Fátima Oliveira: Twitter irrespirável; sem diálogo com os contra Dilma

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Dilma e o Povo

Fátima:  “Não é possível diálogo minimamente civilizado com tuiteiros adversários de minha candidata, Dilma” 

As eleições presidenciais sob a batuta do conservadorismo

Fátima Oliveira, em OTEMPO

[email protected] @oliveirafatima_

O Twitter está irrespirável. Não consigo ler tudo o que recebo, separar o que retuitar nem responder à avalanche de impropérios não republicanos.

O volume de pessoas que não me seguem e a quem não sigo que manda tuítes é assustador. De uns 30 a 50 novos perfis por dia! Não tenho de ensinar bons modos nem teorias políticas a quem não aprendeu nas escolas da elite nem a robôs. Bloqueio todos. Não quero dadas nem tomadas com gente sem limites, porque em política tenho lado; e, incrível, raramente pedem voto, só esculacham!

Não é possível um diálogo minimamente civilizado com tuiteiros adversários de minha candidata, Dilma Rousseff. Limito-me a discutir no Twitter com pessoas que eu já seguia até 5 de outubro e com quem me segue, pois é um círculo com o qual estabeleci uma convivência respeitosa em nossas diferenças políticas. Uma ou outra perde as estribeiras, mas tem sido raro. Diminuí a minha presença no Twitter. Tenho preferido ficar mais “bispando”, ou seja, observando quem tuíta sobre eleições.

É assustadora a percepção da agressividade, principalmente de pessoas evangélicas – eis algo digno de pesquisas: a transformação que o momento eleitoral numa república democrática e laica opera nas pessoas que se dizem tementes a Deus! Será um subproduto da teologia da prosperidade e seu individualismo exacerbado contra a prioridade nas políticas sociais dos últimos 12 anos do governo federal?

Numa análise inicial, tendo a elaborar a hipótese de que, em muitas cabeças religiosas, o que está em jogo numa eleição à Presidência da República, aqui, no Brasil, é a construção do caminho da teocracia – em si, o sequestro da democracia e um insulto à inteligência! É muita indigência política! Mas tem significado: o espectro do fundamentalismo religioso ronda o Estado laico. O que é gravíssimo e exige reflexões aprofundadas, posto que tamanha intolerância evidencia que tais pessoas ainda não compreenderam que o lugar ideal para se professar uma fé é na democracia (regime político)!

O fundamentalismo religioso, católico ou evangélico, não tem noção de espírito republicano nem sequer introjetou os rudimentos do que é república (do latim, “res publica”: “coisa pública”) ou a pauta para governá-la. Também não lhes parece óbvio que o debate eleitoral numa república (regime de governo) tem como eixo a defesa dos valores e dos princípios republicanos, temas que aprofundei em “Perdi a paciência: quero a República terrena de volta!” (O TEMPO, 12.10.2010).

E como se a zoeira tuiteira fosse pouca, relembro as palavras do diretor do Diap, Antônio Augusto Queiroz: “O levantamento do Diap mostra que o número de deputados ligados a causas sociais caiu, drasticamente, embora os números totais ainda estejam sendo calculados”; que “o novo Congresso é, seguramente, o mais conservador do período pós-1964”, por conta do “aumento de militares, religiosos, ruralistas e outros segmentos mais identificados com o conservadorismo”; e que “parte consistente do conservadorismo virá da bancada evangélica, que vai ficar um pouquinho maior” (em relação a 2010, que era de 70), “mas com uma diferença: nomes de maior peso dentro das igrejas para melhor coordenar e articular os interesses desse segmento junto ao Congresso” (há 40 bispos e pastores).

É no contexto de brutal conservadorismo, inclusive da ideia do Estado mínimo, que se dá a escolha à Presidência da República. Temos de votar visando reduzir danos ao bem-estar social e às medidas protetivas à cidadania.

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Comentários

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Alberto

Eu abri mão de acessar facebook e twitter em nome da minha sanidade mental. São dois locais de discussões (xingamentos) acirrados. Na atual campanha os insultos por email praticamente sumiram. Campanha difícil a exigir muita luta de ideias. Mas Dilma vai levar. Aécio Neves, além de neto não tem outras credenciais para presidir o Brasil

Laura Antunes

Eu tenho um perfil no twitter que por pouco os aecistas não me matam. Ontem um deles disse que estava esperando a presidenta Dilma chorar no debate para abrir uma champagne. Isso é coisa de gente civilizada? Não, é de machista inveterado e gabola, que ainda diz que trata as mulheres com profundo respeito. Que tal?

Luiz

Onde trabalho, o ódio varre diariamente todas as pazes e fés no social.
Nunca entendi como cristão se articula com direita.

Francisco

A esquerda tem ficado muito focada nas eleições majoritárias. Tem que retomar o legislativo, principalmente os municipais, ONDE NUNCA ENTRAMOS…

    Assange

    Geral. O povo da cidade não sabe onde fica a câmara. Nunca foi lá.

    O povo da capital não sabe onde fica a Assembleia. Nunca foi lá.

    O povo do Brasil não sabe quem cria o mau Congresso: ele, povo. Com seu voto.

    A creche deveria começar a levar os bebês à Câmara. Assim daqui a 200 anos….

    Não é que uns “Técnicos de Alto nível” que eu conheço votaram com fé…. igual torcedores….. quando foi explicado que até para aumento salarial
    estão sozinhos…. pois não há mais bancada suficiente…. foi um oohhhh!!! E SE ACHAM INSTRUIDOS E CHIQUES no úrtimo.Sempre vão a Miami. kkkkkkkkkk.

Edgar Rocha

Quando a Fátima Oliveira recitou as várias bancadas representativas deste momento ultra conservador – ruralistas, militares, religiosos – minha cabecinha oca fez de imediato uma ligação, no mínimo curiosa. Me lembrei daquela cena de “O Exorcista”, quando o padre Damien Karras adverte o velho colega de profissão (outro padre, não o capeta) que se prepara para o ritual, de que havia no corpo da menina uns tantos demônios possíveis de se identificar. Padre Merrin, o exorcista propriamente dito, retrucou-lhe de imediato: “O Demônio é um só!”

Faz sentido?

Daniel

Não perco o meu tempo com o Twitter, dado que concluí que não é possível ter um diálogo decente em menos de 150 caracteres. Dito isso, eu notei também essa agressividade em outros meios de comunicação, parece até que a extrema direita decidiu que todos os outros não têm direito à opinião e muito menos à falar, a “democracia” que a extrema direita prega se revelando em mais uma ditadura (pois é em ditaduras que não existe liberdade de expressão). E mais, a extrema direita acha ser parte da liberdade dela o poder de restringir a liberdade de todos os outros, eles nunca ouviram falar do velho ditado “a liberdade de um termina aonde começa a liberdade do outro”? Querem xingar, ofender, humilhar e até agredir a vontade e ai de quem reagir aos representantes da extrema-direita?

Pois bem, esse tipo de abuso se resolve de uma forma: Na bala. Quando a extrema direita esquece que todos os outros têm tantos direitos quanto eles, cabe à nós lembrá-los disso, e à força se for necessário.

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