O 1789 do mundo árabe (e a gafe do Jornal Nacional)

Tempo de leitura: 5 min

1789-2011?

22/2/2011, Robert Darnton [1], New York Review of Books, Blog

Do pessoal da Vila Vudu que faz, sem qualquer dúvida, a melhor cobertura do Oriente Médio de toda a mídia brasileira

O problema atormentou todos os artigos e todas as matérias de televisão sobre Egito, Tunísia e outros países da Região, cujas massas revoltaram-se: o que é uma revolução?

Nos anos 1970s, essa era pergunta sempre repetida nos cursos sobre revoluções comparadas. Agora, passando os olhos em minhas velhas notas de aula, não posso deixar de sentir um percurso: Inglaterra, 1640; França, 1789; Rússia, 1917… e Egito, 2011?

Não me atrevo a falar do futuro dos eventos em curso no Egito ao longo das três semanas passadas, mas acho justo perguntar se as informações que chegam agora a cada segundo, por todos os meios de comunicação, do Twitter às televisões, teriam alguma relação com os modelos clássicos de revolução. Ou se o Egito não nos estará ensinando a esquecer aqueles modelos e abrir os olhos para um outro tipo de levante jamais imaginado, nas muitas variedades de nossa velha ciência política?

Do ponto de vista dos anos 1970s, a França produziu a mãe de todas as revoluções nos anos 1780s; e assistimos a todas as fases prototípicas da experiência francesa: o colapso da velha ordem; um período de reconstituição constitucional; a radicalização, o terror, a reação e uma ditadura militar. Se os eventos no Egito descrevem-se por esse padrão, mal chegaram à fase um, e têm muito chão pela frente.

Mas por que teriam de ser descritos por esse modelo? Talvez, como diziam alguns historiadores, o modelo manifeste uma dialética mais profunda, que se pode detectar em todos os grandes levantes. Outros contra-argumentavam, citando elementos que só se viam em cada determinado levante, como liderança incompetente, falta de capacidade para antecipar consequências e a mais pura contingência. Os elementos da contingência com certeza pesaram muito em 1789. Se Luis XVI tivesse feito concessões a tempo, aos revolucionários, ou se os tivesse reprimido com decisão, as coisas talvez tivessem tomado outro rumo. Nesse sentido, sim, talvez se possa dizer que houve algo de Luis XVI em Mubarak.

E quanto a outros princípios da ciência política que tanto se evocavam? A “curva J”, por exemplo [ver, sobre isso, http://pt.wikipedia.org/wiki/Curva_J], que descreveria uma reação coletiva a melhoria de curto prazo na economia, depois de um período de estagnação? Ou a “revolução das expectativas crescentes”, na qual reformas super racionadas deflagrariam esperanças irrealizáveis? O caráter supercentralizado da administração do Estado, que levaria à atrofia da vida civil fora do centro e tornava vulnerável a capital? O nível de frustração da burguesia, os “intelectuais alienados”, a elite dividida, as reformas mal projetadas e, claro, o preço do pão?

Dito francamente, minhas velhas anotações de estudos e conferências pouco me ajudaram a entender as notícias do dia. Tentei ainda ajudar a encaminhar meus alunos na direção certa, insistindo que Maria Antonieta jamais disse “Então, que comam brioches”. Mas uma repórter da praça Tahrir citou frase que ouviu de um dos revolucionários: “Quero meu frango frito do Kentucky!” Foi o que bastou para gerar rumores, plantados pelos mubarakistas, de que as manifestações estariam sendo manipuladas por potências estrangeiras, que subornavam manifestantes para que permanecessem na praça. Fato é que aquele dito também mostrava que os manifestantes não haviam perdido o senso de humor. Revolução com um toque de riso? Robespierre algum dia riu?

Por cinco dias, no auge da revolução do Egito, o velho regime lutou para salvar-se, bloqueando completamente o acesso à internet. Os revolucionários reagiram, fazendo correr mensagens de boca a boca, pelas redes humanas. Quanto a isso, acho que não houve novidade em relação ao que se viu em Paris em 1789, quando as redes de comunicação oral foram crucialmente importantes. Assim como a tomada da Bastilha começou, dia 12 de julho de 1789, quando Camille Desmoulins subiu numa mesa, posta no jardim do Palais-Royal, e gritou que a multidão avançasse para o Hôtel des Invalides, assim os manifestantes no Cairo avançaram para a praça Tahrir e a ocuparam, convocando grupos para reuniões em pontos centrais da cidade, dos quais partiram em marcha, em massa.

Chamaram-me especialmente a atenção, ao meu olho estrangeiro, as cenas em que se viam muitos telefones e câmeras digitais: as pessoas filmavam ao mesmo tempo em que tentavam escapar da pancadaria dos mercenários montados em dromedários pró-Mubarak. Militantes habituados ao ativismo de internet marcavam o ritmo das manifestações, usando os mais atualizados instrumentos de comunicação. Nada conteve o avanço do movimento desde o primeiro protesto, dia 25 de janeiro, quando Wael Ghonim, 30 anos, executivo da Google, mostrou o rosto horrivelmente mutilado de Khaled Said, vítima da brutalidade policial, na página Facebook que criara: “Todos Somos Khaled Said” [orig. “We Are All Khaled Said” [2]].

Do Facebook às emoções viscerais por YouTube, a mensagem viajou pelo mundo. E então, logo depois do início das manifestações, Ghonim desapareceu. Dia 27 de janeiro, enviou mensagem preocupada, pelo Twitter (“Rezo pelo #Egypt. Preocupado. Governo planeja crime de guerra contra o povo. Estamos prontos para morrer #jan25” [em http://twitter.com/ghonim/status/30748650980249600 , aqui traduzido].

Depois, desapareceu. Passou 12 dias de olhos vendados, no que deve ter sido uma câmara de tortura. Quando foi libertado, viu-se repentinamente à luz do dia, sendo entrevistado pela única rede independente de televisão que havia no Egito. Quando lhe disseram que havia centenas de pessoas espancadas até a morte nas ruas, Ghonim desmoronou, e afastou-se das câmeras chorando convulsivamente.

[Se você é leitor do Viomundo, soube disso imediatamente — clique aqui –, quando Mubarak ainda se mantinha no poder]

O gesto e o pranto, imediatamente disseminados por YouTube e Twitter, galvanizaram o Egito. O pranto de Ghonin, visivelmente sincero, não encenado, deu novo ânimo aos protestos, em momento em que começavam a amainar. Nunca, antes, alguém conseguira tão rapidamente e tão vigorosamente, furar a muralha eletrônica que separava os egípcios e qualquer informação confiável. Foi cena high-tech de alta autenticidade, um grito do coração que penetrou até o fundo e agitou o puro artifício de nossa “era da informação”.

No século 18, usava-se a expressão “emoções populares”, para falar de agitações de rua e levantes. E outra, “ruídos públicos”, para designar ideias que circulavam pelas redes sociais, de boca em boca.  Relendo anotações amareladas daquelas aulas, não vejo modelo antigo, que os egípcios tenham usado. Mas os tuiteiros na praça Tahrir carregam ecos do passado mais distante, e meu coração segue com eles.

[1] Para saber quem é, se não souber, clique http://history.fas.harvard.edu/people/faculty/documents/darnton-cv.pdf. É autor de um dos livros mais interessantes que jamais chegou às nossas mãos e lemos, cá na Vila Vudu, em todos os tempos: O Iluminismo como negócio. História da publicação da Enciclopédia, na Europa. Sobre o livro, ver http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=10649. É autor, também, de outro estudo totalmente sensacional: Poetry and the Police: Communication Networks in Eighteenth-Century Paris, 2010, sem tradução no Brasil. Além de vários outros estudos históricos, também totalmente sensacionais, dentre os quais, por exemplo O Grande Massacre De Gatos e Outros Episódios da Historia Cultural Francesa (1988). É historiador, especialista em história da França no século 18 (NTs, que pode ser muito melhorada).

[2] Ocorreu-nos, nas conversas para essa tradução, que André Malraux, dia 19/12/1964, quando da transferência para o Panthéon, das cinzas (pressupostas, porque o cadáver não foi jamais identificado com certeza absoluta) de Jean Moulin, herói da resistência francesa morto sob tortura, pronunciou um famosíssimo discurso, conhecido como “Le visage de la France”. No discurso, Malreaux disse: “Juventude, pensa nesse homem como se acariciasses o seu pobre rosto destroçado do último dia. Naquele dia, aquele era o rosto da França (…)”. “Todos Somos Khaled Said”, com imagens do rosto de um morto torturado, se não é, bem poderia ser um eco histórico revolucionário de “Aquele é o rosto da França”, de Malraux (NTs).

Enquanto isso, no Jornal Nacional (dica da Verônica Callado, a partir do Eduardo Martinez, no Facebook):


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Comentários

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Sheila Canevacci

O que os jovens árabes de todas as idades estão fazendo é LINDO.
Estou em Beirute e é um privilégio acompanhar isso de perto.
É diferente da Europa, ainda bem. E não cabe comparar.

E, mais uma vez, atravessa o Facebook, a cultura digital e sua horizontalização de poder e de comunicação.
Eu acho que o que aconteceu comigo na eleição à partir da minha postagem, também no Facebook, sobre um duplo discurso na campanha do Serra é uma vírgula, se comparado ao que está acontecendo aqui.

A minha ação também foi repercutida aqui, já que, por coincidência, trabalho muito no Líbano. Lugar onde respeitam e pagam os artistas!

A beleza é que os árabes querem viver ser direitos ALÉM da religião, todo o contrário proposto pela campanha sórdida, café com leite e Odorico Paraguaçu do Serra. Não existe "jornal nacional" que mereça ser citado. A nação caiu… e qualquer jornal "nacional" é analógico. Why bother….

VIVA O NOVO MUNDO ÁRABE.
E VIVA O FACEBOOK!

Luiz Moreira

Pessoal!
A historia de 5 seculos se repete e agora pode levar para um enfrentamento onde o capitalismo pode perder muito. Publiquem VOZES da AFRICA, em todas as línguas (principalmente aquelas faladas na Africa).
Por isto acontece um ataque de "SOLIDARIEDADE". No Vietname tambem foram solidários com NAPALM e propuseram o uso de armas nucleares. Só que agora os poços de petróleo abastecem os riquinhos da EUROPA e América. Se explodir eles, que se rala são os grandes. Os pobres continuam de camelo.

O 1789 do mundo árabe (e a gafe do Jornal Nacional) « Tony, O Conselheiro

[…] Clique aqui para ir à notícia no Vi o Mundo. […]

O 1789 do mundo árabe (e a gafe do Jornal Nacional) « Ficção e Não Ficção

[…] Vi O Mundo, através do Blog Vila Vudu, texto de Robert Darnton. […]

Paulo

Olá Azenha. Envio um texto com uma visão sobre a Líbia diferente da que a mídia vem nos impondo.
Abraços.
http://iranpas.blogspot.com/2011/02/querem-tirar-

    Narcélio Junior

    Deixa de fazer papel de "idiota útil" rapaz… Ficar reproduzindo as sandices desvairadas de Fidel, sem um pingo de reflexão crítica. O imperialismo não quer "tirar o petróleo da Líbia", pois ele já faz isso há 10 anos, com as bençãos de Kadafi. As grandes multinacionais petroleiras já fazem grandes negócios na Líbia, não precisam depor Kadafi, o ditador amigo do imperialismo. Aprende a pensar com tua própria cabeça, ao invés de repetir feito papagaio o que manda o "Comandante".

Alvaro

O que considero mais estranho na cobertura jornalística desta onda "revolucionária" no mundo árabe é: movimentos de massa sem qualquer liderança política? Qual a razão dos "analistas" não identificarem as tendências/facções dos movimentos?
Outro ponto: o senso comum, reafiarmado pelos jornalistas e "especialistas", identifica islã a regimes autoritários. E agora? Sugirá outro modelo? O islamismo já é a maior religião monoteísta não somente por sua mensagem sobre o além-vida, mas principalmente por não tolerar a desigualdade social extrema, sem falar do combate a toda forma de racismo. Será a vez do islamismo radical-democrático?

Andre

"Chávez expressa apoio ao governo da Líbia"
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI…

Ainda faltam Lula e Armadinejad, seus amigos, defensores e parceiros, prestarem solidariedade.

    Leider_Lincoln

    Pior: o Obama, o Sarkozy, o Berlusconi estão apoiando-o há tanto tempo, não pé mesmo? Por que não seguir o exemplo destes amáveis defensores da democracia, não é mesmo? Aliás, sinto sua falta no Luís Nassif, Andre… O que ouve, lá sua estratégia de deturpar as palavras dos outros não está surtindo mais efeito? Por que você sabe que o Fidel não defendeu o Kadafi, apenas disse que a OTANA e os EUA estão querendo aproveitar a pré-revolução para colocar um governo títere e finalmente tomarem a Líbia para si?
    E negócios são negócios, não é mesmo? Que o diga o mais preparado dos brasileiros, aqui: http://blogln.ning.com/profiles/blogs/serra-sempr
    Ah, e seja bem vindo!

    Andre

    Não frequento esse blog do Nassif, nao me confunda.

    Ninguem apóia kadafi a troco de nada.

    Até onde eu sei, Reagan despejou uma chuva de bombas na casa dele nos anos 80, nao?

    Mas voce nao comentou a solidariedade do chavez ao ditador.

    Voce nao comentou que em 2006 Lula vendeu blindados ao Kadafi para massacrar a população, comentou?

    Negocios sao negócios né?

    Enquanto os americanos e todos os outros querem petróleo, o lula vendia carros blindados para o desespero de milhares de líbios.

    Negocios sao negócios né?

    Em 2009, Lula se dirigiu a Kadafi como “amigo e irmão”.

    Negocios sao negócios né?

    Kadafi, terrorista internacional (alguém aí se lembra dos cadáveres da Panan?). Amigo do PT, de Celso Amorim e do Lula”

    Negocios sao negócios né?

    A verdade é só uma:

    Se Lula ainda fosse presidente, ofereceria asilo político ao Mubarak, Kadafi pois são todos seus amigos. Os receberia como chefes de estado. E ainda chamaria a população do Egito e da Líbia de baderneiros.

    Assim como fez em cuba, em que um ativista morreu de fome e o Lula disse que a culpa era dele mesmo.

    Fernando-Osasco

    André,

    Vc so esqueceu de citar que o Serra recebeu o braço direito do Ditador Libio com pompas de chefe de estado, ha esqueceu tb da Princesa da Jordania outra ditadura absolutista da região, que desfilou com esposa do ex governador em obras de "caridade" em Sum Paulo

    Pedro Soto

    Aliás, André, você já reparou que o único país muçulmano do Oriente Médio que não teve rebelião até agora foi o Iraque? Sabe porque, André? Porque aquilo sim é que é uma bela duma ditadura. Morrem cem mil pessoas por ano em consequência da magnânima intervenção dos teus heróis americanos e não se ouve um só grito nas ruas. E sabe mais porque, André? Porque lá os assassinatos e as torturas são administrados por esses criminosos terceirizados da Halliburton, que ali estão para roubar o povo iraquiano. São os canalhas neoliberais, saqueadores do petróleo do Iraque, André. Você sabia?
    Certamente é isso que a direitalha internacional deseja agora para a Líbia e demais países da região.

    Pedro1

    Resumindo a fala do André:

    Blá, blá, blá.

Pedro

Por pouco não se chegou à conclusão que não houve revolução na França em 1789.

Luisk

Erros desse tipo são perdoáveis. Imperdoável é tratamento condescendente do JN com Mubarack no inicio da crise no Egito. Um coitado de um assistente deve ter sido demitido pela gafe. Mas o Bonner, depois que o Ghadafi ficou sócio de várias empresas americanas e de ter sido poupado pelas eras Bush, esqueceu do facínora líbio e de seu co-irmão no Egito. Só depois que a Hilary e o Obama deram a senha que a Globo resolveu engrossar.

duarte

Todos comentaristas e sabichões do assunto não colocam o Irâ como bola da vez.. Ué, mas não era o país do fim do mundo? Dona Miriam pig leitão não vivia dizendo que a aproximação com o Irã faria ao Brasil muito mal?
Pois é, ainda vamos continuar assistindo e lendo baboseira?

Edson

Depois existe um alarido desproposital com o Tiririca na Comissão da Educação. Pode ser que este pessoal da Globo tenha ligações com os mapas de 2 Paraguai nas escolas estaduais de São Paulo.

marcos santos

http://www.granma.cu/portugues/reflexoes/24fevere

Reflexões de Fidel
Dança macabra de cinismo

….continuação:

O presidente dos Estados Unidos falou na tarde desta quarta-feira e expressou que a secretária de Estado sairia para a Europa a fim de concordar com seus aliados da OTAN as medidas a tomar. Em seu rosto se percebia a oportunidade de lidar com o senador da extrema-direita republicana John McCain; o senador pró-israelense de Connecticut, Joseph Lieberman e os líderes do Tea Party, para garantir sua candidatura pelo partido democrata.

A mídia do império preparou o terreno para atuar. Não seria estranho a intervenção militar na Líbia, com o qual, também, garantiria a Europa os quase dois milhões de barris diários de petróleo leve, se antes não acontecem sucessos que ponham fim à chefia ou à vida de Gaddafi.

De qualquer forma, o papel de Obama é bastante complicado. Qual será a reação do mundo árabe e muçulmano se o sangue nesse país se derramar em abundância com essa aventura? Será que uma intervenção da OTAN na Líbia vai deter a onda revolucionária desatada no Egito?

No Iraque se derramou o sangue inocente de mais de um milhão de cidadãos árabes, quando o país foi invadido com falsos pretextos. Missão cumprida! —proclamou George W. Bush.

Ninguém no mundo estará jamais de acordo com a morte de civis indefensos na Líbia ou em qualquer outra parte. E me pergunto: Por acaso os Estados Unidos e a OTAN aplicarão esse princípio aos civis indefensos que os aviões sem piloto ianques e os soldados dessa organização matam todos os dias no Afeganistão e no Paquistão?

É uma dança macabra de cinismo.

marcos santos

http://www.granma.cu/portugues/reflexoes/24fevere

Reflexões de Fidel
Dança macabra de cinismo

• A política de saqueio imposta pelos EUA e seus aliados da OTAN no Oriente Médio entrou em crise. Desencadeou-se inevitavelmente com o alto custo dos cereais, cujos efeitos se fazem sentir com mais força nos países árabes, onde apesar de seus enormes recursos petroleiros, a escassez de água, as áreas deserticas e a pobreza generalizada do povo contrastam com os enormes recursos derivados do petréleo que possuem os setores privilegiados.

Enquanto os preços dos alimentos triplicam-se, as fortunas imobiliárias e os tesouros da minoria aristocrática aumentam a trilhões de dólares.

O mundo arábico, de cultura e crença muçulmana, tem sido humilhado adicionalmente pela imposição a sangue e fogo dum Estado que não foi capaz de cumprir as obrigações elementares que lhe deram origem, a partir da ordem colonial existente até finais da Segunda Guerra Mundial, em virtude da qual as potências vitoriosas criaram a ONU e impuseram o comércio e a economia mundiais.

Graças a traição de Mubarak em Camp David o Estado árabe palestino não tem podido existir, apesar dos acordos da ONU de novembro de 1947, e Israel virou forte potência nuclear aliada aos EUA e à OTAN.

O complexo militar industrial dos EUA forneceu dezenas de milhares de milhões de dólares cada ano a Israel e aos próprios estados árabes dominados e humilhados por este.

O gênio saiu da garrafa e a OTAN não sabe como controlá-lo. Vão tentar tirar o maior proveito dos lamentáveis acontecimentos da Líbia. Ninguém seria capaz de saber neste momento o que ali está acontecendo. Todas as cifras e versões, até as mais inacreditáveis, têm sido divulgadas pelo império através dos meios de comunicação, semeando o caos e a desinformação.

É evidente que na Líbia se leva a cabo uma guerra civil. Por que e como se desencadeou a mesma? Quem vão pagar as consequências? A agência Reuters, fazendo-se eco do critério dum conhecido banco do Japão, o Nomura, expressou que o preço do petróleo poderia superar qualquer limite:

“’Se Líbia e Argélia suspendem a produção de petróleo, os preços poderiam superar os US$220 o barril e a capacidade ociosa da OPEP seria reduzida a 2,1 milhões de barris por dia, similar aos níveis atingidos durante a guerra do Golfo, e quando os valores atingiram os US$147 o barril em 2008’, afirmou o banco em uma nota”.

Quem poderiam pagar hoje esse preço? Quais seriam as consequências em meio a uma crise alimentar?

Os líderes principais da OTAN estão exaltados. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, informou a ANSA, “… admitiu num discurso no Kuwait que os países ocidentais erraram em apoiarem governos não-democráticos no mundo árabe”. Deve ser congratulado pela sua franqueza.

Seu colega francês Nicolás Sarkozy declarou: “A prolongada repressão brutal e sangrenta da população civil líbia é repugnante”.

O chanceler italiano Franco Frattini declarou “‘acreditável’ a cifra de mil mortos no Trípoli […] ‘a cifra trágica será um banho de sangue’”.

Hillary Clinton declarou: “… o ‘banho de sangue’ é ‘completamente inaceitável e ‘tem que parar’…”.

Ban Ki-moon expressou: “‘É absolutamente inaceitável o uso da violência que há no país’”.

“… ‘o Conselho de Segurança atuará conforme ao que decida a comunidade internacional’”.

“‘Estamos considerando várias opções’”.

O que Ban Ki-moon espera realmente é que Obama diga a última palavra. …. continua

Alvaro Tadeu Silva

Bonner e Fátima devem ser do tempo da minha avó, católica romana praticante. Dizia ela, referindo-se aos imigrantes do Oriente Próximo (ou Médio, como dizem os jornalões): "quando eles chegam pobres ao Brasil, são turcos. Prosperam um pouquinho, viram sírios. Quando enriquecem, são todos libaneses". As teorias sociais da minha avó são altamente criticáveis, mas parecem ter sido assumidas pelo Casal 45.

Marat

O erro do JN é um erro no estiulo Hommer Simpson.

Charles

Inglaterra, 1640; França, 1789; Rússia, 1917, Egito 2011. … e Brasil?? Quando vamos ter nossa revolução e deixar de nos contentar com migalhas?

tulio muniz

Azenha, me ocorreu, ao ler tua nota 1, que "O Iluminismo como negócio. A História da Enciclopédi
a", de Darton, não só é dos mais interessantes, e bem o afirmastes, como podemos ler nele uma antecipação em três séculos do que viria a ser o conceito "indústria cultural" da Escola de Franckfurt, no XX. Abraços.

Gerson Carneiro

O Gambá Hommer bancando o sabichão ainda deu uma puxada de orea em dona Fatiminha.
Isso foi pra ela aprender a ir estudar sobre o povo arabiano.

    Marat

    Só faltou ele mandá-la ir buscar uma cerveja – rsrsrs

    Gerson Carneiro

    – Fátima Chicó, por que que você errou?
    – Eu num sei. Só se que foi assim.

    Vá buscar outra cerveja! Ahahahaha…

    Carmem Leporace

    O que eles ganham em um mês, você não ganha em 10 anos.

    Gerson Carneiro

    Não tenha tanta certeza disso. Ao que parece você não ganha.
    E há outra diferença entre eu e você: eu não preciso puxar o saco deles.

Sergio José Dias

Egito: A revolta dos trabalhadores ignorada pela mídia ocidental
"A revolução no Egito é uma expressão da vontade do povo, a determinação do povo, o compromisso das pessoas … os muçulmanos e os cristãos têm trabalhado em conjunto nesta revolução, assim como os grupos islâmicos, os partidos seculares, partidos nacionalistas e intelectuais … A verdade é que todos os setores têm participado nesta revolução. jovens, velhos, mulheres, homens, padres, artistas, intelectuais, operários e camponeses "- Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah http://pelenegra.blogspot.com/2011/02/egito-revol

tulio muniz

Azenha, me ocorreu, ao ler tua nota 1, que "O Iluminismo como negócio. A História da Enciclopédida", de Darton, não só é dos mais interessantes, e bem o afirmastes, como podemos ler nele uma antecipação em três séculos do que viria a ser o conceito "indústria cultural" da Escola de Franckfurt, no XX. Abraços.
Túlio Muniz. Fortaleza-CE.
Jornalista profissional , historiador (graduação e mestrado pela UFC), doutorando em Pós-Colonialismos e Cidadania Global no Centro de Estudos Sociais-Universidade de Coimbra.

Pardalzinho

Rarará…

Sem contar que a Globo News chamou quem nasce na Líbia, de Libanes… Suspende o kibe e a esfiha. Plim plim.

    Marat

    Cara, eu nem assisti. Aliás, nem assisto a esse trágico jornal, até por estudar a noite, mas, para quem assistiu, deve ter sido cômico… É isso que dá ficar se preocupando 24h por dia com os EEUU e seus parasitas europeus: esquecem do resto do mundo… Não evidenciar ditaduras, como a do Egito, também causa esquecimentos nessa turma – rsrsrs

Cesar

Depois os "Hommers" é quem assiste….francamente!

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