Nassif: Lista de Janot significa destruição da política; nunca a fábula do nazismo foi tão elucidativa

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Xadrez da lista de Janot, o senhor do Tempo 2

Luis Nassif, no GGN, em 12/04/2017

Ontem, minimizei aqui no Xadrez as consequências dessa lista de Janot. Não será apenas a tentativa de inviabilizar Lula em 2018. Significa a destruição da política.
Um dia ainda será escrita a maneira como o Brasil se permitiu destruir. Nunca a fábula do nazismo foi tão elucidativa.

Primeiro, levaram os petistas e peemedebistas suspeitos. Como eu não fiz nada – diria Dilma Rousseff – deixei o campo livre para o Ministério Público e a Polícia Federal, para resolver, por mim, os problemas do presidencialismo de coalisão.

Depois passaram a prender petistas a torto e a direito. Como eu não era petista – diria Fernando Henrique Cardoso – ajudei a colocar lenha na fogueira.

Depois, destruíram o setor mais dinâmico da economia. Como não eram grandes anunciantes – diriam os donos de jornais -, coloquei mais combustível na fogueira. E como brotou do pântano a ultradireita mais raivosa, abriguei-a em minhas páginas por uma questão de mercado.

Depois, espalharam o ódio por todos os poros da Nação. Como era ódio a favor – diriam Serra, Aécio, Aloysio – discursei em todos os eventos, eu também babando de ódio.

Agora, chega-se a isto, a lista de Janot, um dos episódios mais trágicos e irresponsáveis da história do país.

Uma corporação tresloucada, sem controles, criminaliza praticamente todos os políticos do país, todos os partidos políticos, inclui cinco ex-presidentes, todas as lideranças civis ao menor indício de uma modalidade de financiamento de campanha que era generalizado.

O mais irresponsável jornalismo da história celebra o incêndio de Roma, estampando na cara o gozo dos completos ignorantes. O pior Supremo Tribunal Federal da história é incapaz de colocar limites a essa aventura.

O problema não é a apuração de ilícitos, mas o jogo politico em torno da operação praticado abertamente pela Lava Jato, PGR e Globo.

Esperam o quê? Que das cinzas do sistema político-partidário brote uma nova política, virtuosa? A queda de Dilma Rousseff transformou o governo em uma praça pública de negociatas, porque derrubou o ponto aglutinador – o Executivo, mesmo que pessimamente conduzido – e entregou o poder a uma quadrilha.

Agora, o fim dos partidos vai acabar com o reinado dos atuais coronéis e colocar o quê em seu lugar? Uma malta de coronéis municipais, mais atrevida ainda, porque livre de qualquer vínculo programático, de qualquer sistema partidário de controle.

E o país será governado pela Rede Globo e por corporações públicas, com a destruição final das políticas sociais, o desmonte da Previdência, a criminalização da política e dos movimentos sociais.

Finalmente, chega-se na era do Grande Irmão. Mas como a política não foi substituída pelos robôs da quarta revolução industrial, pela frente haverá a guerra e o caos.

Sobre o tempo de Janot

Em Harvard, com a retórica estridente de adolescente mudando a voz, o procurador Deltan Dallagnoll lembrou que as instituições são virtuosas, não os homens. Ou, a ocasião faz o ladrão.

Presume-se que o princípio valha para todas as organizações, não apenas para a política. E como o Ministério Público é uma organização, presume-se que as virtudes de seus membros dependem fundamentalmente da forma como as circunstâncias dispõem.

Se nenhuma pessoa está a salvo das tentações proporcionadas pelas ocasiões, há um risco evidente das circunstâncias da Lava Jato permitirem a aplicação da subjetividade, ante-sala dos abusos, ante-sala da corrupção.

Trata-se da maneira como a Procuradoria Geral da República está conduzindo a chamada Lista de Janot.

A lista é uma mera abertura de inquérito, com amplo vazamento para a mídia. Essa abertura de inquérito podia ter sido pedida há muito tempo, e não foi. Ou então, o Procurador Geral Rodrigo Janot poderia ter oferecido diretamente a denúncia, e não o fez.

Com isso, Janot manteve tudo em suspenso e sob seu exclusivo arbítrio. Assim, vai continuar sendo o senhor absoluto do tempo, vazando, vazando, com os inquéritos pairando como uma espada de Dâmocles sobre todo o mundo político.

É inconcebível esse tipo de poder.

Cabe ao STF definir regras claras, apurar os vazamentos dos inquéritos e punir exemplarmente os responsáveis – sem prejuízo das investigações – ainda que seja o próprio Procurador Geral.

Afinal, como lembra Dalagnoll, as pessoas não são virtuosas: virtuosas são as instituições.

 

Xadrez da lista de Janot, o senhor do Tempo

Luis Nassif, no GGN, 12/04/2017

Peça 1 – o vazamento da lista da Janot

A divulgação da lista de inquéritos autorizados pelo Ministro Luiz Fachin não significa que, enfim, a Lava Jato resolveu tratar as investigações com isonomia, que o pau que dá em Chico dá em Francisco.

O Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot continua dono absoluto do calendário. Através do controle do ritmo das investigações, ele decide monocraticamente quem vai e quem não vai ser condenado.

Durante três anos, toda a carga foi em cima do PT e, especialmente, de Lula.

Em três anos de investigações, há cinco ações em andamento contra Lula, uma perseguição impiedosa que culminou com o vazamento, ontem, da suposta delação de Marcelo Odebrecht, sob as barbas do juiz Sérgio Moro e ele alegando a impossibilidade de identificar o vazador. Some-se a informação do procurador Deltan Dallagnol de que o único vazamento efetivo de informações foi para o blogueiro Eduardo Guimarães. O que significa que todas os demais vazamentos ocorreram sob controle estrito da Lava Jato.

Os 83 inquéritos misturam de tudo, de problemas formais de prestação de contas a suspeitas de manipulação de licitações. Independentemente da maior ou menor gravidade das acusações, todos passam à condição de suspeitos e/ou corruptos. Trata-se de uma tática tranquila, que criminaliza as pequenas infrações e dilui as grandes acusações.

Peça 2 – as circunstâncias em jogo

A caçada a Lula tem três pontos frágeis:

1. Até agora, ausência de uma prova palpável sequer contra ele.

2. A perseguição implacável contra Lula.

3. A seletividade das investigações, não investindo contra nenhum aliado do sistema.

Com a divulgação dos inquéritos, há duas intenções óbvias:

1. O sistema (não a Lava Jato) responde à acusação de seletividade, às vésperas do julgamento do alvo preferencial, Lula.

2. Ao mesmo tempo, mantém o governo Michel Temer refém.

A suposição de que a lista irá paralisar o mundo político provavelmente não será confirmada. Nas próximas semanas se verá uma aceleração dos trabalhos legislativos, visando aprovar o maior número de medidas antissociais, para garantir o pescoço.

Peça 3 – as consequências da lista

Com a lista de Janot, tenta-se resgatar a credibilidade perdida do sistema judicial, com a parcialidade e a seletividade gritantes da Lava Jato.
Levaram três anos para iniciar uma investigação contra Aécio, que era mencionado na primeira delação de Alberto Yousseff. Até hoje não iniciaram as investigações contra José Serra, apesar de um relatório sobre Paulo Preto estar na PGR desde março de 2015.

Com o estardalhaço de 83 inquéritos, passado o carnaval inicial, a PGR permanecerá dona do tempo. Acertará contas com Renan Calheiros e Fernando Collor, adiará indefinidamente os inquéritos contra seus aliados e terá às mãos a metralhadora, para apontar contra quem ousar enfrentar seus supremos poderes.

Os objetivos são óbvios:

1. Tentativa de inabilitar de Lula para 2018, agora sob o manto da isenção.

2. Vida tranquila para José Serra e Aécio Neves, que terão morte política natural, desde que deixaram a condição de grandes campeões brancos contra a ameaça Lula.

3. Congresso sob a mira dos inquéritos, deixando de lado qualquer veleidade de coibir abusos do MPF.

 


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Comentários

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Eduardo Salamuni

Quem destruiu a política não foi a lista e sim quem dela faz parte; quem destruiu as corporações e as empresas não foi a Procuradoria e sim seus agentes internos (os “ultra competentes” executivos que não conseguem sobreviver sem estimular a corrupção).
A justiça só rasgou a cortina para nós observarmos melhor o caos.
Este texto do Nassif é bem ao estilo do imperador que matou o mensageiro que lhe entregou uma notícia ruim.
Numa coisa ele tem razão: não há ninguém para substituir as quadrilhas do PT, do PSDB e do PSDB. Azar é o nosso.
Quem manda ser ignorante na hora de votar?
Mas está na hora de crescermos como nação ou vamos continuar eternos adolescentes sebastionistas?

Nelson

Vamos investigar e punir todo aquele que tenha “metido a mão”, não interessando a cor partidária; dentro da lei e conforme a Constituição, sem tendenciosismos e parcialidades.

O que estamos vendo é a tentativa do Sistema – o grande poder – de afastar os inconvenientes “dentro da lei”, poupando aqueles que para ele trabalham. Ao bando de corruptos que votarem a favor do Sistema e contra o povo e o país, será concedida a graça da liberdade.

Esses corruptos viverão o restante de seus dias a gozarem do que amealharam em seus anos de “trabalho dedicado” ao bem público. Os processos contra eles abertos vão mofar nas gavetas dos MPs e tribunais até prescreverem.

Nelson

Quem não gosta de política, acaba sendo governado por aqueles que dela gostam” [Platão]. Platão viveu entre os anos 400 e 300 a. C.. Portanto, este ensinamento é bem velho.

E um dos objetivos principais da campanha sem tréguas que a mídia hegemônica desandou contra os políticos, é afastar ainda mais as pessoas da política. Fazê-las se enojar e, assim, deixar de lado.

É a política, com todas as suas falhas, seus desvios e defeitos, que permite que o povão possa participar da “arena de decisões” [Noam Chomsky]. Como o grande poder quer tomar decisões que afetam a todos entre quatro paredes, é muito bom para ele que as pessoas se afastem, que o povo não tenha influência nessas decisões.

É isto que está em jogo, meu chapa. Quando o povo começa a se interessar pela política, quando começa a influir mais nas decisões, é hora de “virar a mesa”, mudar as regras do jogo, pois a “democracia” esta em perigo, já nos advertiu o mesmo Chomsky. A “malta ignara” tem que ser recolocada em seu devido lugar, de quase que mera espectadora.

Acreditar que um bando de procuradores e juízes vão conduzir a coisa democraticamente, é acreditar nas história da Carochinha.

Com as falhas, desvios e defeitos, ainda assim, a cada quatro anos um vereador, deputado, senador, etc, tem que passar pelo crivo popular; o povo pode, em participando mais ativamente da política, em estando mais atento, ir separando o joio do trigo, depurando os parlamentos e as instâncias de poder.

O povo tem esta mesma chance de depurar os MPs, os tribunais, o Judiciário, que, históricamente, tomam decisões, em sua maioria, a favor dos grandes proprietários, dos donos do capital?

Ailton Ribes

Ah não Nassif aí ta d++ por favor dizer que estão acabando com a política divulgando os nomes é muito querido, na minha opinião estão construindo uma mudança para o país, sou de esquerda e sei de toda a cachorrada envolvida em relação ao MP mas se roubou, se recebeu caixa dois tem de ser punido doa a quem doer. Temos sim de fazer uma grande reforma política nesse país mas não com esses políticos que estão aí hoje ao menos a maioria.

    Nelson

    “na minha opinião estão construindo uma mudança para o país”

    Meu caro Ribes. Eu não teria toda esta certeza. Sugiro que tu dês uma olhada no post do Kiko Nogueira no Diário do Centro do Mundo, http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-ausencia-gritante-do-judiciario-na-lista-de-fachin-por-kiko-nogueira/.

    Atente para declarações de Eliana Calmon, ex-ministra do STJ, que Nogueira reproduz:
    “Delação da Odebrecht sem pegar o Judiciário não é delação”.
    “É impossível levar a sério essa delação caso não mencione um magistrado sequer”.
    “Nessa república louca que é o Brasil, temos aí o Executivo e o Legislativo altamente envolvidos nas questões da Odebrecht, de acordo com as delações no âmbito da Operação Lava Jato. Tem-se aí pelo menos uns 30 anos em que a Odebrecht ganha praticamente todas as ações na Justiça”.

    É um erro crasso crermos que o Judiciário vai resolver as coisas a contento de todo mundo.

Lukas

“…todas as lideranças civis ao menor indício de uma modalidade de financiamento de campanha que era generalizado.”

A imprensa amiga prepara o caminho do acordão, que livrará Lula. Para livrar Lula, vale até salvar o Serra e o Aécio.

” Eu coço suas costas e você coça as minhas.”

    Nelson

    Quem escreve aqui, meu chapa, já não queria reeleger o Lula em 2006. Votou no PT naquele ano, em 2010 e em 2014 para escapar à podridão inigualável da tucanaiada. Portanto, me considero insuspeito para criticar ou elogiar o PT.

    Se tu tiveres alguma prova contra o “Barbudo” – mas tem que ser prova materializada; diz que disse, “convicções”, não valem em um Estado Democrático de Direito – leve-a, correndo, ao teu ídolo lá de Curitiba, o Moro, ou ao “divino” Dall Agnol. Eles já não dormem à noite de tanta preocupação.

    O tempo passa, a eleição de 2018 se aproxima, e eles não conseguem entregar a encomenda (a cabeça do Lula) a eles feita pelo Sistema de Poder que domina os EUA. Eles estão loucos de medo de serem descartados por tal Sistema, de deixarem de ser os queridinhos que, supostamente, vieram salvar o nosso país da corrupção.

Mineiro

Nós merecemos isso que está acontecendo, porque como eu já disse, todo mundo tem culpa nesse golpe por falta de ação, omissão ou conivência. Primeiro aquela desgraça que foi pres. Ruim e pior do que ela só ela mesmo,deixou um Ze ninguém como min. Da justiça durante 6 anos ,queriam o que depois disso. A arrogância e o estrelismo do lulinha paz e amor que estava tão cego que nem percebeu o que estava acontecendo e deixou a sua cria inútil e ainda por cima imbecil governar sozinha. Coisa que muita gente tava alertando, ela enfiando os pés pelas mãos. Mas não o Pt sem vergonha e diretista mas o lulinha paz e amor fingia que não estava vendo e ainda por cima do dando poder ao desgraçado corrupto do pmdb. E agora todo mundo fingindo de coitados e ninguém assume os erros que fez. O maior erro foi aquele poste de pres. Ser pres, e pior ainda dois mandatos. Tava na cara que iria dar nisso ,não tinha outro jeito. Pra mim a maior culpa primeiro ela depois o Pt e o lulinha paz e amor que não decide se é de esquerda ou direita.

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