Matysiak: Precisamos falar urgente sobre os invisíveis que a gente encontra em cada sinal, canto e esquina

Tempo de leitura: 3 min
Foto: Eduardo Matysiak

Por Conceição Lemes

O Viomundo já publicou várias memoráveis fotos de Eduardo Matysiak.

Por exemplo, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui.

Matysiak é um jovem fotojornalista muito talentoso.

Um craque que só tem só 24 anos.

Começou a fotografar aos 14, em Guarapuava, cidade onde nasceu, no centro-oeste do Paraná.

Tem fotos publicadas em veículos da  grande imprensa tradicional, assim como em blogs e sites da mídia alternativa.

Ele tornou-se conhecido pela cobertura fotográfica da Operação Lava Jato, em Curitiba, particularmente durante o período em que o ex-presidente Lula esteve preso na sede da Polícia Federal.

Matysiak foi um dos fotógrafos que mais registraram as manifestações pró e contra em frente à PF e arredores, assim como nas ruas da cidade e nas plateias de palestras do ex-juiz Sergio Moro, procuradores da Lava Jato e desembargadores do TRF4.

Foi justamente nessa época que  conheci o trabalho dele.

Em função disso, até hoje, me envia as suas fotos.

Nesse final de semana, me mandou a que está no topo.

No ato, pedi: Me conta essa história!

Generosamente, ele começou a falar.

Caminhando pelas ruas de Curitiba, a gente encontra uma história em cada canto, cada esquina, cada comércio, cada sinaleiro.

Essa foi na sexta-feira, 27 de novembro, Black Friday.

Aqui, em Curitiba, as ruas estavam cheias de pessoas com sacolas, comprando as suas coisas.

E, aí, me deparo com essa mulher. Uma mãe, uma trabalhadora, vendendo balas no sinal.

Só que não está sozinha.

Tem nos braços o filho pequeno, bebê ainda.

E, por um momento, ela parou para amamentá-lo.

Perceba que, mesmo amamentando a criança, ela ainda segura na mão esquerda a caixinha de balas.

Pior é que isso acontece todos os dias.

É só sair às ruas.

Você vai encontrar numa esquina, num sinaleiro, sob sol forte, pessoas vendendo seus doces, suas balinhas.

Se perguntar, elas muitas vezes vão dizer que estão ali vendendo, pra comprar alimento para a família.

Sempre vejo as pessoas fechando o vidro dos carros antes mesmo do ambulante chegar e  oferecer a bala. É de cortar o coração.

Voltando à cena da sexta-feira, ela mexeu muito comigo. Uma mãe amamentando o seu filho pequeno por alguns instantes, para, logo em seguida, voltar ao trabalho.

Quase certamente ela estava ali, esperando vender as suas balas pra comprar alimento pra sua família.

— Ninguém olha pra ela?

Ninguém!

Está tudo normal.

As pessoas aprenderam a ignorar, não se importam, não se incomodam…

A partir do momento em que o problema não é com você, o outro que se dane.

Mas, quando é com você, você se importa.

Isso, imagino, acontece no mundo inteiro.

Eu gosto muito daquela música [samba Maneiras, cantado por Zeca Pagodinho] que diz:

É gente que vive chorando de barriga cheia

É gente que vive chorando de barriga cheia..

É gente que vive chorando…

De barriga cheia.

Às vezes a gente chora de barriga cheia, reclama da vida de graça.

Não julgo as pessoas por terem as coisas.

Só que o Brasil precisa de um programa de distribuição de renda urgente.

Agora, com essa pandemia, as pessoas estão padecendo… enquanto uns gastam 300 reais, 600 reais em almoço em Brasília, outros não têm 5 reais pra comprar um pacote de bala pra revender.

É complicado, muito complicado, né?

Na verdade, revoltante.

Por isso, precisamos falar urgente sobre os invisíveis que a gente encontra em cada sinal, canto, esquina.

PS do Viomundo: Eduardo Matysiak acaba de ser premiado no World Photography Awards, uma espécie de Oscar da Fotografia.

Foi na categoria Lockdown com a foto “Fique em casa”, que está abaixo

“Fique em casa”, campeã na categoria “Lockdown”. Foto: Eduardo Matysiak

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