Movimentos cobram prisão de assassinos de extrativistas

Tempo de leitura: 3 min

Protesto interdita ferrovia da Vale para cobrar prisão de assassinos de militantes

por João Márcio, de Marabá (Pará),  na Página do MST

Após uma noite de vigília, movimentos camponeses, estudantes, professores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e famílias assentadas do MST interditaram a ponte rodo-ferroviária Carajás, sobre o rio Tocantins em Marabá, nesta quinta-feira.

O trem de carga de minério da mineradora transnacional Vale ficou paralisado entre 5h e 10h.

Os manifestantes protestaram para que os assassinos do casal Maria do Espirito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, líderes extrativistas, sejam punidos e cobram medidas do Estado para enfrentar a violência do latifúndio contra lutadores sociais.

As mortes ocorreram na manhã do dia 24 de maio, no Projeto de Assentamento Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará.

Segundo o professor de educação do campo da UFPA, Evandro Medeiros, “a luta é por justiça, portanto essa mobilização se faz necessária em respeito aos milhares que tombam por defender a região amazônica”.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT), que lançou nota ontem, avalia que essas mortes estão no contexto das “ações do agrobanditismo”  de madeireiros e fazendeiros, que pretendiam expandir a criação de gado no local.

“A Coordenação Nacional da CPT reafirma a responsabilidade do Estado por este crime. A vida das pessoas e os bens natureza nada valem se estes se interpuserem como obstáculo ao decantado ‘crescimento econômico'”, afirma a nota.

Abaixo, leia nota da CPT.

“Se nos calarmos, as florestas gritarão”

A Coordenação Nacional da CPT, reunida em Goiânia para uma de suas reuniões ordinárias, recebeu com extrema tristeza e indignação a notícia do assassinato do casal Maria do Espirito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, ocorrido na manhã do dia 24 de maio, no Projeto de Assentamento Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará.

Esta é mais uma das ações do agrobanditismo e mais uma das mortes anunciadas. O casal já vinha recebendo ameaças de morte. O nome deles constava da lista de ameaçados de morte registrada e divulgada pela CPT. O de José Cláudio em 2009 e em 2010, e o de sua esposa Maria do Espírito Santo, em 2010 (seguem em anexo as duas listas). Esta lista, junto com a dos assassinatos no campo de 1985 a 2010 foi entregue ao Ministro da Justiça, no ano passado. Mas nenhuma providência foi tomada.

“José Cláudio e Maria do Espírito Santo se dirigiam de moto para a sede do município, localizada a 45 km, ao passarem por uma ponte, em péssimas condições de trafegabilidade, foram alvejados com vários tiros de escopeta e revólver calibre 38, disparados por dois pistoleiros que se encontravam de tocaia dentro do mato na cabeceira da ponte. Os dois ambientalistas morreram no local. Os pistoleiros cortaram uma das orelhas de José Cláudio e a levaram como prova do crime”, registra nota CPT de Marabá, que esteve no local do crime.

José Cláudio e Maria do Espírito Santo foram pioneiros na criação da reserva extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira no ano de 1997. Devido à riqueza em madeira, a reserva era constantemente invadida por madeireiros e pressionada por fazendeiros que pretendiam expandir a criação de gado no local.

Mas nossa indignação aumentou com a notícia, veiculada pelo jornal Valor Econômico do dia de hoje, 25, de que o deputado José Sarney Filho ao ler, em plenário, a reportagem da morte dos dois lutadores do povo, foi vaiado por alguns deputados ruralistas e pessoas presentes nas galerias da Câmara Federal, que lá estavam para acompanhar a votação do novo Código Florestal.  Este fato nos dá a exata dimensão de como a violência contra os trabalhadores e trabalhadoras do campo é tratada. Certamente a notícia destas mortes foi recebida com alegria em muitos espaços, pois mais um “estorvo” no caminho dos ruralistas e dos defensores do agronegócio foi removido.

A Coordenação Nacional da CPT reafirma a responsabilidade do Estado por este crime. A vida das pessoas e os bens natureza nada valem se estes se interpuserem como obstáculo ao decantado “crescimento econômico”, defendido pelos sucessivos governos federais, pelos legisladores do Congresso Nacional que aprovam leis que promovem maior destruição do meio ambiente, e pelo judiciário sempre muito ágil em atender os reclamos da elite agrária, mas mais que lento para julgar os crimes contra os camponeses e camponesas e seus aliados. A certeza da impunidade alimenta a violência.

Parafraseando o Evangelho, não podemos nos calar diante desta barbárie, pois se nos calarmos, as florestas falarão (Lc 19,40).

Goiânia, 25 de maio de 2011.

Coordenação Nacional da CPT


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Marcelo Luiz

Comissão Pastoral da Terra é um organismo da CNBB.

Fernando

O Azenha podia confirmar, mas parece que o casal foi entrevistado numa série de reportagens da Record sobre a Transamazônica um tempo atrás.

Mauro Silva

Caros Azenha e José Marcio
Existe uma questão em debate, hoje no judiciário, sobre quem deve ser consultado a respeito do provável desmembramento do estado do Pará em outros 2 ou 3.
Não tenho dúvidas que eu, cidadão brasileiro domiciliado na cidade de Santos-SP, devo ser consultado porque, pela atual Constituição Federal, esse desmembramento vai alterar a distribuição do poder político daquele estado dos atuais 17 Deputados Federais para, pelo menos, 24 (no mínimo 8 por estado) com reflexo direto no inchaço da representação da famigerada "bancada ruralista", o braço político do agrojaguncismo.
Manifestações como essa descrita, na Câmara Federal, são um escândalo e um alerta a mudar a forma de representação dela, com Deputados Federais eleitos nacionalmente e pelo fim das tais 'bancadas estaduais'.

beattrice

Se depender do ministro na cota do Daniel Dantas, não vai acontecer rigorosamente nada.

waleria

É evidente que PF e todo aparato policial precisa pegar esses bandidos e seus mandantes.

Mesmo que depois nossos tribunais superiores os soltem.

E é evidente que Aldo Rebelo e o Codigo Florestal nada tem a ver com isso.

    LuisCPPrudente

    É evidente que o Aldo Rebelo não tem nada a ver com o assassinato. Mas na minha opinião é evidente que o relatório do Aldo Rebelo foi a senha para o latifúndio assassino e escravocrata ver que ainda tem força para fazer o que quer para defender seus interesses, assim ocorreu mais um assassinato de um trabalhador por conta do latifúndio assassino e escravocrata.

GSG

Estou sendo censurado no blog da Manuela, postei diversos comentário afirmando que ela perdeu um eleitor por fovar a favor do código, que nas desculapas esfarrapadas dela e do PCdoB não encontram nexo com a realidade, etc, mas meus comentário e de mais dezenas ou centenas de internautas seguem sendo censurados, por favor AZENHA, tente entrar em contato com ela e pedir que ao menos libere os comentário que não tem nada de ofensas.

Muito Obrigado

Rosane

É triste perceber mais uma vez que assassinatos de camponeses não repercutem na mídia. Ao contrário da violência urbana cujos crimes são passados, repassados e reprisados diariamente para nos impingir uma paranóia sem fim, os crimes no campo merecem, quando muito uma pálida nota. Não aparecem mães que choram, filhos órfãos (além de não ter direito à proteção e segurança eles também não tem famílias? Enfim eles são privados até de sua humanidade. O que dizer dos direitos humanos…

Fernando

Em breve o deputado comunista vai dizer que os dois extrativistas eram agentes de ONGs estrangeiras.

VanderResende

A sensação que fica e de desalento. Como sempre, após a morte de ativistas, que vinham sendo ameaçados e não tinham a mínima segurança, as vozes se levantam ao redor do Brasil.

De Janaina Garcia, para o UOL Brasil,
"Indagado sobre o motivo de o casal –que há anos militava contra a exploração feita pelos madeireiros –não ter contado com algum tipo de proteção da polícia, uma vez que já teria sido ameaçado de morte em outras oportunidades, o delegado atribuiu a situação à falta de efetivo.
“A extensão [territorial] aqui é grande; temos dois investigadores no efetivo, é complicado –além disso, a delegacia atende também a cidade de Jacumbá, a 50 km de Nova Ipixuna”, justificou. http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/05/24/l
http://unsfiaposdemeada.blogspot.com/2011/05/extr

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