Gabriel Nascimento: Ódio de classe, sim, mas também machismo

Tempo de leitura: 4 min

Por trás das vaias, ódio de classe e machismo

A presidenta da República, Dilma Rousseff, e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, decidiram não discursar na abertura da Copa, como se faz nos espaços em que há civilidade num país republicano, mas isso não poupou a presidenta de ofensas das piores possíveis.

Por Gabriel Nascimento*, no Pátria Latina, via e-mail

Da ala mais elitizada do estádio, onde estava a classe média branca, acompanhada da burguesia rentista de sempre, desde Cabral, herdeira não só dos meios sociais de produção, mas do seu atraso, ouviu-se ofensas a uma presidenta republicana.

Que o ódio de classe ali foi retumbante e essencial, chocando inclusive colunistas de portais conservadores de nossa mídia, já sabemos bem.

O ódio de classe à inclusão dos mais de 50 milhões que viviam sem consumir na massa de consumidores ativos, dos 36 milhões que passavam fome, daqueles que precisavam de um teto para morar, daqueles que viviam sem energia elétrica.

Por trás das vaias a Dilma, desde aquele dia da abertura da Copa das Confederações, está o ódio dos que querem os privilégios de antes, com exclusividade, os que agora estão dividindo os aeroportos e o espaço público com esses novos consumidores. E eles querem a volta do encolhimento do espaço público, encenado aqui pelos dois governos neoliberais de FHC.

Entretanto, ao que parece, não é só ódio de classe o que está por trás das vaias e agressões.

Qualquer homem pode ser vaiado e ofendido com um sonoro “vá tomar no c***”, mas não há registro, até onde se saiba, de outras chefes de Estado do mundo que foram agredidas da mesma forma.

As ofensas que a presidenta recebeu também são resultado de uma nação com história mal resolvida, cheia de tentativas de golpe, em que as mulheres representam 8% do congresso nacional, ainda recebem os menores salários comparados aos homens e não gozam da cidadania plena em diversos espaços. Não é só uma questão feminista ou de gênero, é uma questão de respeito e fidelidade aos dados.

Pela primeira vez uma mulher foi eleita Presidenta da República em um governo de centro-esquerda, advinda de uma base de esquerda, que reúne um bloco de um projeto que há dez anos luta pela soberania do povo brasileiro.

Dilma é, sobretudo, a maior liderança feminina do Brasil na contemporaneidade. Vai entrar para a história como a líder mundial que enfrentou o desrespeito dos Estados Unidos em relação à privacidade, como a economista que prefere acelerar a economia sem perder o foco na busca pela queda do desemprego, como a presidenta que deu continuidade ao programa de desenvolvimento macroeconômico, sem perder os investimentos na distribuição de renda e no salário social, do ex-presidente Lula. Mas, sobretudo, Dilma vai entrar para a história como uma mulher. É duro para essa elite vira-lata engolir isso.

Dilma é a presidenta que causou furor nos jornalistas gramatiqueiros da grande imprensa que insistem em chamá-la de presidente. Mesmo sendo “presidenta” um termo dicionarizado desde o século 19, tais jornalistas insistem em chama-la de “presidente”, com o falso morfema neutro de gênero (porque a língua está longe de ser neutra), não por obediência a um padrão gramatical que nem eles mesmos sabem ou seguem, embora se proponham rigorosamente nas asneiras a perder de vista a dizer que seguem, mas por machismo.

A grande imprensa, ao insistir em chama-la de presidente, atende aos aspectos que as políticas culturais machistas sempre fizeram funcionar nas mais diversas alas conservadora da sociedade. O lugar da mulher, nessas alas, ainda se restringe ao lar, às comendas de resolução exclusiva dos problemas familiares e da distancia do espaço público.

Foram as mulheres da classe trabalhadora que iniciaram suas lutas na esfera pública, travando combates para conseguir legitimidade no espaço público, zelando pela luta em prol da cidadania plena, do direito ao voto, da redução da carga horária de trabalho etc.

Se o espaço social, nessa máxima conservadora, é restrito aos homens, caso uma mulher brigue por chegar até lá e consiga, como é o caso de Dilma, o falso morfema neutro está ali para provar que a língua é o espaço mais intenso da luta de classes, entraves de gênero e políticas culturais, como diria o linguista e historiador russo Mikhail Bakhtin, e que a mulher pode até ocupar aquele espaço, mas que, ao fim e ao cabo, ali é um espaço de homens. Não vamos ser ingênuos, senhoras e senhores.

O furor das vaias e o do suposto morfema neutro de “presidente” utilizado para Dilma, mostram tanto o desconhecimento linguístico desses jornalistas e pseudo manifestantes mal educados dessa classe média branca, quanto a raiva de ter que assistir uma mulher figurar como a maior liderança política do Brasil na atualidade.

Em tempo de vaias, é bom sempre lembrar que se trata de uma elite perdedora e, nesse caso, vaias e ofensas de elite atrasada chegam a ser um elogio.

*Gabriel Nascimento é da União da Juventude Socialista (UJS) e mestrando em Linguística Aplicada (UnB)

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Comentários

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Fabio Passos

Parabéns Presidenta Dilma!
A Copa é um enorme sucesso.
Prova da competência e capacidade do povo brasileiro.

O preconceito de classe e o machismo da “elite” branca e rica é a única coisa que envergonha o Brasil diante do mundo.
A baixaria destes miseráveis ético-intelectuais é função dos acertos e virtudes de seu governo.

Messias Franca de Macedo

… Hoje, aqui em Feira de Santana, um *programa de rádio reproduziu uma charge medonha que potencializa ainda mais a natureza pornográfica e promíscua relativa aos xingamentos insanos perpetrados contra o ser humano – e presidente da República – Dilma Vana Rousseff!
Indignado, fui à emissora de rádio, e protestei junto ao diretor de jornalismo da rádio católica [católica!]! Ouvi a seguinte ponderação: “o radialista comprou o horário! Ele não é funcionário da empresa!”
*veiculado todos as tardes (das 15h00 às 16h00), sendo que o âncora utiliza, sistematicamente, o microfone para achincalhar/desancar sordidamente o [eterno] presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff e todos aqueles simpatizantes do PT! Rádio Sociedade de Feira de Santana – emissora dos Frades Capuchinhos!

EM TEMPO: a regulamentação da mídia já passou da hora! O que não quer dizer, óbvio, censura, e sim o respeito à ética e à decência!

Messias Franca de Macedo
Feira de Santana, Bahia
República de ‘Nois’ Bananas

Francisco

O bom é que a gente ficou sabendo quantos votos tem a direita…

anac

O oio enviesado não consegue suscitar no seus apoiadores qualquer resquício de capacidade argumentativa, se limitando os coxinhas a no máximo responder com um “muito inteligente, muito bom, arrasou”. De pobreza impar. Não conseguem porque tentam justificar os injustificável.

Os coxinhas apoiadores do vai tomar no …. continuam insistindo em medir os outros por si. Ninguém tem culpa de na casa do senhor rodrigo e demais comentaristas ser comum o xingamento com palavrões de baixo calão entre familiares.

Se tomar no …. for vaia, devendo ser tomado o xingamento como natural, como afirma o oio enviesado, vaiemos, sempre, com os mesmos palavrões que fizeram com Dilma, o oio enviesado e seus apoiadores, cada vez que entrar aqui.

Até colunistas do PiG reprovaram o ato vergonho alertando que a direita deu um tiro no pé.

Mesmo joaquim, ídolo do coxinha oio enviesado e demais pelas baixarias NO stf, identificou como baixaria e um horror.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/para-barbosa-xingamentos-a-dilma-foram-baixaria-e-um-horror/

Temos direito pelos menos de exigir que não tragam em público os maus hábitos de suas casas.

    Rodrigo Leme

    Lindão, onde eu falei que o VTNC era bonito? Eu inclusive falei que era um xingamento baixo, mais de uma vez. Só não entrei na onde de transformar isso no que não é, para atender a sua sanha panfletária e a de outros.

    Não sei da capacidade argumentaria de quem concorda comigo, sei que sua capacidade de leitura é baixa. Só se compara a sua capacidade de escrever 3 palavras sem fulanizar o que está falando.

Mardones

A vergonha é para quem xingou a presidenta. É o resultado da falta de votos e da maior inclusão no mercado de consumo.

Edna Lula

O deputado Jean Wyllys saiu em defesa da presidenta Dilma. Ele sabe o que diz.

FrancoAtirador

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REINALDÉTE ROSNA PARA JORNALISTA DA ESPN.

SÓ FALTOU UIVAR ‘VTNC!’ (http://imgur.com/jYwITuJ)

“Só foi dizer que o Reinaldo Azevedo é semeador do ódio que ele já fez dois posts me odiando e convocou sua trupe para me xingar nas redes.”

Jornalista José Trajano, sobre pregação odiosa de Reinaldo Azevedo, na Veja

“Eu fechei minha conta do Facebook para não perder amizades,
assustado que estava com o pensamento protofascista
de seguidores de Reinaldo Azevedo, Olavo de Carvalho,
Augusto Nunes e outros semelhantes”,
comentou o jornalista da ESPN

15/06/2014 12:59, última modificação 15/06/2014 14:13

Jornalista criticou os xingamentos à presidenta Dilma Rousseff (PT)
na abertura da Copa e ‘deu nome aos bois’;
Jean Wyllys (PSoL) também se manifestou duramente sobre as ofensas

São Paulo – Neste sábado à noite (14), o Twitter do jornalista da ESPN Brasil, José Trajano, contava:

“Só foi dizer que o Reinaldo Azevedo é semeador do ódio que ele já fez dois posts me odiando e convocou sua trupe para me xingar nas redes.”

As reações classificadas por Trajano se iniciaram a partir da edição do programa Linha de Passe, da ESPN Brasil, exibido na noite da última quinta-feira (12), quando o jornalista criticou duramente os xingamentos dirigidos por uma parcela elitizada do público presente na Arena Corinthians, em Itaquera, à presidenta Dilma Rousseff (PT), na abertura da Copa do Mundo de futebol.

Desde então, o debate ganhou forma e conteúdo que se referem diretamente a grupos que atuam tanto na mídia tradicional quanto aos que espalham comentários de ódio nas redes sociais.

Também foi no Linha de Passe, na sexta-feira (13), dia seguinte à abertura do torneio, que Trajano voltou a tocar no assunto das vaias à presidenta e explicou os motivos de ter fechado a conta que tinha na rede social Facebook.

E deu nome aos “bois”.

“Eu fechei minha conta do Facebook para não perder amizades, assustado que estava com o pensamento protofascista de seguidores de Reinaldo Azevedo, Olavo de Carvalho, Augusto Nunes e outros semelhantes”, comentou o jornalista.

Sobre Reinaldo Azevedo – colunista do site de Veja, do jornal Folha de São Paulo e apresentador da rádio Jovem Pan – Trajano classificou como “gente que só semeia o ódio, a inveja”, ao falar da repercussão da análise sobre o tratamento dado a presidenta pela “plateia vip” no estádio.

Em uma avaliação da política editorial adotada pela Veja, José Trajano foi contundente a respeito do rebaixamento do debate político praticado na publicação.

“As páginas da Veja estão recheadas de insultos voltados a petistas ou esquerdistas: canalha, ignorante, cretino, idiota, apedeuta, safado, cafajeste…
E, na falta de mais termos agressivos, inventam-se neologismos, como petralha, para atacar quem está no polo ideológico oposto”,
argumentou, além de questionar “o padrão Veja de discussão política”,
o que, na opinião dele, “tomou conta de parte da sociedade brasileira.”

Não está sozinho

Entre as muitas pessoas que se manifestaram contra os xingamentos a Dilma Rousseff,
várias são personalidades publicas, inclusive algumas que se colocam
como adversárias do PT no plano político-partidário.

O deputado federal Jean Wyllys (PSoL-RJ), no seu perfil no Facebook,
publicou texto em que repudia o episódio.

“Senti vergonha por conta da vaia e do insulto à presidenta Dilma no jogo de abertura da Copa do Mundo.
Sim, a vergonha foi maior porque a gente que puxou a vaia se considera “fina, culta e educada”
e vive chamando de “mal-educados, grosseiros e sem-modos” aqueles que não têm a sua cor, a sua renda nem seus privilégios
(inclusive o de poder de adquirir o caríssimo ingresso para estar naquela arquibancada)”,
ressaltou.

Wyllys fez questão de destacar que não concorda com os gastos realizados na Copa, mas criticou a oposição política que parte para “a baixaria”.

“Mal-educada, grosseira e sem-modo é mesmo aquela gente que,
pouco acostumada com a civilidade, não tem senso de oportunidade
nem sabe fazer oposição política sem resvalar para a baixaria”, pontuou.

“Sim, presidenta Dilma, você tem a minha solidariedade.
Sim, coragem grande é poder dizer sim”,
finalizou o deputado.

(http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2014/06/ja-fez-dois-posts-me-odiando-e-convocou-sua-trupe-para-me-xingar-diz-trajano-7594.html)
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