Marin e outros seis cartolas da Fifa são presos na Suíça por receber propina; ex-presidente da CBF também acusado de “conspiração”

Tempo de leitura: 7 min

Marin

Marin, ex-presidente da CBF, é detido na Suíça acusado de corrupção

LEANDRO COLON, na Folha/UOL

ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE
DE SÃO PAULO

27/05/2015  06h42 – Atualizado às 07h57

O ex-presidente da CBF José Maria Marin, 83, e outros seis dirigentes da Fifa foram detidos nesta quarta-feira (27), pela polícia suíça em uma operação surpresa, realizada a pedido das autoridades dos Estados Unidos. Os cartolas são investigados pela justiça americana em um suposto esquema de corrupção.

Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, foram detidos, além de Marin, Jeffrey Webb, Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo e Rafael Esquivel (veja abaixo o perfil dos dirigentes). Eles estão em Zurique para participar do congresso da Fifa e da eleição da entidade, que ocorre nesta sexta (29).

Os alvos da operação são principalmente dirigentes da Concacaf, como Webb, presidente da entidade que engloba os países das Américas do Norte e Central e do Caribe.

Agentes chegaram no início da manhã (horário local) ao luxuoso hotel cinco estrelas Baur au Lac, em Zurique, onde os dirigentes estão reunidos para um congresso anual da entidade máxima do futebol. A entrada do prédio foi bloqueada e dezenas de jornalistas se aglomeravam no local.

O ex-presidente da CBF José Maria Marin, que atualmente é vice-presidente da entidade, foi escoltado por autoridades suíças na saída do hotel. Não há a confirmação para onde os detidos foram encaminhados.

Braço direito de Marin,o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, está hospedado no mesmo hotel em Zurique. Seu nome não aparece entre os acusados. O dirigente participa de uma conferência da Conmebol, nesta quarta, em um hotel de Zurique.

As acusações, segundo a polícia suíça, estão relacionadas a um vasto esquema de corrupção de mais de US$ 100 milhões dentro da Fifa nos últimos 20 anos, envolvendo fraude, extorsão e lavagem de dinheiro em negócios ligados a campeonatos na América Latina e acordos de marketing e transmissão televisiva.

ESQUEMA DE MAIS DE US$ 150 MILHÕES

Em nota, autoridades suíças divulgaram que contas dos acusados foram bloqueadas no país. Elas eram usadas para recebimento de subornos.

Além dos detidos nesta quarta, outros sete dirigentes e empresários foram acusados de corrupção no caso por lavagem de dinheiro, fraude. “Num esquema que atuava há 24 anos para enriquecer dirigentes através da corrupção no futebol internacional”, informa nota da justiça americana.

Segundo autoridades dos Estados Unidos, quatro acusados detidos confessaram culpa no caso nesta quarta.

Além da investigação nos EUA, as autoridades suíças recolheram nesta quarta (27) documentos na sede da Fifa, em Zurique, em uma apuração relacionada à escolha das sedes das Copas de 2018 e 2022.

“A Fifa vai cooperar plenamente com a investigação e apoiar a busca por provas. Como observado pelas autoridades suíças, a coleta de provas está sendo realizada numa base de cooperação. Estamos satisfeitos em ver que a investigação está sendo energicamente perseguida para o bem do futebol e acredito que vai ajudar a reforçar as medidas que a Fifa já toma”, informou a entidade em nota divulgada para a imprensa.

Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, 14 pessoas serão acusadas formalmente por envolvimento no caso. Além dos detidos, estão também os dirigentes Jack Warner e Nicolás Leoz, os executivos de marketing esportivo Alejandro Burzaco, Aaron Davidson, Hugo Jinkis, Mariano Jinkis, além de José Margulies, um suposto intermediário que facilitava pagamentos ilegais.

ELEIÇÃO ESTÁ CONFIRMADA

O diretor de Comunicação da Fifa, Walter de Gregório, disse em entrevista coletiva que a entidade é parte “prejudicada” pelo episódio, e que está colaborando com as autoridades.

Segundo ele, apesar do momento difícil, a operação é uma “coisa boa” para a entidade.

De acordo com o assessor, as autoridades suíças relataram que escolheram esta quarta para as prisões por causa da facilidade em encontrar todos os dirigentes acusados no mesmo lugar. A Fifa confirmou a realização da eleição para a próxima sexta (29).

No cargo desde 1998, Blatter deve ser reeleito com tranquilidade –seu único adversário é o príncipe da Jordânia, Ali bin Al-Hussein. Em comunicado nesta quarta comentando a operação da polícia suíça, Ali disse que “hoje é um dia triste para o futebol”.

O ex-jogador português Luís Figo era candidato até semana passada, quando saiu da disputa disparando contra o comando da entidade. Junto dele também desistiu da candidatura o dirigente holandês Michael van Praag. Ambos apoiam agora o príncipe da Jordânia.

Em um comunicado, Figo criticou a eleição de sexta e classificou de “ditadura” o atual modelo de comando da Fifa.

Ao todo, 209 federações votam no pleito. Até agora, do ponto de vista relevante, o príncipe da Jordânia recebeu apenas o apoio dos cartolas europeus, sobretudo do presidente da Uefa, Michel Platini, mas insuficiente para derrotar Blatter.

DIRIGENTES DETIDOS NA SUÍÇA

José Maria Marin – Ex-presidente da CBF e membro do comitê organizador do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de 2016.

Jeffrey Webb – Vice-presidente da Fifa e membo do comitê executivo, presidente da Concacaf e presidente da Associação de Futebol das Ilhas Cayman.

Eduardo Li – Membro do comitê executivo da Fifa e presidente da Federação de Futebol da Costa Rica.

Julio Rocha – Integrante do comitê de desenvolvimento da Fifa. Presidente da Federação de Futebol da Nicarágua.

Costas Takkas – Assessor da presidência da Concacaf.

Eugenio Figueredo – Vice-presidente da Fifa e membro do comitê executivo da entidade. Ex-presidente da Conmebol e da Federação de Futebol do Uruguai.

Rafael Esquivel – Membro do comitê executivo da Conmebol e presidente da Federação de Futebol da Venezuela.

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Marin e outros seis cartolas são detidos por corrupção em Zurique

JAMILCHADE, em seu blog no Estadão 

27 Maio 2015 | 03:59

ZURIQUE – O ex-presidente da CBF e da organização da Copa do Mundo de 2014, José Maria Marin, está entre os detidos hoje em Zurique e acusados pela Justiça americana de ter recebido propinas milionárias em esquemas de corrupção no futebol. O Estado não o encontrou em seu quarto de hotel em Zurique nesta manhã e, segundo fontes que estiveram no lobby do estabelecimento, dois policiais carregaram malas e uma pasta com o símbolo da CBF. Pálido e visivelmente nervoso, ele foi conduzido a um carro.

No total, sete dirigentes da Fifa foram presos hoje, todos eles latino-americanos e sempre à pedido do FBI. A Justiça americana confirmou a prisão do brasileiro e indicou que parte das propinas se referiam à organização da Copa do Brasil, Taça Libertadores da América e mesmo da Copa América. Além de corrupção, Marin é acusado de “conspiração” e pode ser extraditado aos EUA.

Segundo os americanos, quem também será acusado é J. Hawilla, fundador da Traffic Group.

Os suíços ainda confirmaram que congelaram contas para onde o dinheiro da propina do futebol era enviada, envolvendo Marin e outros seis cartolas. O Departamento da Justiça da Suíça explicou ao Estado que cada um dos sete cartolas foi enviado a uma prisão diferente. “Por questões de segurança, não divulgamos os destinos”, disse uma fonte no Departamento.

Segundo o governo, o processo de extradição pode levar até seis meses se Marin optar por apresentar um recurso.

O Ministério Público da Suíça também realizou uma operação nesta manhã, confiscando na sede da Fifa documentos e computadores sob a suspeita de que cartolas receberam propinas para votar nas sedes das copas de 2018 e de 2022. O MP suíço confirmou que abriu uma investigação penal contra os dirigentes. Nesse caso, dez pessoas estão sendo investigadas.

Por enquanto, a polícia não confirma os nomes dos envolvidos e, questionado pelo Estado, o Departamento de Justiça se recusou a dar até mesmo as nacionalidades dos envolvidos.

Numa operação surpresa, policiais suíços prendem cartolas da Fifa atendendo a um pedido de cooperação judicial dos EUA. O foco é a delegação da América Latina e um total de sete dirigentes da região foram conduzidos à delegacia de Zurique para responder a acusações de corrupção e desvio de verbas em “torneios de futebol da América Latina”. Ele poderão ser extraditados para os EUA.

Às vésperas da eleição que colocaria Joseph Blatter para liderar por mais quatro anos a Fifa, as autoridades desembarcaram na manhã desta quarta-feira no luxuoso hotel Baur au Lac, em Zurique, para proceder com as prisões. Comunicado da polícia não revela por enquanto os nomes dos suspeitos, mas dá informações de que se trata de uma operação focada nos dirigentes da Conmebol e da Concacaf. Segundo o documento, as propinas chegaram a R$ 100 milhões de dólares. Suspeitos de corrupção por décadas em uma série de escândalos, os cartolas são acusados de fraude, lavagem de dinheiro e uma série de crimes financeiros. Os policiais exigiram da recepção do hotel as chaves dos quartos e iniciaram uma série de prisões.

Os nomes dos suspeitos, por enquanto, não foram revelados. Mas as acusações apontam para o recebimento de propinas em troca de apoio para votar por países que sediarão as Copas de 2018 e 2022. A Fifa chegou a realizar sua própria investigação. Mas alegou que não encontrou qualquer sinal de irregularidade. Joseph Blatter concorre para o quinto mandato como presidente da Fifa Acordos comerciais também foram investigados pela Justiça americana, no que resultou também em suspeitas de pagamentos ilegais para dirigentes. Mais de dez cartolas, porém, seriam denunciados, num duro golpe contra Joseph Blatter e seus aliados.

Entre os suspeitos estão Jeff Webb, presidente da Concacaf e representantes das Ilhas Cayman, e Eugenio Figueiredo, até pouco tempo presidente da Conmebol. Durante a Copa do Mundo no Brasil, Figueiredo comentou ao Estado que a polícia “jamais agiria contra a Fifa”. “Isso é um blefe. Não existe nada. Se existisse, eles já estariam aqui”, disse, em relação a uma eventual operação ainda no Copacabana Palace.

Neste caso, as investigações foram lideradas pela procuradora americana Loretta Lynch, que pediu a colaboração das autoridades suíças. A Justiça americana quer que os suspeitos sejam agora extraditados, num processo que pode levar meses. Grande parte do escândalo envolveria cartolas da América Central e América do Norte, uma das bases de Blatter nas eleições. Com reservas de US$ 1,5 bilhão e tendo lucrado mais de US$ 5 bilhões com a Copa do Mundo no Brasil em 2014, a Fifa parecia ser até pouco tempo uma potencia paralela, blindada da Justiça. A operação, liderada por cerca de uma dúzia de policiais, se transforma no maior escândalo já vivido pela entidade mergulhada em crises e casos de corrupção.

Fontes indicaram ao Estado que Blatter não está entre os suspeitos. Mas parceiros seus que por anos o garantiram votos também fizeram parte do grupo de suspeitos. Um dos visados é ainda Jack Warner, que por anos mandou no futebol do Caribe até ser suspenso por desvio de verbas. As eleições estão marcadas para sexta-feira, em Zurique, e Blatter tem insistido que não vê motivos para deixar o cargo. Segundo ele, uma reforma tem sido realizada por anos para garantir a credibilidade da entidade.

Ali bin Al Hussain, único candidato contra Blatter, se limitou a dizer que hoje é “um dia triste ao futebol”. Já a Fifa indicou que aguarda “esclarecimentos” para poder se pronunciar. Enquanto isso, o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, indicou nesta manhã que não estava sabendo das prisões.

Tensão – O clima de tensão entre os cartolas é evidente. O Estado tentou questionar o vice-presidente da Fifa, Issa Hayatou, se ele temia também ser alvo de uma operação e a reação de seus assistentes foi a de empurrar a reportagem acusando-a de ser “mal-educada”. “Isso é pergunta que se faça?”, gritava um dos seus assistentes, enquanto empurrava a reportagem.

Rumores entre as delegações também indicavam que Blatter poderia adiar as eleições, marcadas para esta semana. O suíço cancelou sua agenda para o dia e não compareceu a pelo menos dois eventos que ele pediria votos.

Mas  Fifa confirmou que a eleição será mantida e que as prisões são “boas para a Fifa”. “Obviamente que o momento não é bom. Mas essa era a única forma de limpar”, declarou Walter de Gregório, que insiste que Blatter está “relaxado” e “fora de qualquer acusação”.

Ele também confirmou: a Copa de 2018 e 2022 ocorrem na Rússia e no Catar.

Entre os delegados da entidade, muitos se questionavam quantos presidentes de federações tentariam sair da Suíça antes de uma eventual nova operação da polícia.

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Juca Kfouri: Aécio ama a CBF e todos os que reduziram nosso futebol a pó 


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Comentários

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Adilson

Relembrar é viver: “Aécio Neves é amigo de José Maria Marin e o homenageou, escondido, no Mineirão”. Clique no link a seguir para ver a homenagem: http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2015/05/suica-prende-marin-amigo-de-aecio-e.html
PS: Dizem que o senador tucano vai visitar o amigo no xilindró, escondido é claro.

sergio ribeiro

Desculpe a pergunta, mas porquê a justiça americana está fazendo isso? Foram prejudicados em algum momento por estas fraudes? Pergunto porque a boa justiça sempre se baseia na legalidade de seus atos.
Os dirigentes do futebol sempre deixam um rastro de lama por onde passam, mas os americanos podem simplesmente prendê-los em outro país. Em caso negativo, os corruptos acabam se livrando e fazendo-se de vítimas de injustiças, o que é muito ruim para quem quer ver justiça de verdade funcionando.

    Elias

    Boa, Franco! E haja ratazanas nesse antro.

Museusp Batista

Todos respeitáveis membros do “Bribe Club” terão apenas que responder aquela pergunta feita ao Ricardo Teixeira:

“Did you accept the bribe?”

Com o devido cuidado porque lá não valem as regras especiais do direito do Moro.

Julio Silveira

Para mim vergonhoso não é ver a CBF sendo desnudada, vergonhoso é perceber que essa exposição jamais seria feita no Brasil, com sua justiça feita de pessoas que prezam muito suas ligações e oportunidades.

    Gilson Raslan

    Graças a quem a CBF não foi investgada no Brasil, Júlio Silveira? Se você pensou em Aécio Neves, acertou. Explico: em 2013, a Câmara Federal estava prestes a criar uma CPI para investgar a CBF. Aí surge Aécio Neves para melar a CPI, sob a esfarrada desculpa de que isto poderia atingir a imagem do Brasil, prejudicando a Copa do Mundo que aqui se realizaria em 2014.

    Museusp Batista

    Mas o Julio Silveira não deixa de ter razão. Se o judiciário e demais órgãos afins fizessem as suas obrigações na contrapartida do alto custo que impõe ao Orçamento da União, em vez de estarem sempre interessados em fazer politica partidária que não lhes compete, não haveria necessidade de CPI para lavar essa sujeira que se acumula há décadas nos sombrios corredores das entidades que controlam e corrompem o futebol brasileiro, cuja atuação deletéria foi mas escandalosamente demonstrada no fiasco da selecinha na última Copa. O povo e a organização do evento, tão criticados, deram o SHOW e a CBF da GLOBO fez o GRANDE VEXAME.

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