Juíza Raquel Braga: “É triste para os procuradores, Dallagnol age como estagiário do Moro”

Tempo de leitura: 2 min
Foto: Pedro Oliveira/ALEP

‘Dallagnol age como estagiário do Moro’, comenta juíza sobre novos vazamentos

Integrante da AJD também diz que Moro e Lava Jato levaram delações premiadas ao descrédito ao estabelecerem versão com acusado

Redação RBA

São Paulo – Reportagem da revista Veja, em parceria com o The Intercept Brasil, revela mais diálogos travados entre o então juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, que oficialmente coordena a operação Lava Jato.

Na prática, era Moro quem comandava o trabalho dos procuradores, sugerindo testemunhas, orientando a produção de provas e controlando o andamento de delações premiadas.

A magistrada Raquel Braga, integrante da Associação Juízes para a Democracia (AJD), destaca a relação de submissão entre o juiz e o procurador.

“É triste, para os procuradores, a conduta do Dallagnol, que age como se fosse o estagiário do Moro”, diz Raquel.

E lembra que a Constituição garante a autonomia do Ministério Público Federal (MPF) frente ao Poder Judiciário, justamente para que os procuradores possam atuar com independência.

“As garantias são dadas a esses ofícios para que atuem com independência, e exerçam seu ofício sem nenhum tipo de ingerência ou pressão”, disse ela, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (5).

Raquel Braga também lamenta a postura de Moro como juiz. Sobre a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a magistrada diz que havia um pré-julgamento, com uma sentença já concebida, antes mesmo do início do processo.

“Não é comum, por mais que se diga, um juiz orientar a acusação, indicar provas. São procedimentos absolutamente heterodoxos. Os juízes não se comportam assim. Todo o curso desse processo mostra que a sentença já estava pronta, e tinha um percurso a seguir para confirmar o que ele já entendia como sentença, com a condenação do réu. Mais grave ainda, esse réu era o Lula, e a sua prisão comprometeu o processo eleitoral.”

Delações

Para Raquel, a carta do ex-executivo da OAS Léo Pinheiro, por meio da qual nega ter sido coagido a incriminar Lula, é “absolutamente irrelevante”.

Além de ser réu, o ex-executivo preso tem interesse em manter de pé a sua versão, após duas alterações, para garantir a redução de pena.

Ela usa esse episódio para dizer que Moro e a Lava Jato colocaram em descrédito o estatuto da delação premiada.

“Essa carta não é crível para o cidadão comum, dentro dessas circunstâncias, quanto mais para os operadores de direito, sobretudo para os ministros do STF.”

A juíza também alerta para os riscos de manipulação do devido processo legal.

O “voluntarismo” da parte de um juiz, que conduz a investigação para alcançar um juízo pré-estabelecido, viola todas as garantias do cidadão, que passa a ficar à mercê da autoridade de plantão. “Se foram capazes de fazer isso com um ex-presidente, são capazes de fazer com qualquer um de nós, e todos estaremos vulneráveis.”


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Isaac Comelli

….NOS LEIGOS DE MUITA COISA QUE SEPASSA,NO MEIO JUDICIÁRIO,TANTA COISA QUE O CIDADÃO DE BEM TAMBEM CAIA NO DESCREDITO ,TIPO ESSA JUIZA CONSCIENTES, DE SUA OPINIÃO, FICA PERPLEXA ,COM O TAMANHO , ABSURDO,E COLOCA EM DESCREDITO O MP.UNS VERDADEIROS CANALHA HOMENS DA JUSTIÇA FAZER ISSO

Zé Maria

A Constitucionalização da Promoção da Ação Penal Pública, por um Órgão
independente do Estado, foi uma importante conquista do Ministério Público
na Assembleia Nacional Constituinte de 1988.

E agora, vêm uma Meia Dúzia de Procuradores Alacaiados de um Juiz, com um
Messianismo Para-Estatal, conspurcar a Independência do Ministério Público, jogando no Lixo uma História de Avanço Civilizatório da Sociedade Brasileira.

Realmente, diz muito bem a Magistrada quando afirma que “é muito triste
para os Procuradores” e Promotores, e para o Ministério Público como um Todo,
presenciar esse Atentado ao Estado Democrático de Direito, com a Manipulação
do Devido Processo Legal, por um Juiz e um Grupo de Membros do MP, retirando
a Credibilidade da Atuação do Próprio Órgão ao qual pertencem, estilhaçando
no Poder Judiciário.
O Ministério Público tem uma História de Luta Jurídica que não póde ser agora
enxovalhada pela ilegalidade e imoralidade dos Atos de um Juiz e pela Falta de
Escrúpulos de alguns Procuradores da República.

http://www.cartaforense.com.br/conteudo/entrevistas/o-mp-na-constituinte-da-cr88/1850

Deixe seu comentário

Leia também