Gerson Carneiro: Até em rádio FM do interior o ex-presidente Lula é boicotado

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Lula é recepcionado pela população, no Ceará, em outubro de 2016. Crédito: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Gerson Carneiro: O boicote dos meios de comunicação ao ex-presidente Lula.

por Gerson Carneiro, especial para o Viomundo

O contraditório é princípio basilar do Direito brasileiro.

Mas, infelizmente, o mundo real difere do mundo ideal descrito na literatura e no ordenamento jurídico nacionais.

Em relação ao ex-presidente Lula, é flagrante a influência da mídia na distorção da informação no processo de construção do pensamento coletivo brasileiro.

Um caso fútil ocorrido na cidade de Campinas, interior de São Paulo, ilustra bem o que acima denuncio.

Na cidade, há uma emissora de rádio FM chamada “Nova FM”.

De segunda a sexta-feira, das 17h às 19h, vai ao ar o programa chamado Radar.

Ele promove diariamente uma enquete para a qual os ouvintes respondem via WhatsApp.

A enquete dessa segunda-feira,  20 de fevereiro de 2017,  foi a seguinte: Quem você convidaria para jantar no dia do seu aniversário? Por quê?

Na condição de ouvinte, respondi:

— Convidaria o ex-presidente Lula. Simplesmente porque foi, e ainda será, o melhor Presidente que o Brasil teve, e terá.

E segui ouvindo o programa.

Nas primeiras respostas, uma ouvinte disse que gostaria de jantar com o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, por considerá-lo “incrível”.

Diante dessa resposta, resolvi enviar outra:

— Convidaria o ex-presidente Lula, pois o considero incrível e o Barack Obama disse que o Lula é “o Cara”.

O programa tem duas horas de duração.

Durante esse período foram lidas, dentre outras, quatro respostas de ouvintes revelando o desejo de jantar com o Barack Obama.

Em uma delas, a ouvinte disse que acredita que “o Barack Obama tem muito a acrescentar a qualquer cidadão, com muitos valores da vida, como gratidão e respeito”.

Até aí, tudo bem, trata-se de opinião pessoal e eu respeito.

Ok, pensei com meus botões.  Não sei exatamente por que uma brasileira deveria ser grata a Obama, mas, como diz aquele juiz de Curitiba quando não se interessa pelo assunto, “não vem ao caso”.

Radar3 (1)O que vem ao caso é que nenhuma das minhas duas respostas foi lida.

Ao final do programa, o apresentador (“Gil”), que, pelo menos, nas duas ou três semana que acompanho o programa, não tinha se pronunciado diretamente sobre as enquetes, deu sua opinião pessoal.

Empolgado, reiterou que também gostaria de jantar com o Obama “porque seria um jantar muito intelectual e divertido”.

A apresentadora (“Dri”), que o acompanha na condução do programa, completou: “Ele é piadista também”.

Para constar, há dias em outra enquete ao final do programa, pelo whatsApp, eu quis saber a opinião dos apresentadores. Não se manifestaram.

Nesta enquete sobre o jantar, coincidentemente os apresentadores, até onde sei pela primeira vez (reitero, não sou ouvinte de longa data) se manifestaram. No mínimo, para mim, curiosa a novidade.

Conclusão: ouve-se falar sobre o ex-presidente Lula todos os dias, todas as noites, em toda a mídia do País. Não se ouve, porém, a voz dele. O outro lado da história.

Lula aparece na mídia brasileira tão somente quando se trata de denúncias e acusações.

Denúncias e acusações reiteradas que, diga-se de passagem, tem-se revelado até agora inconsistentes, por imaginárias, fantasiosas.

A mais recente, a da revista “Quanto É”, ops “IstoÉ”, é exemplo acabado do jornalixo brasileiro.

Tão logo foi para as bancas, o sujeito da mala de dinheiro foi magistralmente desmascarado.

Até em uma enquete boba, de um programa de rádio local, como a Radar, quando se trata de elogio, Lula é prontamente boicotado.

O que acabo de descrever é um exemplo factual: quatro respostas de ouvintes pró-Obama mais a reiteração do apresentador.

Além do boicote a Lula por parte da emissora, esse episódio revelou também para mim  sabujice de grande parte da população brasileira em relação aos EUA. Em detrimento ao que o Brasil tem de bom.

Não por acaso o blogueiro britânico, Adam Smith, recentemente publicou artigo afirmando que brasileiros exageram na rejeição ao Brasil.

Portanto, o que temos em relação ao pensamento coletivo nacional, é uma opinião publicada, e não opinião pública, sobre o que quer que seja que habite o consciente coletivo nacional.

Em tempo: ao final do programa, via WhatsApp, questionei se na emissora, e no referido programa, era vetado elogiar Lula. Como resposta, obtive:

— Não, infelizmente não deu tempo para ler todas as participações, Gerson. Desculpe.

Não me surpreendeu.

PS 1: Esse texto foi escrito na manhã de terça-feira, 21 de fevereiro de 2017, e enviado por WhatsApp para o programa Radar com a seguinte mensagem:

“Olá, pessoal do programa Radar. Aqui é o ouvinte Gerson Carneiro. Escrevi um texto relacionando a enquete de ontem e um fenômeno que ocorre nos meios de comunicação no Brasil. Vou publicar o texto hoje à noite, no blog VIOMUNDO, do jornalista Luiz Carlos Azenha, porque é lá que publico meus textos, e por óbvio na minha página no facebook. Por uma questão de honestidade intelectual estou submetendo previamente o texto à vossa ciência para oportuniza-los qualquer manifestação que, garanto, será publicada na íntegra juntamente com o texto. Após a publicação, qualquer manifestação será possível apenas na caixa de comentários. Um abraço, e tenham um excelente dia.”

Reiterei a mensagem por WhatsApp às 17h21min, informando que iria inserir os nomes dos apresentadores caso eu os obtivesse.

Não obtive qualquer retorno do programa Radar. Por precaução, vai que eles respondessem, deixei para publicar o texto nesta quarta-feira,22 de fevereiro.

PS 2: “Gil” e “Dri” são a forma como os apresentadores se tratam durante o programa.

PS do Viomundo: Curiosamente, hoje, após o texto ser publicado, a equipe do programa Radar, da rádio Nova FM Campinas, se dignou a responder a Gerson Carneiro. Enviou a seguinte mensagem pelo WhatsApp:

Boa Tarde Gerson, informo que a Nova FM Campinas não é uma rádio partidária. O que aconteceu de fato, foi que tivemos muitas participações no primeiro bloco do programa e acabamos deixando muitas delas para o segundo bloco também, como o período de programa “Radar Interativo” é curto, não tivemos tempo de ler todas as participações que recebemos. Sabemos que você é um ouvinte que participa sempre da nossa programação, e suas respostas muitas vezes já foram pro ar, talvez essa tenha sido a primeira vez que ela não foi ao ar, e coincidiu com o sua resposta tratar de uma figura politica. Continue participando, gostamos muito das suas respostas.

Radar, via WhatSapp às 17h08min de 22.02.2017

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Comentários

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José Fernandes

Papo furado,com certeza essa radio e de algum amigo do golpista ou do PSDB……que pena, pois essa radio era a unica que ouço quando estou em campinas. porque só toca MPB, que, dize tocava, porque mudou a programação agora toca todo tipo de musica,…que perdeu um ouvinte.
A nova Brasil fm de São Paulo continua tocando só MPB.

ari

A imprensa brasileira, com raras exceções, tornou-se uma piada pronta
1) Agora ha pouco, o Jornal da Band, falou dos 24 milhões de desempregados e subempregados. A seguir, sem mais aquela, passa a falar de empreendedorismo, ouvindo inclusive um “especialista” sobre o assunto.
2) José Woitechumas é repercutido por aproximadamente 400 emissoras. O homem é criativo. Em certa ocasião, disse que a vinda de haitianos e senegaleses era para formar um exército de mercenários para o PT. Em outra, pouco antes, do golpe, falava da descoberta de uma conta na Suíça em nome da Dilma. Ouvi-lo é aprender o quanto caiu o jornalismo brasileiro

Luiz Carlos P. Oliveira

Classe média brasileira baba ovo dos americanos. Se o Lula tivesse jogado bombas na Venezuela e em Cuba ele seria herói desses babacas. Já o Obama destruiu a Siria, o Iraque, o Egito, a Libia e tá tudo beeeemmm. Povinho infeliz e sem noção.

marcelo lira

na 89 tbem é assim e mais, outro dia estava por acaso ouvindo a radio durante a transmissão da Voz do Brasil, pois eles não passam essa tortura nesse horario. Eis que o entrevistado ia criticar o Alkmin, ai um dos apresentadores. disse que se ele fosse criticar o governador, que o fizesse fora do estúdio. Desliquei o radio e fui fazer outra coisa.

Nelson

Na verdade, o que o Carneiro relata é algo corriqueiro. Ressalvadas as exceções, a nossa livre imprensa corre por dois caminhos.

No primeiro, o dono do veículo, rádio, jornal, etc, faz a censura ideológica pura e simples e a impõe a seus empregados.

No segundo, o dono se vê obrigado a censurar porque, do contrário, pode perder seus anunciantes e aí…. falir. Então, entre a ética jornalística e a sobrevivência, ele escolhe esta última.

A isto chamam de liberdade de expressão e de liberdade de imprensa no mui democrático sistema capitalista.

Mark Twain

Podemos concluir a partir destes fatos que, segundo o programa “Radar” da “Nova FM”, Obama não é uma pessoa partidária, assim como a rádio.

Uma conclusão mais simples porém, é simplesmente dizer que:
A Nova FM de Campinas é uma rádio incongruente e sabuja.

Muito obrigado ao Gerson pela paciência em documentar e escrever a coisa toda.

lulipe

Com o dinheiro que ele ganhou poderia contratar vários carrinhos de som daqueles que vende cd´s nas ruas de nossas cidades pra divulgar as fanfarronices dele.

    Clarivaldo Freire

    Este é o tipo de comentário deveria ser descartado pelo moderador. Autoritário e sem noção

Jader Oliver

Ouço bastante radios na madrugada, e o boicote e a retaliação beira o absurdo, esses dias na cbn estavam entrevistando por telefone uma pessoa acho que um advogado, ai ele falou: Esse governo que tai é culp… Derrubaram a chamada e a resporter (pseudo) a ligação caiu.
É uma desgraça mesmo.

paulo

É compadre, isso não é de agora não…aqui em ARAÇATUBA quando o Prefeito era do PT até o ano passado era pau todo dia, agora não o Prefeito é do PSDB e as noticias são curiosas…prefeito chega de madrugada no depto de obras, prefeito leva marmita. Dia de domingo parte da manha tem um programa de musicas da saudades e acabava a musica lá vinha critica pro PT ou colocavam ar sujeitos para falar mal, o gentinha de terceira…hoje estão todos calados com a merda que eles colocaram no poder praticamente no Brasil inteiro.

Davi Zocoli

Caro Gerson: Isso que você mostrou e a realidade de quase todas essas rádios. A casa grande estrategicamente e a dona dos meios de comunicação, são as concessões do estado, sempre dominado por eles(para continuar dominando). A campanha não e só dos grandes.
Espero que sirva de lição para que no próximo governo democrático e popular se possa ter coragem para levantar a tampa desse esgoto e fazer uma desinfecção.

Roberto

No ano de 2016, os EUA lançaram um total de 26 MIL BOMBAS em diversos países, matando civis, destruindo hospitais, creches escolas. Isso dá uma média de 3 bombas por hora. Mas isso não tem nada a ver com Obama, não é mesmo?

    Nelson

    E tem ainda as chamadas “kill lists”, Roberto. Toda terça-feira, o Sr Obama, que muitos brasileiros convidariam para jantar na noite de seu aniversário – se reunia com seus agentes secretos. Estes traziam uma lista com os nomes de terroristas, supostos (*), e suspeitos de terrorismo, também supostos (*), e a apresentavam ao presidente dos EUA.

    Obama tinha a tarefa de apontar aquele ou aqueles indivíduos que seriam fulminados por drones teleguiados a partir de Langley, a sede da CIA. Tudo mui democrático, com muito respeito aos direitos humanos e à legislação internacional. Essa “atividade” presidencial nunca foi divulgada, realmente, pela mídia hegemônica.

    Imagine se Hugo Chávez, Mahmoud Ahmadinejad, Kim Jong Un ou outro líder qualquer que ousa não se submeter como um cordeirinho aos ditames dos governos dos EUA, estivessem a perpetrar tais assassinatos. A mídia hegemônica estaria a divulgar e a repetir 100, 200 vezes por dia durante semanas, meses ou mesmo anos, cumprindo à risca o mandamento de Goebbels.

    “Ditador”, “assassino sanguinário”, “novo Hitler”, “carniceiro” seriam alguns dos adjetivos de se utilizaria a grande mídia para se referir a esses presidentes. Ao mesmo tempo, essa mídia estaria a pedir a intervenção da ONU ou mesmo diretamente das forças dos EUA.

    O fato de tanta gente querer jantar com Obama demonstra o sucesso retumbante do gigantesco aparato de propaganda ideológica em conquistar corações e mentes de milhões e milhões para o “american way of life”.

    * Evidenciei a palavra supostos, porque é isso mesmo. Depois de tantas mentiras e armações, quem é que ainda acredita no que dizem os serviços secretos e os governos dos EUA? É de lembrarmos que, aos olhos do governo dos Estados Unidos, Nelson Mandela era um terrorista.

Joao Maria

Enquanto isso…. a obra de Lula da transposição do Rio Sao Francisco, esta na internet. Vale a pena ver a agua chegando ao sertão.

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