Sindicato suspeita que os Civita esconderam dinheiro no Exterior para não pagar dívidas trabalhistas

Tempo de leitura: 3 min
Os herdeiros, com Doria.

Sindicato pede investigação sobre offshores de irmãos Civita

Herdeiros do grupo Abril ocultaram empresas em declaração de bens apresentada no processo de recuperação judicial. Manobra ilegal contribuiu para lesar centenas de trabalhadores

Por Eduardo Viné Boldt

As revelações jornalísticas sobre os chamados Pandora Papers expuseram possível crime falimentar dos irmãos Giancarlo, Vitor e Roberta Civita, herdeiros do grupo Abril. Reportagem publicada no site Poder360 mostrou que os Civita mantiveram três offshores não declaradas, localizadas nas Ilhas Virgens Britânicas, enquanto realizavam pedido de recuperação judicial do grupo Abril, em agosto de 2018.

A partir dessa denúncia, o departamento jurídico do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo protocolou, na quinta-feira (7), na 2ª Vara de falências e recuperações judiciais de São Paulo, um pedido para que o juiz responsável peça ao Ministério Público de São Paulo investigação sobre a conduta dos empresários por possível prática criminosa.

Raphael Maia, advogado do SJSP, explica que a omissão desse patrimônio impactou diretamente todo o processo de recuperação judicial, lesando sobretudo os trabalhadores da empresa.

“A lei de recuperação judicial é extremamente benéfica para o empresariado, e para se utilizar desse mecanismo os empresários deveriam agir com total transparência, para que os trabalhadores pudessem ao menos saber a real situação financeira do grupo”, salienta.

O advogado reforça que o rumo do processo poderia ter sido outro caso as empresas tivessem sido declaradas.

“Em vez de recuperação judicial, poderia ser aberto processo de falência da empresa, com extensão aos bens das pessoas físicas. Ao omitir isso, eles impediram que os credores fizessem investigação desde o início do processo”, conclui.

Caso pensado

As recentes revelações sobre a omissão das offshores dos irmãos Civita podem caracterizar uma premeditação sobre todo o processo de recuperação e venda do grupo Abril, de modo que os herdeiros do grupo, de maneira coordenada, puderam minimizar suas perdas, prejudicando diretamente seus credores e, sobretudo, os trabalhadores da própria empresa.

O grupo Abril pediu recuperação judicial em agosto de 2018, o que impediu a execução de uma dívida de um bilhão e seiscentos milhões de reais. Para o diretor do sindicato dos jornalistas e trabalhador do grupo Abril Paulo Zocchi, a movimentação feita ao longo dos anos pode caracterizar um planejamento prévio.

Cinco anos antes da recuperação judicial, em 2013, a Abril Educação, parte do grupo Abril, foi vendida por um bilhão e trezentos milhões de reais.

Foi nesse mesmo período que os irmãos Civita abriram as empresas no paraíso fiscal, segundo os dados revelados. Ao que tudo indica, boa parte dos valores recebidos nessa transação foi utilizada para a abertura das offshores.

“Os irmãos Civita destruíram uma empresa enorme, com toda uma cadeia produtiva de apuração de informação, de edição, de impressão e de distribuição para simplesmente transformar isso em dinheiro, em suas contas bancárias e em fundos de investimentos. E usando para isso as offshores, para poder assegurar o patrimônio da família em detrimento de uma empresa enorme e do emprego de milhares de trabalhadores”, afirma Zocchi.

A empresa contava com veículos nas mais diversas áreas da comunicação, com mais de 50 títulos no mercado editorial, além de comandar parte substancial da cadeia produtiva da circulação e distribuição desses produtos.

Com a abertura da recuperação judicial e a venda dos ativos da empresa, milhares de famílias de trabalhadores foram prejudicadas com a perda de empregos e o calote no pagamento das multas rescisórias.

Compromisso

A omissão do patrimônio e, ao que tudo indica, o planejamento sistemático do “calote” aos seus credores, com a consequente destruição da empresa, é um exemplo eloquente da falta de compromisso das empresas de comunicação com o direito constitucional à informação.

“Isso mostra que quem defende o jornalismo são os jornalistas e não os empresários da comunicação. A Constituição Federal diz que o direito à informação é assegurado pelo jornalismo, e quem está vinculado com essa defesa são os jornalistas. Os empresários só têm compromisso com seus interesses econômicos”, afirma Zocchi.

Maia salienta o sacrifício que os trabalhadores da empresa tiveram que fazer para receber parte de seus direitos.

“Para poder receber os seus direitos incontroversos, parte dos trabalhadores teve que renunciar à multa por atraso salarial. Teve que renunciar à possibilidade de abrir novos processos. Isso com a condição de dividir a rescisão, aceitando 70% do que lhes era devido, quase dez meses depois, para só depois receber o restante. Aqueles que não aceitaram [o acordo] tiveram que esperar mais de um ano para receber. As pessoas já estavam desesperadas. Quase 90% dos trabalhadores tiveram que aceitar as condições para receber”, aponta Maia.

O plano ainda determinava um teto de 350 mil reais de indenização, o que prejudicou gravemente os trabalhadores que porventura tinham valores maiores que esse teto para receber.

Jornalistas freelancers foram obrigados a aceitar receber seus direitos por meio de créditos quirografários.

Um calote que atingiu milhares de famílias e preservou o patrimônio bilionário dos herdeiros do grupo Abril.

Justiça

Com o pedido de investigação protocolado pelo SJSP, o que se espera é que a família Civita efetivamente pague pelo prejuízo e pelo calote orquestrado ao longo dos anos contra os trabalhadores do grupo Abril.

“O Sindicato dos Jornalistas não aceita que os trabalhadores percam os seus direitos, percam o que conseguiram de maneira legítima e com muito trabalho, em prol de uma família que usa trapaças para ficar com o dinheiro que não lhes pertence”, declara Zocchi.


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Comentários

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Christian Fernandes

Quem bate cartão não defende patrão MAS…

Quando o PHA morreu, o que não faltou foi “colega” desancando o falecido.

Inveja? Desídia? Vingança?

Nããããão, tudo VOZ DO PATRÃO atacando quem já não podia se defender.

Entre outras coisas porque o PHA antecipou, apontou e esmiuçou a falência a Abril (e da Grôbo) desde quando começaram o “jornalismo” de guerra.

Em vez de surfar a onda de otimismo & consumismo da era Lula (sejamos francos, cultura não é o forte dessas duas) e a expansão da Internet, apostaram suas fichas na derrubada do petê para… para… para quê, mesmo?

Deu no que deu.

Por pior que fossem (e eram ruins mesmo) Victor Civita e Romberto Marinho construíram – durante décadas – cada qual seu império de comunicação.

Aí os FILHOTES destruíram TUDO, em poucos anos: Abril falência fraudulenta e Grôbo anacronismo auto referencial – “vai morrer gorda”.

P.s.: Caso Lula tivesse sido eleito em 1989 ou Brizola em 1984/85 – resultado bem provável das Diretas Já – os ~patriarcas~ teriam embarcado com tudo na desestabilização dos governos trabalhistas. Talvez tivessem sucesso, talvez não fossem à breca… tudo uma questão de CLASSE.

abelardo

BURGUESIA
(George Israel / Cazuza / Ezequiel Neves)

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia…

Rômulo Diaz

Grande novidade.
O sindicato suspeit@…
Para que sindicato, né !
É só negociar um teti a teti com os civitta ou com o homem do baú diretamente.
O cara bom de lábia consegue até dobrar o labioso Silvio Santos.
Como tem gente tola nesse mundo.
E agora faz o que ?

Zé Maria

Bem típico de Empresário Falcatrua:

Esvazia os Cofres da Empresa, manda
o Dinheiro para o Exterior, depositado
em algum refúgio sem pagar imposto,
e vende a marca por R$ 100 (cem) mil
para um dos amiguinhos do Guedes.

Foi precisamente isso que a FamiGlia
Civita fez em 2018.

Em 2018, diante do pedido de Recuperação Judicial,
a FamíGlia Civita, então Controladora do Grupo Abril,
contratou a Consultoria [dos EUA] “Alvarez & Marsal”,
Empresa Especializada em Administração Judicial
de Empresas Endividadas, que por sinal empregou
Sergio Moro – Parcial/Suspeito – depois que o ex-juiz
saiu do Ministério do (des)Governo Bolsonaro/Guedes.

Coincidentemente [sqn], a Empresa Alvarez & Marsal
faz a Administração Judicial das Empreiteiras OAS e
Odebrecht: (https://www.alvarezandmarsal.com/pt-br/ajbrasil).

https://istoe.com.br/grupo-abril-e-vendido-e-da-calote-bilionario-em-bancos-e-funcionarios

https://veja.abril.com.br/brasil/como-fica-o-grupo-abril-apos-o-pedido-de-recuperacao-judicial

E após a Aquisição do Grupo Abril pela Legions Holdings,
de Fábio Carvalho (abiguinho do Guedes) pelo valor
simbólico de Cem Mil Reais (R$ 100 Mil) a Administração
Judicial permaneceu sob o comando da Alvarez&Marsal,
Patroa do ex-juiz Moro (Parcial/Suspeito) nos EUA.

Depois de um ano, em Agosto de 2019, os Credores da
Empresa aprovaram o Plano de Recuperação Judicial
do Grupo Abril.

“Do Plano constou a venda da Revista Exame e de
imóveis para pagar os credores de menor porte,
de até R$ 10 mil.
Já as pessoas físicas e jurídicas que têm créditos de
mais de R$ 100 mil a receber tiveram de aceitar um
desconto superior a 90% das dívidas.” (Estadão)
https://www.seudinheiro.com/2019/empresas/depois-de-um-ano-credores-aprovam-plano-de-recuperacao-judicial-da-abril

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2019/02/20/bradesco-itau-e-santander-aprovam-venda-de-divida-da-abril.ghtml
https://veja.abril.com.br/economia/ideia-que-afastou-guedes-do-pactual-nos-1990-levou-btg-a-comprar-empiricus/

    Zé Maria

    Rememorando

    20/12/2018
    Istoé

    “Grupo Abril é Vendido e Dá Calote Bilionário em Funcionários e Bancos”

    Vivendo uma crise que forçou a empresa a pedir recuperação judicial,
    fechar quase todos seus títulos e mudar o local de suas redações,
    a Editora Abril agora tem novo dono.

    Pela bagatela de R$ 100 mil, o empresário Fábio Carvalho [amiguinho
    do Guedes) comprou a empresa, assumindo também os R$ 1,6 bilhão
    de dívidas que forçaram a editora a entrar com o pedido de recuperação.

    O executivo é conhecido por ser especialista em aquisição de empresas
    em crise e controla a Leader Magazine, rede varejista do Rio de Janeiro
    que atua em oito estados do sudeste e nordeste.

    De acordo com o Valor Econômico, ele assume as operações com respaldo
    do banco BTG Pactual que, através de sua empresa de recuperação Enforce,
    negocia com bancos credores do grupos, como Itaú, Santander e Bradesco.
    Esses bancos também precisam aprovar a venda das ações, pois títulos da
    editora, como Veja e Exame, foram dados como garantia.

    O BTG Pactual, no entanto, não tem a intenção de assumir parte editorial
    da Abril em um modelo similar ao da XP Investimentos com a Infomoney.

    As empresas em que Fabio Carvalho possui participação têm faturamento
    anual maior que R$ 4 bilhões.
    Ele assume uma empresa que deve para cerca de 3.000 funcionários e
    diversos fornecedores.

    Do total da dívida, estimada em R$ 1,6 bilhão, cerca de 75% do valor é para
    bancos.

    O atual ponto da dívida é o ápice de um processo de endividamento
    que começou no final dos anos 1990.

    O valor de compra de R$ 100 mil é quase simbólico.

    Carvalho venceu uma outra oferta concorrente, coordenada pela
    Guilder Capital, do executivo João Consiglio, e que contava com
    ajuda da BRZ Investimentos, segundo o Valor Econômico.

    O acordo entre Carvalho e a família Civita – que fundou a editora em 1950
    com Victor Civita – prevê a aquisição de 100% das ações do grupo, porém
    a transação deve ser aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de
    Defesa Econômica), o que deve demorar cerca de 45 dias.

    Inicialmente a venda não irá alterar os termos da proposta de quitação,
    que propõe calote de até 92% da dívida e prazo de 18 anos para pagar [SIC]
    seus credores apresentada a Vara de Falências e Recuperação Judicial
    de São Paulo.

    Desde julho, o grupo está sendo gerido pela consultoria “Alvarez & Marsal” [SIC].

    Se o acordo for aprovado, a nova equipe nomeada por Fábio Carvalho [abiguinho
    do Guedes] se juntará aos executivos da Abril e da “Alvarez & Marsal” para uma
    transição.”

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