Minerodutos jogam no mar água que abasteceria milhões

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Em meio à crise hídrica, minerodutos utilizam água dos rios para levar polpa de ferro ao porto

Por Bruno Porto, no Hoje em Dia, via Desenvolvimentistas

A seca prolongada ameaça o abastecimento de água e energia elétrica, mas a crise hídrica passa longe das atividades de mineração em Minas Gerais. Os minerodutos – tubulações que levam o minério de ferro em estado arenoso misturado com água, como se fosse uma polpa – operam a todo vapor, e novos projetos estão em andamento, sinalizando para a continuação do desperdício de um recurso precioso.

Os quatro projetos de mineração do Estado que têm dutos para o transporte do ferro contam com uma outorga de captação de água suficiente para suprir uma cidade de 1,6 milhão de habitantes. O uso de água pelos minerodutos chama a atenção porque muitas vezes não há o reaproveitamento do recurso hídrico, que é descartado no mar.

A Manabi, por exemplo, mineradora em implantação no município mineiro de Morro do Pilar, tem outorga para uso de 2.847 metros cúbicos (m3) de água por hora. Deste volume, um terço, ou 949 m3 por hora serão usados no mineroduto, que irá até Linhares, no Espírito Santo.

A própria empresa informa: “o projeto não prevê reuso da água usada no mineroduto, mas para essa mistura que segue para Linhares, a Manabi projetou um sistema de tratamento e filtragem, garantindo atendimento da qualidade definida pelo Conama, antes do seu descarte no mar”.

Os volumes de água utilizados pelos minerodutos não foram informados, mas, caso as três outras empresas com minerodutos em operação ou em licenciamento ambiental no Estado utilizem a mesma proporção de um terço da outorga para uso no transporte via dutos, seriam 3.711 m3 por hora de água retirada dos mananciais mineiros que teriam como destino o descarte no mar.

Esse volume equivale a 3,711 milhões de litros de água por hora, e é suficiente para abastecer um município com 558 mil habitantes, mais do que a população de 546 mil pessoas de Juiz de Fora, a quarta cidade mais populosa de Minas Gerais.

A conta considera o diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades, que apontou um consumo médio per capita de água, em Minas Gerais, de 159 litros por dia, ou 4.782 litros mensais.

Atualmente, quatro minerodutos estão em operação com captação de água em rios de Minas Gerais (três da Samarco e um da Anglo American) e outros dois (Ferrous e Manabi) estão em fase de licenciamento ambiental junto ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). A permissão para captação de água nos cursos de água é concedida pelo Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam), órgão subordinado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

Lei prevê cobrança pelo uso de recursos hídricos

As quatro mineradoras com atuação em Minas Gerais que utilizam o mineroduto como meio de escoamento da produção foram procuradas pelo Hoje em Dia. Samarco e Ferrous foram as únicas que não informaram as outorgas que possuem, mas os dados foram informados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

A Anglo American, que possui um mineroduto em operação, sustenta que parte da água usada nos dutos de transporte de minério de ferro é reutilizada, mas não informa o volume e não detalha como o reuso se tornou viável.

A Manabi, em resposta aos questionamentos apresentados, ressaltou que nos estudos para verificação da viabilidade de seu projeto de mineração, a avaliação da disponibilidade hídrica foi um dos temas principais, “cercado dos cuidados demandados pela questão, com antecipação das tratativas legais associadas à obtenção da outorga de direito de uso das águas”.

Infraestrutura

A proliferação do uso do mineroduto surgiu como alternativa para o escoamento da produção, devido aos altos custos do transporte rodoviário para volumes elevados de minério de ferro e à saturação da malha ferroviária.

O investimento em novos ramais de ferrovias é considerado muito alto, o que assegura atratividade ao mineroduto. O ganho logístico gerado pelos minerodutos está ainda no fato de operarem 24 horas por dia, todos os dias.

A Política Nacional de Recursos Hídricos e a Política Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais, regulamentada pelo Decreto 44.046, de 13 de junho de 2005, estabeleceu a cobrança pelo uso da água, até então sem nenhum ônus para as empresas.

Samarco e Ferrous não informaram o valor que pagaram pelas captações. A Anglo American informou que, em 2014, o pagamento foi de cerca de R$ 900 mil. A Manabi declarou ter pago R$ 542,3 mil.

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Comentários

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jose fernandes praxedes filho

bom, parece ate historia infantil,mas o que vai acontecer quando os (ovos de ouro) acabar (ou seja a agua)sem agua sem vida,para quem vender produtos industrializados.

o mundo e uma bola , e a vida um circulo é dar para receber ,se só leva todos perdem……

Yacov

A questão da água já está colocada há muito tempo. O próprio EINSTEIN dizia que a 3ª GGM será por causa de água, depois disso o aquecimento global recrudesceu, vieram ECO-92, KYOTO, OSLO, COPENHAGUE e absolutamente nada foi feito para enfrentar a situação, pelo contrário, a comunidade humana continua crescendo e consumindo cada vez mais irresponsavelmente, destruindo nascentes, poluindo as reservas de água e não dando tempo para a natureza se recuperar. Em um ponto não muito distante, toda os reservatórios secarão e toda a água, até então potável do planeta, estará contaminada. E aí será tarde demais para tentar qualquer coisa…

“O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

Eduardo

Está é uma típica reportagem que o Jornal dos mineiros elitizados, Estado de Minas, não fazia! Agora com o PT no governo vai se esbaldar! Parte significativa, se não a maior, da campanha de Aécio foi financiada pelas mineradoras. Como ficará o IGAM do PSDB de Minas Gerais se vier a faltar água em Juiz de Fora? Em Minas Gerais as mineradoras mandam e desmandam mais que os Prefeitos comprometidos e o Governador geralmente financiados.Orgãos ambientais municipais e estaduais cumprem ordens dos comprometidos. Tudo se R$esolve!

    Joao Prado

    Ë isso ai, nem mais ou menos do que disse é assim que funciona não só Minas Gerais mais o Pais todo.

    Vânia

    Eduardo,

    Você disse tudo! É deprimente ver e sentir na pele, já que sou uma das massacradas pela Anglo, como as autoridades se rendem a essas empresas. Os atingidos pelos minerodutos são totalmente desrespeitados.
    Muitos lutam por razões sociais (água, flora, fauna) e as autoridades não nos dão respaldo nunca.

    Indignada com tudo o que sei, vejo e sinto.

AldoLuiz De Paula Fonseca

Para enriquecer a denúncia e o debate sobre este “171” mundial.

https://www.youtube.com/watch?v=yAaYozNkV3A

Sinto muito, me perdoe, vos amo, sou grato.

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