Quem é Luis Arce, que derrotou o fascismo na Bolívia de lavada

Tempo de leitura: 3 min
Reprodução

Outubro histórico na América Latina: a pobreza boliviana, resgatada como protagonista do país por uma década de governos socialistas de um índio aymará, resiste durante um ano ao golpe e massacres da elite branca, exige eleições e devolve o poder ao MAS: Arce 52,4%, Mesa 31,5%. Carta Maior, no twitter

Quem é Luis Arce, favorito para as eleições presidenciais na Bolívia?

Candidato presidencial do Movimento ao Socialismo foi ministro durante o melhor período econômico da história do país

Michele de Mello, Brasil de Fato | Caracas (Venezuela)

Neste domingo (18), cerca de 7,3 milhões de bolivianos estão convocados a eleger um novo presidente para o país.

Segundo as últimas pesquisas de opinião, o candidato a presidente Luis Arce e seu vice, David Choquehuanca, do Movimento Ao Socialismo (MAS), são favoritos com 42,2% das intenções de voto.

Na sequência, está o ex-presidente Carlos Mesa, quem concorre pelo partido de direita Comunidade Cidadã, e possui 33,1% da preferência.

As eleições presidenciais acontecem um ano após o golpe de Estado que levou à renúncia do ex-presidente Evo Morales Ayma e seu vice, Alvaro García Linera.

As previsões apontam um resultado similar ao do pleito de outubro de 2019, com o MAS podendo vencer ainda no primeiro turno, já que a legislação boliviana dá vitória a quem acumular 50% + 1 ou 40% dos votos e uma diferença de 10 pontos percentuais do segundo colocado.

Na última quarta-feira (14), os partidos realizaram seus atos de encerramento de campanha. Arce e Choquehuanca foram recebidos por uma multidão em Sacaba, estado de Cochabamba, zona cocaleira e historicamente composta por apoiadores do MAS. O local também foi cenário de um massacre, com 11 mortos e 120 feridos, em 15 de novembro de 2019, quando protestavam contra o golpe.

A atuação do candidato do MAS durante o último governo ajuda a entender sua popularidade.

Luis Alberto Arce Catacora é economista, graduado pela Universidade Mayor de San Andrés e foi ministro de Economia durante 13 anos. Responsável pelas políticas do período chamado de “milagre econômico”, quando a Bolívia foi o país que mais cresceu na América Latina durante quatro anos consecutivos.

Em 2018, o país sul-americano registrou um aumento de 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB), batendo um recorde de US$ 40,8 bilhões, enquanto a média de crescimento mundial foi de 3,2% e regional 1,7%, segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal).

Natural de La Paz, antes de ser ministro, Arce trabalhou entre 1987 e 2006 no Banco Central da Bolívia.

Entre 2017 e 2019, esteve licenciado por 18 meses do cargo, devido a um tratamento de câncer no rim, que realizou no Brasil.

Logo no início da sua gestão, impulsionou a nacionalização do setor energético, incluindo a gigante Yacimientos Petrolíferos Fiscais da Bolivianos (YPFB), triplicando os ingressos do Estado, com impostos a empresas privadas de 50% a 85% sobre a exploração de reservas de gás, o que contribuiu para manter uma média de crescimento anual de 5% durante toda a década seguinte.

Dessa forma, em uma década, o país aumentou suas reservas de US$ 700 milhões para US$ 20 bilhões.

Com o excedente gerado pelo setor energético, mineiro e agrícola, a gestão do MAS investiu na construção de rodovias, transporte público, geração de empregos e programas sociais para diminuir a desigualdade social do país, que, de acordo com a ONU, é de 11,7%.

A proposta do ex-ministro era diversificar a base da economia boliviana, estimulando o desenvolvimento do turismo, da agricultura e da indústria, e implementando um modelo que qualificava de “redistribuidor”.

O Modelo Econômico Social, Comunitário e Produtivo foi fruto de estudos iniciados ainda em 1999 por Luis Arce e um grupo de acadêmicos e intelectuais ex-militantes do Partido Socialista (PS-1), com os quais trabalhou como professor universitário. À época, questionavam por que um país rico em recursos naturais poderia ser um dos mais pobres da região.

Entre os nomes mais destacados do grupo, estão o ex-vice presidente Álvaro García Linera e Carlos Villegas, que ajudou a escrever o programa político do primeiro governo de Morales.

Nessa proposta preveem “criar as bases para transitar a um novo modo de produção socialista”, destinando anualmente uma média de US$ 7 bilhões às áreas sociais.

Dessa forma, o índice de extrema pobreza do país passou de 38,2%, em 2005, para 17,2%, em 2018. Enquanto a taxa de desemprego se posicionou em 4,2% – um mínimo histórico.

Luis Arce e David Choquehuanca depois de receber o bastão de mando do Conselho Nacional das etnias Aylls e Markas del Qullasuyu, como sinal de apoio, na última terça-feira (13) / Reprodução

Um vice Aymara

Já o companheiro de chapa de Arce, David Choquehuanca, também tem uma trajetória reconhecida pelo povo boliviano. Ministro de Relações Exteriores entre 2006 e 2017, Choquehuanca é de origem Aymara, etnia que representa 19% da população boliviana.

Nascido em Cota Cota Baja, estado de La Paz, foi dirigente da Confederação Única de Camponeses da Bolívia e do Movimento Camponês Indígena. No último período exerceu como secretário geral da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos (Alba-TCP).

Edição: Vivian Fernandes


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Tulio Muniz

Esse tal de “socialismo” é mesmo um perigo:
“O índice de extrema pobreza do país passou de 38,2%, em 2005, para 17,2%, em 2018. Enquanto a taxa de desemprego se posicionou em 4,2% – um mínimo histórico”.

marcio gaúcho

Diante do resultado das eleições bolivianas, imagino o alvoroço que está acontecendo no bunker de planejamento das nossa Forças Armadas, que deverão incluir a Bolívia para invadir, em operação conjunta com a invasão da Venezuela, com o apoio dos republicanos e democratas (ambos são de direita) americanos. Pobre América Latina, sempre à mercê dos delírios da raça branca/europeia, em detrimento da vontade dos povos ancestrais.

Darcy Brasil

Quem derrotou o fascismo não foi Arce sozinho, mas as massas populares sistematicamente organizadas e mobilizadas permanentente pelo MAS. Essa é a grande diferença de método e de concepção politica dos partidos que protoganizam transformações na Venezuela e na Bolívia em relação ao PT. A força do MAS , na Bolivia, ou do PSUV, na Venezuala, em conjunto com os seus aliados, residiu e reside na clareza de que um golpe contrarevolucionário sempre constituía uma possibilidade, somente sendo possível derrotá-lo com a luta das massas. O PT se transformou num partido da ordem, institucional, pleno de cretinos parlamentares, que proferem, de quando em quando, discursos inflamados das tribunas dos parlamentos da democracia burguesa, para supostamente prestar contas aos seus eleitores, que antes eram vistos como companheiros de luta (de fato ou em potencial), esquecidos dos tempos em que botavam o pé na lama para ajudar os trabalhadores e o povo a lutar por seus direitos.

Deixe seu comentário

Leia também