Fome, frio e angústia: Mães trabalhadoras esperam há 38 dias pelo auxílio emergencial do governo

Tempo de leitura: 4 min
Karen, mãe do garoto Lorenzo (5), foi prejudicada duplamente: pelo governo, que demora a aprovar o auxílio, e pela diminuição de movimento no terminal de ônibus, onde trabalha

por Marcos Hermanson Pomar, especial para o Viomundo 

Vanessa Lourdes de Souza (28) estava grávida quando a quarentena começou.

Moradora da Vila Ema, bairro da Zona Leste de São Paulo, ela vendia carregadores, chocolates e balas de goma no semáforo, mas parou de trabalhar uma vez que as políticas de isolamento social começaram a ser adotadas.

Sem dinheiro para o aluguel, ela e o marido pegaram as filhas Mariah (1) e Sthefany (7) e foram procurar abrigo em uma ocupação urbana no mesmo bairro, junto de outras 150 famílias.

O novo lar não é ideal:

“Nós moramos no térreo e os canos de esgoto passam por aqui. Quando o encanamento entope vaza água e o chão fica todo molhado. Além disso, tem um buraco no teto, então faz muito frio”.

A trabalhadora informal se cadastrou no programa de Auxílio Emergencial do Governo Federal no dia 07 de abril, mas ainda está “em análise”.

Por enquanto, sobrevive com doações de alimentos que são fornecidas às famílias da ocupação por grupos de assistência comunitária.

Vanessa deu à luz há apenas treze dias, e agora a filha Joanna, recém-nascida, vive nas condições precárias da ocupação.

Enquanto o dinheiro não chega para financiar uma reforma no cômodo, ela, o companheiro e as filhas seguem enfrentando o vento e a água que invadem o quarto com frequência.

Michele Adriana dos Santos (34) é mãe solteira de quatro filhos.

Moradora de Santa Cruz do Sul (RS), ela vendia doces e salgados por encomenda.

Com o início da pandemia, viu seu faturamento despencar:

“Eu tinha renda média de dois mil, dois mil e quinhentos reais por mês, agora não tenho um real no bolso. Aluguel, conta de água, luz, internet, tudo atrasado”.

A gaúcha é uma das 17 milhões de pessoas que ainda estão “em análise” pela Dataprev, empresa pública responsável pela verificação de dados de quem se cadastrou no auxílio emergencial.

Ela fez seu pedido no dia 7 do mês passado e está esperando desde então.

Sem renda e sem a ajuda financeira do governo, Michele está à beira da insuficiência alimentar:

“Chegou o momento em que eu estou sem o que comer dentro de casa. Estou passando essa semana com a merenda escolar do meu filho: Banana, maçã, beterraba, cenoura, uma dúzia de ovos e um pacote de fígado. Além disso, tenho no balcão farinha de milho e meia panela de feijão, mas não sei até quando vão durar”.

Moradora de Jundiaí (SP), Karen Farasco (32) trabalha como vendedora ambulante em um terminal de ônibus da cidade.

Mãe solteira do garoto Lorenzo (5), ela fez o pedido de auxílio emergencial quando foram abertas as inscrições, há 36 dias, e é mais uma das que seguem “em análise”.

Karen foi prejudicada duplamente: pelo governo, que demora a aprovar o auxílio, e pela diminuição de movimento no terminal.

Se tivesse em mãos os R$ 1.200 aos quais tem direito, estaria em casa, mas sem o auxílio ela agora trabalha sem folga, de domingo a domingo:

“O faturamento caiu para menos da metade. Se antes eu fazia 300 reais em um dia, agora faço 100, 110”.

“Não sei o que é quarentena ainda”, diz ela, lembrando que teve que mandar o filho para a casa da avó, por medo de passar o vírus para ele: “Não tô com o meu filho porque ele tem um problema cardíaco chamado comunicação interventricular [CIV], tenho medo dele pegar esse vírus”.

Karen se diz indignada com a espera de mais de um mês para receber o auxílio:

“No momento que eu precisei do governo, ele não ajudou. Me sinto impotente. Não tem para onde correr, não tem para quem recorrer…”.  

Da mesma forma, a gaúcha Michele relata o desespero de quem segue aguardando um sinal do governo:

“Ninguém dá uma resposta concreta para nós. Tô em grupos de whatsapp e facebook em que vejo milhares de pessoas reclamando que não conseguem sair da análise, gente em situação precária, passando fome, perdendo casa”.

Tanto Michele quanto Karen e Vanessa fazem parte de um grupo no whatsapp onde trocam informações e aguardam, todos os dias, uma mudança na situação dos “esquecidos” do auxílio emergencial.

A sensação ali é de ansiedade e frustração com os sucessivos anúncios do governo sendo, uns atrás dos outros, desmentidos pela realidade.

ENROLAÇÃO

“Esse pente fino que está sendo feito, mais uns dez dias deve chegar a um ponto final. Antes de completar os 30 dias do recebimento da primeira parcela vai começar a pagar a segunda”, afirmou o presidente Jair Bolsonaro em uma de suas lives ainda no dia 23 do mês passado.

No dia 07 de maio, quando o programa já completava um mês de vida, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, afirmou que os cadastros das 17 milhões de pessoas que haviam se inscrito em abril seriam finalizados no domingo (10), o que não aconteceu.

No dia 11 o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, prometeu que um novo lote de análises da Dataprev chegaria ao banco entre terça e quarta-feira (13), pondo fim à espera de quem estava em suspenso. Da mesma forma, isso não se concretizou.

Na noite desta quinta-feira (14) o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, voltou a prometer o pagamento dos trabalhadores em análise:

“de sexta para sábado nós voltamos a pagar mais um lote que nós estamos recebendo agora do Ministério da Cidadania”, afirmou ele, em transmissão ao vivo junto com o presidente.

Segundo os dados mais recentes da Caixa Econômica Federal, 50 milhões de pessoas foram beneficiadas com o auxílio, 17 milhões seguem em análise, e outra 30 milhões de pessoas tiveram o benefício recusado.


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Comentários

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Marcia

Fiz o cadastro do auxilio emergencial não fui aprovada tenho 4 filhos solteira moro de aluguel. Tem pessoas que tem Boa condições e recebem o auxilio.

Zé Maria

Agora, no inverno da Região Sul/Sudeste,
além da Fome e da Doença, há outro item
para auxiliar no “Programa Solução Final”
do desgoverno Bolsonaro/Guedes/Mourão:
O Frio. O “Aktion T4” tá em Franca Expansão.

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