Estadão, que conhece o meio militar: “Parte de Brasília está entregue a golpistas delirantes e velhacos”

Tempo de leitura: 3 min
A exótica coalizão governista juntou Lira, Heleno e a mulher de um notório corrupto, José Roberto Arruda

Entre golpistas e velhacos

Nenhuma das trocas ministeriais visa a melhorar a administração. Prestaram-se somente a aplacar as neuroses do presidente e a saciar os apetites da família Bolsonaro, além da voracidade do Centrão

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

31 de março de 2021

A anunciada substituição dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica foi o desdobramento natural da resistência da cúpula das Forças Armadas à pretensão do presidente Jair Bolsonaro de aliciá-la para propósitos autoritários.

O comando militar vem agindo patrioticamente e em respeito à Constituição, que confere às Forças Armadas o papel de instituição de Estado, e não de governo, a despeito das inúmeras tentativas de Bolsonaro de transformá-las em guarda pretoriana.

Seria inaceitável humilhação, para a corporação militar, submeter-se aos caprichos desvairados de um ocupante temporário da Presidência.

Já basta o papel vergonhoso desempenhado no Ministério da Saúde pelo general da ativa Eduardo Pazuello, que, como se fosse um recruta, se empenhou obedientemente em cumprir as ordens estapafúrdias de Bolsonaro.

A grave crise foi a culminação de uma reforma ministerial atabalhoada, que mostra um governo submetido ao mandonismo de um presidente que, inseguro sobre sua capacidade, se imagina cercado de inimigos por todos os lados.

Ele só confia nos filhos e naqueles desqualificados que lhe prestam obsequiosa vassalagem.

Fernando Azevedo, por exemplo, foi demitido sumariamente do Ministério da Defesa porque, em suas palavras, preservou “as Forças Armadas como instituições de Estado” – algo inadmissível para Bolsonaro, que sempre se referiu ao Exército como “meu Exército”. Para seu lugar, Bolsonaro escolheu Walter Braga Netto, outro general da reserva, que estava na Casa Civil e é conhecido no meio militar como um disciplinado cumpridor de missões.

Assim como a mudança na Defesa, nenhuma das trocas ministeriais anunciadas nos últimos dias visa a melhorar a administração federal. Prestaram-se somente a aplacar as neuroses do presidente e a saciar os apetites da família Bolsonaro, além da voracidade do Centrão.

Os novos ministros das Relações Exteriores, Carlos França – que nunca chefiou uma Embaixada –, e da Justiça, Anderson Torres – delegado da Polícia Federal –, têm como principal credencial a proximidade com os filhos do presidente. Já a nova ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL-DF), deputada de primeiro mandato, só foi colocada ali para ser despachante dos interesses do Centrão, dispensando-se intermediários.

Com exceção do extravagante diplomata que chefiava o Itamaraty e foi substituído por pressão de quase todo o Congresso, perderam o emprego no governo Bolsonaro justamente aqueles que, como o ex-ministro da Defesa, se recusaram a avalizar a truculência do presidente.

Foi o caso de José Levi, demitido da Advocacia-Geral da União porque se negou a assinar a ação que Bolsonaro encaminhou ao Supremo Tribunal Federal para questionar as medidas de distanciamento social adotadas por governadores de Estado contra a pandemia de covid-19.

A atitude de Levi levou Bolsonaro a assinar ele mesmo a petição, o que foi considerado como “erro grosseiro” pelo ministro Marco Aurélio Mello ao rejeitar a ação no Supremo.

Levi foi substituído por André Mendonça, que estava no Ministério da Justiça e ali foi fidelíssimo cumpridor de ordens de Bolsonaro, a quem já chamou de “profeta”.

Para o lugar de Mendonça, Bolsonaro escolheu um amigão de Flávio Bolsonaro. Fica tudo em família.

Muito se dirá sobre quem ganha mais com as mudanças, mas certamente só há um perdedor: o cidadão brasileiro, em nome de quem todos em Brasília dizem trabalhar.

Enquanto Bolsonaro brinca de césar, o Centrão, senhor de fato do governo, patrocina um Orçamento criminoso, que ignora despesas obrigatórias como se não existissem e distribui dinheiro à farta para emendas parlamentares.

Não por acaso, a presidente da Comissão Mista de Orçamento era justamente a deputada Flávia Arruda, apadrinhada do presidente da Câmara e prócer do Centrão, Arthur Lira, e que agora é a ministra encarregada da articulação política do governo – ou do Centrão, o que dá no mesmo.

Tudo isso em meio a uma pandemia que já matou mais de 300 mil pessoas e a uma gravíssima crise econômica.

Parte de Brasília está entregue a golpistas delirantes e a velhacos. Está claro que os brasileiros só podem contar consigo mesmos.


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Comentários

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Pablo Picasso Silva Silva

O ESTADAO quatrocentão é um dos artífices dessa estrelada no Brasil além de outros atores que todos nós sabemos inclusive os coxinhas classe média.
Desconfio que Bozo passou direto de 2° tenente para capitão. Podia dar as estrelas de general para o capitão, pois não faria a menor diferença.
Tem um monte de general no governo que anui tudo o que o sujeito faz. Então, não é a quantidade de estrelas o diferencial.
Comunismo ?
Faliu.
Contracheque gordo.
Nenhum desses generais é um Napoleão.
O exército patina como sempre ao apoiar um doido. Vai sair do governo bem manchado de sangue de 1 milhão de mortos por covid.
O vermelho vai tá bem nítido na camuflagem da farda do exercito.
É um show de despreparo e não é só do capitão não. Cada dia que passa isso fica mais altamente patente.
Estão deixando as pessoas morrer sem sequer prestar socorro.
Ele apenas trocou um general por outro. O exército continua lá. “Exército não pede para sair “.
O exército na história do Brasil sempre deu 1 passo para frente e 3 para trás. Qdo sai do poder volta tudo pra trás na caserna.
Se não vacina, então, não vai ter recuperação econômica de jeito nenhum, no máximo uma galinha voando.
Um recruta alto e forte carrega 2 ou 3 nas costas, esses veios não aguenta nem com eles mesmos.
Bolsonaro apenas usa o Princípio de Peter com os generais. E o Pazzuelo passou muita vergonha, isto é o exército.

Zé Maria

Resultado da “Escolha Difícil” em 2018.

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