Siron Nascimento: Os bastidores da polícia do Rio

Tempo de leitura: 2 min

Azenha,

Sei que o tema mais quente do momento é a Líbia. O que está acontecendo lá merece toda a nossa atenção, até mesmo para fugirmos da cobertura de nossa grande mídia que quer reduzir tudo a um simples movimento de internet, Facebook e twitter.

Porém, a reviravolta que está acontecendo nas forças policiais do Rio merece nossa atenção, ainda mais se lembrarmos como foi a reação entusiasmada – na minha opinião, exagerada – da grande maioria das pessoas, independente de sua sintonia política. À época, escrevi para você e o texto até foi publicado no blog [na época da ocupação do Alemão]; os comentários massacraram nossa posição de esperar para ver o que vai dar. Mas parece que a casa caiu, e a grande mídia, principalmente do Rio de Janeiro, está querendo minimizar sua importância.

Depois da Operação Guilhotina e da reação do ex-chefe da Polícia Civil em fazer uma devassa na Draco, ficamos à espreita de maiores informações e são bastante desencontradas e sem profundidade. Uma coisa, entretanto, ficou mais do que provada – mais uma vez, diga-se de passagem; que o crime organizado está intrinsicamente ligado com as forças policiais, seja PM ou Polícia Civil; que diversos políticos tem envolvimento com as milícias e vivem em uma verdadeira simbiose de interesses econômicos e políticos; que os agentes policiais extorquiam, roubavam e, quando contrariados, executavam traficantes. A Operação Guilhotina parece que vai dar em alguma coisa, mas e a devassa na Draco? As acusações foram sérias e nada mais é dito sobre isso…

O ex-delegado e ex-chefe da Polícia Civil RJ, Hélio Luz, sempre afirmava que não existia crime organizado no tráfico de varejo no Rio de Janeiro, pois quem organizava o crime era a própria polícia, que prendia, executava conforme seus interesses economicos. Ele falava isso há mais de 15 anos. Desde lá, por diversas vezes, sua tese foi comprovada e nada mudou. Será que agora vai mudar alguma coisa?

Eu tenho minhas dúvidas. No Rio de Janeiro, temos uma imprensa extremamente oficialista, que se vendeu por interesses economicos – sempre eles – que envolvem Copa do Mundo e Olimpíadas. É muito dinheiro envolvido; logo, os interesses do povo ficam em terceiro plano, pois, ainda em segundo, estão os interesses das classes mais abastadas em garantir sua falsa sensação de segurança (é só olhar atentamente o mapa de instalação das UPPs e o deslocamento dos criminosos para as periferias, Baixada fluminense, Baixada Gonçalina, Região dos Lagos).

Enfim, gostaria de fazer uma sugestão: uma série de reportagens sobre Segurança Pública. Peça a Conceição Lemes passar um mês aqui e entrevistar a galera séria que discute o tema: Orlando Zaccone (delegado), o pessoal da Justiça Global, Marcelo Freixo (deputado), Luiz Eduardo Soares (sociólogo), Vera Malaguti (jurista) entre outras pessoas e organizações sérias defensoras dos Direitos Humanos.

Isto não tem nada a ver em fazer uma matéria contra ou a favor sobre as UPPs, mas sim dissecar as instituições de segurança, suas atitudes, preceitos. Esta discussão já é mais que necessária, e se não for feita por blogs progressistas, nada podemos esperar da grande mídia. Infelizmente.

Abraços,

Siron Nascimento

PS do Viomundo: Faremos o que estiver ao nosso alcance.

Para ler o que o Siron escreveu naquela época, clique aqui.


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Justiça

As 512000 em 10 anos, exemplificam que está falido o sistema de segurança, a eficácia é segurança pública que peomova e garanta acesso aos direitos sociais, segurança pública e combate ao crime é educação de qualidade, acesso a saude pública, proteção à matermidade e a infância, moradia digna, água potável, saneamento básico, emprego com sal´rio justo. Trafias sociais de serviços públicos justa.Previdência social com aposentadorias justa.Eleições com candidatos éticos e compromissados com as questões sociais.

Feliz

Já pesquisaram tudo no país sobre a miséria dos pobres, origem, atualidade. Esta faltando uma pesquisa sobre a fortuna dos ricos do país, origem, como ampliaram fortunas, como se mantém, como se consegue obter grandes empréstimos em bancos oficiais, como se constró fortunas rapidamente, que garante a comodidade para os tataranetos. A pesquisa poderá porporcionar desemvolvimento que garanta bem estar a todos. Qual é o milagre?

Ramalho

Em alguns círculos cariocas, há um niilismo pernicioso que rejeita qualquer iniciativa cujo propósito seja o de melhorar o serviço público. Isto é especialmente verdadeiro nas áreas de segurança, educação e saúde, praticamente todas as áreas em que é dever do Estado servir.

Na segurança, a campanha lançada contra a ocupação do Alemão, segundo a qual a iniciativa governamental não daria certo e que, por isto, nada deveria ser feito – mesmo estando a cidade sob ataque de traficantes que queimavam carros e ônibus diariamente – prova este comportamento a la Sancho Pança de falso realismo. A ocupação foi um sucesso, pois os ataques acabaram e os moradores das áreas retomadas pelo Estado declaram que suas vidas melhoraram. Os desvios, tanto de militares quanto de policiais que ocuparam o Alemão, vêm sendo contidos. Os índices de criminalidade caíram no Rio, e se isto tem, ou não, a ver com Copa e olimpíadas é irrelevante.

A devassa na polícia não invalida a ocupação das comunidades, eis que as escadas e os problemas são vencidos um degrau por vez. A ocupação do Alemão explicitou práticas policiais de roubo de pertences e armas de traficantes, e que ensejaram, dentre outros indícios, as investigações em curso. Diga-se a bem da verdade que, enquanto em outros estados reina a paz dos pactos corruptos nas respectivas polícias, no Rio há chefes de milícia e ex-chefe de polícia processados e presos. O combate a corrupção policial não começou e não terminará agora, e, principalmente, não pode ser pretexto para arrefecer as retomadas pelo Estado das comunidades que estão sob o domínio de traficantes e milícias. O que se tem a mais a fazer não pode impedir o que se pode fazer agora.

Na educação, professores são contrários à implantação do primado do mérito nas escolas, e, na saúde, médicos são contrários a UPAs, ou eram. Ambas as coisas são benéficas para a população embora não tornem os respectivos sistemas perfeitos. Aliás, nada é perfeito, mas tudo é passível de ser melhorado, e, para isto, é necessária boa vontade.

Niilismo de funcionários públicos e outros não aproveita à população.

    douglas da mata

    Ramalho,

    Como funcionário público e servidor da área de segurança, permita-me discordar. Não há dúvidas que todas as corporações(públicas e privadas) rejeitem práticas de controle e meritocracia. É assim na mais refinada academia, é assim nas concessionárias de serviços públicos (como a supervia, concessionárias de rodovias e ônibus,por exemplo), é assim entre juízes e jornalistas, desses que vivem nas coleiras dos patrões. Então, digamos, que o niilismo é um traço de nossa sociedade.

    O problema não é rejeitar a invasão(ocupação, no seu eufemismo)para controle da atividade violenta do tráfico. O problema é conjecturar que TODO o problema reside ali, enquanto os bancos lavam fortunas, as indústrias de armas vendem a solução(fuzis) para a polícia e o problema para os bandidos (fuzis).

    O problema é ter uma polícia vinculada a ação de governos e não de Estado. Eu te pergunto: Poderia um delegado ou inspetor de polícia investigar as ligações de algum figurão do primeiro escalão do "governo"? Creio que não.

    Os índices de criminalidade violenta vêm caindo não só no Rio, caro Ramalho, é um fenômeno generalizado pelo país, e tem a ver com a melhoria de vida de boa parte da população. Não que eu partilhe do "sociologismo" de vincular pobre a crime, mas é inegável que distribuição de renda muda perspectivas e diminui zonas de risco e de esgarçamento do tecido social. Logo, melhorar de vida pelos meios legais pasa a ser um sonho próximo e factível.

    Ninguém disse aqui que o combate a corrupção invalidará o combate ao crime. Mas é preciso entender que essa versão "War on Drugs", ou "war em qualquer outra coisa" é que traz aberrações no comportamento policial, ou você acredita que a violência implícita da idéia de ocupação não é em si uma forma de corrupção?

    Os servidores não são contrários a melhoria dos serviços. Eles enxergam antes, e entendem que não passam de slognas e placas nas paredes. É assim com UPA, UPPs, delegacias legais, etc, etc, etc. Prometem mundos e fundos, mexem na superfície, escolhem algumas categorias como bodes expiatórios,e pronto, voilá, tudo melhora como um milagre.

    Um abraço.

    Ramalho

    (1)
    Prezado Douglas,

    Usar o mérito como critério organizacional para promover pessoas, ao invés de compadrio, nepotismo, fraude, traições, intimidações, arranjos ilícitos não é má ideia. Na meritocracia, o mérito (cumprimento de metas, honestidade, talento, volume de trabalho) é a razão única da recompensa, que pode ser aumento salarial, prêmio/gratificação em dinheiro, promoção hierárquica, boa fama. Onde se aplicam práticas meritocráticas, as pessoas têm mais autoestima, interagem melhor com colegas e chefes e trabalham melhor, pois dependem delas mesmas e da qualidade do que fazem para serem reconhecidas – não vou entrar aqui nas questões de definição de mérito gerais e específicas.

    Nos esportes e na educação, critérios meritocráticos são aplicados largamente na avaliação de esportistas e alunos respectivamente. No Judiciário – no qual o ingresso só se dá mediante aprovação em concursos públicos exigentes –, mais e mais tais critérios vêm sendo aplicados, ao lado de combate ao nepotismo, como mostram as notícias. No município do Rio, há alguns anos, os fiscais da Secretaria Municipal de Fazenda faziam questão de garantir a lisura dos concursos para a área, chegando a fiscalizar sua aplicação, visando a que o ingresso de novos fiscais só se desse pela via do mérito – não sei como as coisas são hoje. Em muitas organizações, as pessoas preferem-na a ficar sob o arbítrio, nas questões de promoção e reconhecimento da qualidade de seu trabalho, de um chefete qualquer. A meritocracia é boa para a organização, mas é especialmente boa para os funcionários (trabalhadores).

    O niilismo não é um traço de nossa sociedade, desculpe-me por discordar, e os exemplos de superação de pessoas e organizações que oferecem resultados úteis à sociedade mostram que de fato não o é. Além disto, em um país jovem como o Brasil e com tamanhas desigualdades, com tanta gente violentada pela fome, miséria, ignorância e outras injustiças, com quase tudo por fazer, não dá para aceitar a iconoclastia, o ressentimento, a paralisia e a crítica destrutiva, eis que são todos corolários do niilismo. Assim, se organizações, e/ou as pessoas que as compõem, são niilistas, especialmente as organizações públicas, compete à sociedade denunciá-las e obrigá-las a produzir resultados sociais, recompensando-as na medida destes resultados, dentro dos melhores princípios meritocráticos.

    Não conjecturei que todo o problema da violência do Rio circunscreva-se às comunidades.
    (continua)

    douglas da mata

    Caro Ramalho,
    (1)
    Há algumas confusões em nosso debate que pretendo esclarecer:

    1. Não pretendo que policiais, ou diretores de escolas, ou médicos estejam acima do consenso democrático que unge mandatos dos governantes. A burocracia deve prestar contas ao poder político, é claro. Mas esse mandato só é válido e legítimo (inclusive para gerir as corporações)quando não cometem crimes, omissiva ou comissivamente. Isso é excesso de mandato, o que os torna nulos.

    Não é verdade que as polícias investigam seus "donos". No Brasil, a polícia foi criada como guarda pretoriana, lá em 1808, por ordem de d. João, assustado com a população negra nas ruas, e ainda assim funcionam. Veja que os exemplos citados por você, talvez sejam 0.00001% dos presos e sentenciados em todo o país, o que denota, estatística e factualmente que cadeia e condenação não são processos pelos quais a elite se submete.

    Veja que no caso do Daniel Dantas, a PF, a glória do governo Lula(do qual sou simpatizante e adepto), expurgou os investigadores para proteger a "república", que balançava sob os auspícios das negociatas do opportunity.

    No Rio de Janeiro é parecido. Delegados e policiais são transferidos, ao sabor dos humores dos chefes políticos locais. É o chamado "bico", ou "punição geográfica". "Canta" todo dia no BI(boletim interno). Não temos lei orgânica como o MP, ou o Judiciário, portanto, não há de se comparar instituição com funcionamentos tão diferentes, sem prejudicar a análise.

    Continuo a tratar o problema da corrupção policial como conseqüência da corrupção da sociedade, que se reflete no Estado, se considerarmos que o contrato social que o dá causa, já é viciado em seu princípio.

    Continuação (2)

    douglas da mata

    (2) Continuação

    Eu gostaria de acreditar que a população ficou ao lado dos policiais, como uma percepção idílica do bem contra o mal, no caso do Alemão. Não é, e não foi, meu caro.

    Manipulação do medo e paranóia classe média, com "carta branca" ao governo para "invadir" com forças armadas (o que é inconstitucional) as comunidades pobres. Aí, a pergunta a população pobre sitiada: O arbítrio do traficante ou o arbítrio do Estado, televisionado? Eu acho uma escolha pobre, e os resultados se viram nos dias posteriores da ocupação, e você não sabe 1/3 do que aconteceu na "pilhagem do Alemão". Claro, não interessa a máquina de propaganda do governo e da mídia que suas fórmulas apresentem defeitos, logo, cada caso de "corrupção" é tratado como uma infecção isolada, e não vício do "programa".

    Continua no 3

    douglas da mata

    (3) continuação

    Eu gostaria de acreditar que a população ficou ao lado dos policiais, como uma percepção idílica do bem contra o mal, no caso do Alemão. Não é, e não foi, meu caro.

    Manipulação do medo e paranóia classe média, com "carta branca" ao governo para "invadir" com forças armadas (o que é inconstitucional) as comunidades pobres. Aí, a pergunta a população pobre sitiada: O arbítrio do traficante ou o arbítrio do Estado, televisionado? Eu acho uma escolha pobre, e os resultados se viram nos dias posteriores da ocupação, e você não sabe 1/3 do que aconteceu na "pilhagem do Alemão". Claro, não interessa a máquina de propaganda do governo e da mídia que suas fórmulas apresentem defeitos, logo, cada caso de "corrupção" é tratado como uma infecção isolada, e não vício do "programa".

    Sobre os dados da queda da violência em SP, vale olhar a série histórica, e os homicídios por grupo de cem mil habitantes oscilam como um onda, de dois em dois anos, ou três anos, se preferir. Ora crescem ora diminuem. Há duas explicações que antecedem a percepção de que o fato se dá pelo bom trabalho da polícia, o que também pode ter contribuído:

    a) Manipulação dos óbitos com o novo SVO(serviço de verificação de óbitos), onde as estatísticas são postergadas até que haja laudo do IML definitivo, o que mascara as estatísticas de novembro de dezembro.
    b) O bom e velho acordo com as forças do crime, no caso de vocês o PCC, que estabiliza os conftontos pela sua força de coação junto aos dissidentes, e assim, "organizam" os territórios, mais ou menos como fizeram os bicheiros na década de 70 e 80 do século passado, aqui no Rio.
    c) Essa é mais ou menos a idéia que move as UPPs. Com a polícia no morro, não é mais preciso armar os "soldados da boca", logo, caem os indíces de criminalidade violenta dos confrontos de facções. Mas a "empresa" continua à todo vapor.

    Não se combate tráfico no morro. É como enxugar gelo. Mas na verdade, é mais do que isso. O discurso do combate ao crime no morro serve a agenda político-eleitoral do governos, às compras governamentais(helicópteros, fuzis, carros, etc).

    Enfim, a meritocracia não se resume a concursos bem elaborados e difíceis. Nossa educação não tem nada de meritocrática. Nem os esportes podem assim ser considerados, se olharmos a forma nefasta como dirigentes exploram a competição em nome dos seus interesses privados. Ou você acha que os jogadores da seleção brasileira, por exemplo, são os melhores que poderiam estar lá, em um concurso de méritos? .

    Eu desejo um sistema meritocrático para a minha corporação, mas sei que há um milhão de interesses que impedem sua aplicação. E enxergar isso não é ser niilista ou destrutuvo, é pensar.

    Quanto ao niilismo e os exemplos de superação, suas palavras já trazem a resposta. Se é exemplo(exceção) e não regra, não serve para a análise sistêmica do fenômeno. Isso fica bem em reportagem sensacionalista do Régis Röesing, mas só.

    Reforço: O niilismo não é público ou privado, e nem há niilismo de fato. O que há é o bom e velho patrimonialismo de usar a coisa pública como se privada fosse. Essa é a realidade da polícia, de nossa sociedade e de nosso Estado.

    Só a crítica (não existe crítica destrutiva ou construtiva)produz dúvida, e só a dúvida produz conhecimento.

    Um abraço.

    Ramalho

    (2)

    Concordo com que a função policial é uma função de Estado, como são, também, a educação e saúde. Deveriam, todas, estar acima de injunções políticas e de governos, com recursos carimbados (destinados a elas exclusivamente e insuscetíveis de contingenciamentos e outros desvios). Mas todas têm de se submeter ao governo, todas têm de prestar contas à sociedade por meio do governo, pois este é a expressão da sociedade na gestão do Estado – o governo é eleito pela sociedade para gerir o Estado. Não fora assim, a polícia, por exemplo, mais do que acima do governo, estaria acima da sociedade, e nada pode estar acima da sociedade, se o regime é democrático – como presumimos que seja o nosso.

    A polícia tem, sim, investigado figurões. Exemplos José Dirceu, Raul Jungmann, Garotinho, o ex-chefe de polícia Ricardo Hallak, Daniel Dantas, Allan Turnowski, Paulo Maluf, o juiz “Lalau”, Álvaro Lins, a lista é grande. O fato da polícia ser subordinada ao governo não a tem impedido de investigar figurões até do próprio governo.

    A criminalidade violenta caiu em São Paulo, só de lá se tenho esta notícia, por obra de ação policial. Em São Paulo, os chefões do tráfico foram presos há tempo, e, diferentemente do Rio, não há lá os bolsões vazios de Estado nos quais bandidos possam, mais do que se homiziar, fazer o papel de Estado – julgar, condenar, punir etc. Mais, a queda da criminalidade no Rio não se deu gradualmente, mas acentuadamente em seguida à ocupação pelo Estado das áreas dominadas pelo tráfico, o Complexo do Alemão em especial. Por estas razões, discordo de que a queda da criminalidade na cidade do Rio, mormente após as ocupações de áreas dominadas pelo tráfico – associado, ou não, a milícias e a policiais –, se deva à melhoria das condições de vida da população.

    Quanto a Guerra às Drogas, tal como parece ser a sua opinião, também sou contra. Acho que todas as drogas deveriam ter a produção, comercialização e consumo regulados por lei. As vantagens seriam muitas, mas este é outro assunto.

    Ocupar as comunidades carentes, perdoe-me de novo por discordar, não é uma forma de corrupção. Ocupação pelo Estado, bem entendido. Corrupção é não ocupá-las, que, na realidade, engloba uma série ampla de crimes que vão da prevaricação à extorsão de traficantes, da associação para exploração de drogas à ocupação da área por “milícias”, passando por venda feita por policiais de munição, armas e drogas a traficantes. Corrupção é não ocupar as comunidades.

    Também não concordo com que algumas categorias tenham sido escolhidas para bodes expiatórios. Ao contrário, os policiais, por exemplo, foram elogiados nestas ocupações e a população ficou ao lado deles. Professores têm sido alvo de campanha a favor deles na televisão. Médicos, quando salvam vidas, ou atendem bem a seus pacientes, são louvados. Em especial, o desgaste da imagem da polícia fluminense decorreu de denúncias gravíssimas como a que envolve o delegado Carlos Oliveira. Como é possível a corporação policial conviver com um delegado que vende armas pesadas a traficantes e que eventualmente seriam usadas contra policiais? É isto o que consta na denúncia. Com quem tem nível de vida incompatível com os vencimentos, muito acima do que eles lhe possibilitariam? Denúncias como estas afetam a corporação como um todo, ainda mais que, na sua esteira, foram pegos outros delegados e o próprio chefe de polícia. Estes policiais, sim, tornam os demais bodes expiatórios.

    Não sou daqueles que acham que todos estejam corrompidos, mas os que estão, ou oferecem indícios de estar, têm de ser investigados, processados, julgados e, se condenados, punidos, sejam eles pessoas comuns, figurões, ou policiais. Creio, também, que há em curso no Rio um esforço em prol da população carente com UPPs, UPAs e com a reformulação do sistema gerencial da área da educação no estado. Não tenho ilusões de que tudo estará resolvido com estas providências, não estará, mas sei que, em relação ao que se tinha, as coisas hoje estão melhores, com tendência a melhorar mais ainda.

    Um abraço.

    r godinho

    A considerar que o Estado é um corpo estranho na sociedade, a sua própria existência configura ocupação.
    Ora, um território sobre o qual o Estado não tem domínio real, embora o tenha formal, é um território ocupado por outrem. Então resta o impasse: que ocupação é benéfica para a população? A despeito de toda a submissão aos interesses das classes abastadas existente no Estado brasileiro, eu, morador vizinho, colado numa comunidade do Alemão, prefiro essa ocupação à outra, dos adolescentes viciados na violência que aprendem desde meninos, armados com fuzis e pistolas, usando suas armas para suprir o sentimento de inferioridade frente os homens adultos. Não há espaço institucional nessa ocupação. Não regras, nem arremedos de regras, que possibilitem oposição ou apenas uma proposição visando o bem comum.
    Afirmar que não há um crime organizado é dizer que – aceitando que a polícia é quem controla os criminosos – sendo orquestrado por policiais, perde a característica de crime organizado. Pois é, e é ainda pior, por que nos deixa, a nós cidadãos, sem nosso aparelho de combate, o Estado.

    douglas da mata

    Caro R Godinho,

    Os limites para definir crime organizado estão no ordenamento jurídico, e na doutrina, mas na vida fática, é um pouco mais difícil. Extraterriorialidade, domínio territorial, hierarquia, especialização(divisão de tarefas), atividade perene e sistêmica, e infiltração no aparato do Estado e seus círculos decisórios.

    Como vemos, o "fantasma" da favela está longe de ter todos esses requisitos, embora alguns estejam presentes em sua atividade.

    O que dizemos quando falamos que não há crime organizado no tráfico, é para realçar o quanto ruim é o aparato de Estado no combate a criminalidade violenta, porque o faz por premissas falsas.

    Logo, a sociedade é levada a escolhas também falsas: Ou o Estado invasor ou o traficante armado. Como não dá conta do tráfico, o Estado "potencializa" sua organização para justificar o seu combate sempre emergencial e de "exceção".

    São faces da mesma moeda,na medida que o tráfico não subsiste sem proibição (lei), sem a hipocrisia da sociedade legitimada(que continua a usar as substâncias que diz querer combater, e isso não é discurso moralóide), e pior, na escala mais sofisticada desses crimes, há um conluio ainda mais pernicioso: bancos lavam dinheiro, junto com o mercado imobiliário e de artes, enquanto a indústria de armas vende armas para governos e contrabandeia para bandidos, junto com a indústria farmacêutica e os insumos indispensáveis ao refino de coca, por exemplo.

    O problema é querer encarar a questão pela visão apenas da "invasão", que no caso do Alemão, foi inconstitucional, pela presença da Forças Armadas. Ou seja, o Estado cria uma situação tão ruim, que no fim das contas, apresenta como solução o dilaceramento das leis que ele existe para guardar.
    E no caso do tráfico de drogas, o surgimento e fortalecimento das facções se deu por obra e omissão do Estado, uma vez que são originárias do sistema carcerário.

    Nosso silêncio em relação ao direitos dos presos, forneceu o ambiente ideal para que os grupos dessem aos presos o que o Estado deveria garantir a quem já cumpre sua pena: Sobrevivência e possibilidade de reinserção.

    Essa é a cena. E um problema com múltiplas faces e efeitos, não vai ser resolvido com "golpes de midia", "siglas" ou "invasões".

    Um abraço.

ANA

Dessa vez, Siron Nascimento solicita observadores para reafirmar sua certezas.
Boa conduta.

Gerson Carneiro

Corrupção Policial é uma metástase que atingiu todo o território nacional. Em todos os Estados há corrupção policial, uns mais, outros menos.

Está tudo errado; urge uma reforma geral a modificar as relações de trabalho desde o Presidente do STF, passando pelo Congresso Nacional até o vigilante de supermercado.

A solução passa por cortar mordomias de políticos e Magistrados e transferir o que se gasta com estes para pagar, em valores de hoje, no mínimo R$ 4.000,00 para cada policial. Como isso nãi vai acontecer, esse mal não será exterminado.

Ganhando o salário de fome que ganham hoje, submetidos ao risco de morte, estresse, e a exaustiva jornada de trabalho, os policiais facilmente tornam-se vulneráveis à desvios de conduta. Aqueles que resistem são uns heróis.

Quanto à políticos e membros das altas instâncias do Poder Judiciário, deveriam bater cartão, de segunda a sexta-feira, das 08h00 às 18h00, e ganhar efetivamente pela jornada de trabalho anotada. Como qualquer funcionário. Muita mordomia para essa gente dá nisso. Injustiça, que pode levar à corrupção.

    Dias Melhores

    Por acaso, vc está pregando uma "Revolução" de verdade?
    Essa solução, que é a única para se por fim a toda essa sacanagem, a Direita não vai deixar e nem os milicos, os quais dizem que dariam a vida pela Pátria.

    r godinho

    Eu só queria a jornada exaustiva de trabalhar um dia e folgar dois ou três…

Mauro

Francamente. Fazer a crítica à política de segurança atual do Rio nos moldes e termos feitos pelo Siron, francamente (de novo). Se eu acreditasse em teoria conspiratória diria que o cara é ligado a interesses outros, fingindo fazer crítica à esquerda só para ver se funciona e com isso deslegitimar o Beltrame, fazendo voltar os tempos bagunçados de antes. Como não acredito em teoria conspiratória, só acho que ele é mais um caso de esquerda que a direita adora.

    douglas da mata

    Mauro,

    Entendo sua aversão ao catastrofismo e sou filiado a essa sua preocupação. Mas fica claro que algo está errado no Rio, e quiçá no Brasil, se olharmos para o fato de que nos 04 anos tivemos dois chefes de polícia indiciados(o Álvaro Lins já foi sentenciado e cassado seu mandato de deputado estadual), junto com o ex-secretário de segurança (o ex-governador garotinho)condenado por formação de quadrilha ou bando armado(artigo 288).

    A corrupção policial é apenas a ponta de um iceberg. A corrupção do Estado com princípio, onde ele é feito para proteger os ricos e segregar os mais pobres. Nossa estrutra jurídico-normativa é assim(só há pobres e pretos presos), e o crime e seu combate idem(a esmagadora maioria de mortos e vítimas da violência são, TAMBÉM, os pretos e pobres).

    Nossa taxa de resolução de homicídios é de 4% a 5%, enquanto os crimes patrimoniais têm taxa de resolução de 20 a 30%, dependendo do Estado. Ou seja, a vida vale quatro a cinco vezes menos.

    Ora, com esses dados, não é difícil imaginar que a violência e o medo são ótimos insumos para os "negócios" da segurança. A corrupção policial é só uma forma de gestão dessa "empresa". A milícia é outra. A demora da Justiça e seu difícil acesso aos mais pobres, outra, e por aí vai…

    Mauro

    Douglas, jamais pretendi defender a polícia do Rio, pelo amor de Deus. Está entre as mais corruptas do Brasil, e isso não é pouco. Um pequeno exemplo, para explicar a que níveis chegou. Tive um ex-aluno que hoje é da corregedoria (não vou dizer se da PM ou da PC). Cara sério, respeitador dos direitos. Com Beltrame foi para a corregedoria para não ser morto em fogo amigo.
    CONTINUA.

    Mauro

    Pois bem, ele me contou algo que eu até já imaginava. Você sabia que o absurdo índice de roubo de carros no Rio, especialmente da Tijuca para "cima" (roubo como o que foi vítima a mãe do menino Hélio, que ocasionou a morte do garoto), eram orquestrados por quadrilhas de policiais, que exigiam dos bandidos dos morros "cotas semanais" de carros, sob pena de morte? CONTINUA

    Mauro

    Eu já imaginava porque não via sentido nesse crime, porque todos os carros com seguro eram "achados" poucos dias depois (os sem seguro, de fato, sumiam), quase sempre inteiros, apenas sem estepes, chaves de roda (por aqui chamavam de "kit PM"). Dizer que era para fazer "bonde" (transporte de armas e drogas) não colava. Haja armas, drogas e inteligência logística para tanto carro roubado. Meu ex-aluno me confirmou o que eu imaginava e todos nas polícias sabiam. As seguradoras tiveram a "brilhante" ideia de premiar policiais que recuperavam carros roubados, o que foi permitido tacitamente pela então Secretaria de Segurança (governos Garotinho e Rosinha). Resultado: os roubos de carro explodiram, assim como o preço dos seguros. Eu mesmo fui vítima, na porta da minha casa. Arma na cabeça e tudo. Meu carro foi encontrado 3 dias depois, sujo à beça, mas intacto, exceto pelo "kit PM".
    CONTINUA

    Mauro

    Portanto, não sou "poliana". Nenhum morador do Rio que seja minimamente cosnciente (não digo aqueles ranhetas, que reclamam de tudo e de todos) pode ter ilusões sobre sua polícia. Mas é fato que os roubos de carro reduziram muito, em TODAS as áreas da cidade. Há abusos contra cidadãos nas UPPs? Há, mas não é política de Estado. Hoje temos um Secretário de Segurança e até o Comandante da PM que falam na necessidade de mudança da polícia do Rio, de uma polícia de confronto para uma de prestação de serviços ao cidadão. Isso não é pouco. Ninguém mais tem ilusões com a milícia. Não há mais cumplicidade do comando da polícia com as milícias. E não foi o filme Tropa de Elite que fez isso. Já era política anterior.
    CONTINUA

    Mauro

    Enfim, não tenho ilusões também com os governos estadual e municipal. Tanto Cabral quanto Paes têm fortes ligações com políticos de milícias, de corrupção na área de tranportes no Rio. Tiveram votações altas nessas áreas quando parlamentares. Paes até elogios explícitos às milícias fez. Só que ambos são espertos o suficiente para saber que a prefeitura da capital e o governo do Rio foram túmulos de políticos nos últimos 25 anos porque nenhum enfrentou a questão da segurança pública e todos fizeram acordo com as bandas podres da polícia (que também, ao que parece, não tem uma coordenação, um "capo". Álvaro Lins tentou, mas não consegui). Qual político do Rio conseguiu extrapolar as fronteiras do Estado nos últimos 25 anos? Brizola se acabou no seu segundo mandato. A perseguição da Globo não explica tudo. Cabral e Paes só são pragmáticos.
    CONTINUA

    Mauro

    O grande problema que vejo hoje na política de segurança do Rio é que estamos "refens" da seriedade e profissionalismo do indivíduo Beltrame, que hoje tem, merecidamente, uma enorme legitimidade com a população. Demorou, as pessoas não se iludem mais, mas ele conseguiu uma legitimidade nunca vista por um homem público do Rio nas últimas décadas. Para fazer o que faz.
    Ele está conseguindo vitórias inegáveis. Claro que não está sozinho. Existem ótimos policiais, gente preparada e séria (não falei em anjos), mas de fato a política atual ainda depende dele, ou seja, sua saída provocaria, é minha opinião, um abalo difícil de reparar. Está muito longe de se tornar uma política institucional sedimentada. Os corvos e urubus estão a espreita. E os esquerdistas sectários ajudam essa turma. É o que penso.
    Aliás, os crimes também reduziram nas áreas periféricas da cidade. Isso é fato.
    Desculpe-me a resposta longa demais.

    Siron

    Caro Mauro, meu único interesse é pela melhoria da qualidade de vida da população, principalmente os mais pobres. Nunca me furtei de olhar criticamente as situações sem fazer dualismo torpe entre bem e mal. A vida não é cartesiana assim. Não tenho nada contra o sr Beltrame. O que a direita adora é falta de senso crítico.

João

OS policiais, tanto civis quanto militares, são frutos da sociedade Brasileira. Se a sociedade é corrupta e violenta, os policiais, assim como qualquer outro segmento da sociedade o será, judiciário, politica, educadores, etc.

Carlos

Li um comentário no "Balaio" que a presidente mandou fazer uma limpeza no "projeto" do ex-ministro Franklin Martins. Ela pediu que retirasse tudo que se referisse "a controle de imprensa". Paulo Bernardo será o responsável por isso. Será verdade mesmo? Taí, uma boa matéria, desde que seja apurada corretamente.

Marciliosp

É gritante e mais complexa do que se tenta relatar em filmes por ai, a situação do Rio e seus oficias

SILOÉ

O tráfico tem seus tentáculos em locais inimagináveis das organizações públicas e privadas deste pais.
A corrupção vai desde o mais alto escalão da justiça até o mais réles soldado civil ou militar.
A indústria do carnaval é toda mantida por "barões" do tráfico e do jogo ilegal, com total complacência do governo federal, estadual, municipal, e total promiscuosidade da mídia, que os exibem como se fossem "altas personalidades" do mundo "empresarial" a maioria com vasta lista de crimes nas costas.
A globo então, é uma bajulação só; Porque será?
Temo hoje pela vida do Beltrame, porque na polícia não dá prá confiar em ninguém, de onde se menos espera é que vem o bote.
A sociedade também tem a sua parcela de culpa, muitos por omissão e outros por conivência.

Xandão

Siron, é sempre bom lembrar que morrem muitos policiais nessa guerra. Se a polícia fosse tão "dona" do crime organizado, não haveria mortes entre eles. Ela, sim, se beneficia da facilidade com que os traficantes se deixam prender, mas não mandam ali, não. Quanto ao modelo de polícia pacificadora, eu moro ao lado de um morro pacificado. É fato. Mudou tudo. Os índices de crime caíram vertiginosamente. Acho legal separar o joio (corrupção na polícia) do trigo (projeto de segurança). Parece que um e outro são a mesma coisa. Não são.

Smirdiakov

Apesar do tabaco matar milhões, a maconha está proibida simplesmente para manter os interesses das grandes indústrias de cigarro e medicamentos. E todos aqui ainda estamos americanizados pelo discurso ideologizante do totalitarismo que nos foi empurrado goela abaixo que quis destruir as liberdades à força de uma "Guerra contra as Drogas". Portanto, eses legalistas só defendem a continuidade de tudo como está.Por muito tempo, o debate sbre drogas tem sido no campo da religião, entre "verdade vs. mal, fato vs. ficção", sem encarar uma persperctiva racional da realidadeAcrescento aí a droga da manipulação da opinião pública pela grande mídia do século XX e as drogas faixa preta, tão legais quanto repressoras da individualidade!
A indústria farmacêutica continuará a desenvolver e produzir cada vez mais drogas. As ciências da mente continuarão se aperfeiçoar cade vez mais, e essa tendência deveria nos conduzir a um melhor relacionamento com as drogas, a fim de que causem o mínimo de danos possíveis, ou muitas vezes possam nos fazer bem. Do contrário, continuaremos aceitar o dogma social, que não questiona a lei, na letargia do senso-comum estabelecido.
A melhor forma de se abrir a discussão sobre a ilegalidade das drogas é voltarmos três gerações ou mais (80-90 anos). E relembrarmos que até então estas drogas eram absolutamente legais, no mundo todo e por alguma razão alguém mudou essas leis. E alguém á de acreditar que para isso houguma comissão de experts, cientistas, médicos, economistas, que "tomaram decisões unânimes" de que álcool e tabaco eram menos prejudiciais, e que portanto deveriam ser legais, e outras drogas não, alguém é capaz de acreditar nisso? A resposta para isso é que a "visão histórica" entre quais drogas seriam legais e quais não tem nada a ver com o seu risco relativo, mas tudo a ver com quem usa essas drogas. Enquanto isso continuamos a sofrer com a imposição de um discursos legaliistas hipócritas de Nixon, Reagan e Bushs, que ateiam fogueiras a todo novo conhecimento que venha contra seus interesses geo-políticos e de grandes empresas. Veja aqui algumas provas:
Aumenta consumo de álcool no Brasil http://www.vermelho.org.br/noticia.php?i…
Tabaco mata mais de 1 milhão de chineses por ano: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?i…
Documentário(2009): "O negócio por tás do barato": http://superneandertal.blogspot.com/2011…
Documentário (2011): "Cortina de Fumaça": http://superneandertal.blogspot.com/2011…
Estudo diz que fumante têm mais pensamentos suicidas: http://chilique-etc.blogspot.com/2011/02…
Como dourar a pílula da Ritalina: a droga da Obediência: http://superneandertal.blogspot.com/2011…
Psicólogos atacam mídia e indústria farmacêutica: http://superneandertal.blogspot.com/2011… http://superneandertal.blogspot.com/2011…

Carlos

Enquanto houver o chamado poder de polícia, dado a qualquer um, as coisas não se modificarão. Precisamos restringir, urgentemente, este poder. Enquanto isso não acontecer, usaremos um trocadinho, ou melhor, um trocadilho: a polícia é um caso de polícia.

mac

Todas as bocas são controladas por policiais ,nenhuma novidade .

    Marocas

    No mundo inteiro é assim…

douglas da mata

Continuação do comentário

O faroeste caboclo fluminense
(…)
Sabemos que a "violência" é um ótimo negócio! Empresas, fabricantes da armas, de carros, de helicópteros, de câmeras, etc, etc, etc, etc.

Nesse senitdo, os negócios policiais se espalham por toda a estrutura pública de segurança, e à medida que a cadeia hierárquica sobe, esse negócios se sofisticam e envolvem escalas decisórias mais fortes! A lógica é sempre a mesma: Lucro privado de empresas e dos grupos políticos, e prejuízo do público e da sociedade.
O grave, nesse caso, é que o prejuízo social vem em forma de mortes, lesões, perda de patrimônio e de direitos humanos: Insegurança!

Dito isso, é preciso dizer outra coisa: A lenga-lenga da "vocação policial", ou "vocação do magistério", ou qualquer outra "vocação profissional" é só isso mesmo: Uma lenga-lenga. Nenhuma vocação resiste a necessidade!

No caso do Rio de Janeiro, há peculiaridades incríveis a pontuar novos problemas. Nossa sociedade brasileira, e a fluminense idem, se comportam hipocritamente em relação aos crimes e contravenções.

No Rio a mesma cúpula criminosa que compra, corrompe, mata, enquanto patrocinadores dos jogos ilegais, as chamadas "maquininhas", se imiscuem nas esferas de poder, posam ao lado das autoridades que as dizem combater, na efervescente alegoria do Carnaval, com direito a estrutura oficial, segurança pública, etc, etc.

Claro que não se trata de criminalizar o Carnaval e suas Escolas de Samba.
Mas é, no mínimo, estranho a relação amistosa entre bicheiros, prefeitos e governadores! Não seria leviano dizer que a contravenção se legitimou socialmente no "mecenato" dessa manifestação cultural, e esse fenômeno ainda persiste.

O Carnaval funciona como uma período de "armistício", onde a Lei sucumbe ao delírio lúdico!

No caso do tráfico de drogas e armas, embora essas atividades ainda não tenham encontrado uma atividade social que as legitime, há que se dizer que a ilegalidade da venda desses produtos, além de não significar nada, absolutamente, na tentativa de retirá-las de circulação, oferece um amplo mercado "ilegal" que forma o terceiro PIB do mundo, que com essa força, assedia e assombra a incapacidade dos países em contrapor esse desequilíbrio de recursos.
Associada a essa pressão, temos a parceria do sistema financeiro e outras atividades econômicas lícitas(legais), que se oferecem como ferramenta para legalizar esses recursos, e sem as quais, alguns países do mundo quebrariam, assim como alguns bancos, como aconteceu em 2008/2009, na crise mundial.
Foi o dinheiro sujo do tráfico e do crime organizado que sustentou certos países e bancos, e ironicamente, evitou que a crise fosse pior!

Dentro desse espectro, é difícil que encontremos na "crise" da segurança pública fluminense alguma resposta fácil para enfrentar tantos e tamanhos problemas.

Mas o fim da hipocrisia ajudaria, e muito!

    SILOÉ

    Parabéns Douglas:
    Exelente observação. Hipocrisia principalmente da sociedade: que cobra segurança ao governo de um lado e abastece os traficantes do outro.

Douglas da Mata

O faroeste caboclo fluminense!

Tenho evitado emitir opiniões acerca dos úlitmos acontecimentos que atingiram a cúpula da Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro.

Por motivos óbvios:
A liberdade de expressão não é cultivada, a não ser no elogio fácil e bajulador!
Outro motivo é que o debate sobre o tema sempre esbarra nas simplificações e lugares-comum, geralmente, promovidos pela mídia.

É grave que se apresente a atual situação como um duelo entre mocinhos e bandidos. Ou como uma "crise", isolada e sazonal. O que ocorre é uma disputa de poder, antes de mais nada. O problema é perene e sistêmico.

Ela se arrasta desde há muito tempo, e de vez em quando, soluça em eventos dramáticos: A "invasão do Alemão" foi um deles, como já dissemos em outro texto. Agora, a operação Guilhotina, sugestivo nome para a degola de cabeças coroadas da Polícia Civil!

Chamada a intervir, a Polícia Federal, mais uma vez, nos dá nossa dose diária de crença no heroismo eficiente dos "homens de preto"!

Ledo engano. Essa instiuição policial também sofre dos mesmos males, e recentemente, experimentou como o poder político e econômico causam estragos, só que nesse caso, a escala do escândalo (devidamente abafado) estava alguns degraus acima na pirâmide social.

No caso do banqueiro Daniel Dantas, quem investigou foi punido e exilado, como os delegados Paulo Lacerda e Protógenes Queiroz, enquanto os aliados do banqueiro forneceram os argumentos para a defesa do banqueiro investigado.

Ou seja: Todas as instituições policiais sofrem, mais ou menos, com o assédio, e isso denota o seguinte: A medida da corrupção polícial é diretamente proporcional a corrupção da sociedade que a cerca!
Qualquer estudante de Direito sabe que a corrupção ativa só existe na presença da passiva e vice-versa, quer dizer: Se alguém se vende, alguém compra!

Isso não é uma defesa do cinismo, ou do vale-tudo, é uma constatação sem a qual nunca vamos enfrentar de verdade o problema.

O ser humano e o ser humano policial aprende pelo exemplo. Logo, quando olha para os "lados"(sociedade), ou para "cima" (governantes e autoridades), e enxerga impunidade, lucro e legitimidade, o policial faz suas "contas", e se o risco é "aceitável", adere a essas condutas. É claro que a maioria resiste.
Mas a sociedade deve esperar pelo altruísmo, ou diminuir as possibilidades de que as tentações os consumam?
Melhores salários não transformam corruptos em honestos, mas agem antes: Evita que uma maioria ache que o crime compensa, logo, previne, antes de remediar. Por outro lado, fornecem a possibilidade de cobrar com mais rigor dos policiais criminosos.
Se continuar a pagar mal, e a punir, eu suspeito que em pouco tempo não sobrará quem queira se tornar policial.

É comum ouvir dizer que bons salários não resolvem. Isso é mais um sofisma de uma sociedade que pretende manter o policial sempre "à mão", subjugado pela necessidade para aderir a uma oportunidade de "negócio" proposta por essa mesma sociedade, quando ela assim precisar!

Esse sofisma não resiste a uma constatação: As melhores polícias do mundo (eficiência e honestidade)são as mais bem pagas!
Ao contrário, as "piores polícias", se existisse tal ranking, são as mais pobres.

A polícia pobre mantém a eficiência em um sentido: Segregar, violentar e eliminar os mais pobres, e negociar com os mais ricos!

Continua no outro comentário

    Marco Túlio

    A PF sofre dos mesmos males, realmente.
    Só que o paralelo com a Civil é qualquer coisa como comparar enxaqueca e leucemia.

    douglas da mata

    Marco,

    Permita-me discordar. São instâncias diferentes. A polícia civil, por atricuição ocnstitucional trata dos crimes de "varejo", enquanto a PF trata, por atribuição subsidiária, dos crimes de "atacado". O que pretendi chamar a atenção aqui não é o caráter específico de cada força policial, ou dos casos de corrupção "per si". Mas a corrupção que antecede tudo, e está expressa na própria concepção segregadora de nosso Estado, que se realiza na persecução criminal e na aplicação da Justiça. Nesse sentido, assim como na Civil, a PF também escolhe seus "clientes". Daí, o policial só reivindica para si sua parte nesse "negócio".

    Um abraço.

O_Brasileiro

A polícia é o reflexo da sociedade…
Enquanto as pessoas continuarem colocando o dinheiro acima das suas responsabilidades, os problemas continuarão!
Para se ter educação, saúde e segurança com uma qualidade um pouco melhor e com mais respeito no Brasil, só pagando a mais por isso! (Porque já pagamos embutidos nos impostos!)
Esse injusto sistema de castas que temos no Brasil só perpetua esse quadro.
A única maneira de se mudar isso é mudando os valores da sociedade… E não é com Big Bundas e Topa Tudo por Dinheiro, disputando milhões de reais, que se vai mudá-los!

FrancoAtirador

De modo geral,

AS QUESTÕES DA POLÍCIA, ASSIM COMO DO MAGISTÉRIO, SE RESTRINGEM A 3 PONTOS:

1) CRITÉRIOS DE SELEÇÃO;
2) SALÁRIO e
3) PREPARO TÉCNICO.

    Yes we créu !!!

    Concordo com todos os pontos, exceto os criterios de selecao. Sinceramente, nao acho que ha algo errado com os criterios de selecao. Selecionar pessoas moralmente capazes num concurso publico nao me parece ser possivel, dado que, alem de tudo, esses policiais sao um reflexo da sociedade, como nao poderia deixar de ser. E muitos deles sao corrompidos no dia-a-dia profissional, ou seja, apos a selecao. Talvez vc tenha um criterio de selecao mais razoavel do que o ja existente. Conta ai pra nois.

    FrancoAtirador

    ESCOLARIDADE
    Para começar:
    Pelo menos, UM MÍNIMO DE EXIGÊNCIA DE CONHECIMENTO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E DE LEGISLAÇÃO SOBRE DIREITOS HUMANOS.

    Yes we créu !!!

    Ora, ora. Vc ja ouviu falar em cursinho pre-vestibular? Muito embora o conhecimento desses topicos nao garanta absolutamente nada. Pra mim eh principalmente uma questao de perspectiva profissional. Sem isso, eh dificil dizer a um policial que ele deve ser honesto ganhando 800 reais por mes. Como avaliar essa complexidade de fatores antes do sujeito entrar na corporacao? A unica solucao sao os outros criterios que vc mesma apontou: preparo tecnico e salario adequado. Acrescentaria tambem, como eu ja disse, a questao da perspectiva profissional.

    FrancoAtirador

    NADA GARANTE QUE QUALQUER PESSOA SEJA HONESTA.
    ALIÁS, A LEI EXISTE EXATAMENTE PORQUE TODO SER HUMANO É POTENCIALMENTE DESONESTO.

    Mas está estatisticamente comprovado que a conjugação desses 3 fatores (conhecimento, salário e qualificação) somada à infraestrutura organizacional produz melhor desempenho em qualquer atividade.

Julio Silveira

Sou daqueles que acreditam que o crime é um mal necessário e até incentivado. Explico.
A um tempo atrás conheci um policial militar de alta patente que me disse isso, naquele ocasião não quis acreditar no que estava ouvindo. então ele me fez um arrazoado que achei muito coerente e me convenceu.
Disse ele que sem que existisse a ciminalidade não haveria necessidade de instituições, não haveria os empregos e trabalhos que são gerados em seu combate. Não haveria parametros para o individuo entender a dualidade mal e bem. Ele disse, que se deve é opbservar que haja uma preocupação constante com a proximidade entre essas duas faces humanas, evitando que os defensores do "bem" mantenham o "mal" sob controle, sem se sintirem atraidos pelo outro lado, "o lado negro da força".

    Marco Túlio

    Por isso que na Islândia não há instituições e eles não sabem a diferença entre o bem e o mal.
    Entendi.

    SILOÉ

    A dualidade entre o bem e o mal existe desde que o mundo é mundo só que o mal esta dando de goleada desde sempre, sabe porque? Algumas pessoas do bem como você passam a achar que o mal é necessário, daí cruzam os braços e ficam vendo a banda passar.
    Já imaginou se esses jovens do oriente médio fossem assim???

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