão.

No dia 1º de abril de 1964, O Estado de S. Paulo saudou o golpe com um editorial intitulado “São Paulo repete 32” — uma alusão à chamada “revolução constitucionalista”, da qual o principal líder civil era o então dono do jornal, Júlio de Mesquita Filho, para quem “o império da lei e da justiça” só poderia ser restabelecido no dia em que São Paulo voltasse “à sua condição de líder insubstituível da nação”.

Era o pensamento da direita brasileira, insatisfeita com a Revoluçãode de 1930 liderada por Getúlio Vargas, já manifestado por Hipólito da Costa em 1808 quando surgiu o primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense — mesmo ano da criação da imprensa no Brasil. “Ninguém deseja mais do que nós as reformas úteis, mas ninguém se aborrece mais do que nós que essas reformas sejam feitas pelo povo”, disse ele.

Quando se aproximava o período mais duro da ditadura, em 11 de junho de 1968, O Estado de S. Paulo defendeu, em editorial, a censura a peças teatrais. “Foi uma oportuna manifestação a que se registrou recentemente na Assembléia Legislativa, pela palavra do deputado Aurélio Campos, sobre os excessos que se tem verificado em representações teatrais no terreno do desrespeito aos mais comezinhos preceitos morais. O mundo teatral — tanto os atores e atrizes como os autores — vêm movendo uma campanha sistemática contra a censura, e como esta nem sempre é exercida por autoridades à altura de tão graves e, às vezes, tão delicadas questões, a tendência de muitos é cerrar fileiras entre os que combatem”, disse o jornal.

Cooptação de jornalistas

O alinhamento da mídia com os métodos daquele governo da ideologia conservadora também se deu com a formação de jornalistas no plano organizado pelo então diretor do Departamento de Projetos Sociais do Instituto Americano para o Desenvolvimento do Sindicalismo Livre — “American Institute for Free Labor Development” (AIFLD) —, William Doherty Jr., um célebre agente da Central Intelligence Agency (CIA). Ele foi diretor do AIFLD durante 30 dos 34 anos de existência daquela organização. Depois foi embaixador dos Estados Unidos na Guiana e ativo membro do fascista “Centro Por Uma Cuba Livre”.

O AIFLD surgiu no governo do presidente John Fitzgerald Kennedy por meio da Direção de Planificação da CIA para cercar a influência da revolução cubana na América Latina. Segundo o seu então presidente, George Meany, era “dever dos Estados Unidos contribuir para o desenvolvimento dos sindicatos livres na América Latina”. Foram ministrados cursos para 243.668 sindicalistas latino-americanos — muitos deles, jornalistas. Alguns receberam “capacitação especial” no “instituto de formação”, o Front Royal School, no Estado da Virginia.

A especialidade era, além da formação sindical, o comércio exterior norte-americano e a propaganda anticomunista. Um de seus braços era a Federação Interamericana de Organizações de Periodistas Profissionais (FIOPP). Seu secretário, o jornalista argentino Artur Scthirbu, esteve no Brasil por cerca de dois anos para cooptar o movimento sindical jornalístico brasileiro. A própria história da FIOPP explica a sua finalidade.

Interesses da categoria

Em 1959, o American Newspaper Guild, que é um sindicato de jornalistas dos Estados Unidos, e uma intitulada União de Jornalistas Livres, formada por exilados dos países do Leste Europeu, dirigiram um apelo a todo o continente americano para que os profissionais da imprensa participassem de uma reunião no Panamá, em 1960, quando seria criada uma entidade interamericana de organizações jornalísticas profissionais. Era uma resposta à tentativa de criação de uma federação latino-americana de jornalistas profissionais, com uma evidente linha de defesa dos interesses da categoria e de viés progressista.

As entranhas da FIOPP foram expostas quando uma vasta rede de corrupção mantida pela CIA foi desmontada, revelando como a organização — além da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), sediada em Bruxelas —, era financiada.

No Brasil, a Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais denunciou a FIOPP quando uma “junta governativa” foi nomeada pela ditadura no lugar da direção eleita no X Congresso Nacional de Jornalistas, realizado em setembro de 1963.

“Os mesmos grupos que em 1961 haviam sido derrotados (…), e que em 1963 não haviam logrado sequer compor uma chapa concorrente às eleições, alcançaram finalmente (…) o domínio da Federação”, dizia uma mensagem da diretoria destituída.

Sindicalismo jornalístico

Segundo o documento da Federação, a diretoria conhecia bem os planos dos agentes da FIOPP. Emissários do grupo teriam viajado pelo Brasil, “numa campanha de arregimentação sem precedentes”, financiados com recursos estrangeiros — conforme denunciou o jornal Correio da Manhã. “Os jornalistas e os demais trabalhadores reconquistarão as organizações sindicais para nelas trabalhar na defesa dos seus interesses que se confundem com os interesses do Brasil independente, democrático, soberano, progressista e fraternal”, finalizava a mensagem.

A ”junta governativa” logo filiaria a Federação à FIOPP. Para valorizar a decisão, o III Congresso da organização interamericana foi realizado no Rio de Janeiro em novembro de 1964. Uma mensagem do presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, registrou a sua satisfação por “ver profissionais da imprensa empenhados na campanha por melhores meios de desenvolver a cooperação interamericana”.

Terminado o evento, a diretoria nomeada da Federação começou a aplicar as diretrizes da FIOPP. Quem se der ao trabalho de ler a coleção do boletim da entidade da época verá claramente os esforços para enquadrar o sindicalismo jornalístico brasileiro na linha daquela organização.

A corrupção e o anticomunismo eram discutidos publicamente — como foi o caso de uma nota da redação do Jornal do Brasil publicada no dia 13 de julho de 1966, quando as eleições na Federação entraram na ordem do dia e dois grupos (um deles apoiado pela FIOPP) disputavam o comando da entidade. “Agora — e é o mais grave —, uma estranha organização norte-americana, a FIOPP, a pretexto de fazer anticomunismo, está despejando muito dinheiro nos meios sindicais, prejudicando o andamento natural das eleições na Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais”, disse o jornal. Apesar dos protestos, a chapa da FIOPP venceu as eleições.

Intolerância social

Graças às práticas dessa mídia golpista muita gente no Brasil vê a política como um gesto pouco nobre. Atribuem-se à sua lógica coisas como a depauperação dos valores. É comum se ouvir que política é feita pela escória da sociedade. Um marciano de boa índole que tivesse chegado à Terra pelo Brasil e estivesse estudando a humanidade munido do noticiário da mídia, certamente anotaria em sua agenda que política é uma das coisas ruins que se inventaram por aqui.

O nexo dessas práticas é o entrave conservador. Apesar de os ideais da Revolução Francesa e da Independência Americana ter estimulado movimentos como os inconfidentes de Minas Gerais e da Bahia, ainda hoje pode-se dizer que eles não se realizaram plenamente em nossa pátria.

É do arcabouço filosófico dos ideais republicanos que advêm idéias como democracia, direitos individuais, liberdade de expressão. Ele gerou, entre outras coisas, a revolução industrial, os sistemas políticos modernos, o conceito de igualdade entre os cidadãos e o advento de governos contratuais e eleitos. Desde a Era das Luzes até hoje, essa lógica impulsiona a luta por justiça social e justeza política.

Uma sociedade democrática deve alargar ao máximo o leque de possibilidades individuais e garantir um lugar digno a cada um. Para isso, é preciso assegurar, por meio de um regime verdadeiramente democrático, o direito de a sociedade escolher seu destino. Remover entraves como esse representado pela mídia é uma necessidade que se impõe pela relevância da circulação de informações verdadeiras em uma sociedade civilizada.

A democratização da comunicação não pode ser uma abstração com pouca relação com a realidade objetiva do país. Se esquecermos os ensinamentos da história, estaremos dando chance para o fortalecimento da tese de que um regime baseado na ideologia conservadora, de intolerância social e de homens autômatos, é insubstituível. Aí vem o fascismo.

*Editor do Grabois.org.br

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Aroeira

ALGUÉM SABE ME EXPLICAR O QUE ESTÁ ACONTECENDO? SERÁ QUE TEM A PENA DE SANTAYAANA?

(Tá no Jornal do Brasil online de hoje)

CONSPIRAÇÃO CONTRA A PÁTRIA
O Jornal do Brasil mantém a confiança nachefia do estado Democrático
Jornal do Brasil

O mundo inteiro passa por uma crise econômica e social, decorrente da ganância dos banqueiros, que controlam o valor das moedas, o fluxo de crédito, o preço internacional das commodities. Diante deles, os governos se sentem amedrontados, ou cúmplices, conforme o caso e poucos resistem.

A União Europeia desmantela-se: o fim do estado de bem-estar, o corte nos orçamentos sociais, a desconfiança entre os países associados, a indignação dos cidadãos e a incapacidade dos governantes em controlar politicamente a crise, que tem a sua expressão maior no desemprego e na pauperização de povos. Se não forem adotadas medidas corajosas contra os grandes bancos, podemos esperar o caos planetário, que a irresponsabilidade arquiteta.

A China, exposta como modelo de crescimento, é o caso mais desolador de crescente desigualdade social no mundo, com a ostentação de seus bilionários em uma região industrializada e centenas de milhões de pessoas na miséria no resto do país. Isso sem falar nas condições semiescravas de seus trabalhadores – já denunciadas como sendo inerentes ao “Sistema Asiático de Produção”. Os Estados Unidos, pátria do capitalismo liberal e neoliberal, foram obrigados a intervir pesadamente no mercado financeiro a fim de salvar e reestruturar bancos e agências de seguro, além de evitar a falência da General Motors.

Neste mundo sombrio, o Brasil se destaca com sua política social. Está eliminando, passo a passo , a pobreza absoluta, ampliando a formação universitária de jovens de origem modesta, abrindo novas fronteiras agrícolas e obtendo os menores níveis de desemprego de sua história.

Não obstante esses êxitos nacionais, o governo está sob ataque histérico dos grandes meios político-financeiros. Na falta de motivo, o pretexto agora é a inflação. Ora, todas as fontes demonstram que a inflação do governo anterior a Lula foi muito maior que nos últimos 10 anos.

O Jornal do Brasil, fiel a sua tradição secular, mantém a confiança na chefia do Estado Democrático e denúncia, como de lesa-pátria, porque sabota a economia, a campanha orquestrada contra o Governo – que lembra outros momentos de nossa história, alguns deles com desfecho trágico e o sofrimento de toda a nação.

Mário SF Alves

Tá no texto. Tá na análise histórica contida no texto. “Não se conhece outra forma para fazer o país avançar sem a ampliação da democracia, com partidos organizados e representativos, com vida regular das instituições e com amplo direito à informação.”
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Pois é. E é aí que se encontra o núcleo central do dilema. Quer saber, quem foi que disse que aos consevadores e neocons interessa a ampliação da democracia?
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Não. Não interessa. Por tudo que temos presenciado na última década, penso que eles odeiam a democracia. Mesmo que seja a democracia relativa, democracia conservadora movida a estelionato eleitoral, imposta por eles. Ainda assim, apenas a toleram. Se a democracia os interessasse a solução seria relativamente simples, bastaria um acordo nacional pela sua defesa e manutenção. Aliás, bastaria o devido respeito à Constituição.
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É inegável. Ainda que relativa, ainda que engendrada e imposta por eles, ainda que movida a estelionato eleitoral, com ela, com essa democracia que aí está, bastou um PT, um Lula, um Hadad e uma Dilma pra eles terem a certeza de que estão definitivamente fora do absoluto comando das verbas e políticas públicas no Brasil. É essa a razão de tamanho rancor; ódio e rancor, ainda que indiretamente continuem sendo (talvez até mais) beneficiados por ela.

FrancoAtirador

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TAGs: GOEBBELS, GOLBERY & GOLPE = GO BRAzIL

GOLBERY DO COUTO E SILVA:

O OFICIAL MILITAR QUE IDEALIZOU E IMPLEMENTOU

O “MODERNO” ESTADO BONAPARTISTA BRAzILEIRO
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Os editoriais da Folha de São Paulo:
Evidências de uma solução bonapartista para a crise (1963-1964)

Por Valdemar Gomes de Sousa Junior*

Este trabalho pretende contribuir na análise do papel da imprensa no golpe militar de 1964.
Já que a historiografia brasileira, que produziu uma variedade de pesquisas a respeito do Golpe Militar de 1964, possui uma escassez de estudos sobre o papel da imprensa na articulação do golpe.
Apesar da historiografia reconhecer a importância dos meios de comunicação na atividade conspiratória, que garantiu unidade no interior do grupo golpista e o apoio das classes médias, é somente a partir dos anos 1990 que começaram a aparecer trabalhos acadêmicos sobre mídia e o golpe militar.
Porém, ainda continua sendo um tema pouco explorado.
Com a finalidade de compreender um pouco melhor a relação entre a imprensa e o golpe, escolhemos os editoriais da Folha de S.Paulo, produzidos entre janeiro de 1963 e abril de 1964, como fonte documental para nosso estudo.
Este período acompanha a duração do governo Goulart sob o regime presidencialista e termina no primeiro mês da ditadura militar.
O objetivo principal da pesquisa é estabelecer os nexos constitutivos entre o jornal e as forças sociais que, sob a ponta da baioneta, acabaram com um governo legitimamente constituído e, ao mesmo tempo, recuperar a função social que o periódico cumpriu. Longe de reconhecer o jornal como simples instrumento para comprovar fatos e fornecer subsídios a interpretações mergulhamos no interior do jornal para compreendê-lo como produtor de ideologia e difusor de uma visão particular de mundo.
A pesquisa demonstra que a Folha de S. Paulo ao adotar um posicionamento nos editoriais que responsabiliza o governo Goulart, por sua incapacidade administrativa, pela infiltração do comunismo no Brasil e pela crise política do período, dará legitimidade à intervenção militar, o golpe bonapartista.

*Mestre em História Social e Graduado (Bacharelado e Licenciatura) em História Pontifícia Universidade Católica de São Paulo [PUC-SP]. Atualmente é professor do curso de História da Unicastelo onde ministra as disciplinas: História do Brasil Colonial I e II e Metodologia e Prática Docente. E leciona nos curso de licenciatura (Letras, História, Filosofia, Pedagogia, Geografia, Artes e História) as disciplinas de História e Cultura Indígenas e História e Cultura Afro-brasileiras. É responsável também pelo estágio Supervisionado do curso de História.

(http://www.academicoo.com/artigo/os-editoriais-da-folha-de-sao-paulo-evidencias-de-uma-solucao-bonapartista-para-a-crise-1963-1964)
(http://www.sapientia.pucsp.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=5913)
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Mário Pedrosa e o estado Bonapartista militarizado no Brasil de 1964

Por Dirlene de Jesus Pereira Rocha*

Na França de 1848-1851, com o processo de assentamento das classes sociais, Marx percebeu a instalação, no Estado, de certas estruturas, por imposição das lutas de classes, que permite descolar-se de sua base social, a fim de manter a coesão da sociedade capitalista.
Trata-se do fenômeno bonapartista, onde a centralização e burocratização crescentes no interior do Estado moderno, transforma-o numa peça fundamental ao manter uma coesão social e uma unidade política no capitalismo ao desmobilizar a organização política dos trabalhadores.

A compreensão do Estado moderno a partir dessa especificidade em relação às classes sociais alimentou a reflexão de Mário Pedrosa sobre o Brasil de 1964.
Suas publicações, A Opção Brasileira e A Opção Imperialista, falam de uma realidade social capitalista que se explica pelo processo de desenvolvimento desigual e combinado, suportando um “Estado bonapartista militarizado”, forjado em razão do acirramento das lutas de classes no Brasil, tendo como prioridade repor os interesses imperialistas no cerne dos esforços para vencer a crise de crescimento das forças produtivas da década de sessenta.

Nos livros A Opção Brasileira e A Opção Imperialista (1966), escritos em função do Golpe Militar de 1964, Mário Pedrosa vê no golpe uma tentativa de reinserção do Brasil na economia internacional e, ao mesmo tempo, de recuperar as condições para a retomada de um novo ciclo de acumulação do capital frente à estagnação econômica da década de 1960.
Ameaçado por esta crise e vendo romper-se a base social da aliança populista, instaurou-se, em 1º de abril de 1964, uma ditadura bonapartista.

Partindo da análise do imperialismo renovado do pós-guerra – uma simbiose resultante dos embates com o “socialismo real”, responsável pela “vitalidade” e “elasticidade” do capitalismo -, Pedrosa demonstra que nesse processo de acirrada luta imperialista o Estado adquiria importância capital na medida em que se tornava o centro do planejamento econômico. Assim, a partir de 1º de abril, Washington conseguiu “instalar no Brasil um governo inteiramente a seu gosto”.

*Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=E4963849)

(http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000106810)
(http://marxartes.blogspot.com.br/2011/03/mario-pedrosa-e-o-bonapartismo-no.html)
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O SATÂNICO DR. GO

Golbery e um Projeto de Desenvolvimento e Dependência para o Brasil

Por Vânia Noeli Ferreira de Assunção

Resumo: Este artigo aborda aspectos da biografia e do pensamento do general Golbery do Couto e Silva (1927-1911), personagem-chave em eventos da história do País desde os anos 1950.
Mostramos como sua atuação prática é coerente com seu pensamento, exposto principalmente em Planejamento estratégico, de 1955, e Geopolítica do Brasil, de 1981.
Suas idéias baseiam-se, de um lado, numa concepção instrumental da liberdade (a manutenção de um nível mínimo de liberdade é importante para a ordem) e de negociações com a oposição;
e, de outro, numa articulação subordinada com os Estados Unidos para levar o Brasil à condição de grande potência.
Segurança e desenvolvimento, ou ordem e progresso, não por coincidência também eram o lema da ditadura militar.
Entender o pensamento de Golbery é fundamental para compreender as características e conseqüências desta.

Interlocutor respeitado por líderes como D. Paulo Arns, Júlio de Mesquita Neto e Ulysses Guimarães.
Odiado pela linha-dura e radicalmente anticomunista e antidemocrático.
Nacionalista e defensor da industrialização subordinada ao estrangeiro. Pensador autodidata, eclético, de estilo rocambolesco e árido, que não dispensava consultas a pais-de-santo.
Em uma palavra: controvertido.

Este é o perfil de Golbery do Couto e Silva, homem do poder, mas que preferia os subterrâneos aos holofotes.

Nascido em agosto de 1911, sua participação ativa na história se iniciou em 1952, quando ingressou na ESG [Escola Superior de Guerra], dando início a uma relação estreita e profícua.
Em 1954 redigiu o ‘Memorial dos Coronéis’, estímulo à demissão do ministro do Trabalho, Jango, e o ‘Manifesto dos Generais’, contra o próprio presidente Vargas.
Em 1955, foi um dos articuladores da “novembrada”, movimento que visava a impedir a posse do presidente eleito JK e seu vice, Jango, o que o levou à prisão.

Nomeado para o Conselho de Segurança Nacional do governo Jânio Quadros, foi surpreendido pela renúncia do presidente e movimentou-se amplamente pelo impedimento da posse do vice Jango.
Foi dele a idéia de oferecer a Goulart a Presidência sob regime parlamentarista, solução de compromisso finalmente aceita.
Já na reserva, passou a liderar o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), e ligou-se ao Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e ao Movimento Anticomunista na intensa conspiração contra o governo.

Com o sucesso do golpe de 1964, foi nomeado por Castelo Branco chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), com status de ministro.
Juntamente com Geisel, tinha grande influência sobre o presidente, mas caiu no ostracismo durante o predomínio da linha-dura, que chegou ao poder com Costa e Silva, e foi trabalhar na filial brasileira da multinacional Dow Chemical em 1969.

Retornou ao poder em 1974, na Chefia do Gabinete Civil de Geisel.
Na condução da ‘transição transada’, cujo ritmo queria aumentar, realizou muitos contatos com membros da Igreja Católica e outras lideranças.
Para ele, a “distensão política” deveria ter ocorrido ainda no momento de auge do autoproclamado “milagre brasileiro”, diminuindo as resistências da direita e agradando controladamente à esquerda.

Mesmo com as promessas de distensão, o governo Geisel foi palco de graves violações aos direitos humanos, censura e arbitrariedades.
Era, em parte, obra da linha-dura, que resistia a qualquer proposta de abertura e criava artificialmente um clima de conspirações comunistas.

Mas o grupo no poder não tinha muita convicção na democracia:
em 1977, diante da rejeição do anteprojeto do governo, de reforma do Poder Judiciário, o Congresso foi fechado por 14 dias e baixado o célebre Pacote de Abril, mudando no meio do jogo as regras eleitorais e buscando garantir o controle do processo de auto-reforma.

Golbery aconselhava a “distribuir pauladas à esquerda e à direita”, mas também a demonstrar boa vontade para com ambos, como em 1978, quando ocorreu a revogação do AI-5, o restabelecimento do habeas-corpus para crimes políticos, a anistia aos cassados 10 anos antes.
Acreditava que inimigos deveriam ser enfraquecidos e monitorados, nunca aniquilados, para não fortalecer demais um outro lado nem criar mártires.
Guiou-se por essa visão ao conduzir a distensão.

Em 1979, foi reconfirmado no Gabinete Civil pelo novo presidente, João Figueiredo.
Sua permanência seria curta: em 1981, divergindo da atuação em relação ao recrudescimento do terrorismo de direita, saiu do governo e ingressou na diretoria do Banco Cidade.
Até sua morte, em 1987, aos 76 anos, manteve-se afastado da vida pública.

Se bem que “pública” não é o melhor termo para definir sua atuação prática e sua ideologia.
Estava a serviço da burguesia brasileira, devotado à busca de uma ideologia voltada a responder conservadoramente aos problemas da realidade nacional.

A quase integralidade da sua teoria baseava-se na questão primária do ‘medo’ advindo da ‘insegurança’ da vida humana.
Preso a uma angústia existencial, não surpreende que o homem que retrava buscasse a todo custo a segurança que o mundo não lhe oferecia.
Assim, explicação hobbesiana, acabou por engendrar uma entidade à qual, em troca de proteção, alienou parte de sua autonomia e de sua liberdade individuais, o Estado.

Para Golbery, nas esferas interna e externa, os intérpretes e paladinos dos interesses nacionais eram os Estados.
Este seria um árbitro imparcial, capacitado a decidir com sabedoria salomônica as perigosas divergências que ocorressem no interior do grupo. Também no nível internacional, acreditava, cada um dos Estados criados pelo “raciocínio lógico e escorreito” dos homens busca atingir determinadas aspirações, por vezes contrapostas ou idênticas às de outros povos, o que os leva à luta para fazer valer seus próprios interesses.

Naquela conjuntura de guerra total – a sufocante guerra fria volta e meia se materializava –, os perigos haviam crescido exponencialmente.
Falhara a busca de segurança pela criação do Estado e o responsável por isso era o liberalismo, ultrapassado e nocivo, que pregava o Estado abúlico e indefeso.
Por isso, para Golbery, tendia a se repetir o escambo liberdade/segurança, agora em condições muito mais perigosas, em face do “antagonismo vital” entre comunismo e capitalismo.
Nascia o ‘superleviatã’, o organismo político multinacional exigido pelo panorama de guerra total.

Note-se que Golbery buscava transferir a guerra hobbesiana de todos contra todos do âmbito individual para o do Estado – criado justamente para trazer a harmonia.
Ao mesmo tempo, apontar essa origem queria transmitir a idéia de que o Estado eliminara os conflitos e diferenças sociais mais graves e representava os interesses de toda uma sociedade – em vez de classes antagônicas, o ‘povo’ ou, como ele preferia, a ‘nação’.
O general estava ideologicamente impedido de trabalhar com a idéia de ‘nação dividida’, elidindo as divisões sociais em função de uma visão homogeneizante.
Por isso o Estado aparecia em seus escritos como um ente abstrato, a-histórico, a quem toda a sociedade serviria.

O nacionalismo também era conceito-base no seu pensamento.
Muitas vezes confundida com o Estado, a nação só podia existir em segurança, integrada e em função de aspirações comuns.
A segurança nacional estaria garantida quando se barrassem os antagonismos a estes objetivos nacionais.
Fortemente influenciado pelo organicismo, Golbery percebia a sociedade como um organismo regido por leis análogas às da natureza, do que decorria que tudo que a fortalecesse era visto como positivo e natural, enquanto perturbações à ordem seriam patológicas.
Aperfeiçoar, não transformar, tinha como corolário a radical desconsideração de qualquer forma alternativa de organização social e a abertura para tachar de inimigos internos todos os que abraçassem causas diferenciadas.

Odiava o comunismo materialista, oriental e internacionalista. Ao nacionalismo da esquerda ele contrapunha o ‘nacionalismo verdadeiro’, maduro, realista e crítico, distanciado da “corruptora histeria demagógica” e cujo campo promissor era a América Latina.

Por outro lado, mesmo repudiando o liberalismo Golbery não defendia o “totalitarismo” de tipo soviético, que teria avançado para além do recomendável na condução da vida de cada indivíduo.

A oposição entre liberalismo e “totalitarismo” não se dava, pois, em termos de amplitude da ação estatal, mas de método de controle social.

Para ele, rejeitar o liberalismo não significava abdicar também da essencial liberdade humana, valor inestimável para o Ocidente.
No fundamental, contudo, a liberdade não podia ser anulada porque é essencial para a manutenção da ordem e do progresso.

Segundo a lei dos rendimentos decrescentes, segurança, liberdade e desenvolvimento mantêm entre si relações estreitas e interdependentes.
Os três têm de ser minimamente garantidos, do que depende o equilíbrio do todo e o desenvolvimento de cada um.
Por isso o sistema totalitário soviético estaria fadado ao fracasso: o sacrifício da liberdade em nome da segurança, abaixo de certo nível mínimo, tornava-se contraproducente.

Ainda nos anos 50, pondo-se entre o liberalismo inativo e o totalitarismo opressor, propunha como “terceira via” a “democracia participativa e o planejamento democrático”, instrumentos para transformar o potencial nacional em poder efetivo.
Comparava um possível processo de industrialização autônomo à história do Barão de Münchhausen, que teria alçado da areia movediça a si mesmo e ao cavalo que montava puxando-se por um fio de cabelo.
A saída: industrialização pelo empuxo externo.

Reputava inevitável o recurso à poupança externa para levar adiante o processo de desenvolvimento nacional num prazo razoável e com maior probabilidade de sucesso.
Sua ilusão necessária era empregar capitais externos para tornar o Brasil uma grande potência.

Entendia que o nacionalismo sadio existente em toda a América Latina abolira antigos receios quanto aos Estados Unidos, gerando ressentimentos contrários: o reclamo por ajuda.
Entristecia-o pelo fato de os EUA não lerem nas imutáveis massas continentais o destino grandioso do Brasil, que deveriam ajudar a construir.
Afinal, o País tinha toda uma série de trunfos, dos quais ressaltava o promontório nordestino, de valor estratégico inestimável para a defesa continental.
Além do mais, a soberania brasileira seria ameaçada por ambições colonizadoras, mas pela sua importância geopolítica para o mundo comunista, que pretenderia daqui armar um ataque fulminante contra os EUA, o que mais nos aproximava deles.

O general reiterava a disposição do País de utilizar essa vantagem em prol dos interesses americanos e da defesa do ocidente contra o “imperialismo comunista”.
Desta forma, a soberania nacional poderia ser objeto de escambo, desde que fosse uma barganha leal: por exemplo, em troca de um subimperialismo regional.

Convocava as nações centrais do mundo capitalista: subtrair os países subdesenvolvidos do âmbito de influência do comunismo insidioso seria oferecer-lhes uma alternativa à estagnação, de um lado, e ao totalitarismo, de outro.
Era preciso, dizia, mostrar a vitalidade e a criatividade da democracia na resolução do drama da miséria.

Uma experiência deste tipo só poderia alcançar a devida repercussão se realizada na América Latina – e como a profundidade da intervenção deveria ser proporcional às responsabilidades e compromissos assumidos, no Brasil, representante desta América Latina e dos subdesenvolvidos.
Forte, poderoso, estratégico, o País teria importância ímpar para as “imperiosas necessidades de defesa do Ocidente” e poderia se tornar locus de uma sorte de Plano Marshall latino-americano, em cujo espelho as nações subdesenvolvidas de todo o mundo pudessem se mirar e que redundasse em um aumento do desenvolvimento continental.

Não deixa de ser ingênua a pregação pelo controle político do capital e a crença no desenvolvimento subordinado como o caminho para o Brasil-potência.
Mas estas foram, grosso modo, as bases sobre as quais se assentou a política econômica da ditadura, não obstante as diferenças específicas com o pensamento de Golbery.
As conseqüências desta opção marcaram definitivamente a história brasileira.

*Socióloga, professora universitária, mestre e doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP e professora do curso de especialização em História, Sociedade e Cultura da Cogeae/PUC-SP.

Referências bibliográficas:

ASSUNCÃO, Vânia Noeli Ferreira de. O satânico Dr. Go: a ideologia bonapartista de Golbery do Couto e Silva. (1999) Dissertação (mestrado) apresentada à PUC-SP.
Disponível em: (http://www.verinotio.org/di/di17_golbery.pdf)

COUTO E SILVA, Golbery. Conjuntura política nacional: o poder executivo & Geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro, José Olympio, 1981.

GASPARI, Elio. A ditadura derrotada. O Sacerdote e o Feiticeiro. São Paulo, Cia das Letras, 2003.

MELLO, Leonel I. A. “Golbery revisitado: da democracia tutelada à abertura controlada”. In: MOISÉS; ALBUQUERQUE. Dilemas da consolidação da democracia. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989.

SCHILLING, Paulo. O expansionismo brasileiro: a geopolítica do general Golbery e a diplomacia do Itamaraty. São Paulo, Global, 1981.

(http://www.espacoacademico.com.br/070/70assuncao.htm)

Cronologia

1911 – Golbery do Couto e Silva nasce, em 21 de agosto, na cidade de Rio Grande, Rio Grande do Sul.
1927 – Ingressa na Escola Militar do Realengo, no então Distrito Federal do Rio de Janeiro.
1930 – Declarado aspirante a Oficial da arma de infantaria, conquistando o primeiro lugar em toda a sua turma de cadetes de todas as armas.
1932 – Servindo no 9º Regimento de Infantaria, participa das operações na Revolução de 32.
1941 – Presta concurso de provas livres para admissão na Escola de Estado-Maior, em que foi o único oficial aprovado.
Ao pular turmas, por merecimento, travará contato com os cadetes mais velhos, entre os quais Ernesto Geisel.
1944 – Segue para estágio no Exército norte-americano, no Fort Leavenworth, sendo transferido depois para a Força Expedicionária Brasileira na Itália, como oficial de informações.
1946 – Promovido a major (junho) e transferido para o Estado-Maior Geral (hoje EMFA).
1947 – Nomeado membro da Missão Militar Brasileira de Instrução no Exército do Paraguai, onde permanece por três anos.
1950 – É classificado no Estado-Maior do Exército, designado adjunto da Seção de Informações.
1951 – Promovido a tenente-coronel.
1952 – Nomeado adjunto do Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra [ESG], na divisão de Assuntos Internacionais, depois na Divisão Executiva. Aí, reencontrará Geisel.
No período em que ficará na ESG, proferirá as conferências que deram origem ao livro Planejamento Estratégico, publicado em 1955.
1954 – Divulgado o Manifesto dos Coronéis, de que foi o redator (segundo Heitor Herrera).
1955 – Tendo articulado, com a União Democrática Nacional, um movimento para impedir a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek e seu vice, João Goulart, é punido pelo ministro da Guerra, marechal Henrique Teixeira Lott, com oito dias de prisão.
É exonerado de suas funções na ESG e transferido para Belo Horizonte, numa jogada do ministro da Guerra que espalhou pelo país os oficiais envolvidos na conspiração (“novembrada”).
1956 – Promovido a coronel e transferido para o Estado-Maior do Exército, Seção de Operações, Subseção de Doutrina.
1960 – Nomeado para o EMFA, como chefe da Seção de Operações.
1961 – Nomeado chefe de gabinete da Secretaria-Geral do Conselho de Segurança Nacional do governo Jânio Quadros (fevereiro).
Com a renúncia de Quadros (agosto), passa a articular, com outros militares e civis, o impedimento da posse do vice João Goulart.
Tem a idéia de dar a Goulart a posse sob regime parlamentarista.
Em setembro, com a posse de Goulart, pede transferência para a reserva, sendo automaticamente promovido a general-de divisão (três estrelas, abaixo de general-de-exército). Passa a liderar o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES).
Ali, monta um serviço de inteligência cujas informações serão posteriormente aproveitadas pelo governo Castelo Branco.
Tinha agentes infiltrados nas principais organizações de trabalhadores, estudantes e intelectuais.
Estabelece ligações com ao Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e com o Movimento Anticomunista (MAC), todos envolvidos em conspiração contra o governo [Jango].
1964 – Com o golpe e a ascensão de Castelo Branco à Presidência da República [SIC], é nomeado chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), com status de ministro de Estado (junho).
Juntamente com Geisel, tem grande influência sobre o presidente [SIC].
1967 – Com a posse de Costa e Silva, do grupo da “linha dura”, sucedendo a Castelo Branco, Golbery sai do governo e passa a trabalhar no Tribunal de Contas da União.
1969 – Aposenta-se e retira-se do serviço público.
Passa a atuar como diretor e conselheiro da filial brasileira da multinacional Dow Chemical.
1974 – Assume a chefia do Gabinete Civil do presidente Ernesto Geisel, com a função precípua de realizar a distensão política.
1975 – Divulgada nota oficial do II Exército informando que o jornalista Wladimir Herzog fora encontrado morto em uma das celas do DOI-Codi em São Paulo.
1976 – Divulgada nota oficial do II Exército informando que o operário João Manoel Fiel Filho fora encontrado morto em uma das celas do DOI-Codi em São Paulo (19 de janeiro).
No mesmo dia, o presidente [SIC] Geisel exonera o general Ednardo D’Ávila Melo do comando do II Exército em São Paulo.
1977 – Rejeitado no Congresso o anteprojeto, elaborado pelo governo, para reforma do Poder Judiciário (30 de março).
O governo fecha o Congresso por 14 dias e baixa o Pacote de Abril.
Em outubro, o general Sylvio Frota, aspirante a candidato à Presidência da República [SIC], é demitido por Geisel.
1978 – Greve dos metalúrgicos em São Bernardo do Campo projeta nacionalmente a liderança de Luís Inácio da Silva, o Lula (maio).
Em setembro, o Congresso aprova medidas políticas propostas pelo governo: revogação do AI-5, restabelecimento do habeas-corpus para crimes políticos, anistia aos cassados há mais de 10 anos, entre outras.
1979 – Golbery é reconfirmado no cargo de chefe do Gabinete Civil pelo novo presidente [SIC] João Batista de O. Figueiredo.
1981 – Por divergências com o presidente [SIC] acerca da atuação em relação ao recrudescimento do terrorismo de direita, sai do governo.
Ingressa na diretoria do Banco Cidade.
1987 – Morre, aos 76 anos, de insuficiência respiratória em decorrência de um câncer no pulmão.
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A dita Folha e as “branduras” não ditas

Por Suzana Brito, no sítio A Nova Democracia

Para o monopólio da imprensa, o regime de exceção que vigorou durante a gerência militar no Brasil foi brando. Mas o que a direita e a falsa esquerda omitem é que o objetivo central do golpe de 64 foi a total conquista do Estado brasileiro pelo imperialismo ianque e a segurança de que seus desígnios seriam cumpridos sem hesitação.

No último dia 17 de fevereiro, o reacionário jornal Folha de S. Paulo disse textualmente que a ditadura de 1964 foi branda. A classificação veio com o termo “ditabranda”, que na concepção do jornal melhor caracteriza o regime de exceção brasileiro se comparado com as outras gerências militares no Cone Sul.

A atitude da Folha de S. Paulo fomentou uma onda de manifestações. Centenas de cartas foram enviadas ao jornal, milhares de pessoas subscreveram um abaixo-assinado pela internet e cerca de 400 cidadãos protestaram em frente à sede do jornal, no dia 7 de março. Entre as faixas, uma dizia “Abaixo a mídia golpista”.

A FOLHA FOI SÓCIA DA DITADURA

Ao tentar amenizar a brutalidade do sistema de governo implantado no Brasil entre 1964 e 1985, a Folha não fez nada além de ser fiel a seus princípios. Como se sabe, a Folha de S. Paulo clamou pelo golpe militar de 64 para “combater o comunismo e a república sindical de Jango”; apoiou o setor “linha dura” dos generais golpistas; cedeu seus carros de reportagem para transportar os presos políticos à tortura; e foi o jornal que mais abrigou policiais dentro da redação. A empresa prosperou nas masmorras da ditadura militar.

Em entrevista ao portal de internet Viomundo, a escritora Beatriz Kushnir, autora do livro Cães de Guarda — Jornalistas e Censores, do AI-5 à Constituição de 1988, confirma a vocação reacionária do jornal da família Frias:

— A Folha nasceu para ser um jornal pra disputar o mercado com o Jornal da Tarde. (…) Após a morte de Marighela, esse jornal dá uma guinada à direita. Passa a dar informações dos órgãos de repressão como se fossem reportagens. (…) Durante anos o jornal foi completamente aparelhado pela repressão. Tanto que no livro existem várias fotos de carros da Folha queimados por militantes porque antes os militantes chegavam perto dos carros pra denunciar o que estava acontecendo, e aí saiam policiais. Por isso você tem carros da Folha sendo queimados.

O QUE FOI A GERÊNCIA MILITAR

Entretanto, para entender o neologismo da Folha de S. Paulo é preciso compreender o que foi a gerência militar de 64. Senão, o máximo que se vai conseguir é uma onda de manifestações superficiais. O que está no bojo da derrubada do presidente João Goulart é a conquista definitiva do Estado brasileiro pelo imperialismo ianque e o domínio da economia nacional pelas suas corporações. Isto, até o momento, não foi considerado pelos que protestam de boa fé e muito menos pela falsa esquerda. Para a direita e o monopólio da imprensa, por sua vez, esta omissão é convenientemente adequada.

René Dreifuss, em seu clássico livro 1964: A Conquista do Estado — Ação Política, Poder e Golpe de Classe (Editora Vozes) demonstra claramente a intervenção estrangeira no processo democrático brasileiro.

“O capital monopolista transnacional ganhou uma posição estratégica na economia brasileira, determinando o ritmo e a direção da industrialização e estipulando a forma de expansão capitalista nacional”.

O escritor revela ainda que o golpe não pertenceu apenas a grupos militares, mas contou com decisiva participação de setores civis — FIESP à frente. Outras instituições de “estudos” foram fundamentais para desenvolver uma ideologia servil aos interesses estrangeiros, como o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), o Conselho Nacional das Classes Produtoras (CONCLAP), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e a Federation of the American Chambers of Commerce do Brasil. Com relação aos investimentos estrangeiros no IPES, o autor identifica 297 corporações dos EUA e 101 provenientes de outros países. Embora os membros do IPES negassem, o então cônsul dos USA Niles Bond disse ter certeza de que fundos estadunidenses chegavam ao IPES. Ademais, o embaixador Lincoln Gordon também atuou em favor dessas operações. Por fim, Dreifuss complementa: “Dinheiro da CIA americana também era canalizado para o IBAD” (página 223).

AS EMPRESAS QUE LUCRARAM

Entre os que conspiraram para o golpe que sequestrou, torturou e matou milhares de brasileiros estão: Unibanco, Esso, Souza Cruz, Mesbla, Morgan Group (que avalia o “risco-país”), Mercedes-Benz, Brascan, Texaco, Shell, IBM, O Estado de São Paulo, Organizações Globo, FIESP, TV Record, Light, Itaú, Gerdau, Votorantim, Motorola, Johnson, Nestlé, Alpargatas (que fabrica as Havaianas), Coca-Cola, Panair, Varig, Cruzeiro do Sul, Grupo Sul-América, Lojas Americanas, Kibon, Cia. Suzano de Papel, Antárctica, Brahma e Editora Saraiva.

René Dreifuss relata a criação do Grupo de Opinião Pública, que funcionava dentro do IPES e tinha como objetivo declarado manipular a opinião pública por todos os meios disponíveis.
JB, Estadão e Repórter Esso são citados como colaboradores do esquema, e o general Golbery do Couto e Silva foi apelidado de Chefe Geral de Opinião Pública.

Mas nenhum outro veículo de comunicação foi tão importante para sustentar o regime de exceção quanto a TV Globo. Fundada a partir de um contrato assinado em 1962, em Nova York, entre Roberto Marinho e o Grupo Time-Life, a Globo nasce com o claro objetivo de formatar uma opinião pública que aceitasse a ditadura. É o que explica o escritor Roméro da Costa Machado, que trabalhou na Fundação Roberto Marinho por dez anos:

“O escândalo Globo/Time-Life não é meramente um caso de um sócio brasileiro (Roberto Marinho) que aceita como sócio uma empresa estrangeira (Grupo Time-Life), contra todas as leis do país. O escândalo Globo/Time-Life é mais do que isso. É antes de mais nada um suporte de mídia que visava apoiar, dar base, sustentação e consolidar a ditadura no Brasil, apoiada e supervisionada pela CIA, por exigência dos Estados Unidos, comandado por terroristas da CIA, como Vernon Walters e Joe Walach, sendo este último com emprego fixo na Globo, como “representante” do grupo Time-Life”.

Não há dúvidas de que a ação do Estado, apesar de passado para mãos “civis” continua seguindo o mesmo padrão. Tanto que o modelo é o mesmo: agrário-exportador, concentrador de renda e violentamente opressor (as polícias militares estão aí para provar).

Portanto, quando a Folha de S. Paulo escreve que a ditadura brasileira foi branda, ela não faz nada mais que reiterar seu caráter de classe antipovo. Além, é claro, de reforçar a participação no golpe do monopólio da imprensa, aliado ao imperialismo, em quem não se pode confiar em absoluto.

(http://www.anovademocracia.com.br/no-51/2126-a-dita-folha-e-as-qbrandurasq-nao-ditas)
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Leia também:

(http://www.academicoo.com/bonapartismo)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Golbery_do_Couto_e_Silva)
(http://busca.ibict.br/SearchBDTD/search.do?command=search&q=+assunto:%22Bonapartismo%22)
(http://bit.ly/1aFPXml)
(http://tvbau.blogspot.com.br/2013/05/1980-o-fim-da-rede-tupi.html)
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FrancoAtirador

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MEMÓRIAS REVELADAS

Nova lei permite que vias com nome de violadores de direitos humanos sejam renomeadas

“Têm pessoas que devem ser esquecidas”, diz morador da rua Sérgio Fleury

Muitos moradores não se importam. Talvez nem reparem ou não lembrem com toda a certeza quem é aquela pessoa. No entanto, uma nova lei aprovada pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, fez com que o nome de uma rua virasse discussão na reunião de condomínio e passasse a fazer parte de conversas à beira do portão na rua Doutor Sérgio Fleury, Vila Leopoldina, zona oeste da capital paulista.

Após aprovado, projeto proposto pelo então vereador Jamil Murad e desarquivado por Orlando Silva (PC do B), prevê a possibilidade de mudar o nome de uma via pública que tenha sido batizada com o nome de alguém que violou direitos humanos. Anteriormente, a única forma de modificar o nome de um logradouro era quando ridicularizava o local, ou expunha o morador a algum tipo de constrangimento.

Eduardo Rodrigues, 46 anos, comerciante, mora na rua Sergio Fleury — uma referência ao delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) na época da Ditadura Militar — há cerca de dez anos. Ele é favorável à alteração do nome.

— Acho que têm pessoas que devem ser esquecidas. Não devem ser lembradas nem pelo mal que fizeram.

No entanto, ele conta que a rua ficou dividida.

— Muitos são contra porque acham que a mudança vai trazer gasto para eles com uma nova escritura e registro ou problema para receber correspondência. Estão preocupados com o que acham que pode acontecer.

Sandro Furquim, de 32 anos, consultor financeiro, concorda com Rodrigues e diz acreditar que os vizinhos que são contra a mudança não estão muito bem informados. Os dois apoiam, inclusive, a sugestão do próprio vereador Orlando Silva de rebatizar a via com o nome de Frei Tito, religioso e estudioso torturado por Fleury na época da ditadura.

— Nem todo mundo sabe quem foi Fleury e nem pelo que o frei Tito passou. Eu sabia quem o Fleury era, mas fui buscar mais informações. Achei deprimente. Levo na minha rua o nome de um monstro?

Para Luiz Felipe Fabi, 36 anos, médico, a questão não deveria ser uma prioridade da cidade de São Paulo.

— Acho que mudar nome de rua não é uma das prioridades dos nossos problemas. Se fosse uma rua homônima, por exemplo, e eu deixasse de receber minha correspondência por isso, tudo bem. Mas a gente não tem um problema.

Henning Boilesen

Na placa posicionada em um pilar de uma das casas, a especificação é clara: “Henning Boilesen: Administrador de emprêsas – 1916 – 1971”. Mesmo com o “aviso”, a maioria dos moradores da via diz não saber a quem se refere o nome da rua. “Um alemão, parece”, é a resposta mais usual.

A antiga rua 8, no Jaguaré, zona oeste de São Paulo, virou Henning Boilesen na década de 1970, segundo os moradores. Empresário dinamarquês radicado no Brasil, Boilesen financiou os equipamentos militares e a tortura durante a ditadura brasileira.

Para grande parte de quem mora nessa via, há um grande problema com esse nome, mas ele não está relacionado ao passado de Boilesen. Isabel Oliveira, 25 anos, mora na rua há três anos e explica:

— O pessoal acha estranho porque é difícil pronunciar. Quando você fala, ninguém entende o nome da rua. Sou do Piauí e lá geralmente as ruas têm nomes de algum professor importante, algo assim, mas aqui é muito grande então é diferente. Não conheço o Boilesen.

Geralda Ferreira, 80 anos, moradora da rua há mais de 40 anos, diz que já ouviu falar sobre o empresário que batiza sua rua.

—Mas esqueci… e sobre mudar de nome, para mim tanto faz.

Mesma opinião de Kátia Hanashito, 33 anos, professora.

— É complicado só porque tenho que soletrar sempre. Mas para mim não faz diferença.

O projeto

O vereador Orlando Silva defende que a nova lei é importante em termos históricos e que um dos objetivos é estimular o debate sobre a memória da capital paulista.

— O Sergio Fleury foi um conhecido torturador do regime militar dos anos 60 e anos 70. É uma agressão à democracia você ter uma pessoa que se vangloriava de torturar gente batizando um espaço público na cidade de São Paulo. Nosso objetivo não é apenas trocar um nome por outro. É estimular uma reflexão na cidade de São Paulo sobre a democracia e direitos humanos.

Para que a rua tenha seu nome alterado, é necessário que um vereador apresente um Projeto de Lei na Câmara Municipal de São Paulo que deve ser votado em plenário. O pedido da mudança de um nome para outro pode ser pedido pelos próprios moradores, por meio de um abaixo assinado, por exemplo, ou pode partir do vereador.

— A modificação da rua se dá com um PL, mas tenho que ouvir a comunidade e fazer a modificação ouvindo as pessoas que moram naquele lugar. Ele podem fazer um abaixo-assinado que não tem que ter um mínimo de assinaturas porque a lei apenas fixa o critério de ter alguma consulta [aos moradores].

De acordo com o vereador, para realizar a alteração do nome de uma rua, o processo deve levar menos de seis meses entre a apresentação do projeto, a discussão com os moradores e a votação em plenário. Apesar de estar animado com a aprovação de seu projeto, Silva declara que tem consciência de que muitos desses nomes de violadores de direitos humanos são desconhecidos dos próprios moradores.

— Na maioria dos casos não sabem. Por isso é uma discussão útil para essas próprias pessoas. Temos que conhecer a memória da cidade. Por que a cidade tem nomes nas ruas? Porque faz parte da memoria da cidade, às vezes do País quando são nomes nacionais.

Fonte: R7, 13/05/2013

(http://www.memoriasreveladas.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1270&sid=5)

Urbano

Setores vêm a ser a exceção; na verdade o grosso da mídia é o verdadeiro entulho, o lixo pútrido.

Mauricio Augusto Martins

“Quer conhecer um JUMENTO?”, é só dar voz ao mesmo, nestes anos de panfletagem da direitona-furiosa via pig, em que se misturam de uma forma que é difícil saber quem é quem neste contexto Criminoso de manipulação da notícia, sabemos desde então qual era o general mais “poderoso” do Sr. Hitler(senhor sim, pois perto do que temos…),era Goebbels que utilizou até das “Profecias de Nostradamus” à favor do III Reich, e Churchill da mesma forma, jogando de aviões a panfletagem para cooptação do POVO, para que “instruíssem” alguns “sabotadores” de seus Países, sem dúvida uma “arma” letal, e de difícil combate a curto prazo, nossa População tem se defendido com louvor ao Golpe, porém se faz necessário o Contra-golpe, seguindo o exemplo da Polícia Federal no Governo LULA, que sem sequer dar um tiro, mandou para a cadeia inúmeros “mecenas” na verdade mercenários da Nação, tendo em vista a fragilidade de obtenção da Verdade pela População ainda não integrada ao Sistema de Nação, portanto facilmente cooptadas pelo Golpe…maumau

Edgar Rocha

Acho que foi o post mais completo sobre um tema que li até agora neste blog. que venham mais! Parabéns ao Viomundo e, claro, ao Osvaldo Bertolino.
Mas, que está ainda mais difícil romper o cerco da ditadura da informação, isto é fato. Na época da ditadura, apesar de toda a precariedade, a crítica parecia fluir muito mais que nos dias de hoje. O engajamento político e a a grande arma dos setores organizados de resistência. Me lembro de reuniões sindicais avisadas de boca-em-boca e com cartazinho feito em papel de pão. E não é que o povo ia! Acho que a esquerda gozava de maior credibilidade, e o sistema tava tão violento que tudo que era novo interessava. Havia apoio de amplos setores da sociedade. Eles conseguiram (seja por sua competência, seja por arrogância da própria esquerda) fragmentar toda a sociedade em interesses cada vez mais compartimentados. Acho que este foi o calcanhar de aquiles dos setores progressistas: confundir diversidade de ideias e preservação dos direitos individuais, com corporativismo e individualismo de pautas exclusivas. Ganha quem pode mais, quem grita mais. Falta coesão e pauta em comum. Só assim a gente sabe quem está do lado de quem.

Fabio Passos

E ainda tem quem acompanhe o PiG. rsrs

A inteligência e o conhecimento estão muito distantes da mídia-lixo-corporativa.

Análise arrasadora.
PiG = ponta de lança dos interesses imperialistas

O PiG é a voz dos entreguistas…

    Chico

    o PIG é porta-voz dos entreguistas; mas O PT é lambe-botas do PIG E das multis. Entrega agora nossas reservas de petróleo p/ Chevron e cia. A justificativa dos petistas cumpanheirada? O petróleo não terá valor monetário daqui a alguns anos rsrs, por isso temos que entregar tudo pras múltis o mais rápido possível e nos contentar com o nosso quinhãozinho, que é, segundo eles, melhor que nada. Essa é a intelligentsia petista. Obrigada Dilma e cumpanheirada!

Bacellar

Ando recebendo (sem pagar ou solicitar) o Estadão gratis em minha casa faz mais ou menos um mes. Serve pra forrar o banheiro dos meus cachorros mas mesmo sem querer acabo lendo todo o dia a manchete principal. Ininterruptamente pelo periodo todas as manchetes principais de primeira pagina foram criticas negativas ao governo federal. Isso não é jornalismo é proselitismo.

Alexandre Tambelli

E parece ser o sonho da mídia ai posta! Levar o povo a desacreditar na Política e acreditar que os políticos não honram o nosso voto, desacreditar na importância de eleições e quem sabe apoiar regimes ditatoriais.

Excelente material histórico!

Mardones

Uau! Sensacional. Parabéns pela reprodução.

Uma lástima que a Dilma e os que ditam as regras no PT tentem esconder que os artigos da Constituição Federal sobre a Comunicação Social não são assuntos urgentes para o avanço da democracia no Brasil.

Sem dúvida, é um dos maiores crimes que PT tem cometido desde 2003 quando chegou em Brasília. E a batalha que nós devemos encampar.

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