Fátima Oliveira: Escola Sem Partido personifica a subtração da República

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fatorleidamordaca

Reprodução do GGN

A santíssima trindade da teocratização da República

Fátima Oliveira, em O TEMPO, 08/11/2016

Médica – [email protected] @oliveirafatima_

As duas versões do Escola sem Partido, movimento e projetos de lei, são de caráter não republicano e antidemocrático!

O rótulo “escola sem partido” engloba duas coisas, a saber: um movimento idealizado, em 2003, pelo procurador do Estado de São Paulo, Miguel Nagib, católico; e, a partir de 2014, projetos de lei baseados nas ideias de Nagib que adquiriram visibilidade e fôlego sob o patrocínio da família Bolsonaro (PSC-RJ): o deputado estadual Flávio Bolsonaro apresentou, na Assembleia do Estado do Rio de Janeiro, um projeto de lei; e o vereador Carlos Bolsonaro, um similar na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

Escritos por Miguel Nagib viraram “modelos” para parlamentares ultraconservadores nas esferas municipal, estadual, federal.

No Senado, o Projeto de Lei 193/2016, do senador Magno Malta (PR-ES), cantor gospel e pastor evangélico, visa alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, para incluir o programa Escola sem Partido, extinguindo a liberdade de cátedra e a pluralidade de ideias!

Há PLs de igual teor tramitando em Legislativos municipais e estaduais – e muitos já aprovados!

Nagib declarou que sua motivação foi a “percepção” de que o professor de história “doutrinava” sua filha: em setembro de 2013 ela disse-lhe que o docente comparou Che Guevara a são Francisco de Assis ao exemplificar pessoas que abandonaram tudo por uma ideologia política ou religiosa. (“O professor da minha filha comparou Che Guevara a são Francisco de Assis”, “El País”, 26.8.2016).

O eixo ideológico do movimento Escola sem Partido é que a educação atenderá os princípios da neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado sobre quatro pilares:

1. estudantes são folhas em branco; 2. “meus filhos, minhas regras”; 3. contra a teoria de gênero, que chama de “ideologia de gênero”; e 4. censura a quem não seguir o figurino da neutralidade ao ensinar.

São teses afinadas com a Santa Sé/Vaticano e com os evangélicos fundamentalistas.

O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, diz ser impossível uma educação neutra.

Considerar o estudante totalmente passivo e censurar a livre expressão de docentes são disparates!

“Especialistas em educação consideram as propostas do movimento absurdas do ponto de vista educativo, inconstitucional do ponto de vista jurídico e uma forma de censurar professores”. (“Cinco argumentos contra o Escola sem Partido”, Caio Zinet, “O Jornal de Todos os Brasis”, 29.7.2016).

Fernando Penna, da Universidade Federal Fluminense e da rede Professores contra o Escola sem Partido, “acredita que a concepção prevista no PL cria um ambiente propício para a perseguição política. Ele questiona como um professor faria para respeitar absolutamente todas as convicções de todas as famílias”.

Vivenciamos uma luta ideológica contra três bandeiras feudais sob o guarda-chuva do Cristianismo que, de tão imbricadas, podemos chamar de “santíssima trindade da teocratização da República”:

1. contra o aborto; 2. contra a teoria de gênero; e 3. movimento e projetos de lei Escola sem Partido. Não é pouco!

Como se não fosse o bastante, a reforma do ensino médio do governo Temer (MP 746/2016) propôs extinguir disciplinas como filosofia e sociologia para enquadrar e amordaçar a possibilidade de pensamento crítico, personificando a subtração da República!

E a PEC 55, ao inviabilizar o Plano Nacional de Educação, é a concretização do roubo do futuro! Resistiremos.

Todo apoio às ocupações estudantis contra o futuro roubado!

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Comentários

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Luiz Carlos P. Oliveira

Escola sem partido. Ótimo. Doravante professores tem que ser apoliticos. Ou, como dizem a maioria dos coxinhas, apartidários. Uma grande, imensa utopia. O que eles querem, na verdade, é criar uma massa ainda maior de descerebrados, para poderem manipular à vontade. Vide coxinhas, massa de manobras da direita raivosa e golpista. São ignorantes políticos que buscam suas “informações” na mídia mentirosa e golpista. Enfim… um bando de alienados.

FrancoAtirador

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“Para Reduzir Maioridade Penal,
Somos Emancipados?
Para Participar Politicamente,
Somos Manipulados?”

Manu Schonhofen
Estudante Gaúcha
Na ALERGS

https://twitter.com/i/videos/798628004159168514
https://twitter.com/j_livres/status/798628004159168514

http://www.sul21.com.br/jornal/contamos-com-um-presidente-que-alem-de-golpista-desmoraliza-a-juventude-diz-estudante-na-al-lotada
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FrancoAtirador

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Prefeita Racista Renuncia ao Cargo nos EUA.

Aqui, daria Entrevista Exclusiva ao Fantástico

e seria Eleita Deputada Federal por São Paulo.
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http://www.newsjs.com/br/coment%C3%A1rio-racista-que-chama-michelle-obama-de-macaca-causa-pol%C3%AAmica-nos-eua/dlovw1kKWrKiI4MumdJYb2v83K9WM/
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Marcelo Pereira

O texto só esqueceu de lembrar que a Escola sem Partido pretende “educar” as crianças a respeitar as hierarquias, ou seja, a achar natural que lideranças de todos os tipos possam abusar de suas autoridades e ter privilégios. Vejo claramente esta intenção nas características do projeto Escola sem Partido.

FrancoAtirador

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Mendoncinha do DEM Traz de Volta a Palmatória

http://www.revistadehistoria.com.br/secao/educacao/no-tempo-da-palmatoria
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    FrancoAtirador

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    A Violência na Escola: Da Palmatória à Violência Suave
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    Por Vera Lúcia Chacon Valença (UFSC)
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    Resumo
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    A autora identifica a violência na Instituição Escolar à negação das necessidades da criança e à seleção e transmissão seletiva, formas modernas e suaves de maus-tratos, em substituição aos castigos físicos da Escola Tradicional.

    Citando autores franceses contemporâneos, apóia seu trabalho na Psicologia Genética,
    procurando salientar os pontos básicos a serem considerados para garantir o Respeito pelos aspectos construtivos e pelos modos de funcionamento do pensamento infantil –
    direitos que precisam ser garantidos nos serviços de Saúde mental,
    respaldados numa adequada Política Social.

    https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/8893
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    Escola e Punição: As Relações entre a Punição Penitenciária e o Contexto Escolar
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    Por Lívia Letícia Zanier Gomes [Dialogia, São Paulo, n. 16, p. 155-166, 2012]
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    Resumo

    Neste artigo, enfocamos a Operacionalização do Poder
    no Ambiente Escolar, baseando-nos, sobretudo, em Foucault*.

    Começamos por definir a Questão da Disciplina
    para, daí, evidenciar os Fatores mais fortemente
    Disciplinadores na Escola.

    Em seguida, traça-se um Paralelo entre os Mecanismos
    de Poder da Instituição Escolar, pertencentes ao Cotidiano
    Docente e Institucional, e os de Instituições Penitenciárias,
    conforme tratados na Obra “Vigiar e Punir”, do Autor Citado*,
    a fim de demonstrar o quanto a Escola traz em si Mecanismos
    Penitenciários com Intuito de ‘Docilizar’ Corpos e Mentes.

    Por fim, pretendemos alertar quanto às Práticas Arraigadas
    de ‘Docilização’ Utilizadas pela Maioria dos Docentes –
    aplicação de Provas, aval Disciplinar dos Conselhos de Classe,
    inspetoria de Alunos, Instrumentos que são Mais Ameaçadores
    e Punitivos do que realmente Educativos.
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    http://exactaep.com/index.php/dialogia/article/viewFile/2966/2432
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