Patrícia Cardozo: Em quarentena, italianos descobrem na música um jeito de se manterem unidos; vídeos 

Tempo de leitura: 2 min

por Patrícia Cardozo*, especial para o Viomundo

O dramaturgo, romancista e poeta alemão Bertold Brecht (1898-1956) escreveu:“Todas as artes contribuem para a maior de todas artes, a arte de viver”.

A opinião dele está cada vez mais atual.

Em tempos de pandemia o que seria da saúde da alma não fossem os pequenos grandes movimentos?

A cantoria italiana nos balcões foi uma catarse. Os vídeos viralizaram.

Em cada andar de vários prédios romanos, cidadãos munidos de sanfonas, tambores, pandeiros e voz.

Os moradores, em reclusão social, acharam uma maneira de permanecerem unidos.

O coro que reverberou pela cidade vazia foi para muitos uma inspiração e um convite: o que podemos fazer individual e coletivamente?

Foi também nas sacadas dos prédios que os espanhóis encontraram uma forma para agradecer aos médicos e enfermeiros pelo trabalho exaustivo no combate ao coronavírus.

Em horário marcado, através das redes sociais, rendem salvas de palmas a esses profissionais.

As janelas viraram palco. Há quem reclame, quem declame, quem dance na varanda.

Há quem cole um poema no terraço, um desenho, uma frase.

Uma rede de solidariedade está se consolidando através da criatividade.

Dicas de leitura, de como entreter as crianças e de como se proteger.

O lúdico encontrou espaço em meio a tragédia. E, se por um lado, nos sentimos unidos e representados por essa forma de expressão, por outro, não temos como deixar de sentir que a arte vem perdendo a cada dia perdendo fôlego no nosso País.

Os livros, os filmes e a música têm sido para muitos os únicos companheiros de reclusão.

A importância de cada artista que se faz presente nessa ausência deveria ser o mote para investimentos massivos nos teatros, nas companhias de ballet, na formação de autores, escritores, roteiristas, pintores…

Enfim, em todos os momentos de crise as artes auxiliam o homem a suportar as suas próprias dores. E deleites também.

É óbvio que a ciência e a pesquisa como um todo não podem prescindir desse capital.

Em alguns casos são mesmo prioridade. Mas o “mercado” muitas vezes não reconhece e até desqualifica muitas das iniciativas nesse sentido.

Mas está, aí, o cidadão em quarentena repensando e se descobrindo em novos movimentos e parcerias.

Os coletivos estão se fortalecendo, os saraus insistindo em firmar espaço, as bibliotecas móveis levando a literatura para os cantinhos mais remotos, apesar da crise no mercado livreiro.

Esse movimento insistente em resistir, em abrir janelas e se expressar é o lado saudável que o capitalismo, por mais que teime, não consegue adoecer.

A quarentena está aí para comprovar que a arte também é capaz de se espalhar e sobreviver.

Nesses duros momentos o simples gesto de abrir uma cortina e tentar assobiar pode ser vital, pois como escreveu o poeta Thiago de Mello: “faz escuro, mas eu canto porque a amanhã já vai chegar”.

*Patrícia Cardozo é escritora, jornalista e proprietária da Hortelã Brinquedos Educativos, em São Paulo.

PS do Viomundo: Ao se perguntar o que cada um pode fazer nesse momento, Patrícia criou o vídeo Água e Sabão (assista abaixo)  em parceira com o produtor cultural Fernando Cea e a artista plástica Ronie Prado. Nele, ensinam as crianças a lavar corretamente as mãos, de forma lúdica.

Ela deixa aqui a simples pergunta: O que cada um de nós, nesse momento, pode fazer para contribuir para amenizar os efeitos da pandemia?


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Comentários

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Rubens

A arte é vital para nossas vidas e não poderia ficar longe de nós nesse momento.
Parabéns à autora por manter essa chama acesa e pela bela iniciativa do vídeo.

João Faria

Excelente! ???

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