Adriano Benayon: Lei de Responsabilidade Fiscal serviu para garantir pagamentos de juros

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Cair na real – LRF e juros

Adriano Benayon * – 03.10.2015

O  senador Cristovam Buarque divulgou mensagem em que manifesta preocupação com o risco de os gestores públicos, diante da crise e da queda da arrecadação, descumprirem a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

2. Referiu-se aos projetos de lei aprovados na Câmara e no Senado que acrescentavam despesas ao Orçamento da União. A presidente Dilma buscou impedir sua passagem, com 32 vetos, dos quais 26 foram mantidos pelo Congresso, mas seis foram rejeitados, o que elevará gastos.

3. Os que se preocupam com os déficits públicos alarmam-se com a situação, porquanto os déficits já vinham crescendo e, desse modo, tendem a aumentar ainda mais, também porque as receitas estão em baixa significativa.

4. Há que colocar os pingos nos is. A LRF não passa de instrumento  destinado a acelerar o empobrecimento do Brasil, assegurando a perpetuação de sua condição de economia primarizada e de zona de extração de recursos naturais, para entregá-los a preço vil aos carteis transnacionais.

5. Trata-se de lei complementar, de maior hierarquia que as leis ordinárias, ditada pelo império angloamericano, via FMI. Data de 2000, quando FHC reinava na satrápia chamada Brasil.

6. Essa lei dá total prioridade ao pagamento dos juros da dívida pública, tanto no âmbito federal, como no dos Estados e municípios, os quais, com a federalização da dívida (lei 9.496/1997), se tornaram vassalos  de absurdas taxas de juros e índices de correção monetária, que devem pagar à União. Esta ficou responsável pelo total das dívidas públicas.

7.  As taxas de  juros e os índices de correção monetária devidos pelos governos locais são semelhantes àqueles com os quais o governo federal provê estupenda acumulação de dinheiro  em favor dos concentradores financeiros (banqueiros estrangeiros e locais, e demais rentistas,  como as empresas transnacionais).

8. Desse modo, o Brasil tem perdido recursos que possibilitariam alçar sua taxa de investimentos produtivos (contando os do setor privado), a taxas de 35% do PIB, mesmo com proporcional crescimento do consumo.

9. Ora,  se se endireitassem também as estruturas e infraestruturas, notadamente corrigindo a patológica desnacionalização da economia, não seria difícil progredir no ritmo observado na China dos últimos 30 anos.

10. Demonstremos, com base nas estatísticas do Tesouro Nacional, a quanto têm montado os recursos saqueados do Brasil,  a título do “serviço da dívida pública”.

11. Somente de janeiro de 1995  — 1º ano após o plano Real, que proclamou a mentirosa estabilização monetária – até agosto de 2015,  a dívida pública interna multiplicou-se 24 vezes, de  R$ 135,9 bilhões (contando então as dívidas de estados e municípios) para R$ 3,83 trilhões. Isso significa que a dívida interna foi multiplicada por 28, no período.

12. Isso significa crescimento médio anual de 18,65% aa., decorrente da capitalização dos juros e da inflada correção monetária, ambos decretados pelo BACEN, para gáudio dos sistemas financeiros privados, mundial e local.

13. Desde a Constituição de 1988, os gastos com a dívida pública, atualizados monetariamente, superam em muito R$ 20 trilhões.

14.  Se os gastos com a dívida interna, cujo montante passa de R$ 3,8 trilhões, continuarem crescendo com a taxa efetiva anual presente —  aí nos  18% aa. – essa dívida subirá, em 30 anos, para 1/2 quatrilhão de reais. Um quatrilhão são mil trilhões: 1.000.000.000.000 x 1.000.

15. Na finança mundial, os derivativos voltaram a superar US$ 600 trilhões, como nas proximidades do colapso financeiro de 2007/2008.  Agora já passam de US$ 1 quatrilhão.

16. Iludem-se grandemente os que acreditam nos bancos e em economistas das universidades famosas e das que as copiam, quando caem na conversa de  que os juros são  elevados para conter a inflação!

17. Ao contrário, o crescimento exponencial das dívidas, expressas em títulos,  significa inflação  ainda maior do que causaria a emissão de moeda, tão anatematizada pelos economistas “ortodoxos” (e pela opinião geral, por eles influenciada). Os títulos financeiros são dinheiro, como a moeda, e ainda turbinado pelos juros.

18. Um dia, a explosão da massa de títulos insuscetíveis de serem liquidados, leva a reformas monetárias. Então se consolida o poder absoluto dos concentradores, mesmo em relação aos cidadãos aparentemente abastados.

19. Imaginemos, num caso limite, que o patrimônio financeiro dos grandes concentradores atinja vários quatrilhões de dólares e que individualmente tenham, em média, ativos de 100 trilhões de dólares.

20. Ao acontecer o “saneamento”, a reforma monetária faz que um novo dólar valha um milhão dos antigos. Então, um oligarca que acumulou US$ 100 trilhões, ficará com 100.000.000 (cem milhões) de dólares novos. Já um empresário, dono de patrimônio de  US$ 100 milhões, ficará reduzido a 100 dólares novos. Que chance tem alguém com 100 unidades de moeda, diante de quem tem 100 milhões delas?

21. A reforma mostrará como o empresário empobrece, enquanto a composição dos juros e as demais jogadas do mercado financeiro fazem expandir os ativos dos banqueiros e demais concentradores.

22. Torna-se, assim,  abissal a diferença de poder econômico entre estes e os demais mortais,  mesmo os  ricos, cuja maioria, como também a classe média, é convertida às ideologias de interesse dos concentradores e, assim,  julga normais as manipulações de juros, câmbio e outras, praticadas pelo sistema financeiro.

23. No Brasil, esse sistema é criminosamente privilegiado pela fraude no artigo 166, § 3º, II, b), e pela sacralização suicida dos gastos com juros injustificados, assegurada pelo art. 164. Esse confere exclusividade ao Banco Central (BACEN), para emitir moeda – somente  para servir os bancos – colocando o Tesouro Nacional à mercê destes.

24. Por lei, o BACEN está subordinado ao governo federal. Portanto, os governantes que se têm sucedido, deveriam explicar por que o BACEN age em favor da finança dos concentradores privados estrangeiros e locais e, em detrimento da economia e da sociedade.

25. Criaram um círculo vicioso: a dívida pública cresce devido a despesas financeiras, priorizadas pela LRF. A perspectiva de déficits orçamentários serve de desculpa para elevarem mais os juros. Daí minguam os investimentos produtivos e sociais da  União e dos entes federativos.

26. É, pois,  incrível que a LRF seja defendida como sagrada por tanta gente, até com o primarismo flagrante na mensagem de Cristovam:  “a revogação da Lei de Responsabilidade Fiscal é o mesmo que revogar as quatro operações aritméticas, é dizer que dois mais dois é igual a cinco.”

27. Para o senador, o brasileiro está acostumado a querer receber aposentadoria jovem, e a crise estrutural exige reforma da Previdência. Traduzindo o jargão da “esquerda” reacionária: ”que assalariados e aposentados paguem a conta; não se toque nos trilhões de reais  de juros para os bancos!” É de estarrecer.

28.  Conquanto as despesas financeiras não sejam a causa única do subdesenvolvimento acelerado, o vulto delas comprova, de sobra, seu  peso na ruína financeira do País. Acarretam também a miséria da estrutura produtiva e social, além de reforçarem a tirania dos oligarcas concentradores sobre o sistema político.

29.  Há mais causas da degringolada. A principal delas, inclusive por ser a fonte da dívida,  é a desnacionalização da economia, com os carteis transnacionais subsidiados pela política econômica, aplicando preços absurdos aos consumidores, privando o País de tecnologias próprias, e transferindo quantias estratosféricas ao exterior.

30.  Os déficits nas transações correntes com o exterior —  mesmo com o País a exportar quantidades brutais e crescentes,  via agronegócio e mineração —  cresceram para valor próximo a US$ 100 bilhões anuais, e não mostram sinais de cair muito, nem com a depressão e com o dólar a 4 reais.

* Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.

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Comentários

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Lukas

13 anos de PT e a LRF continua aí.

Nelson

A LRF veio no embalo do Plano Real, o pior plano econômico impingido ao povo brasileiro desde o fim da ditadura civil-militar.

Aos que duvidam, uma pergunta simples. FHC seria tão elogiado e apoiado pelo duo FMI/Banco Mundial se tivesse implantado um plano que realmente viria em benefício do povo brasileiro e do nosso país, em detrimento dos interesses dos países ricos e do grande capital internacional?

Nelson

Conforme a Wikipedia, “Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque é um engenheiro mecânico, economista, educador, professor universitário”.

Com toda essa titulação e o homem ainda vem dizer uma besteira deste tamanho.

O que será de nós, se os educados e que, além disso, se dizem de esquerda e defensores dos interesses nacionais, se entregam dessa forma ao que deseja o sistema capitalista internacional?

O que será de nós, se um partido que tem origens nitidamente nacionalistas – afinal, foi fundado por Leonel Brizola – já não a mínima para a soberania do nosso país?

FH

Mto bons os pontos levantados pelo texto (apesar do formato), fui atras para saber quem é Adriano Benayon e fiquei impressionado com o carater e sinceridade, para alem do conhecimento pratico e profissional dele, deste senhor. Vou comprar esse livro dele.

Alexandre ml

É a velha conta marcada na caderneta da única mercearia existente na fazenda, ambas do mesmo proprietário : a conta sempre aumenta por conta da sua necessida diária de alimentos, dos juros que sempre aumentam e das anotações extras que sempre aparecem, mas como operário, nunca há competência para questionar o valores cada vez mais altos.
E por mais que se trabalhe, nunca se consegue pagar a conta, mesmo colocando os filhos para trabalhar. E para uma maior injustiça, o operário é impedido de plantar os alimentos de subsistência, os mesmos vendidos na única mercearia da fazenda….

FrancoAtirador

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XÔ, NORONHA!
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MINISTRA MARIA THEREZA É ELEITA CORREGEDORA-GERAL DA JUSTIÇA ELEITORAL
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A Ministra Maria Thereza de Assis Moura, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
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foi Eleita Corregedora-Geral da Justiça Eleitoral na Sessão Plenária desta terça-feira (6).
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Maria Thereza é Ministra Efetiva da Corte
e assume a Direção da Corregedoria-Geral
na Vaga Aberta pelo Ministro João Otávio de Noronha,
que encerrou seu Biênio como Ministro Titular do Tribunal
no Dia 1º de Outubro deste Ano.
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Ocupante na Corte Eleitoral de Uma das Duas Vagas Destinadas ao Superior Tribunal de Justiça (STJ),
Maria Thereza tomou Posse como Ministra Efetiva do TSE em 2 de Setembro de 2014.
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Antes, foi Ministra Substituta no Tribunal de 29 de outubro de 2013 a 1º de setembro do ano passado.
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O Presidente do TSE, Ministro Dias Toffoli, saudou a Eleição da Ministra Maria Thereza
como Corregedora-Geral da Justiça Eleitoral.
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“Conheço Vossa Excelência da vida profissional que teve em São Paulo.
E, como eu, teve uma Passagem também por Assessoria Jurídica
a Movimentos Sociais de Baixa Renda, aos Desprovidos
daquela Grande Metrópole de São Paulo”, disse Toffoli.
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“Tenho certeza que, com toda a competência de Vossa Excelência,
continuará na Corregedoria brilhando e conduzindo
de maneira Bastante Eficiente o Gabinete daquele Órgão”,
acrescentou o ministro.
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A Ministra Maria Thereza agradeceu ao Plenário da Corte e as Palavras do Presidente do TSE.
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A Ministra disse que espera “poder desenvolver e dar continuidade ao trabalho
que já vinha sendo dado pelo ministro João Otávio de Noronha e poder transformar
a Corregedoria num órgão que possa desenvolver os seus papéis aqui postos pelo Tribunal”.
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“Agradeço a confiança depositada e espero corresponder a aquilo que se aguarda de um corregedor”, afirmou.
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Em nome da advocacia, o advogado Marcelo Ribeiro desejou à ministra Maria Thereza
uma “bela gestão” à frente da Corregedoria-Geral da Justiça Eleitoral,
“que tem toda essa parte administrativa, além da jurisdicional”.
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“Vossa Excelência tem se mostrado uma ministra competente,
oriunda da classe dos advogados, o que nos honra,
e desejo então toda a felicidade”, finalizou Marcelo Ribeiro.
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Currículo
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Natural de São Paulo (SP), a ministra Maria Thereza é mestre e doutora em Direito Processual.
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Possui especialização em Direito Processual Penal pela Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Direito Penal Econômico Europeu pela Faculdade de Coimbra.
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TSE
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A Constituição Federal estabelece que o TSE é composto, no mínimo, por sete ministros.
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São três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), dois do STJ e mais dois escolhidos
e nomeados pelo presidente da República entre seis advogados indicados pelo Supremo.
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O TSE elege seu presidente e vice entre os ministros do STF
e o corregedor-geral da Justiça Eleitoral entre os ministros do STJ.
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(http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2015/Outubro/ministra-maria-thereza-e-eleita-corregedora-geral-da-justica-eleitoral)
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edson tadeu

OLHA EU DISCORDO DO PONTO DE VISTA DO SENADOR, porque a lei de responsabilidade fiscal obriga os gestores a nao gastar mais do que podem.
Sou contra a lei de responsabilidade fiscal que o FHC tanto de vangloria, Explico: Todos os prefeitos depois dessa lei deixam as prefeituras a mingua, se acabou o dinheiro para comprar medicamentos e materiais cirurgicos ou de primeiros socorros eles nao compram e com isso quem sobra é a populaçao. A lei de responsabilidade fiscal para ser justa e humana , deveria prever um suplemento para postos de saúde e hospitais desde que sejam devidamente comprovado o emprego da verba.

    Nelson

    “a lei de responsabilidade fiscal obriga os gestores a nao gastar mais do que podem”

    Não é isso, meu caro Tadeu. Em verdade, a LRF obriga os gestores a gastarem mais do que deveriam… em pagamento de juros da dívida. Este é o objetivo dessa lei.

    Por isso mesmo, “se acabou o dinheiro para comprar medicamentos e materiais cirurgicos ou de primeiros socorros” e para a saúde pública de um modo geral e os prefeitos acabam por deixar “as prefeituras a mingua”.

    A LRF foi idealizada para garantir os ganhos dos rentistas, em detrimento das necessidades da população. Por isso, portanto, não pode, nunca poderá, ser “justa e humana”.

    Nelson

    “[A LRF] deveria prever um suplemento para postos de saúde e hospitais”

    Meu caro, Edson Tadeu. A LRF foi também idealizada para gerar um “suplemento” aos lucros do grande capital. Explico.

    Ao obrigar os gestores públicos a despenderem enormes parcelas dos orçamentos no pagamento dos juros da dívida pública, a LRF gera uma imensa desfasagem no atendimento das necessidades da população por parte do ente público. Necessidades estas que deveriam ser supridas por este ente.

    Sem recursos para atender as demandas do povo, o gestor se verá obrigado a lançar mão de … privatizações. E as privatizações poderão vir de duas formas, ambas beneficiando muito mais o grande capital privado: alienação de ativos pertencentes ao povo ou entrega de um serviço, que deveria ser gratuito por conta dos impostos pagos pela população. Ambas as formas de privatização tornar-se-ão novas fontes de lucros fartos para os já absurdamente endinheirados.

FrancoAtirador

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A População BraSileira continua pagando o Preço
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por não haverem, até hoje, Revertido no Congresso
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a Legislação Entreguista do Governo FHC (PSDB).
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O Brasil é um País tão Rico, que se dá ao Luxo
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de Drenar Metade do Orçamento da União
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para o Mercado Financeiro Transnacional.
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Sem falar de Remessa de Lucros ao Exterior
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e de Evasão Crônica de Tributos, via OffShore.
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