Julian Rodrigues: Com 500 mil homens, ou PMs são reorganizadas ou servirão ao fascismo

Tempo de leitura: 3 min

por Julian Rodrigues, especial para o Viomundo

Vamos lá:

1. O papel, a atuação, o tamanho, a cultura, a estruturação das Polícias Militares é algo TOTALMENTE incompatível com um regime minimamente democrático.

Enquanto o campo popular não entender e encarar esse tema com a importância que tem, só haverá retrocessos, mortes, avanço do fascismo;

2. São cerca de 500 mil PMs em todo o Brasil. Mais ou menos o dobro do efetivo do Exército.

A altíssima taxa de homicídios caiu. Mas a letalidade policial aumentou: 10% dos assassinatos são cometidos por policiais militares;

3. As PMs são um resquício da ditadura. Uma força policial treinada para reprimir, bater, prender e matar pretos e pobres, sobretudo jovens.

Corporação adestrada na cultura da violência , cuja função primordial é defender o patrimônio das elites o Estado capitalista;

4. Contradição: a maioria dos PMs é oriunda das classes populares. São negros e pobres. Ganham mal, se arriscam em operações perigosas, matam muito mas também morrem muito.

Têm baixa formação educacional/cultural, treinamento insuficiente e deturpado, são humilhados pela absurda hierarquia militar. Alto índice de sofrimento mental;

5. A maioria dirigente da esquerda — do PT, em especial – nunca tratou com profundidade o tema da segurança pública.

Sempre preferiu fazer mais do mesmo, com raras exceções pontuais. Resultado: durante o governo Lula explodiram a população carcerária, a taxa de homicídios, a letalidade policial, o extermínio da juventude negra;

6. Pior ainda é o balanço dos governos progressistas, do PT em especial, no tema da segurança pública. Às vezes conseguem ser tão reacionários e violentos quanto os da direita mais tradicional.

Seguem o senso comum, operando alianças com a cúpula das PMs, tentando vender para o povão uma imagem condizente com a hegemonia fascistoide – difundida diariamente pelos Datenas da vida: “bandido bom é bandido morto”;

7. São questões imbricadas:

*a superpopulação carcerária — mais de 700 mil presos, o Brasil é o terceiro país que mais prende no mundo — 70% são jovens pretos;

*a altíssima taxa de homicídios — mais de 55 mil ao ano, o que bate qualquer índice de país em guerra;

*o número absurdo de assassinatos cometidos por policiais — o modelo de polícia que não previne nem investiga;

*a mais esdrúxula política de drogas — verdadeiro mecanismo para matar e prender pobres pretos;

8. Qualquer discurso sobre segurança pública que não falar em mudar a política de drogas é, no mínimo, demagógico.

Sem uma nova legislação que cesse imediatamente a falida “guerra às drogas” e institua uma regulação restrita, legalizando organizadamente a produção, distribuição e consumo de TODAS drogas nada mudará de fato no atual cenário;

9. Promover uma política organizada de DESENCARCERAMENTO. Isso mesmo, tirar da cadeia as milhares de pessoas (quase 40% do total) que não foram condenadas, são presos provisórios.

Investir em penas alternativas e focar o sistema na investigação e punição de crimes violentos, estupros, crimes contra a vida. Reforma total do sistema prisional. Parar de usar o sistema de justiça como mecanismo de controle social e segregação racial;

10. Reorganização nacional das polícias militares. Desmilitarizar, qualificar, investir em carreira única, ciclo completo, unificação das polícias. Mudar a cultura, o acesso, a formação, as funções, o marco legal.

Uma polícia composta por gente com nível educacional, bons salários, outra cultura institucional, outra visão de mundo.

Pressupõe expurgar, aposentar, afastar, paulatinamente, milhares de atuais policiais. O que pode ser feito com uma aliança com a base da corporação, que é precarizada e oprimida, sem nenhuma possibilidade de ascensão profissional;

11. Legalizar as drogas, desencarcerar milhares e reorganizar as PMs.

Não é fácil e demandará esforço e tempo. Mas é a única alternativa para o campo progressista. Se não quisermos continuar a ser linha auxiliar do neofascismo no campo da segurança pública;

12. Que o avanço do autoritarismo do bolsonarismo junto com as milícias e essa crise no Ceará, pelo menos, possam fazer com que o PT e toda a esquerda abram um sério debate sobre políticas públicas de segurança, direitos humanos, democratização do Estado e antifascismo.

21/02/2020

*Julian Rodrigues integra o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH)


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Comentários

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Zé Maria

A Polícia Militar está servindo
ao Fascismo há Décadas.
Aliás, os Militares em geral.
Com Bolsonaro, o Fato
só ficou Mais Evidente.

“A DoiDamares no mundo das trevas.
Para bajular BolsoNero, Damares diz
em Genebra que a greve de PMs é legal!
Só que a Constituição Federal veda
explicitamente greve das forças
de segurança pública!
É insurreição armada e entrega
a população ao crime.”
https://twitter.com/minc_rj/status/1231979129320374272

“CE: Líder de motim almoçou com Bolsonaro
no dia que PMs atiraram em Cid Gomes”
https://t.co/TStctWFIyH
https://twitter.com/DeputadoFederal/status/1231956423954829313

“Claro que apesar dos 147 assassinatos em 5 dias no Ceará
e dos policiais mascarados e amotinados colocando terror
no Estado, o Sérgio Moro não ia dizer que há situação de
absoluta desordem nas ruas. Ele não ia se indispor com
os apoiadores do Bolsonaro que estão fazendo isso.”
https://twitter.com/ricardope/status/1232038890413924354

“Depois que mataram o arquivo-morto 1 (Adriano da Nóbrega)
o arquivo-morto 2 (o milico-mula que foi pego com Cocaína
no avião presidencial) aceita cumprir pena na Espanha,
pagar 2,5 milhões de euros e o que quiserem que ele faça
para não voltar para cá”
https://twitter.com/FernandoHortaOf/status/1232046833691713537

Zé Maria

“10% dos Assassinatos [em todo o País]
são Cometidos por Policiais Militares”.

Essa é a Estatística Oficial, contando
só com as ações de PMs em serviço.

Nesse número não estão incluídas as
Execuções Sumárias Clandestinas por
Milícias Para-Estatais, isto é, Grupos
de Extermínio Comandados por PMs.

O total de Assassinatos por Policiais
Militares é bem maior que o oficial.
.
A Solução é extinguir a Polícia Militar
e substituí-la por uma Guarda Civil,
armada, sim, mas bem treinada
não para matar ou eliminar qualquer
cidadão, por mais suspeito que seja.
Uma Polícia Civil que atue de acordo
com os parâmetros de Civilidade
nas Relações Humanas, obedecendo
a Ordem Democrática Constitucional,
sob a Vigência do Estado de Direito.

Aliás, o Corpo de Bombeiros deveria ser
o primeiro a ser Desmilitarizado, com a
Carreira Especial entre os Servidores
Públicos Civis.

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