Thea Tavares: Como foi a live de artistas para ajudar famílias de catadores em Curitiba

Tempo de leitura: 6 min

Por um novo amanhecer

Mutirão e live artística do coletivo União Solidária visam a construção de barracões de reciclagem para melhorar as condições de trabalho e as oportunidades de renda de 40 famílias de catadores em Curitiba. “Como o Brasil está em crise, o trabalho garante o básico pra comer. É a renda pra gente sobreviver”, conta Juliana da Silva Santos, da direção da Associação de Catadores Novo Amanhecer.

Por Thea Tavares*, especial para o Viomundo

O piso da casa, sobre uma estrutura de madeira, começa um pouco acima do chão.

Foi feito assim para tentar barrar os transtornos com o acúmulo da água que volta do solo aterrado ou quando alaga a região.

Para ir até lá, é preciso descer uma escadaria em curva, construída com pneus e areia, misturada à argila do solo, andar mais alguns passos em chão batido e ter acesso ao terreno.

A distância e dificuldades para se chegar no endereço são as mesmas vencidas ao sair, com a diferença que, na subida, quase sempre se leva nas costas um sacolão carregado de materiais recicláveis para separação e beneficiamento na Associação de Catadores Novo Amanhecer, situada a aproximadamente cinco quilômetros dali.

Em contraste com essa realidade adversa, o visitante encontra dentro da casa da ocupação urbana um sorriso de acolhida no rosto do casal jovem, Paulo Guilherme e Gisiane Trindade, pais de três crianças: a Maria Luiza, o Miguel e a Maria Eduarda.

O brilho de ânimo que eles emanam ao contar sua história retrata bem o sentido do verbo “esperançar”, descrito pelo educador Paulo Freire e que movimenta nossa gente trabalhadora dia a dia na defesa dos seus direitos, na organização popular e na conquista de uma vida digna para todos.

Guilherme e Gisiane contam que já viveram situações mais extremas e que as oportunidades foram resgatadas a partir da aquisição de um “carrinho”, com o qual fazem a coleta de materiais recicláveis pelas ruas, junto às casas e empresas situadas nos bairros da região Sul de Curitiba.

“Vendendo um material ou outro, quase todo dia a gente vê um troco. Sempre tem pro pão, pra uma mistura”, conta Gisiane. “Quando a gente trabalhava em outros lugares era só pra pagar umas continhas e não dava para mais nada”.

“O trabalho de catador garante o básico pra comer. É a renda pra gente sobreviver”, diz  Juliana da Silva Santos, da direção da Associação de Catadores Novo Amanhecer, presidida por Antônio Jesus. Fotos: Ednubia Ghisi/MST-PR

MUTIRÃO DE SOLIDARIEDADE

Assim como Guilherme e Gisiane, 40 famílias da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Novo Amanhecer depositam seu ânimo para gerar renda e vida digna neste trabalho essencial à cidade, que consiste em coletar, separar e processar resíduos sólidos para uma destinação sustentável, social e ambientalmente responsável.

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), as famílias catadoras de materiais recicláveis respondem por quase 90% da reciclagem do lixo no Brasil.

A atividade, que deveria ser mais valorizada, reconhecida e apoiada pela sociedade, é exercida com sobrepeso de obstáculos, pois as famílias da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) enfrentam inúmeras dificuldades para garantir esse sustento.

O que conseguiram vencer e superar em 15 anos de ocupação da área em que funciona a Novo Amanhecer foi por força da organização popular.

Só que diante da falta de um local com cobertura adequada à armazenagem e à execução do serviço em si, elas trabalham “no tempo”, como costumam se referir à atividade a céu aberto, sujeitas a problemas de saúde pela exposição ao sol e à chuva.

São prejudicadas também pela perda de qualidade do material processado, que traz como consequência a diminuição no preço de venda dele para as indústrias de reciclagem.

Por isso, as instituições que integram o coletivo União Solidária – composto por sindicatos, organizações populares, igrejas e movimentos sociais – estão promovendo um mutirão com voluntários da comunidade e de fora, que se uniram para construir três galpões de reciclagem (cobertos) na Associação Novo Amanhecer.

Paralelamente, estão promovendo uma campanha de arrecadação para angariar recursos que possibilitarão a compra de materiais de construção.

Toras de eucalipto (madeira para reflorestamento) doadas por famílias sem-terra do Assentamento Contestado, na Lapa (PR). Elas estão presentes na construção dos galpões, que já começou. Fotos: Ednubia Ghisi/MST-PR e Lucas Souza

A Associação estima em R$ 40 mil o custo total da obra.

Já disponibilizou cerca de R$ 12 mil para o início dos trabalhos. Recebeu também toras de eucalipto de madeira de reflorestamento, doadas por famílias sem-terra do Assentamento Contestado, no município da Lapa.

Por meio de campanha de doações, a Associação pretende arrecadar os R$ 28 mil que faltam.

A solidariedade não para por aí.

Toda a mão de obra envolvida no mutirão de construção dos galpões é voluntária.

Ela agrega o reforço da experiência técnica de camponeses mestres de obra do acampamento de reforma agrária Maila Sabrina, em Ortigueira, na região central do Paraná.

E os voluntários que participam dos diversos coletivos populares e militam nas organizações que integram a União Solidária colocam literalmente a mão na massa junto com as famílias de catadores para erguer esses espaços de beneficiamento.

DOAÇÕES SÃO BEM-VINDAS!

As 40 famílias de catadores e catadoras de materiais recicláveis da Associação Novo Amanhecer precisam sensibilizar mais gente para o projeto.

Daí a campanha por doação de qualquer quantia em favor da construção de três galpões, a concretização do sonho das famílias de catadores da comunidade Novo Amanhecer.

Com uma gestão coletiva e transparente, que há 15 anos fortalece a organização das famílias, a Associação conseguiu estruturar uma cozinha comunitária, para vender refeições a R$ 1,50 aos associados e a R$ 2,50 para seus familiares. Isso permite fornecer alimentação de boa qualidade a um preço acessível para esses trabalhadores e trabalhadoras que passam o dia fora de casa e que percorrem longas distâncias na coleta dos materiais.

A cozinheira, contratada com o recurso da venda das refeições, prepara café da manhã, almoço e café da tarde para servir no local.

A remuneração dos catadores e catadoras depende muito da quantidade de materiais que eles conseguem juntar por semana e 10% da receita é empregada no pagamento das contas de água, luz da entidade, na compra dos alimentos para abastecer a dispensa da cozinha comunitária e ainda garante a contratação de mais duas pessoas, responsáveis pela pesagem e prensa do material.

“A gente tem total transparência. Cada associado também, às vezes, traz um caderninho, anota para poder ter uma base de quanto vai tirar e ir se programando”, disse o presidente da Novo Amanhecer, Antônio de Jesus.

Ele lembra, ainda, que, em função dessa gestão financeira organizada, as doações irão direto para a conta da Associação Novo Amanhecer, que tem mecanismo coletivo de acompanhamento. Também projeta que a construção dos barracões aumentará as chances de se ampliar, num futuro próximo, o número de famílias de catadores e de catadoras nessa atividade.

ARTISTAS POR UM NOVO AMANHECER

No dia 7 de outubro (quinta-feira), diversos artistas participarão de uma “live” para reforçar a campanha de arrecadação por um Novo Amanhecer.

Acontecerá das 18h às 20h, a partir da página da Mídia Sem Terra no Facebook e pelo canal no YouTube do MST-PR, com transmissão cruzada por diversas outras páginas que apoiam essa iniciativa do coletivo União Solidária.

Acompanhe! Apoie! Doe! Participe! 

Até o momento, treze participações de artistas e grupos musicais já estão confirmadas.

São estas (em ordem alfabética):

A Banda Mais Bonita da Cidade

Alana Dédalos

ConteXSto, Fábio da Maia

Grupo Fato

Guego Favetti

João Bello

MC Anarandá

Oruê Brasileiro e Vini Ruiz

Partigianos

Petrus Cuesta

Rayssa Fayet

Susi Monte Serrat

União Solidária

A União Solidária realiza ações de ajuda humanitária em comunidades carentes de Curitiba e região, desde junho de 2020, como resposta a este período de agravamento da fome e do desemprego no país.

Além da partilha de alimentos, cargas de gás de cozinha e itens de proteção individual e de higiene, como máscaras de tecido e álcool em gel, esse coletivo também, em comum acordo com a comunidade beneficiada, planta uma semente de um projeto mais permanente, como horta, cozinha e padaria comunitárias, e a exemplo dos galpões cobertos da atividade atual.

A União Solidária é formada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro PR/SC); APP-Sindicato, estadual e Núcleo Curitiba Sul; Coletivo Marmitas da Terra; Centro Comunitário Padre Miguel (Cecopam); Produtos da Terra; Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR); pastorais e Dimensão Social da Arquidiocese de Curitiba, além de outros sindicatos, entidades e coletivos urbanos.

SAIBA MAIS

Para mais informações a respeito da campanha, das atividades da União Solidária e da comunidade beneficiada, clique aqui. 

* Thea Tavares é jornalista em Curitiba.


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Zé Maria

A Esquerda Solidária agindo para amenizar o Sofrimento
das Comunidades Carentes Abandonadas pelo desgoverno.
E o Parasita Guedes mandando o Genocida Bozo vetar
a Lei que instituiu, como Política Pública, a Distribuição Gratuita de Absorventes a Meninas e Mulheres Pobres.

Certamente uma das causas do Veto foi o fato de Marília Arraes, Deputada Federal do PT-PE, ser a Autora do Projeto de Lei Aprovado pelo Poder Legislativo Federal.
Além de ser evidente que é Preponderante a Política da
Perversidade Ultraliberal dessa Milícia Fascista Falcatrua Montada dentro dos Ministérios do Desgoverno Genocida.

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